Após a atuação de gala contra a Juventus, o Chelsea viaja a São Petersburgo nesta quarta-feira às 14h45, no horário de Brasília, fechando sua participação na fase de grupos da Champions League. Ademais, a visita à Rússia para enfrentar o Zenit St. Petersburg é uma boa oportunidade de relembrar os laços entre os Blues e o país europeu.
Ainda que o Chelsea Football Club não seja institucionalmente ligado à Rússia, as relações do clube com o país são claras, passando por personagens e jogos importantes na história azul. Na expectativa pela última rodada da fase de grupos da Champions League, o Chelsea Brasil relembra estas relações com os russos no “Na História“. No mais, vem conosco fazer um aquecimento para o duelo desta quarta, relembrando o passado:
Roman Abramovich
Primeiramente, todo torcedor blue já ouviu que o Chelsea surgiu com Roman Abramovich, além de outras frases que tentam diminuir a importância do clube no cenário do futebol europeu. De antemão, ignora-se o fato do clube já possuir conquistas importantes antes da chegada do russo.
No entanto, o aporte financeiro de Abramovich criou uma nova história para o clube, sendo também o ponto de partida para estreitar laços entre Chelsea e Rússia. Dono de uma fortuna estimada em R$ 14,4 bilhões de dólares, o magnata russo é peça chave na história azul, apesar de ser uma figura controversa.
A princípio, o magnata é criticado pela forma como fez sua fortuna. Em resumo, as suas receitas se multiplicaram no período seguinte à queda da União Soviética. Na ocasião, o bilionário teria se aproveitado das influências no novo governo para lucrar em diversas privatizações e transações financeiras. Vale lembrar que Abramovich chegou a ser governador de Chukotka – um distrito na Rússia asiática.
Um clube no azul
Mesmo com as críticas, Roman é proprietário do Chelsea desde 2003, com sua presença diminuindo ao longo dos anos na rotina do clube. Essa diminuição dos holofotes sobre o russo acompanha a diminuição dos investimentos diretos da sua fortuna no clube, que desde 2012 consegue apresentar lucro em suas operações.
Contudo, o papel mais coadjuvante do russo não diminuiu as polêmicas ao seu redor. Recentemente, a jornalista Catherine Belton publicou um livro sobre a escalada de poder de Roman e outros magnatas russos após o fim da União Soviética. Neste contexto, Abramovich foi acusado de ter comprado o Chelsea em um esquema de corrupção sob ordens de Vladimir Putin. O caso seguiu para a justiça britânica, onde ele processa a autora do livro por difamação.
A final europeia em Moscou
Depois de cinco anos da aquisição do Chelsea, Roman Abramovich viveu seu primeiro ápice como proprietário dos Blues: a primeira final europeia. Após eliminar o Liverpool nas semifinais, a expectativa para o duelo contra o Manchester United era enorme. Coincidentemente, a partida decisiva da Champions League estava marcada para a Rússia, no estádio Luzhniki em Moscou.
Em suma, este é o capítulo menos feliz das relações russas com a história do clube londrino. Após um primeiro tempo movimentado, com Cristiano Ronaldo abrindo o placar e Frank Lampard empatando a partida no último minuto antes do intervalo, a segunda etapa foi dominada pelos Blues. Todavia, o domínio não se converteu em gols e a partida seguiu para a prorrogação.
O título perdido na marca da cal
Como é comum em partidas decisivas, a prorrogação foi bastante truncada, sem que os times quisessem se expor. Em suma, um chute de Lampard na trave e outro de Carlos Tevez bloqueado por John Terry foram os principais momentos do tempo adicional. No entanto, já próximo ao fim, Didier Drogba foi expulso em confusão no reinício da partida após fair play dos londrinos.
Sem o camisa 11, o jogo foi para os pênaltis. Ambos os times converteram suas duas primeiras cobranças até que Petr Cech defendesse o chute de Ronaldo. Na sequência, os três batedores converteram suas penalidades até que chegasse a vez do capitão John Terry. Com ele, a chance de dar ao Chelsea sua maior glória até então.
Como se sabe, um escorregão impediu a consagração dos Blues. Nas cobranças alternadas, a igualdade se manteve até a sétima cobrança azul, quando Nicolas Anelka se posicionou para cobrar o pênalti que estenderia a disputa na marca do cal. O francês perdeu e o Manchester United foi campeão em território russo. O sonho londrino seria adiado por mais quatro anos.
