Maio de 2012 foi um mês decisivo na história do Chelsea Football Club. O clube se encontrava na grande final da UEFA Champions League, pela segunda vez em sua história, além de estar também na final da FA Cup.
Depois de uma temporada de altos e baixos, e de momentos emocionantes na Champions League, apenas dois caminhos se mostravam à frente dos Blues. Escrever a maior página da história do clube ou viver novamente a tristeza de estar muito perto da glória europeia e falhar.
E o caminho para a glória não seria nada fácil. Na final europeia, tínhamos pela frente o gigante alemão Bayern de Munique, que por pura sorte, jogaria a final em casa – o local da final da UCL é definido antes mesmo do início da temporada. E se já parecia difícil vencer o Bayern, vencê-los em sua casa era algo ainda mais árduo. Os alemães, à época, já contavam com o grande elenco que venceu a competição na temporada seguinte: Neuer, Boateng, Kroos, Lahm, Schweinsteiger, Müller, Ribéry, Robben, Gómez, dentre outros.
Mas para quem havia enfrentando um caminho tão duro e dramático até ali, nada era impossível. O Chelsea havia batido nas semis o Barcelona de Guardiola, Xavi, Messi, Fàbregas e Iniesta, um time considerado por muitos um dos melhores do mundo. E os Blues passaram por eles sem derrotas. Uma vitória em Stamford Bridge e um empate na Catalunha, de uma forma comovente, emocionante.
E o duelo contra o Bayern dava ao Chelsea a chance de coroar sua geração de ouro, depois da triste história de Moscou. Era o único título que faltava para jogadores como Petr Cech, Paulo Ferreira, John Terry, Ashley Cole, Frank Lampard e Didier Drogba. Mais do que todos os outros, esses jogadores formaram a base de um time que conquistou tudo em dez anos, mas que não tinham tido o sabor de glória europeia. Seria uma lástima ver essa geração tão importante na história do clube sair de cena sem levar acima de suas cabeças a taça mais importante do futebol europeu.
Já na final doméstica, havia um embate que também era importante para estes jogadores, pois o rival em questão era aquele que, sem sombra da dúvidas, havia sido o maior rival desta geração de jogadores, o Liverpool, de tantos embates locais e até mesmo na Europa, com grandes páginas escritas. E, outra vez, os Reds tinham um time forte, com Luis Suárez, Gerrard e companhia.
Na Premier League, vocês sabem, a campanha havia sido mediana, muito abaixo das expectativas dos torcedores azuis, sendo que o time não conseguiria, sequer, estar no grupo que se classificaria para a Champions League da temporada seguinte. Então, vencer a Champions, além de tudo, era também uma forma de garantir vaga na competição para a temporada seguinte.
E como o time londrino nada mais ambicionava na temporada, não restava outra opção senão se dedicar exclusivamente a estas duas competições. Descansar os jogadores, criar estratégias e se preparar mentalmente para duas finais que poderiam mudar para sempre o destino do clube. As finais seriam, respectivamente, nos dias 05 e 19 de maio, separadas, portanto, por apenas duas semanas.
Na primeira data, o Chelsea ia a Wembley, palco habitual para os Blues nas temporadas anteriores, encarar o Liverpool, pela final da Copa da Inglaterra. E foi um jogo com os elementos que um clássico desta proporção merece, ainda mais pela história que os dois clubes construíram um contra o outro na ultima década.
E o estádio estava lotado, com mais de 89 mil torcedores. O Chelsea não contava com Garry Cahill e David Luiz e por isso entrou com Branislav Ivanovic na zaga e José Bosingwa na lateral-direita. A escalação completa tinha:
Petr Cech; Jose Bosingwa, Branislav Ivanovic, John Terry, Ashley Cole; John Obi Mikel, Ramires, Frank Lampard, Juan Mata, Salomon Kalou; Didier Drogba
O banco: Turnbull, Paulo Ferreira, Meireles, Essien, Torres, Sturridge, Malouda
Ramires jogava com liberdade pelo lado direito, compondo um sistema que ora atuava com três volantes, ora com três armadores, sendo que o brasileiro fazia as duas funções, sendo também a válvula de escape do time nos contra-ataques.
