Opinião: Tuchel está pressionado?

Depois de seis meses mágicos na temporada passada com os Blues, Thomas Tuchel vai aos poucos entrando no olho do furacão e conhecendo a real face que já paira sobre o clube há algum tempo. Isso porque tranquilidade e estabilidade são adjetivos que não costumam fazer parte do dia-a-dia do Chelsea.  Nesse sentido, a pressão é enorme e todos os treinadores que passaram pelo clube ao longo da última década tiveram enorme dificuldade em administrar os problemas.

Portanto, será que é possível dizer Tuchel está pressionado? No momento, é difícil responder esta pergunta de forma certeira. Porém, há a certeza de que o momento não é bom. Apesar de o alemão não ser o único e nem o principal responsável pelo momento ruim da equipe, dado o histórico do clube, ele pode ver seu trabalho ruir de forma precoce. Em suma, selecionei alguns pontos que explicam o contexto atual que colaboram para o questionamento sobre o trabalho do treinador dos Blues.

Desequilíbrio nos setores 

Nas primeiras 12 rodadas foram apenas quatro gols sofridos pelo Chelsea na Premier League. Diante disso, chegaram até mesmo a fazer comparações com o recorde do clube na temporada 2004-2005, quando o time sofreu apenas 15 gols em 38 jogos. Porém, a partir da 13ª rodada o time teve apenas um clean sheet contra o Wolverhampton – em jogo que terminou empatado em 0-0.

A queda defensiva coincide com a lesão do ala esquerdo, Ben Chillwel, mas este não foi o único problema. Nesse ínterim, Mateo Kovacic e N’golo Kanté não estavam disponíveis em cinco dessa sequência de 11 jogos. Mais recentemente, contra Liverpool e Manchester City, os Blues não contaram com o outro ala da equipe, Reece James, que está com uma lesão muscular. Além disso, Édouard Mendy está na Copa Africana de Nações e Trevoh Chalobah, com uma lesão na coxa, também são – e seguirão como – desfalques na equipe.

Vale lembrar que o sucesso inesperado e precoce de Tuchel passou pelo estabelecimento de um sistema defensivo muito sólido. Assim como de um setor ofensivo criava muitas chances. Mesmo que não convertesse muitas das oportunidades em gol.

Ataque pouco efetivo

Agora, a equipe não cria e não balança as redes. Nesse sentido, Romelu Lukaku, que chegou com a missão de ser o artilheiro dos Blues, vem decepcionando a torcida dentro e fora de campo. Em suma, o camisa 9 tem encontrado dificuldade para se adaptar ao sistema de jogo do Tuchel e o time tem tido dificuldade em explorar as potencialidades de quem deveria ser o goleador do Chelsea.

Thomas Tuchel e Romelu Lukaku lado a lado no CT de Cobham. Créditos: Chelsea FC

Ao mesmo tempo, faz-se aqui um parêntese para destacar o fato que não é apenas Lukaku quem está devendo. Além dele, nomes como Timo Werner e Kai Havertz não estão chegando nem perto de atender as expectativas – mesmo com o título da Liga dos Campões. Christian Pulisic, por sua vez, chegou com a dura missão de substituir Eden Hazard. Mas entregou no máximo 3 meses de bom futebol no final no final da passagem da lenda Frank Lampard, muito por conta das lesões recorrentes do atual camisa 10 do Chelsea.

Por fim, julgo ser pertinente ressaltar mais uma vez as ausências dos nossos alas. Reece James e Ben Chillwel contribuíam muito no ataque, não por acaso somam juntos oito gols e sete assistências na temporada. Portanto, ambos são muito fortes no apoio. Bem como chegando na linha de fundo, fazendo bons cruzamentos e ainda pisam na área para finalizar – sem dúvidas, sendo dois dos pilares da equipe e do esquema de Tuchel.

Maratona de jogos 

Após o empate em 1-1 com o Brighton na última rodada da Premier League, Tuchel afirmou que “a equipe está cansada mentalmente e fisicamente”. Até por isso, o treinador dará um descanso de dois dias aos jogadores antes de retomar as atividades visando o jogo contra o Tottenham.

De fato, se pegarmos as estatísticas vamos perceber que os Blues fizeram 15 partidas desde o início de dezembro. Quando, por exemplo, o Brighton fez novo jogos nesse mesmo intervalo. Sendo assim, o Chelsea foi uma das poucas equipes que não tiveram jogos adiados no período mais caótico da temporada.

Voltando um pouco no tempo, destaco dois pontos alertados pelo nosso manager ainda em dezembro. Após a partida contra o Watford, Tuchel disse que foi a primeira vez que sentiu que sua equipe não entregava a intensidade necessária para um jogo de Premier League.

Depois disso, na coletiva de véspera da partida contra o Leeds, o alemão reclamou da mentalidade dos londrinos ao longo das partidas. Especialmente quando saem os gols, sejam eles a favor ou contra: se faz o gol, a equipe para de pressionar o adversário. Por outro lado, quando sofre o gol, sente demasiadamente o golpe.

Enfim, o treinador alemão tem tentado na medida do possível proteger seus atletas.  Foi assim após a entrevista desastrosa de Lukaku à TV italiana. E o mesmo comportamento se repetiu após o último jogo. Por outro lado, dentro de campo o treinador se mostra muito irritado com os erros ao longo das partidas.

Diante de tudo, o que Tuchel tem feito para mudar?

Com desfalques e por necessidade, o treinador começou a utilizar o esquema de 4-4-2 para ver se a equipe oferece uma resposta melhor dentro de campo. Por enquanto, sem sucesso. Nesse sentido, tem sido perceptível a dificuldade em sair jogando pelos flancos. Muito por conta dos nossos laterais/alas disponíveis. Em outras palavras, os espanhóis Azpilicueta e Alonso tem pouca força física e qualidade técnica para atender as exigências dos 90 minutos do jogo a cada 3 dias. Ao contrário do que James e Chilwell agregavam ao elenco.

Logo, uma opção seria ir ao mercado de transferências e buscar alternativa. Contudo, o clube já perdeu uma boa oportunidade ao deixar Lucas Digne ir para o Aston Villa. Enfim, de forma inesperada o clube solicitou o retorno de Kennedy que estava no Flamengo. Assim como busca fazer a mesma coisa com Emerson Palmieri junto ao Lyon – por ora, sem sucesso. Enquanto que na Champioship, o Chelsea tem Dujon Sterling que está emprestado ao Blackpool e pode ser uma solução a curto prazo.

Sem movimentações no mercado e precisando de peças, Pulisic foi testado como ala em algumas partidas e o que se viu foi um norte-americano perdido na posição. Ainda assim, se Kovacic e Kanté conseguirem se manter minimamente saudáveis nas próximas semanas a equipe pode apresentar alguma evolução. Isso porque Jorginho atuou muitas semanas no sacrífico. Então, com os três disponíveis Tuchel poderá ao menos administrar os minutos do trio que é o coração da equipe.

Agora resta saber se Tuchel e seus comandados vão conseguir se reerguer. O primeiro passo é retomar o caminho das vitórias para ter o mínimo de confiança. São quatro jogos sem vitória no campeonato, apesar de ter vencido o Tottenham em duas oportunidades pela Copa da Liga. Além disso, será necessário recuperar a parte técnica e física de alguns dos  jogadores. Então, só depois poderemos voltar a pensar em conquistar algo na temporada. Então, é tentar se manter vivo nas competições que ainda restam e lutar pelo G4 na Premier League.

As palavras neste texto condizem com a opinião do autor, não tendo qualquer relação com o Chelsea Brasil

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Article by: Rodolfo Simões