Com voltas inesperadas, temporada 2021/22 deixa grandes lições

Se no verão (europeu) do ano passado, às vésperas do início da temporada, alguém do futuro aparecesse e contasse a história do Chelsea em 2021/22 muito dificilmente alguém acreditaria. Do início ao fim muitas surpresas – tanto boas como ruins – e, sobretudo, a despedida forçada de alguém que foi central para botar os Blues na primeira prateleira do futebol mundial: Roman Abramovich.

Para além dos momentos difíceis e de algumas situações recorrentes, é fato de que as campanhas desta temporada deixarão marcas para o futuro do clube. Em primeiro lugar, marcas sentidas. Acima de tudo pela chegada de Todd Boehly e seu consórcio na administração do clube. Mas também, é importante ressaltar os novos traços que, ao que tudo indica, estarão presentes na mentalidade e na condução das atividades do Chelsea. Assim, uma temporada que deixa um certo gosto amargo neste final, pode e deve influenciar a construção de uma mentalidade ainda mais forte para a equipe do Oeste de Londres.

Os nomes certos estão no comando

Uma das grandes marcas das últimas décadas no Chelsea foi a troca constante de treinadores quando as coisas saiam do controle. Primeiramente, vale destacar que essa é uma tendência muito mais presente no time masculino. No entanto, os diferentes momentos e campanhas das equipes demonstraram, cada um da sua maneira, que os comandantes demonstram ser os ideias para dar início ao novo capítulo da história do clube.

Pressão do início ao fim

As categorias de base dos Blues, notadamente as equipes sub-18 e sub-23, viveram momentos opostos na temporada. Ed Brand, comandando o Youth Team, lutou firme na parte de cima da Premier League sub-18. Porém, com um final não tão bom em comparação aos outros times do topo, a equipe terminou em 7º lugar da divisão sul. Sendo assim, não correu muitos perigos. Inclusive, conquistando o título da Copa da Liga.

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Por outro lado, a equipe de desenvolvimento lutou desde o início para obter bons resultados. Mesmo antes da temporada começar, a saída de lideranças como Tino Livramento e Lewis Bate impactaram os comandados de Andy Myers. Da mesma forma, nomes que seriam indiscutíveis entre os titulares saíram em empréstimo para dar o próximo salto na carreira – o que é bastante justo, visto que muitos tiveram sucesso.

Enfim, Myers e seus comandados, ao final da temporada, se viram contra a parece necessitando de pontos cruciais para escapar do rebaixamento. Jogadores do sub-18 se mesclaram ao sub-23 para dar profundidade e conseguiram exercer bem seu papel e assumir a responsabilidade quando necessário.

Por trás de tudo isso, Neil Bath aguentou os trancos e bancou os erros e acertos ao longo da temporada. O grande responsável pelo área de Desenvolvimento Jovem do clube, inclusive, já conversou com Boehly. Dessa forma, é grande a possibilidade de que siga no comando deste setor – com o objetivo supremo de retomar a posição dos Blues no topo.

Crescimento na hora certa

O Chelsea Women chegou para a temporada tendo conquistado tudo em 2020/21 com exceção da Liga dos Campeões. Então, a grande missão de Emma Hayes para 2021/22 era levar o time à final da competição europeia novamente e, desta vez, voltar com o título.

No entanto, não foi o que aconteceu. As Blues caíram ainda na fase de grupos da competição continental e sofreram com muitas lesões ao longo das campanhas. Em certo momento, até mesmo, parecia que o clube passaria em branco na temporada.

Mas, o Chelsea deu a volta por cima e, de novo, Hayes demonstrou porque está no comando da equipe há quase uma década – enquanto no masculino muitos chegaram e se foram. A treinadora, portanto, conseguiu se adaptar a um plantel mais curto e às muitas viagens do fim da temporada, bem como às sanções e consequências das medidas impostas pelo governo. Apesar de tudo, a equipe conquistou o bicampeonato da FA Cup e o tricampeonato da FA Women’s Super League.