Isto porque o jogo proposto pelo time de Roberto Di Matteo era pragmático, duro, defensivo, e muitas vezes considerado até feio por torcedores e pela imprensa. Não por acaso o Chelsea ganhou na Inglaterra o apelido de “Boring Chelsea”. Mas era um estilo competitivo e que valorizava a solidez defensiva que tanto faltou ao time durante a temporada.
Ramires, que para muitos – inclusive eu, e com razão, foi o melhor jogador da temporada -, foi quem abriu o placar do confronto, em uma jogada típica do Chelsea de Di Matteo: o contra-ataque letal.
Aos onze minutos de jogo, após bola rebatida no meio de campo, Mata dominou ainda antes do grande círculo e acionou Ramires em profundidade, na intermediária adversária, com a zaga vermelha ainda retornando a sua posição. O brasileiro, com sua característica correria, arrancou com a bola, ganhou na velocidade do lateral José Enrique, e chutou no canto do goleiro. A bola ainda bateu em Pepe Reina antes de entrar. Festa azul em Wembley!
Foram apenas cinco toques na bola entre a roubada de bola dos Blues e o gol de Ramires, apenas cinco toques, um contra-ataque realmente imparável!
Eram 11 minutos de jogo e o Chelsea já vencia. Por isso passou a adotar uma postura ainda mais defensiva do que a que já demonstrava desde o início do confronto, passando a valorizar ainda mais claramente os contra-golpes. Isto deu ao Liverpool algumas chances, como com Craig Bellamy, que chutou sobre Ivanovic. Porém, os Reds não assustaram tanto assim. Luis Suárez jogava muito isolado e absolvido pela defesa bem mantida dos Blues.
No início do segundo tempo, com apenas sete minutos jogados, Mikel fez passe curto para Lampard que cortou um marcador e encontrou Didier Drogba na entrada da área. O marfinense dominou, ajeitou o corpo, já dentro da grande área, e tocou entre as pernas do zagueiro, bem no canto do goleiro para fazer 2 a 0 a favor do Chelsea. Drogba novamente aparecia em uma grande final.
Era seu quarto gol em quatro finais de FA Cup, todas conquistadas. Ele é o único jogador a conseguir tal feito. Contabilizado todas as competições, era seu oitavo gol em oito aparições no maior estádio inglês. Pelo feito, foi chamado de “Rei de Wembley”. Incrível como Lampard parecia conhecer cada caminho, cada atalho dentro do novo Wembley. Este gol foi, também, um dos últimos gols do centro-avante com a camisa do Chelsea antes de deixar o clube em 2012.
Logo depois do gol, foi a campo Andy Carroll, para tentar imprimir ao Liverpool um futebol mais ofensivo. E a entrada do atacante de 30 milhões de libras mudou completamente a dinâmica do jogo. O Liverpool se adiantou e passou a pressionar o Chelsea, que a esta altura, se preocupava apenas com o fim do jogo.
Dez minutos depois de entrar em campo, Carroll, depois de uma bobeira de Bosingwa, que perdeu uma bola fácil para Downing, recebeu a bola na área, driblou Terry e chutou alto, sem defesa para Petr Cech. Eram 64 minutos jogados e o Liverpool diminuía. 2 a 1, ainda com meia hora, praticamente, por jogar.
E o gol fez o time de Liverpool atuar ainda mais no ataque, mas a solidez defensiva do Chelsea impedia que o Liverpool chegasse ao empate. E apesar de ameaçar pouco, o Liverpool tinha suas chances. Suárez chutou uma para defesa de Cech. Minutos depois, Carroll cabeceou para fora.
Mas o lance que decidiu a partida, por assim dizer, aconteceu aos 81 minutos de jogo. Após cruzamento de Luis Suaréz, Carroll cabeceou em direção ao gol do Chelsea. Uma cabeçada forte, que tinha tudo para empatar o jogo. Mas Petr Cech, em cima da linha, fez uma defesa milagrosa, descrita pelo narrador da televisão inglesa como a maior da história da final da FA Cup.
