O rendimento dos atacantes do Chelsea pede atenção

Desde a chegada de Thomas Tuchel ao Chelsea, a solidez defensiva se mostrou o ponto forte dos Blues. Mesmo na conquista da última Champions League, os atacantes já concentravam a maior parte das dúvidas. Entre Kai Havertz como “falso 9” e os gols perdidos de Timo Werner, muitas foram as alternativas testadas. No entanto, a chegada de Romelu Lukaku parecia ser a solução para o encaixe das peças ofensivas em Londres.

Porém, entre declarações polêmicas e jejuns de gols, o relacionamento dos sonhos entre Chelsea e Lukaku durou pouco. Com isso, as mesmas questões da temporada passada retornaram. Contra o Liverpool na decisão da Copa da Liga, o time desperdiçou muitas oportunidades. Assim, as questões sobre os atacantes voltaram ao foco.

O desempenho coletivo

Primeiramente, vamos olhar para o desempenho ofensivo de toda a equipe. Com 53 gols marcados na atual Premier League, os Blues possuem o terceiro melhor ataque da competição. No entanto, para entender melhor o que isso representa, vamos medir o desempenho a partir dos expected Goals (xG). Em resumo, o xG é uma estatística que mede a probabilidade das finalizações se converterem em gols. Ou seja, quando um time acumula xG igual a 1, a tendência é que ele já tenha marcado pelo menos um gol na partida em questão.

O gráfico abaixo apresenta a diferença do xG a favor e contra. Isto é, o saldo de gols que a equipe deveria apresentar seguindo essa estatística. Por ele, observamos que na atual edição da Premier League ocupamos a terceira posição no ranking, atrás dos rivais Liverpool e Manchester City. Sendo assim, o desempenho esperado está bem próximo da realidade, dado que estamos atrás dos mesmos rivais na tabela de classificação e nos gols marcados.

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A final da Carabao Cup

Ainda dentro da análise coletiva, a recente decisão contra o Liverpool merece destaque. Utilizando novamente a métrica dos xG, os Blues fecharam os 120 minutos de bola rolando com 2,0 gols esperados. Em comparação, o adversário teve 2,4 xG a seu favor, segundo dados do Opta Analyst. Vale destacar que jogadas em posição irregular não são contabilizadas para a estatística.

Em suma, a análise fria dos números totais da temporada aponta para uma quantidade de gols dentro do esperado. Porém, esta partida evidencia a falha em aproveitar as oportunidades. Das 11 finalizações azuis na decisão, apenas quatro encontraram o alvo, todas paradas pelo goleiro Caoimhin Kelleher.

Compilado de oportunidades perdidas pelos Blues na final da Carabao Cup
Na imagem, as três principais oportunidades desperdiçadas pelos Blues contra o Liverpool, uma com Pulisic e duas com Mount. (Reprodução de: ESPN)

O desempenho individual

Na análise individual, serão apresentados os dados dos seis jogadores mais escalados no ataque durante a atual temporada. São eles: Romelu Lukaku, Kai Havertz, Timo Werner, Mason Mount, Hakim Ziyech e Christian Pulisic. Surpreendentemente, é Ziyech quem possui a maior média de finalizações por partida (2,81). No entanto, o jogador marcou até aqui apenas seis gols na temporada, superior apenas a Pulisic.

Entretanto, o desempenho de Pulisic se justifica na baixa quantidade de finalizações por partida. Vale lembrar que o camisa 10 chegou a atuar como ala em algumas partidas, mais distante do ataque. Os demais atacantes possuem médias de finalização praticamente iguais, o que já demonstra a falta do protagonismo esperado para Lukaku neste ataque. Apesar disso, o belga lidera a artilharia com nove gols marcados na temporada, seguido por Havertz com oito.

Gráfico correlacionando finalizações e gols marcados pelos atacantes do Chelsea
O gráfico apresenta a correlação entre finalizações por jogo e gols marcados pelos principais atacantes do Chelsea. (Dados: Sofascore)

Para entender melhor o desempenho dos atacantes, vamos retomar a estatística dos xG. Conforme gráficos abaixo, os blues em geral apresentam uma quantidade de gols próxima ao esperado. Na Premier League, destaca-se Ziyech. Os quatro gols marcados contra uma expectativa de 2,9 mostram um bom desempenho do marroquino.

