A temporada 2019-20 chegou ao fim e, com ela, diversos momentos bons além de outros nem tanto assim. Apesar dos tropeços, a primeira época de Frank Lampard foi marcada pelas dificuldades dentro e fora de campo. Entre elas, a proibição de contratações, a saída da estrela do time e uma pandemia mundial que paralisou as competições foram alguns dos “contratempos”.
Entretanto, o inglês conseguiu administrar bem o seu elenco recheado de jogadores jovens. Seja por falta de opção ou por convicção, a maioria dos novatos causou boa impressão no time principal. Assim, muito por conta da inexperiência, os Blues lideram com a inconstância e oscilação ao longo da temporada. Portanto, a classificação para a UEFA Champions League e o segundo lugar na Copa da Inglaterra deram saldo positivo à época.
A volta do ídolo
Depois de uma temporada de 2018-19 que terminou com sentimento de que poderia ter alcançado mais, o time do Chelsea resolveu se preparar para a reformulação tão adiada. Muito desse desejo passou pela punição de não poder inscrever novos jogadores. O que inicialmente seriam duas janelas de transferências de suspensão somente impediu os Blues no verão europeu antes do início das competições.
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Assim, pode-se dizer que Lampard foi a principal “contratação”, se unindo a Christian Pulisic e Mateo Kovacic, que chegaram antes da punição. A aposta no ídolo como treinador foi questionada por diversas autoridades no esporte, já que ele só tinha um ano na profissão. Portanto, apesar de ter tido bons resultados com o Derby County, ele chegou rodeado de dúvidas, mas também de esperança.
Com um estilo diferente do antecessor, Super Frankie adicionava verticalidade ao toque de bola de Maurizio Sarri. Além disso, o agora manager trouxe com ele Fikayo Tomori e Mason Mount, que estiveram sob a sua batuta na segunda divisão. Se ele era jovem, apostaria também na juventude para surpreender e dar a injeção de ânimo necessária após uma temporada monótona.
Começo ruim
Sem dúvidas, o termo que pode melhor definir a estreia de Lampard na primeira divisão inglesa é a oscilação. Seja dentro da temporada ou até mesmo em uma mesma partida, o treinador não conseguiu manter o desempenho do time no patamar que gostaria. Então, os Blues passaram por vários altos e baixos em 2019-20.
Logo na primeira partida, os Blues demonstraram o que poderia ser a tônica da temporada. A derrota por 4-0 para o Manchester United na Premier League foi uma ducha de água fria nos garotos, que jogaram de forma ofensiva incorporando as táticas do novo treinador. Contudo, o fracasso pode ter sido coadjuvante devido à forma com que os comandados de Lampard dominaram um time teoricamente superior.
Logo em seguida, em partida igualmente boa dos londrinos, o Liverpool levou a melhor na Supertaça Europeia, nos pênaltis, após empate em 2-2 no tempo normal e prorrogação. O jogo marcou a primeira das muitas mudanças de formação entre um duelo e outro na temporada. Quem ficou marcado também foi Tammy Abraham, que desperdiçou a última cobrança.
A recuperação
Nos onze jogos seguintes da Premier League, o Chelsea só teve uma derrota, o que mostrou um pequeno crescimento no desempenho, apesar de ainda tomar muitos gols. Além disso, outubro se mostrou o mês de Lampard, que ficou entre os melhores treinadores do período. Com vitórias importantes na liga doméstica, o time agarrou a quarta colocação e não soltou até o fim do campeonato.
Dupla dinâmica
Um dos principais motivos da reviravolta foi a parceria entre Jorginho e Kovacic no meio campo. A dupla encaixou de forma eficiente no esquema proposto pelo técnico e dominou o meio com a ausência de N’golo Kanté, que ficou fora de parte da temporada por lesão. O ápice da boa fase dos dois atletas pode ser exemplificado no jogo contra o Watford. Enquanto o croata foi eleito o homem do jogo e teve 140 passes em seu nome, o ítalo-brasileiro alcançou os 93% de aproveitamento nos passes e uma das principais assistências da temporada.
Os jovens protagonistas
A boa fase do time também esteve alinhada com os gols e boas atuações de Mount e Abraham. Os dois foram responsáveis por 22 gols – sete e 15, respectivamente – e fizeram parte do esquadrão mais jovem a entrar em campo pelo Chelsea na história. Todavia, as boas notícias da base não paravam por aí. Reece James, Tomori e Billy Gilmour tiveram espaço e demonstraram qualidade para o futuro azul.