É bem verdade, que mesmo com todos os ângulos da televisão, não foi possível precisar se a bola havia entrado ou não. Carroll, inclusive, chegou a comemorar o gol. Suárez esbravejava contra o bandeirinha, e os demais jogadores do Liverpool cercavam o árbitro, que na dúvida, não deu o gol.
Impossível não lembrar do gol de Luís Garcia nas semifinais da UCL de 2004/2005, em que, mesmo com Gallas tendo tirado a bola em cima da linha, o juiz deu o gol. Em ambos os lances, não foi possível definir a passagem completa da bola pela linha. Em um, gol do Liverpool, que nos tirou da final da Champions League, em outro, defesa do Chelsea e vitória garantida em Wembley.
Se nesta temporada tivemos nossa vingança contra o Barcelona, tivemos também nossa vingança contra o Liverpool, com esse não gol de Carroll, salvo milagrosamente por Cech. Era mesmo uma temporada de rendenções!
Chelsea campeão da FA Cup, e a primeira de duas etapas estava cumprida! Que jogo, que título!
Chegava a hora de se dedicar, então, a grande final da história do Chelsea. Para isso, Di Matteo poupou seus titulares nos jogos da Premier League. Mas mesmo assim, a equipe ia desfalcada para Munique. Sendo a maioria por suspensão. Ivanovic, Raul Meireles, Ramires e John Terry, todos titulares da equipe de Di Matteo, a exceção de Meireles, que revezava lugar no time com Mikel.
O acúmulo de cartões amarelos desfalcaria tanto o Chelsea que a FIFPro, Federação Internacional de Jogadores Profissionais, chegou a apelar à UEFA que reconsiderasse as punições por catões amarelos, para que assim, Ivanovic, Meireles e Ramires pudessem jogar pelo Chelsea; e Alaba, Badstuber e Luiz Gustavo pudessem jogar pelos bávaros. Mas a decisão foi negava e o Chelsea foi muito desfalcado para final.
Para complicar ainda mais as coisas, David Luiz, que seria titular ao lado de Cahill, estava machucado. Porém, o brasileiro foi a campo mesmo assim, e o time da final foi composto por:
A escolha por Ryan Bertrand, para jogar como meia pela esquerda, como ala, surpreendeu a todos que acompanhavam a partida. Mas foi uma decisão acertada, pois a força do Bayern pelo lado direito de ataque era imensa, com Robben e Lahm jogando por ali, muitas vezes contando ainda com caídas de Müller por aquele lado. A entrada de Bertrand, portando, como titular, deu mais solidez defensiva à equipe e ajudou a segurar a movimentação dos alemães.
O jogo começou, com o Bayern indo par ao ataque. Mario Goméz teve três chances, mas desperdiçou todas. Robben também teve sua chance, quando driblou na área inglesa e chutou para grande defesa de Cech. A bola ainda subiu e bateu na trave antes de sair pela linha de fundo. O ex-Chelsea era destaque pelo lado dos alemães, chutando mais algumas vezes na direção do gol. Ribery também teve suas chances, bem como Müller.
O Chelsea só teve sua primeira chance aos 30 minutos: Cole lançou Drogba, que de letra, ajeitou pra Lampard. O inglês tocou para Kalou, na entrada direita da área chutar. Neuer fez uma boa defesa. Mas mesmo após a chegada dos Blues, o Bayern continuou pressionando. David Luiz, Cahill, Bosingwa e Ashley Cole faziam boa apresentação.
Logo no inicio do segundo tempo, Ribery empurrou para as redes, mas estava em impedimento, para sorte do Chelsea. A torcida do Bayern chegou a comemorar, mas a partida continuou no 0-0. O Chelsea passava sufoco, mas se defendia bem. Para se ter uma ideia, num lance em que Ribéry chutou, no meio do segundo tempo, havia nove jogadores do Chelsea dentro ou logo à frente da área.
