Blog: Vencer ou jogar bonito?

Atual time do Chelsea já provou que pode entrar para história, mas caiu de produção recentemente (Foto: Getty Images)
Atual time do Chelsea já provou que pode entrar para história, mas caiu de produção recentemente (Foto: Getty Images)

O que é mais importante para você: vencer ou jogar bonito? Basicamente dá pra dividir todos os torcedores de futebol nestes dois grupos, naqueles que se importam apenas com a vitória, mesmo jogando feio, e aqueles que querem ver o time vencer e convencer, jogando um futebol vistoso. Eu devo dizer desde já, ainda no início deste post, que não pretendo resolver esta questão, apenas levantar o questionamento, botar lenha nesta discussão quase filosófica.

Nos últimos jogos, José Mourinho tem insistido em escalar “duas torres” à frente da defesa: Mikel e Matic. E por mais que Matic já tenha se provado habilidoso e versátil como volante, os dois juntos deixam o meio de campo mais pesado e defensivo, e deixa um buraco no meio de campo. Desde o início da temporada, o treinador português já tem feito esta dupla, mas com o nigeriano entrando no segundo tempo, normalmente no lugar de Oscar, e assim deixando Fàbregas subir mais, compondo a linha de três armadores.

Nestas situações, eu até entendia. Normalmente o Chelsea vencia um jogo de forma apertada e Mourinho queria mesmo era segurar o jogo e preservar o resultado. Eu aceitava, mas não posso negar que torcia o nariz. Nem é birra com Mikel, eu até acho importante ter o camisa 12 para compor elenco, já que ele já tem oito anos de casa e de Premier League, é um reserva experiente, pode ser útil. Mas preferia ver uma dupla de volantes diferentes, com Ramires, por exemplo.

Porém, recentemente, Mourinho escalou, pela falta de Fàbregas num jogo e para preservar meias em outros dois, Mikel e Matic juntos. Essa escalação deixa o Chelsea com os volantes muito distantes dos meias, e mesmo que estes voltem para buscar o jogo, acaba que o time fica desequilibrado na frente, sem ocupar espaços ofensivos, ou seja, o sistema de jogo acaba ficando lento. Sem falar na saída de bola, que mesmo com o bom passe de Matic, fica prejudicada.

O Chelsea até consegue ter um futebol eficiente e vencer os jogos, mas acaba jogando um futebol mais pragmático, e em alguns momentos até mesmo chato, que desanima. E aí surge a questão: vencer ou jogar bonito?

Mikel foi titular nos últimos jogos, ao lado de Matic (Foto: Getty Images)

Times como Real Madrid e Bayern de Munique, só para citar àqueles a quem mais nos comparam, jogam sem nenhum volante de contenção. Os espanhóis jogam com Toni Kroos e Luka Modric, por exemplo, e na ausência do croata foi improvisado Isco, um meia de bom passe, na posição, para manter a saída de bola. Já os bávaros, quando têm todos os titulares, revesam Philipp Lahm, Schweinsteiger, Tiago Alcântara ou Xabi Alonso, na volância, sendo que nenhum deles é conhecido pela marcação, e sim pela boa qualidade na transição do jogo e nos passes.

Para que os Blues não precise escalar os dois volantões de contenção, há a possibilidade de escalar Ramires como segundo volante e manter um sistema com um volante mais jogador, habilidoso, que saia para o jogo e melhore o passe. Dá até para escalar um 4-1-4-1, recuando Oscar para a função de Fàbregas, quando este estiver de fora, e colocando a sua frente três meias. Com o espanhol em campo, como foi contra o Derby, daria para colocar ele, Ramires e Matic, formando um time num 4-3-3 tradicional, mas com Fàbregas e Ramires revesando a saída ou até mesmo saindo os dois.

Assim, com estas possibilidades, o time jogaria o futebol envolvente de posse de bola, de transição e de controle, um futebol mais leve e mais bonito, que acostumamos a ver nos últimos meses e que nos encheu de esperanças. E poderia ser igualmente eficiente. Se o Chelsea tivesse perdido com esta formação com dois volantes de contenção, esta questão seria muito debatida e criticada, mas questionar esta escalação mesmo com vitórias levanta estes pensamentos muito interessantes.

Porém, há momentos na temporada, como este, em que vencer é mais importante que convencer. O December Madness está aí, com dez jogos em 30 dias, praticamente. Nem sempre é possível manter o futebol vistoso com tantos jogos. E as vezes é até interessante escalações que preservem alguns jogadores. Mas também não dá pra negar que gostaríamos de ver um time mais envolvente, principalmente porque opções não faltam no elenco. E porque também vimos nestes últimos meses que o time sabe jogar assim.

Muitos de vocês, à esta altura do texto, já pensaram umas cinco vezes no Chelsea de 2012, que venceu a Copa da Inglaterra e a Champions League jogando feio, atrás, com o famoso ônibus – mas sem Mourinho, estacionado na frente do gol -, como foi no jogo clássico contra o Barcelona no Camp Nou. Deu certo, demais. Mas o elenco era apenas mediano, quase medíocre em algumas posições. Jogar daquela forma era o que tinha, e se mostrou eficiente. O time venceu, não convenceu, mas venceu mesmo assim, e é o elenco mais importante de nossa história, sem dúvidas.