Após a vitória contra o Burnley por 4-2 em outubro, os Blues completavam sete vitórias seguidas em todas as competições, Assim, a partida também foi um marco para Pulisic, que marcou seus primeiros três gols oficiais com a camisa do Chelsea. A chegada do norte-americano marcou a boa gestão de elenco exercida por Lampard – um de seus pontos fortes.
Pulisic demonstrou ao longo da época que é o jovem dos Blues mais preparado com seus 11 gols e 10 assistências. Apesar de ficar de fora de muitos jogos por lesão, a sua estreia na Inglaterra deixou os torcedores com menos saudades de Eden Hazard. Além disso, a sua perspectiva de crescimento é muito grande, superando até a do belga em alguns aspectos.
Batalha épica contra o Ajax
Sem dúvidas um dos jogos mais marcantes de 2019-20 foi o 4-4 contra o Ajax em Stamford Bridge pela Champions League. O que seria uma derrota humilhante se transformou em uma das partidas mais épicas da história recente dos Blues. Perdendo para os holandeses por 4-1 até os 15 minutos da etapa final, os comandados de Lampard conseguiram o empate e, por pouco, não saíram com os três pontos.
Apesar disso, os meninos foram vitoriosos pela garra, luta e entrega em campo. Essa faísca não era vista há muito tempo com a camisa azul. Todavia, em noite inspirada de Hakim Ziyech (que pode ter sido definitiva para sua contratação posterior), os visitantes não esperavam que o árbitro expulsasse dois de seus jogadores no mesmo lance que originou o segundo gol de Jorginho, de pênalti, e o terceiro dos londrinos. O empate veio dos pés de James, que se tornou o jogador mais novo a marcar pelo clube na competição.
Queda de rendimento
No fim de novembro, o time começou a sofrer uma queda de rendimento. Mais especificamente após a derrota para o Manchester City por 2-1, em que foi melhor, o Chelsea engatou uma sequência de cinco derrotas em sete partidas pela Premier League, que culminou com a lesão de Pulisic nos últimos dias de dezembro. Assim, devido à maratona de jogos o estadunidense só voltou a atuar após a volta das competições em junho.
Outro que teve seu desempenho prejudicado foi Abraham. O artilheiro só havia marcado um gol no ano até julho. O resultado contrastou com os 14 da primeira metade da temporada somando todas as competições. Portanto, a oscilação dos jovens nos momentos decisivos custou diversos pontos aos comandados de Lampard.
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Fim da punição, mas nada de reforços (na janela)
O mês de dezembro não trouxe somente más notícias para os Blues. O clube apelou ao CAS, a Corte Arbitral do Esporte, e diminuiu a punição imposta pela FIFA. Assim, podiam contratar e registrar novos jogadores na janela de janeiro. Entretanto, o Chelsea passou em branco no período, o que levantou um sinal de alerta para os torcedores.
Apesar disso, poucos dias após o fechamento da janela, Ziyech foi anunciado como reforço. O marroquino de 26 anos foi o principal nome do Ajax e reforçará os londrinos na próxima temporada. A manobra mostrou-se acertada por parte da diretoria, que garantiu um valor abaixo do esperado pelo meia. De acordo com o Telegraaf, o negócio girou na casa dos 45 milhões de euros
Parada da pandemia
Em março a pandemia do novo coronavírus chegou com tudo ao futebol inglês. Nos Blues, o jovem Callum Hudson-Odoi foi diagnosticado com a doença. Após isso, a liga decidiu adiar o campeonato por período indeterminado. Além disso, as outras competições europeias também foram interrompidas. Ou seja, o dilema então, além da questão sanitária, era o calendário.
Durante cerca de três meses as competições ficaram suspensas e a continuidade do futebol no velho continente foi questionada. Em um momento sem precedentes, algumas ligas como a Eredvisie holandesa decidiram por cancelar seus campeonatos. A Premier League, no entanto, continuou seus jogos com portões fechados após a liberação das autoridades de saúde.
Pós-Covid
Pouco antes da parada, o Chelsea havia feito dois dos seus melhores jogos na temporada. O 4-0 sobre o Everton e o 2-0 sobre o Liverpool, na FA Cup, marcaram a primeira vez que o time passou dois jogos seguidos sem levar gols. Assim, a expectativa era alta para a volta do futebol. E os Blues não decepcionaram.
Ao todo, até o fim da campanha, foram oito vitórias em 13 jogos, somando todas as competições. Entretanto, algumas derrotas grandes no período colocaram em dúvida a consistência do time. Parecendo outro campeonato completamente diferente, as partidas após a parada tiveram, inclusive, outros protagonistas.