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Em 2022/23 não apenas teremos mais um capítulo entre as Blues e Emma Hayes, mas também a chegada de uma nova administração que não deve fazer outra coisa a não ser investir na modalidade. Hayes abriu portas e plantou ideias e táticas que permitiram a profissionalização e a consolidação do Chelsea como uma força, também, no futebol feminino. Logo, é vital que Boehly dê apoio à treinadora para que os frutos sigam a ser colhidos por muito mais tempo.

No olho do furacão

Em pouco mais de um ano e quatro meses no comando Tuchel conquistou três troféus e levou os Blues à seis finais. A temporada marcou a primeira do alemão no comando da equipe do início ao fim e, dado tudo que enfrentou, é de se tirar o chapéu. Até a metade da temporada, o time estava no topo – tanto da tabela como no físico.

No entanto, as lesões que assombraram as comandadas de Hayes fizeram o mesmo com os comandados de Tuchel e, com certeza, impediram que o desempenho seguisse no mais alto nível. Da mesma forma, as questões extracampo têm sua influência na temporada. Sendo ainda mais presente e intensa em relação ao trabalho do alemão – envolvendo não apenas a questão das sanções, mas também discussões recorrentes sobre a situação contratual de peças centrais no elenco.

Ainda assim, o Chelsea foi aos Emirados Árabes e conquistou o Mundial de Clubes. Além disso, se manteve basicamente a campanha inteira no top 4 do campeonato inglês e chegou à final tanto da FA Cup como da Carabao Cup. Da mesma forma, vale destacar a boa campanha na UCL, mesmo caindo ainda nas quartas de final para o Real Madrid.

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Em outras palavras, o treinador alemão se manteve firme e soube fazer o que muitos no passado não conseguiram: controlar o grupo. Com isso, Tuchel demonstrou que pode ser um dos grandes nomes da Era Boehly. Mas, para isso, precisa do apoio do novo dono. Sobretudo para consolidar suas ideias, opiniões e desejos – fortalecendo ainda mais o DNA vencedor do clube.

A vida não é um videogame

Por vezes no passado, o Chelsea contratou por oportunidade de mercado ao invés de necessidade. Logo, o elenco ficou inchado e não apresenta boas peças de reposição. Ou seja, são muitos jogadores no plantel, contudo, muitos não encaixam no sistema nem têm qualidade para substituir os titulares. Por conta das lesões, isso ficou evidente, sobretudo em relação ao elenco de Tuchel.

Mais ainda, como em outras oportunidades anteriores, o clube deixou para lidar com situações contratuais na última hora. É verdade que as limitações impostas ao funcionamento do Chelsea têm algum efeito para essa situação. Contudo, já se sabia que uma série de contratos estava por expirar e, mesmo assim, deixaram para tentar resolver tudo ao longo da temporada. Antonio Rüdiger é um dos jogadores cujo contrato vence ao final da temporada e, dadas as incertezas em relação aos Blues para o futuro, optou pela transferência para o Real Madrid.

Rüdiger reascendeu sob o comando de Tuchel e se tornou um dos pilares da equipe. Porém, impasses em relação ao seu contrato levaram-no a optar por deixar o clube no verão europeu (Reprodução: UEFA/Twitter)

César Azpilicueta (caso a cláusula de mais um ano não tenha sido ativada), Andreas Christensen e Charly Musonda Jr. são outros que podem deixar Londres na próxima janela. Em 2023 são mais sete contratos expirando, dentre eles os de N’Golo Kanté e Jorginho.

Dessa forma, não é porque os contratos estão vencendo que eles precisam ser renovados. Porém, não é um fato que pode passar batido pela diretoria. Jogadores saindo de graça dão prejuízo ao clube, sobretudo aqueles que foram contratados por milhões. A questão contratual deve passar à prioridade e deve ser discutida, também, com os treinadores – porque não há sentido em manter no elenco alguém que não terá oportunidades dentro do clube.

E quanto à Marina?

