Chelsea é uma montanha-russa e a temporada 2020/21 ilustra isso

Depois de uma temporada atípica e marcada pela pausa da Covid em 2019/20, o Chelsea iniciou a temporada 2020/21 com expectativas e questões a serem respondidas. Inicialmente, o treinador Frank Lampard se mostrou merecedor de comandar a equipe em mais uma temporada, porém, não conseguiu terminar a campanha.

Além disso, o que parecia uma temporada perdida em janeiro, se tornou uma das mais memoráveis da história do time azul de Londres. E foi esta confusão de sentimentos que tomou conta dos torcedores durante 2020/21.

Janela espetacular

Primeiramente, é importante lembrar que o Chelsea não fez contratações na temporada anterior. Portanto, o time fez caixa e ainda contou com o dinheiro das vendas de Hazard e Morata para se reforçar na nova campanha.

Antes mesmo da temporada anterior chegar ao fim, o Chelsea já havia anunciado dois grandes reforços: Hakim Ziyech e Timo Werner. Em seguida, os Blues seguiram no mercado, ouvindo os pedidos de Frank Lampard e Petr Cech. Portanto, graças ao trabalho de Marina Granovskaia, houve mais cinco reforços: Édouard Mendy, Malang Sarr, Thiago Silva, Ben Chilwell e Kai Havertz.

Kai Havertz anunciado dia 04/09/2020 (Foto: Reprodução/Chelsea FC)

Enfim, depois de investir cerca de 250 milhões de Euros – de acordo dados do Transfermarkt, o Chelsea fechou o elenco para a temporada.

  • Goleiros: Édouard Mendy, Kepa Arrizabalaga, Willy Caballero
  • Zagueiros: Thiago Silva, Antonio Rudiger, Andreas Christensen, Kurt Zouma, Fikayo Tomori
  • Laterais: César Azpilicueta, Reece James, Ben Chilwell, Marcos Alonso, Emerson Palmieri
  • Meias: N’Golo Kanté, Jorginho, Mateo Kovacic, Billy Gilmour, Mason Mount, Hakim Ziyech, Kai Havertz
  • Atacantes: Timo Werner, Christian Pulisic, Callum Hudson-Odoi, Tammy Abraham, Olivier Giroud

Início promissor, mas com problemas

Inicialmente, a entrada dos reforços no time foi lenta. Natural, uma vez que a pré-temporada foi mais curta que o normal, uma vez que a pandemia deixou o calendário apertado. Além disso, Hakim Ziyech e Ben Chilwell, com lesões, ficaram fora das primeiras partidas.

Portanto, para a estreia na Premier League, que terminou em vitória sobre o Brighton por 3-1, apenas os alemães Werner e Havertz foram novidades.

Em seguida, dois resultados negativos na Premier League, para Liverpool e West Brom, fizeram com que a torcida ligasse o sinal de alerta. Além disso, uma eliminação precoce para o Tottenham na Copa da Liga Inglesa trouxe ainda mais preocupação.

Era compreensível, sem pré-temporada e com seis novos jogadores, o período de adaptação seria necessário. Porém, mídia e parte da torcida já cobravam uma resposta de um elenco estrelado.

Por isso, Frank Lampard recebeu alguns questionamentos sobre sua capacidade de montar a equipe com novas peças. Em especial, a maneira como escalava Timo Werner e Kai Havertz, que pareciam não entregar tudo que podiam.

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Em paralelo, o Chelsea iniciou a campanha na UEFA Champions League de maneira positiva, a defesa começou a se acertar e o novo goleiro colecionava clean sheets.

Mendy fez nove clean sheets nos primeiros 12 jogos com o Chelsea (Foto: Ben Stensall/Getty Images)

Sequência positiva

A vitória por 4-0 contra o Krasnodar, pela UEFA Champions League, marcou o início de uma boa fase do Chelsea, que durou dois meses, e terminou em um empate contra a mesma equipe, no início de dezembro.

Neste momento, os Blues contavam com o elenco completo depois do retorno de Hakim Ziyech, que colecionou boas atuações. Outros que se destacaram no período foram Kurt Zouma, N’Golo Kanté, Mason Mount e Timo Werner, que perdia muitos gols, mas teve um período artilheiro, com cinco gols e três assistências em nove jogos.

Timo Werner viveu um momento artilheiro (Foto: Getty Images)

No período, que durou entre outubro e dezembro, o Chelsea ficou invicto por 14 jogos, com nove vitórias e nove clean sheets.

O último grande momento da sequência aconteceu na 11ª rodada da Premier League, quando o Chelsea venceu o Leeds por 3-1 e assumiu a liderança da competição.

Porém, o mês de dezembro foi determinante para o fim da ‘Era Lampard’ como treinador dos Blues.

Fim da linha

Depois da vitória contra o Leeds, as coisas começaram a desandar para Frank Lampard no Chelsea. Nas sete partidas seguintes, foram cinco derrotas, um empate e apenas uma vitória.