Desempenhos individuais
Jorginho, que foi titular por boa parte da temporada, deu lugar a Kanté. O ítalo-brasileiro só foi utilizado após o francês e seu substituto imediato, Gilmour, se machucarem. Sem entender a condição de reserva, o jogador teve seu futuro ligado a outros clubes.
Enquanto isso, a pausa pareceu ter trazido novos ares para Olivier Giroud, que foi um dos principais atletas no retorno. Com todos os seus 10 gols marcados no período, o atacante renasceu sob o comando de Lampard e mostrou que ainda pode ser útil no futuro. Outro que confirmou a boa temporada foi Pulisic, o principal nome nas criações de jogadas ofensivas.
A época 2019-20 também significou o final de um ciclo para Willian e Pedro, que estavam em fim de contrato. Com isso, os veteranos assinaram uma pequena extensão para fazer parte do plantel até o último jogo dos Blues. Assim, o espanhol de 33 anos não teve o seu contrato renovado e já tem um acerto com a Roma após cinco anos em Londres. Já Willian encerra sete anos de Chelsea após impasse na renovação. Foram 339 partidas, 63 gols e 62 assistências pelo clube.
Outro que aproveitou os bons jogos do time foi Abraham, que acabou com uma “seca” de seis meses sem marcar. O artilheiro dos Blues na temporada começou muito bem, mas, após a virada do ano, caiu de rendimento e viu, após o retorno das competições, sua vaga ser ocupada por Giroud.
Reta final com emoção
Se existiu um momento em 2019-20 em que não faltou emoção, definitivamente foi a reta final da temporada. Assim, os Blues precisavam garantir pelo menos a quarta colocação para se classificar para a próxima Champions League. Além disso, as últimas fases da FA Cup indicavam que Lampard poderia ter a sua reconstrução coroada com um título já na estreia.
Na Copa da Inglaterra, o treinador até tentou, mas o time sucumbiu para o Arsenal na final. Mesmo após grande apresentação contra o Manchester United na fase anterior, os jogadores não mantiveram a consistência e acabaram derrotados pelos rivais londrinos, escancarando os problemas defensivos. Porém, uma das grandes mudanças da época aconteceu nesse período. Assim, a reintrodução dos três zagueiros deu novo fôlego na briga.
Na liga nacional os londrinos garantiram a vaga na maior competição europeia somente na última rodada. Contudo, nas oitavas da Champions League, o time foi despachado pelo Bayern de Munique. Os alemães fizeram 7-1 no placar agregado e mostraram novamente a diferença de patamar do Chelsea para as principais equipes. Outra derrota que deixou bem claro a discrepância foi o 5-3 sofrido contra o Liverpool. Os já campeões expuseram todas as falhas defensivas dos azuis, mas os três gols marcados mostraram o potencial da equipe.
Lesões no apagar das luzes
Na briga final da campanha, os Blues perderam diversos jogadores por lesão. Gilmour, Kanté, Pulisic, Cesar Azpilicueta, Ruben Loftus-Cheek e Pedro. Além disso, para o jogo contra o Bayern, ainda haviam jogadores suspensos como Jorginho. Isso é reflexo da dedicação dos jogadores. Ou seja. a busca pelos resultados positivos apesar das adversidades – um dos pontos positivos do time.
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O que o futuro reserva?
Com todos os percalços, dificuldades e obstáculos no caminho, Lampard conseguiu realizar um trabalho decente com o que lhe foi dado. Mas, mais do que isso, o ídolo dá perspectivas para uma melhora no futuro com o desenvolvimento dos jovens e novas contratações. Além disso, a temporada foi considerada um sucesso, devido às condições, inclusive pelo presidente do clube.
Apesar dos torcedores brincarem que o motivo dos placares elásticos do time de coração seria o novo patrocinador máster, a realidade é que, pela primeira vez, os fãs do Chelsea estão tendo um pouco de paciência com o processo.
A verdade é que, mesmo com os problemas defensivos evidentes, o saldo continua positivo e o futuro deve ser algo a ser esperado ansiosamente. Com as novas contratações de Timo Werner e Ziyech, os Blues já farão parte de um novo patamar. Além disso, outros reforços e o desenvolvimento dos jovens tornam a equipe muito competitiva.
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Apesar disso, o que mais o torcedor deve esperar é a evolução do próprio treinador. Lampard é um manager jovem e que demonstrou muita capacidade de adaptação e disposição para aprender. Assim, essas características o colocam como um dos principais postulantes da sua geração, juntamente com outros atletas que só recentemente começaram na carreira de técnicos.