Entretanto, o caso mais curioso é o de Werner. Na Premier League, um desempenho que o coloca na pior posição entre os atacantes do Chelsea, porém com o melhor desempenho a nível europeu. Dada a maior amostragem de partidas, o desempenho na Inglaterra pesa mais na avaliação do jogador. Dessa forma, Werner segue longe de ser em Londres o mesmo goleador dos tempos de Bundesliga.

Gráfico apresentando os gols marcados versus os gols esperados dos principais atacante dos Blues na Premier League
(Dados: FBREF)
Gráfico apresentando os gols marcados versus os gols esperados dos principais atacante dos Blues na Champions League
(Dados: FBREF)

Possíveis soluções

Em suma, a análise dos dados coletivos e individuais parece contradizer a noção de um fraco desempenho dos atacantes dos Blues. Entretanto, o rendimento não vem sendo suficiente para agradar os torcedores. A rejeição ao desempenho atual passa também pela frustração com Lukaku, dado que os mesmos problemas de finalização da temporada passada persistem.

Uma questão que deve ser discutida é a respeito do modelo de jogo praticado pelos Blues. Na maior parte da sua passagem, Tuchel optou por um ataque móvel sem um jogador de referência. Quando manteve os três jogadores de frente com Lukaku na posição de centroavante, a equipe perdeu em mobilidade e não conseguiu tirar o melhor do centroavante belga.

Além dessa, outra solução já testada pelo treinador foi a formação com uma dupla de ataque. Nestas ocasiões, um jogador de maior velocidade – em geral, Werner ou Havertz – formou dupla com Lukaku. Este esquema parece pensado para beneficiar o belga, que atuava de forma muito parecida na Internazionale em dupla com Lautaro Martinez. No entanto, esta formação foi pouco vista em campo e também não se mostrou confiável.

Abraham deixa Stamford Bridge
Brilhando em Roma, Abraham pode ser uma alternativa futura para retornar à Stamford Bridge. (Reprodução: Sky Sports)

O brilho de Abraham em Roma

Enquanto as críticas ao ataque azul permanecem, dois atacantes formados em Cobham vêm se destacando fora do Chelsea. Em solo italiano, brilha a estrela de Tammy Abraham. Com 13 gols marcados em 27 partidas pela Roma no campeonato italiano, o atacante inglês ocupa atualmente a quinta posição na artilharia da competição. Além disso, o atacante conta com média de 2,9 finalizações por jogo. Ou seja, vem apresentando rendimento superior aos atuais blues.

Falar de Abraham é importante, pois o jogador recentemente vendido à Roma tem em seu contrato uma cláusula com preço pré-fixado, estimado em 80 milhões de euros, para que seja recomprado pelo Chelsea a partir de julho de 2023. Num cenário de incertezas de investimento a curto prazo pela possível venda do clube, é difícil imaginar que os Blues façam investimentos maiores antes desse prazo.

O bom desempenho de Broja na Premier League

Após participar da última pré-temporada com o elenco profissional, Armando Broja vem se destacando dentro da própria Premier League. Em resumo, após perder espaço com a chegada de Lukaku, o atacante albanês foi emprestado ao Southampton. Em 23 partidas disputadas até aqui, foram seis gols do jovem pelo campeonato inglês.

O jogador de 20 anos consegue mesclar imposição física com movimentações em busca de jogo. O desempenho pelo Southampton é importante por eliminar as dúvidas sobre o físico do jogador na transição para o profissional. Dessa forma, o albanês une qualidades que podem representar uma boa solução para o elenco dos blues no futuro.

Broja em ação durante a pré-temporada em amistoso contra o Bournemouth. (Reprodução de: Chelsea FC)

Um dilema para Tuchel

Em suma, Abraham e Broja vivem momentos de afirmação. Assim, são dois exemplos de jogadores que poderiam trazer gols e mobilidade ao ataque. Isto é, a solução ideal para as questões no ataque de Tuchel. Afinal, a dúvida em resumo é como encaixar Lukaku, um goleador, sem perder a mobilidade do ataque. Ou, em uma opção sem o atual camisa 9, como marcar mais gols sem um centroavante.

Até o momento, Tuchel não está sob risco. No entanto, o treinador precisa encontrar essa solução rapidamente. Com as especulações recentes, pode ser que uma reposição a Lukaku seja necessária já na próxima temporada. Além disso, não há garantias de que Broja e Abraham seriam soluções definitivas. O cenário competitivo atual da Premier League não permite acompanharmos Liverpool e Manchester City na ponta sem essa solução. Porém, o treinador alemão já mostrou em mais de uma oportunidade que é capaz de encontrá-la.

Category: Chelsea Football Club

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Article by: Igor Estolano