É preciso tirar o melhor do que você tem, e Di Matteo fez isso. Para aquele time, o sistema de contra-ataques realmente era a opção correta. Não dava pra tentar um futebol de toques de bola contra Barcelona e Bayern. E exatamente por achar que se deve formar um time potencializando as qualidades do elenco é que espero deste time um futebol melhor.

Não dá pra apostar em um discurso de volta àquele futebol com o elenco que o Chelsea tem hoje a disposição. Aquele time tinha Raúl Meireles, Oriol Romeu, José Bosingwa, Fernando Torres, Salomon Kalou, Florent Malouda, e o eterno Mikel como titular. E os melhores deles ainda nem estavam em suas melhores fases. Di Matteo tinha que improvisar Bertrand como meio de campo, como foi na final da Champions League, para se ter uma ideia. Era um time de batalhadores, operários, sem muito talento, mas com um futebol muito eficiente.

Hoje temos Fàbregas, Oscar, William, Hazard, Diego Costa, Matic, Schürrle. E até mesmo Filipe Luís e Azpilicueta, que são opções bem mais vistosas e técnicas do que Bosingwa e Bertrand. Inegavelmente é um time de mais qualidade, técnica e capacidade de demonstrar um bom futebol. E Mourinho tem valorizado isso, muitos tem dito que é o time mais ofensivo da carreira do treinador.

Talvez por isso mesmo, quando o Chelsea joga de forma mais pragmática, nós torcedores ficamos frustrados na frente da televisão. E questionamos o porquê da ausência de atletas como Ramires e Schürrle no lugar de Mikel, ou até mesmo de Matic, para dar um descanso ao sérvio e deixar o nigeriano jogar.

Mas por mais que estejamos certos em pedir, ou pelo menos desejar, um futebol bonito, temos que entender também os contextos do futebol, o andamento de temporada, as sequencias de jogos, a preservação do elenco. Como dito antes, muitas vezes o futebol pragmático, é, na verdade, a estratégia que Mourinho deseja, sejamos felizes ou não com isso. Mas outras vezes o futebol acaba sendo feio porque não deu liga mesmo, como no jogo contra o Hull City.

Temos que ser pacientes como torcedores e aproveitar o bom momento do time, que perdeu apenas um jogo em 27 disputados. Mas também queremos ver evolução no futebol jogado, ver o time dominando os adversários e controlando jogos, para podermos sonhar com ambições maiores no fim da temporada.

Este post não buscava escolher entre vencer ou jogar bonito. Esta questão eu levanto para vocês. E sei que muitos dirão que quer os dois, é claro. Nada adianta jogar bonito e perder, como fez o Brasil de 1982 e a Holanda de 1974. Mas assistindo Hazard, Oscar, Willian, Schürrle, Ramires, Fàbregas, Diego Costa, Matic e companhia, dá pra esperar um futebol que agrade aos olhos e que renda resultados. É o que todos esperamos.

Por isso mesmo é que me causa desconforto ver Matic e Mikel juntos, que são o motivo para toda esta reflexão meio boba estar sendo escrita. Mas ao mesmo tempo que desagrada uma parte de mim, agrada a outra por ver o time vencer, mesmo sem convencer, mas rodando um pouco o elenco e deixando o bom futebol para momentos menos turbulentos da temporada.

É uma discussão que tende ao infinito, já que nunca estive tão feliz com os Blues como na final da Champions de 2012, com um time jogando feio. E se este chegar no final da temporada com quatro volantes em campo, como foi nos finais de jogos contra Hull City, Sporting Lisboa e Derby County, mas levantando troféus, é o que importa e não terei nada do que reclamar. Mas não consigo aceitar também um futebol pragmático com um esquadrão como este.

O futebol é feito de resultados, cansamos de dizer isso, mas o que nos faz gostar deste esporte é a beleza que ele proporciona. É o que nos faz sorrir e pular na cadeira. O drible é a arte, a troca de passes envolventes do futebol moderno enche os olhos. A ginga nos faz comentar uma jogada na segunda feira para os amigos com um sorriso no rosto. Mas se as vitorias vierem mesmo sem tudo isso, sorriremos também. Por isso o futebol é o maior esporte do mundo, porque nos leva quase à metafísica refletindo suas dualidades.

Quero chegar a maio com John Terry levantando taças, quanto mais melhor. Jogando bonito ou não. Mas do fundo do coração, gostaria também de ver estes jogadores formando um time de bom passe, de triangulações e que fique marcado na memória dos torcedores por saber jogar futebol. E isso já vimos que este time é capaz, jogadores temos para isso.

E você, torcedor azul, o que prefere? Simplesmente vencer, ou ver o time jogando um futebol bonito?

As palavras contidas nessa reportagem condizem à opinião do autor, não tendo qualquer relação com o Chelsea Brasil.

Category: Opinião

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Article by: Chelsea Brasil

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