Durante os anos de Abramovich à frente dos Blues, Marina Granovskaia ascendeu na diretoria, até que eventualmente se tornou a principal responsável pelas transferências do clube. Mesmo que alguns dos nomes trazidos sob a responsabilidade da russa sejam discutíveis, é indubitável que ela é uma das grandes responsáveis pela consolidação do Chelsea na posição de destaque que hoje assume.

Ou seja, ela sim bancou contratações por oportunidades. Ao mesmo tempo que também fez outras a pedido de treinadores. Umas deram certo outras deram errado. Contudo, a figura de Marina no clube vai muito além do que estamos acostumados a associar.

Marina comemora o título da FA Cup junto ao Chelsea Women (Reprodução: Lauren James/Instagram Stories)

Por trás dos panos, ela é alguém que, de certa forma, apoia bastante a administração dos elencos. Em especial em situações em que há embate entre comissão técnica e jogadores. Por exemplo, Marina foi a grande responsável por brigar pela renovação contratual de Didier Drogba em 2009, quando muitos acreditavam que não era necessário. Resultado: Drogba manteve o Chelsea vivo na final da Champions League de 2012 e marcou o pênalti decisivo que consagrou os londrinos campeões. Além das outras marcas decisivas até sua despedida do clube.

Portanto, é evidente que a russa tem uma grande participação no dia-a-dia do clube. Estando presente nos bastidores assim como publicamente quando necessário – sobretudo após a questão de visto de Abramovich para entrar no Reino Unido. Então, sua presença, pelo menos no momento da transição, seria muito importante. E, caso ela esteja pronta pra cortar os laços profissionais com seu compatriota, não seria má ideia deixar Marina no clube. Ela sabe o que faz e tem reconhecimento por ser excelente em sua função, o que, sem dúvidas, seria uma grande adição à equipe de Boehly.

Loan Army não deve ser uma alternativa para jogadores sem espaço

Especificamente no que diz respeito àqueles jogadores que não tem (mais) espaço no Chelsea, grande parte das vezes eles acabam saindo em empréstimo por uma ou duas temporadas. Quando o vínculo de empréstimo acaba, retornam a Cobham, fazem as preparações e, grande parte das vezes, voltam ao Loan Army. Por vezes, pode acontecer de o jogador até mesmo ficar porque outros time não têm interesse em recebê-lo em empréstimo.

Essa situação foi o que levou Malang Sarr, Ross Barkley e Trevoh Chalobah a estarem no plantel de Tuchel. Dentre esses nomes, Chalobah chamou a atenção positivamente – o que acontece eventualmente. Em sua primeira temporada representando o time principal, o jovem zagueiro fez 30 partidas, marcando quatro gols e dando uma assistência. Entretanto, Sarr e Barkley pouco impressionaram e demonstraram o que acontece muitas vezes: o jogador que não encaixa no esquema mas que também não atrai interesse externo acaba ficando encalhado no banco.

No decorrer da temporada, Kenedy voltou de seu empréstimo junto ao Flamengo e foi pouco utilizado – mesmo diante da necessidade de um ala esquerdo na ausência de Ben Chilwell.

Desde que voltou de empréstimo em janeiro, Kenedy participou de duas partidas e 71 minutos de jogo no total (Créditos: Chelsea FC)

Dessa forma, é nítido que a política de contratação e de empréstimos se relacionam diretamente e apresentam falhas que devem ser corrigidas assim que possível. Ainda mais com as novas regras de empréstimo da FIFA. Com isso, o clube não vai poder sustentar sua atual política e, com certeza, se verá obrigado a reformular. Tanto para deixar ir peças que não têm espaço como para trazer aquelas necessárias para potencializar a equipe.

Cobham deve ser a prioridade sempre

Em dois sentidos principais. O primeiro, brevemente, diz respeito à estrutura do centro de treinamento. É enorme que todas as equipes do clube treinem e vivam seu dia-a-dia no mesmo lugar. Logo, é preciso seguir investindo na estrutura para que o trabalho seja de cada vez mais alto nível dentro e fora dos campos.