Portanto, um trabalho que já era questionado por parte dos torcedores e da mídia, mesmo durante a melhor fase na temporada, passou a ser ainda mais criticado negativamente.

A dura sequência de jogos, atrelada à dificuldade de administrar a equipe fisicamente complicou o trabalho de Frank Lampard.

Além disso, o jovem treinador do Chelsea visava fazer uma reforma no elenco, e já não usava alguns jogadores experientes da equipe. Nomes como Antonio Rudiger, Marcos Alonso e Jorginho tinham cada vez menos espaço com Frank Lampard. Por isso, alguns jornalistas noticiaram uma possível dificuldade de administrar os sentimentos internamente.

Frank Lampard teve 84 partidas, 15 empates e 25 derrotas em uma temporada e meia de Chelsea (Foto: Andy Rain/Reuters)

Outro que ficou de lado por opção do treinador foi o jovem zagueiro Fikayo Tomori, que foi emprestado ao Milan.

Em janeiro, as derrotas para Manchester City e Leicester foram marcantes. Sem forças, o Chelsea não conseguiu combater os dois adversários, e, aparentemente, foram a gota d’agua para a diretoria, que demitiu o treinador depois de uma vitória, de certa forma melancólica, na FA Cup contra o Luton Town.

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Sob nova direção

Ainda em janeiro, o substituto de Frank Lampard foi prontamente apresentado. Finalmente, um dia após a demissão, Thomas Tuchel foi anunciado como novo técnico do Chelsea e já treinou a equipe para a partida contra o Wolverhampton, que aconteceria no dia seguinte.

Tuchel foi demitido pelo PSG em dezembro de 2020 (Foto: ESPN Brasil/Getty Images)

Primeiramente, o novo treinador promoveu uma mudança fundamental na forma de jogar da equipe, adotando um esquema com três zagueiros. Além disso, Tuchel passou a envolver alguns jogadores que estavam encostados no elenco, como Rudiger, Alonso e Jorginho. Em compensação, o atacante Tammy Abraham perdeu espaço.

Desde o primeiro momento, o casamento entre Chelsea e Tuchel deu certo. Nas primeiras quatorze partidas, o Chelsea venceu dez, empatou quatro e conseguiu 12 clean sheets, sofrendo apenas dois gols no período.

Para se ter uma ideia do efeito imediato de Tuchel, o time estava na nona colocação na 18ª rodada. Porém, depois dos primeiros dez jogos de Premier League com o novo treinador, o Chelsea assumiu o quarto lugar, com 25 pontos a mais – de 30 disputados.

Além disso, o principal desafio do período foi o confronto contra o Atlético de Madrid pelas oitavas de final da UEFA Champions League. Entretanto, foi superado de forma convincente pelo Chelsea, que passou com moral para a próxima fase.

Superando gigantes

Primeiramente, durante os cinco primeiros meses de trabalho, Thomas Tuchel conseguiu um incrível histórico de resultados contra grandes treinadores. Ao todo, foram onze partidas contra Guardiola (3x), Zinedine Zidane (2x), Diego Simeone (2x), Jurgen Klopp, Ole Gunnar Solskjaer, Carlo Ancelotti e José Mourinho. Nestes jogos, o treinador do Chelsea não foi derrotado nenhuma vez e venceu nove, sofrendo apenas dois gols.

Portanto, o Chelsea se mostrou forte e competitivo o suficiente para buscar objetivos maiores na temporada. Após superar o Porto nas quartas de finais da UEFA Champions League e o Manchester City na semifinal da FA Cup, os sonhos dos Blues estavam mais próximos.

Enfim, um dos grandes momentos da temporada, que mostrou o nível que a equipe estava, foi a vitória no confronto de semifinal contra o Real Madrid, pela UEFA Champions League. Com isso, o Chelsea alcançou a final europeia com um time muito jovem, que parecia formado para colher frutos no futuro.

Entretanto, três derrotas na reta final colocaram em cheque a capacidade do time de decidir no momento principal.

Derrapada preocupante

Finalmente, o Chelsea tinha três grandes desafios para encerrar a temporada: garantir a vaga no top4 da Premier League, final da FA Cup e final da UEFA Champions League.

Paralelo a isso, os Blues apresentaram um novo uniforme, que recebeu criticas nas redes sociais.

Entretanto, uma derrota para o Arsenal complicou a disputa na liga. Logo em sequência, o Chelsea sofreu novo revés, desta vez, na decisão da FA Cup, contra o Leicester.

O novo uniforme foi usado em duas derrotas do Chelsea (Foto: PA)

Entretanto, três dias depois o adversário seria o mesmo, em um jogo decisivo para definir a vaga na próxima Champions League. Por fim, o Chelsea, que contava com o retorno dos torcedores ao estádio, venceu a partida.