O Chelsea avançou um pouco e teve três boas chances após os 73 minutos de jogo, quando Florent Malouda entrou na vaga de Bertrand, adiantando um pouco mais a equipe. Drogba, inclusive, teve uma boa chance, com Neuer mal posicionado, mas acabou chutando fraco. O Chelsea se movimentava mais, trocava mais passes, mas também sofria ataques do Bayern. Müller perdeu duas chances e a posse de bola era de 64% para o Bayern e 36% para o Chelsea.
Os bávaros, percebendo o bom posicionamento da defesa do Chelsea com a bola no chão, passou apostar em cruzamentos. E foram vários seguidos, até que aos 83 minutos de jogo, em cruzamento pelo lado esquerdo, Müller, no segundo pau, cabeceou para o chão. A bola subiu, foi sobre Cech, que não teve tempo para muita reação. A bola ainda tocou na trave e entrou. 1 a 0 Bayern com menos de dez minutos por jogar.
O sonho parecia distante. A sombra de Moscou passeava na Alemanha. O coração dos blues ia ficando apertado, enquanto a torcida do Bayern fazia festa na Allianz Arena. Eram 83 minutos de partida. Buscando adiantar o time, Di Matteo lançou Torres no lugar de Kalou, para dar ao Chelsea mais poder de finalização. E o Chelsea foi para o ataque, num último suspiro de esperança.
O Bayern, por sua vez, retirava Müller de campo e colocava o veterano zagueirão Van Buyten, para segurar os últimos cinco minutos de jogo. Robben, aos 85, quase teve a chance de ampliar e selar a vitória alemã, mas chutou para fora. Aos 88 minutos, porém, estava lá ele. O grande. O mito. O Eterno! Drogba. Não podia ser outro, não podia ser de mais ninguém.
Em cobrança de escanteio, batida por Mata, o camisa 10 e um dos maestros da equipe. A bola foi na primeira trave, bem ao estilo Chelsea, e Didier Drogba testou forte, firme, sem chances para Neuer. A torcida dos Blues em Munique e ao redor do mundo ia a loucura. O impossível acontecia mais uma vez. O iluminado Chelsea empatava o jogo!
A partida, com isso, ia para prorrogação! Uma tensão que parecia não ter fim. O Chelsea foi do inferno ao céu em um lance e agora teria 30 minutos pela frente para se encontrar ou não com sua maior glória. A cabeçada foi tão forte, que Neuer, sem entender, ainda ficou alguns segundos perdido. E os jogadores do Chelsea, se amontoavam sobre Drogba! Uma festa, mas que não diminuía a tensão do jogo.
Na partida contra Barcelona, nas semi finais,, Drogba cometeu um pênalti em Fàbregas, que Messi perdeu. Pênalti que talvez desse a vaga ao time catalão. E a história se repetiu. Drogba, com cinco minutos da prorrogação, cometeu pênalti em Ribéry. Falta infantil, devo dizer, por trás. Mas era hora de outro herói, de outro ídolo. No gol de empate foram Lampard e Drogba. Desta vez seria Cech! Petr Cech!
Robben bateu, meio no canto direito, meio no centro. E Cech pulou certo. Defendeu! Meio de perna, meio de tronco, mas defendeu! Para descrever o lance, com a palavra, ele, o maior goleiro de nossa história:
“Robben sempre cobra de maneiras diferentes. Não há um padrão em suas batidas de pênalti. Então, eu não sabia o que fazer. Metade ele cobra para a direita, metade para a esquerda. Sem padrão qualquer. Ele ainda corre da mesma maneira para a bola. Mas quando você está cansado, quando você já jogou por 95 minutos, os jogadores escolhem chutar forte, em vez de técnica, ao invés de colocá-la no canto, eles batem forte. Eu pensei que ele iria chutar forte em algum lugar perto do canto. Então eu pensei: ele é canhoto. Eu sou canhoto, e eu pensei que se fosse eu, eu ia chutar da esquerda para a direita. E foi por isso que eu fui para a minha esquerda.”
Não é preciso dizer mais nada sobre esse goleiro! Petr Cech, senhoras e senhores.