Por outro lado, Cobham diz muito sobre as categorias de base – tanto no feminino como no masculino. Investir na formação de jogadoras deve ser um dos pontos que Boehly ter atenção. Os Blues têm a chance de se tornar referência, também, no desenvolvimento de talentos na modalidade feminina – algo que, na Inglaterra, ainda é muito recente no mais alto nível. Mais ainda, a figura de Emma Hayes é um grande apoio e pode oferecer o norte para o projeto, juntamente com Neil Bath, que é outra referência.

Continuidade da excelência

Quanto à base do masculino é indispensável ter os mesmos cuidados contratuais e de administração do desenvolvimento quanto no time principal.

Tanto no final desta temporada como no fim da próxima, muitos contratos de jogadores das equipes sub-18 e sub-23 estão vencendo, e têm clubes de olho nessa oportunidade. O Chelsea tem que formar talentos para si e não deixá-los sair para fortalecer outros clubes. Em alguns casos, até mesmo, rivais diretos.

Nesse sentido, é essencial que esses jovens tenham a oportunidade de se integrar com o elenco principal. Em especial nos treinamentos porque a participação em jogos é bastante pontual e, geralmente, por necessidade. Ainda assim, é necessário que haja o sentimento de que o jogador formado nas categorias de base pode ter sua chance. Então, para que isso aconteça, seu desenvolvimento é prioridade.

Por exemplo, no início da temporada 2021/22, dois jogadores deixaram o clube por pensarem que teriam poucas chances de ascender no profissional: Tino Livramento e Lewis Bate. Bate foi para o Leeds e jogou grande parte da temporada na equipe de desenvolvimento. Ainda assim, esteve presente de forma mais constante nas atividades do profissional e teve suas oportunidades quando possível.

Bate foi titular na partida entre Leeds e Chelsea que terminou com a vitória dos Blues por 3-0 (Reprodução: Oli Scarff/Getty Images)

Livramento, por sua vez, é a prova da excelência de Cobham e só fortalece tudo. Saiu para o Southampton e logo assumiu a titularidade. Acabou que, pelas circunstâncias da temporada, caso o lateral tivesse permanecido poderia ter ajudado e muito a equipe de Tuchel. No entanto, optou pelos Saints em busca de jogo e experiência e conseguiu. E sem dúvidas virá a assumir ainda mais protagonismo no futuro próximo – e tem apenas 19 anos.

Loan Army como oportunidade

Lógico que não é de uma hora para outra que um jovem vai fazer sua estreia pelo Chelsea. Nesta temporada, por exemplo, Tuchel permitiu que algumas pratas da casa de Cobham estreassem no profissional. Dentre eles Harvey Vale, Xavier Simons e Lewis Hall. Mais ainda, o alemão contou com a participação de jogadores das categorias de base em seu treino em diversas ocasiões. Exatamente para garantir essa proximidade e aguçar o apetite desses jovens.

Mesmo assim, não é qualquer jogo que pede ou que permite que um jogador do sub-23 possa atuar no seu mais alto nível. Não só porque a intensidade é diferente, mas também por conta de todo o aspecto mental que ainda está sendo trabalhado. E é aqui que entra a Loan Army.

Os empréstimos não tem que ser voltados para garantir que jogadores “encalhados” joguem. Mas sim para permitir um desenvolvimento gradual dos graduados no clube. Para que, dessa forma, quando eles voltarem, eles possam assumir as responsabilidades que o futebol de nível da Premier League e da Liga dos Campeões demanda.

Diversos nomes passaram por esse processo, tais quais Mason Mount e Reece James. E outros estão na transição nesta temporada, com grandes chances de obter sua chance sob o comando de Tuchel como é o caso de Levi Colwill, Conor Gallagher, Billy Gilmour e Ian Maatsen, sobretudo. E, nesse caso, a política de empréstimos do Chelsea é bastante inteligente – com empréstimos gradativos que vão subindo o nível técnico e de cobrança para os formados em Cobham. O que não pode acontecer é deixá-los para sempre no sistema, senão, pode levar a grandes perdas para o elenco.