Os ex-jogadores russos
Além dos dirigentes e jogos, três jogadores russos vestiram a camisa do Chelsea na história. O pioneiro foi o goleiro Dmitri Kharin, que também foi o russo que mais vezes atuou pelos Blues. Durante seis anos em Londres, de 1993 a 1999, o arqueiro atuou em 130 partidas, sofrendo 157 gols e sustentando 43 clean sheets. Pouco reconhecido na história azul, o goleiro chegou a ter seus momentos como titular da equipe.
Em sequência, já durante a era Abramovich, o volante Aleksey Smertin desembarcou em Londres. Vinculado aos Chlesea durante três temporadas, entre 2003 e 2006, o russo se manteve no elenco apenas na temporada 2004/05, contribuindo para o primeiro título do clube na Premier League.
Ao todo, foram 25 partidas de Smertin pelos Blues, anotando um gol – na Champions League. Além de não ter se firmado em Stamford Bridge, o volante foi emprestado ao Portsmouth e ao Charlton durante a sua apagada passagem. Assim como Kharin, um jogador pouco reconhecido na história azul.
Yuri Zhirkov: o mais marcante da era Abramovich
Kharin e Smertin foram jogadores que representaram a seleção russa em diferentes oportunidades. No entanto, a grande estrela deste grupo é realmente Yuri Zhirkov. Apelidado de “Ronaldinho Russo”, o lateral-esquerdo – mas que também atuava adiantado na linha de meio-campo – chegou ao Chelsea em 2009 com bastante expectativa após boas exibições pelo CSKA Moscou.
Contudo, as expectativas não foram alcançadas e Zhirkov teve pouco brilho durante seus dois anos em Londres. Apesar disso, fez parte do elenco que conquistou a dobradinha nacional em 2009/10, com os títulos da Premier League e da FA Cup sob o comando de Carlo Ancelotti. Ao fim da temporada seguinte, retornaria à Rússia para defender o Anzhi.
Sendo assim, Zhirkov se despediu com 49 partidas, um gol marcado e 11 assistências pelo Chelsea. Coincidentemente, o jogador rodou por outros clubes russos até se aposentar ao fim da última temporada defendendo as cores do Zenit, rival da partida de logo mais.
Presença russa fora de campo
Apesar da relevância das conexões anteriores, a presença russa mais forte hoje nos Blues é a da diretora-executiva Marina Granovskaia. Apelidada de “dama de ferro”, ela é hoje a principal face administrativa do clube, responsável pelo relacionamento com patrocinadores e novas contratações. Um cargo conquistado durante 22 anos como braço direito de Abramovich, em relação iniciada ainda na Rússia.
Marina trabalhou na Sibneft, empresa petrolífera que pertencia ao magnata russo. Dessa forma, ela atuou na companhia até a aquisição do Chelsea em 2003, quando se mudou para Londres. Entretanto, somente a partir de 2010 passou a atuar como representante direta do proprietário do clube.
Em síntese, a diretora-executiva possui perfil reconhecidamente agressivo nas negociações. Responsável pela montagem de diversos elencos, não há como negar que Marina também foi peça central na formação do atual elenco campeão europeu. Por exemplo, seu papel já foi apresentado como fundamental nas negociações de Timo Werner, Kai Havertz e Hakim Ziyech.
Presente e futuro
Com atuação direta de Marina Granovskaia, o clube construiu um dos mais modernos centros de treinamento do mundo e também espelhou suas metodologias de formação de jogadores e treinamentos para clubes parceiros. Em suma, ações paralelas que apontam para o objetivo de manter o Chelsea protagonista também no futuro.
Por fim, se a redução de protagonismo de Roman Abramovich passa pela independência financeira do clube, há outro fator que não deve ser desconsiderado: as tensões diplomáticas entre Rússia e Reino Unido, que dificultam até a renovação de visto do magnata.
Em contraponto a isto, as conexões que passam pelo Chelsea entre os países são mais amistosas do que tensas, como apresentado. Em síntese, a Rússia está muito mais presente na história azul do que somente como sede da próxima partida de Champions League. É neste clima que o Chelsea Brasil aquece para o duelo contra o Zenit, na expectativa de uma grande partida que deixe os ingleses – e os nossos russos – mais felizes do que a equipe de São Petersburgo.