Portanto, o Chelsea precisava vencer o Aston Villa na última rodada da Premier League para conquistar o objetivo. Porém, o time tropeçou mais uma vez, e precisou contar com uma vitória do rival Tottenham para terminar entre os quatro primeiros da competição.

Desta forma, três derrotas em quatro jogos deixaram o torcedor do Chelsea – que anteriormente estava empolgado, ou melhor, “Tuchelizado” – apreensivo.

O sonho se tornou realidade

Finalmente, chegou o ápice da temporada. O dia 29 de maio de 2021 ficará marcado para sempre na memória de todos os torcedores do time azul de Londres. Neste dia, Chelsea e Manchester City decidiram a Champions League.

Predestinado, Kai Havertz marcou o gol que decretou a vitória do Chelsea. Além disso, Mason Mount, grande destaque do time na temporada, foi responsável pela assistência, enquanto N’Golo Kanté, concorrente a melhor jogador do mundo, foi escolhido como jogador da partida.

Chelsea é Bicampeão da UEFA Champions League (Foto: Alex Livesey – Danehouse/Getty Images)

Além disso, todo o setor defensivo se destacou na conquista, e é possível dizer que faz parte do DNA do Chelsea ser caracterizado por armar boas defesas. Ao todo, foram apenas quatro gols sofridos em toda a campanha na Champions League.

Elenco vencedor

Portanto, Édouard Mendy, primeiro goleiro africano a jogar e vencer uma final de UCL; César Azpilicueta, capitão que se tornou uma lenda do clube; Antonio Rudiger, Andreas Christensen e Kurt Zouma, zagueiros contestados que deram a volta por cima; e Thiago Silva, que aos 36 anos de idade continuou lutando para ser campeão desta competição; merecem o reconhecimento dos torcedores.

Além deles, a dupla Jorginho e Kovacic, que também sofrem muitas críticas e jogaram muito bem em toda a campanha; Reece James e Ben Chilwell, que se adaptaram a uma nova função em alto nível, também se destacaram. Finalmente, N’Golo Kanté simboliza a humildade atrelada a trabalho duro e muito talento, retrato desta equipe.

Por fim, o setor ofensivo que foi totalmente alterado por Thomas Tuchel teve muitos méritos. Então, Mount, Havertz, Pulisic, Werner, Ziyech e Giroud merecem os parabéns.

Finalmente, serão citados Kepa, Caballero, Emerson, Alonso, Gilmour, Anjorin, Hudson-Odoi e Abraham, que, com menos tempo de jogo, se dedicam diariamente pelo clube, como bem definiu o capitão César Azpilicueta:

“Esta vitória foi de todo o grupo. A preparação foi incrível, assim como a energia no vestiário. Portanto, eu sei como pode ser ficar de fora da equipe quando temos tanta competição no grupo, mas eles deram tudo de si pela equipe”.

E o futuro?

Enfim, depois de uma temporada marcada pela conquista da maior competição disputada pelo clube, é necessário planejar o futuro. Porém, diferentemente de 2012, esta equipe está em começo de ciclo.

Portanto, não é necessário pensar em qualquer tipo de renovação. Ao contrário de 2012, o treinador não é um interino que foi ganhando espaço, como foi o grande Roberto Di Matteo. Guardadas as proporções, nossos Drogbas, Lampards, Terrys, Cechs e Coles, ainda são jovens.

Drogba marcou o gol do título aos 34 anos, Havertz aos 21 (Foto: JOSE COELHO/POOL/AFP)

Enfim, para finalizar a questão de como será o futuro da equipe, basta recorrer às palavras do treinador Thomas Tuchel a Roman Abramovich, ainda durante a celebração da conquista europeia:

“Primeiramente, posso assegurar-lhe que ficarei com fome. Eu quero o próximo título e me sinto absolutamente feliz, me sinto parte de um clube realmente ambicioso e uma parte forte de um grupo forte que se adapta perfeitamente às minhas crenças e à minha paixão pelo futebol no momento”.

Além disso, o treinador ainda assegurou a jornalistas: ““Eu não quero descansar. Eu quero o próximo. Portanto, quero o próximo sucesso e quero o próximo título e quero o próximo processo no mesmo nível de qualidade de consistência”.

Estatísticas e prêmios individuais

Competições

  • Premier League – 4º colocado, 67 pontos
  • FA Cup – Vice-campeão
  • EFL Cup – 4 Round
  • Champions League – CAMPEÃO

Números:

  • 59 jogos
  • 97 gols marcados, 41 gols sofridos
  • 34 vitórias, 14 empates, 11 derrotas

Artilheiros da temporada:

  • Timo Werner – 12 gols
  • Tammy Abraham – 12 gols
  • Olivier Giroud – 11 gols

Prêmios individuais:

Category: Conteúdos Especiais

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Article by: Victor Rosa

Jornalista e viúvo de Eden Michael Hazard.