Os torcedores e a comunidade de Fulham Road não podem ficar em segundo plano

Se Todd Boehly pode tirar uma grande lição de todo o processo de venda pelo qual passou é: a torcida importa. Foi a torcida que pressionou um dos grandes favoritos de modo que, até mesmo, retiraram sua oferta pelo clube. Mais ainda, as conversas com grupos de torcedores e com lendas do clube que um dia estiveram em campo vestindo a camisa do Chelsea e, hoje, lutam em favor do clube são grandes outros indícios disso.

Lógico que ter o dinheiro para bancar o projeto é o principal, entretanto, sem o apoio da torcida e de figuras vocais na representação dos Blues pouco adianta. Parece que o americano e seu consórcio entenderam isso desde o início e jogaram com verdade e transparência para que tudo ficasse o mais resolvido possível entre as partes. Por isso, Boehly foi considerado um dos nomes de ponta no processo desde o início.

Nesse sentido, é importante seguir colocando a torcida e a comunidade no centro de quaisquer ações dentro do clube. É necessário estar aberto e colocar, sempre que possível, torcedores como representantes nas discussões nos bastidores do Chelsea. Em especial àquelas que dizem respeito a pontos que os afetam diretamente como planos de compra de ingresso e até mesmo questões que envolvam a infraestrutura do estádio.

Mais uma vez, isso deve ser feito com cuidado e pontualmente, até porque nem todas as discussões administrativas cabem participação de torcida e membros da comunidade. Porém, a torcida não pode jamais ser posta em segundo plano ou fora do escopo do clube, caso contrário, não faltam exemplos para demonstrar que não há possibilidade de muito sucesso e continuidade.

O trabalho da Fundação deve ser continuado

A Fundação do Chelsea é um dos projetos centrais que cresceu sob à administração de Roman Abramovich. Muito mais do que a promoção do futebol, a Fundação procura unir a dimensão esportiva com a de educação e promover ações. Sobretudo nas comunidades próximas ao clube. Mais ainda, o clube se utiliza de sua fundação para potencializar campanhas contra os preconceitos da mais diversa ordem – até mesmo, recentemente, promovendo ações contra os abusos virtuais.

Ao longo dos anos, a atuação dos projetos e das campanhas promovidas pelo clube têm chamado atenção e contam, cada vez mais, com a participação de figuras passadas e presentes que fizeram história com os Blues. Por isso, é indispensável que os esforços sigam fortes a partir da atuação de Boehly e seu consórcio. Até porque, muito além de ser uma ponte importante entre clube, comunidade e torcedores, a Fundação é um dos pilares da preservação da história do Chelsea.

Por mais que muitos brinquem que o clube londrino tenha surgido em 2003, sua história dirá que muito antes disso houve muita coisa. Dessa forma, é importante que o passado seja protegido e sirva de base para construir esta nova fase no oeste da capital – para que muito mais seja guardado pela Fundação e impacte positivamente na vida de milhares de Blues ao redor do mundo.

Relação estádio e clube precisa ser fortalecida

Historicamente, Stamford Bridge viveu grandes momentos e se consolidou como um marco de Fulham Road. E até mesmo do oeste de Londres. Agora, precisa de reformas que permitam que seu engrandecimento seja tão sentido quanto o do clube nas últimas décadas.

Pela importância do estádio e todo seu significado, o Chelsea deve permanecer onde está. Assim como é necessário preservar Kingsmeadow – casa do time feminino e das equipes da base. Nesse sentido, a experiência de Boehly com franquias americanas pode ser central para que as reformas necessárias no presente sejam suficientes para acomodar a torcida e as necessidades do clube por muitas décadas no futuro.

Isso porque a indústria esportiva americana tem pontos positivos que podem servir de exemplo para a reestruturação da casa dos Blues. Sem dúvidas, uma mudança do clube de local – como acontece com as franquias nos EUA – está fora de cogitação, porém a transformação do Stamford Bridge em uma verdadeira experiência de entretenimento não é uma má ideia.