Mario Gomez ainda teve uma chance no segundo tempo da prorrogação, sem goleiro, para chutar, mas Cahill se jogou sobre o atacante e impediu o gol que daria a vitória aos alemães. A partida ia para os pênaltis. A história de Moscou se repetia. O Chelsea, em sua segunda final de Champions League, chegava pela segunda vez aos pênaltis. O coração azul batia apreensivo: será que seria como da outra vez?
As penalidades foram cobradas de frente para a torcida bávara, para dificultar ainda mais as coisas. Lahm foi para a primeira cobrança. O capitão do Bayern. E fez. 1 a 0 nas penalidades. Para o Chelsea, foi Mata, um dos melhores jogadores da temporada. Para alguns, o melhor. Bateu no canto direito. Perdeu. Neuer pegou. Logo a primeira cobrança perdida. Um desespero! As imagens mostrava os torcedores azuis em Munique com as mãos no rosto, sobre a boca. Olhos cheios de lágrimas.
A esta altura, Terry, que começou o jogo de camisa e gravata, estava já com o uniforme de jogo. Na cobrança seguinte, Mario Goméz foi para cobrança e converteu. 2 a 0 Bayern. E para o Chelsea, ia o contundido David Luiz. O brasileiro, um zagueiro, e o coração batia forte. Ele beijou a bola e… guardou, cobrança bonita, forte, alta. Depois ainda provocou a torcida bávara. Para a próxima cobrança dos alemães foi Neuer. Uma surpresa. Mas ele bateu bem, no cantinho. E para o Chelsea, era a vez dele, o batedor oficial. Super Lamps!
Normalmente os melhores batem no inicio ou no final. Mas Lampard foi o terceiro. E Bateu como sempre bate nos grandes momentos, quase no meio, forte, alto! Gol do Chelsea! Mas o placar ainda marcava 3 a 2 Bayern, com apenas duas cobranças de cada lado por bater. Era muito difícil tirar o título dos frios alemães. O seguinte, para o Bayern, foi Olic. O croata bateu até bem, mas lá estava ele. Petr Cech! O camisa 1 voou e pegou a bola que iria no cantinho! Uma grande defesa.
Neste momento a esperança voltou aos olhos dos torcedores que assistiam in loco, os jogadores do Chelsea no meio de campo vibravam. A sorte começava a virar para o nosso lado, lentamente.
O seguinte foi Ashley Cole, era preciso alguém para bater um pênalti de experiência, igualar a partida, e colocar os Blues no páreo novamente. E ele bateu de forma impecável! No canto, bem no canto direito de Neuer. 3 a 3. E ia para a cobrança, a quinta, o melhor jogador do Bayern na Champions League: Schweinsteiger. Ele faria, com certeza faria, jogador experiente. Mas a bola foi na trave! O mundo parou! No replay, deu para perceber que na verdade Cech tocou, de leve na bola, evitando o gol. Cech, o nome da final! Ele e Drogba, que bateria a quinta cobrança…que poderia ser o toque na bola que daria o título maior do clube.
Robben, que havia perdido pênalti no tempo normal, não cobrou. E eis que ia para a marca da cal o grande atacante, Didier Drogba. Ele, que havia feito o gol de empate, que havia cometido pênalti na prorrogação, tinha nas mãos, ou nos pés, a chance de dar ao Chelsea a maior glória de todas as glórias: a taça da Champions League.
O eterno camisa 11 dos Blues pegou a bola, colocou na marca, ajeitou o calção e as meias, como que se arrumando para a festa que viria a seguir, e não tomou distância. Parou há menos de dois metros da bola. Três passos da bola. Bateu!
E nessa hora me veio a cabeça John Terry, que teve também uma quinta cobrança, em 2008, mas escorregou e errou, tirando do Chelsea a chance de levantar a taça. E Terry só cobrou a quinta porque um jogador não estava lá, pois havia sido expulso durante a prorrogação, ele mesmo, Drogba, foi expulso contra o Manchester e não teve a chance de estar lá quando mais se precisou dele. Talvez a história tivesse sido diferente com o marfinense em uma cobrança. Mas não há como mudar o que passou, e a frente da bola estava um rei de chuteiras laranjas, nas cores do uniforme de sua seleção. Estavam ele, a bola e Neuer.