Não nos mesmos moldes dos esportes americanos, com shows de intervalo e tudo mais. Mas sim de forma que permita uma aproximação do torcedor com o clube. O Chelsea já tem um museu em seu estádio e sua conservação é vital nesse sentido. Além disso, é possível promover atividades no estádio, quando possível, de forma a engajar ainda mais com a comunidade. Assim como alocar mais jogos da base e do feminino para Stamford Bridge, o que sem dúvida seria benéfico para as modalidades – da mesma forma que seria um grande demonstrativo de reconhecimento por parte do clube.

A expansão dos Blues ao redor do mundo pode ser uma grata surpresa

Mais um aspecto que pode ser importado do modelo de gestão americana é a internacionalização da marca. No Brasil, por exemplo, um levantamento da ESPN apontou a torcida do Chelsea como a oitava maior no país levando em conta times estrangeiros. Por conta de jogadores africanos importantes na história recente do clube, a torcida Blue no continente é bastante significativa.

Nesse quesito, o clube londrino já tem uma iniciativa muito legal que são os Supporters Clubs. Que nada mais são que grupos de torcedores espalhados pelo mundo que tem uma conexão ainda mais direta com o Chelsea. Inclusive, os Blues reconhecem esses grupos e buscam recompensá-los conforme vão crescendo, mais uma vez, procurando aproximar a comunidade o quanto possível. Inclusive, o Chelsea Brasil tem um Supporters Club, caso tenha interesse, é só clicar aqui e se inscrever – é bem simples e legal.

Enfim, a internacionalização de franquias esportivas americanas traz muitos retornos – em especial financeiro. É importante ter cuidado uma vez que um clube de futebol se comporta diferentemente de uma franquia de basebol ou basquete por exemplo. Porém, visar retornos similares em termos de valores e maior presença dos Blues ao redor do mundo – das mais diferentes formas – é um aspecto que pode ser explorado por Boehly que, inclusive, já tem experiência no campo.

Com um projeto bem estruturado e com o investimento certo, o Chelsea pode se valorizar e assumir posições de prestígio maior – tanto no que diz respeito ao futebol como também ao apoio à causas e aos projetos que vão de encontro aos valores e às ambições do clube.

Janela de verão tem que ser perfeita – nas entradas, saídas e nos detalhes

As transferências na próxima janela não precisam ser absurdamente caras. Porém, com toda certeza, devem atender às necessidades do clube. Tanto em termos de pedido dos treinadores como em relação à sustentabilidade do clube. Boehly chega com dinheiro, isso é fato. Só que ainda temos reformas para fazer em Stamford Bridge e, dado o plantel atual e as possibilidades que surgirão da base e do Loan Army, é possível poupar em questão de transferências.

Isso não significa não se movimentar – até porque cada time do Chelsea precisa de certas peças. Entretanto, os gastos tem que ser inteligentes para que o inchaço do elenco seja diminuído. Não somente para aliviar o clube, mais uma vez ressaltando esse fato, mas também para se adequar as novas regras da FIFA.

Os times devem ser montados para disputar com consistência as 38, 22 ou 26 rodadas dos campeonatos e garantir bons desempenhos nas. Todas as categorias dos Blues começaram a temporada disputando tudo possível – desde campeonatos nacionais à continentais. E se essa temporada deixa uma grande lição é que, para competir com as potências (masculino), seguir no topo (feminino) ou mudar a maré (Academia) é preciso manter o mais alto nível desde o início para não repetir as mesmas situações do passado.

Os Blues têm tudo ao seu favor para desafiar quem quer que seja no futuro. Para concretizar o sonho de Tuchel de se tornar o clube que ninguém quer enfrentar. Boehly traz consigo muita bagagem que pode potencializar esse sonho e permitir que ele aconteça o quanto antes. Custa romper com alguns velhos hábitos e confiar. Já temos quase tudo necessário para o sucesso duradouro. Up the Chels, até 22/23!

As palavras neste texto condizem com a opinião do autor, não tendo qualquer relação com o Chelsea Brasil

Category: Opinião

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Article by: Nathalia Tavares