Drogba deu dois passos, bateu firme, no canto esquerdo. Gol! O marfinense fez o sinal da cruz, abraçou Cech, o outro herói do jogo, e a imagem mostrou David Luiz ajoelhado. Depois só se viu jogadores do Chelsea pulando uns sobre os outros, gritando! Drogba ao chão! Meireles e Bosingwa choravam. Terry corria na direção de seus colegas, abraçava Lampard!
A cobrança de Drogba, inclusive, seria o último toque que ele daria na bola com a camisa do Chelsea. Logo depois da final ia embora para jogar na China. Histórico! Voltaria dois anos depois para ser um líder de um grupo jovem, da geração seguinte dos Blues, e merece a patente. Pois poucos são tão importantes para um clube como este homem é para o Chelsea.
A glória europeia vinha, pela primeira vez na história deste grande clube! A página mais importante havia sido escrita! E lá estavam dois brasileiros: Ramires e David Luiz, ambos com participações importantes. O time comemorava em campo e subia para as tribunas da Allianz Arena. Depois de calar um estádio inteiro, o Chelsea ia, literalmente, para as arquibancadas, de onde brincava com os torcedores azuis presentes no estádio.
Os melhores momentos do jogo e os pênaltis:
Terry, capitão do Chelsea, que não havia jogado, segurou a taça por uma orelha. Lampard, capitão na partida, segurou a outra orelha. E ambos levantaram o troféu juntos. Nada mais merecido. Dois jogadores que foram símbolo de uma geração gloriosa, a maior geração da história do Chelsea. Talvez fosse necessário mais duas orelhas na taça, para que eles levantassem-na junto de Cech e Drogba, outros dois ídolos de tantos anos e tantas glórias.
Outros jogadores também merecem menção, como Paulo Ferreira, Essien, Mikel, Florent Malouda, todos jogadores que já estavam no elenco há algum tempo e que foram importantes ao longo dos anos, jogadores importantes nesta geração.
Um a um, todos os jogadores levantaram a taça. Até Roman Abramovich, meio vergonhoso como sempre, levantou a orelhuda. E recebeu-a das mãos de Drogba. Roberto Di Matteo, um técnico improvável, foi o último a levantá-la e dedicá-la à torcida. Um Roberto Di Matteo, que já tinha dado duas FA Cups para o Chelsea, dava também a Champions League e se consagrava como ídolo eterno dos Blues.
Antes do último paragrafo deste capítulo do especial, uma pausa para todo o elenco dos Blues, vencedores da Champions League:
Petr Cech, Ross Turnbull, Henrique Hilário, Jamal Blackman; Branislav Ivanovic, Ashley Cole, Paulo Ferreira, José Bosingwa, Ryan Bertrand, David Luiz, John Terry, Gary Cahill, Sam Hutchinson; Michael Essien, Oriol Romeu, Ramires, Frank Lampard, Juan Mata, John Obi Mikel, Florent Malouda, Raul Meireles, Josh McEachran; Fernando Torres, Didier Drogba, Romelu Lukaku, Salomon Kalou, Daniel Sturridge.
Por fim, o Chelsea, que nos anos anteriores, havia tentando fazer uma renovação em seu elenco, agora poderia fazê-la sem nenhuma pressão, sem nenhuma dificuldade, sem nenhum incômodo. Depois de coroar esta geração com o título da Champions League, era hora mesmo de se passar o bastão. Novos jogadores viriam, um novo elenco começava a se construir. Parecia até que o elenco havia relutado tanto por uma reformulação porque queria, antes de irem, dar ao Chelsea este título, e conseguiram.
O que há mais a dizer? O Chelsea é campeão da Champions League.
E uma geração nova viria nos meses seguintes, com Oscar, Hazard e Azpilicueta, e vinha para tentar repetir as glórias de sua antecessora. Mas o início dessa nova equipe, que hoje nos dá tanta felicidade, é motivo para o último capítulo deste especial! Até lá!