Lendo o Jogo: Chelsea 2-0 Lille – um típico Chelsea de Tuchel, em uma típica noite de Champions

O Chelsea largou bem nas oitavas de final da UEFA Champions League. Com uma boa vitória sobre o Lille, os Blues deram um importante passo na disputa pelo bicampeonato.

Com Romelu Lukaku no banco durante todos os 90 minutos e um ataque consequentemente mais móvel, o Chelsea que vimos foi o clássico time que conquistou a Europa na última temporada: seguro e intenso.

Enfim, para entender como foi a vitória em Stamford Bridge, é hora de ler o jogo.

(Reprodução: Sky Sports)

Lukaku no banco

Com o retorno de César Azpilicueta, Thomas Tuchel voltou a escalar a equipe no 3-4-3 depois de ter adotado linha de quatro contra o Palace. Então, o trio de zaga foi aquele que habitualmente vem sendo o titular nesse sistema: Andreas Christensen, Thiago Silva e Antonio Rüdiger.

Além de César Azpilicueta de volta à ala-direita, Marcos Alonso voltou a receber chance como titular na ala-esquerda. Já por dentro, N’Golo Kanté e Mateo Kovacic formaram a dupla de meio-campo.

Mas foi no ataque a mudança que mais chamou atenção: Romelu Lukaku ficou no banco de reservas. Assim, o trio titular foi composto por Hakim Ziyech, Kai Havertz e Christian Pulisic.

(Reprodução: Chelsea FC)

O Lille, por sua vez, veio com sua tradicional linha de quatro na defesa, formada por Zeki Çelik, José Fonte, Sven Botman e Tiago Djaló.

Xeka seria o responsável pela sustentação do meio-campo, com Benjamin André, Amadou Onana, Renato Sánchez e Jonathan Bamba responsáveis por municiar Jonathan David na frente.

(Reprodução: Lille)

Postura agressiva do Lille, mas Chelsea letal

O jogo começou em altíssima intensidade, com ambas as equipes disputando cada palmo de campo. Nesse sentido, os franceses vieram com uma proposta agressiva, de subir a marcação e pressionar.

Em contrapartida, a pressão também gerava mais espaços e, logo aos quatro minutos, Rüdiger fez diagonal longa com Azpilicueta, que tabelou com Ziyech e cruzou na medida para Havertz, sozinho, perder grande chance. 

Mas as aparições de Havertz não pararam por aí. Dois minutos mais tarde, o alemão fez boa jogada individual e bateu cruzado, exigindo grande defesa de Léo Jardim. Então, no escanteio originado pelo lance, Ziyech cobrou e Havertz novamente apareceu, dessa vez de cabeça e sem chances de defesa. Um a zero Chelsea.

(Reprodução: Getty Images)

Se com a igualdade no placar a proposta do Lille já era de subir as linhas, o gol do Chelsea acentuou ainda mais o cenário. Sem bola, os visitantes se postavam em um 4-2-3-1, com Amadou Onana atuando por dentro na linha de três meias e sendo o termômetro da pressão da equipe francesa.

 

Dessa forma e com a ausência de Jorginho, essencial na saída apoiada do Chelsea, os Blues iam sofrendo para sair jogando. Onana fazia o pêndulo entre lado direito e esquerdo, de acordo com o lugar onde a bola estivesse, e era o responsável por incomodar Kovacic e Kanté, que se alternavam no apoio da saída.

(Reprodução: Share My Tatics)

Consistente e confortável

Já no momento com bola, a peça-chave do Lille era Renato Sánchez, que partia da direita, mas tinha liberdade para circular por todo o campo e era quem dava ritmo aos Buldogues. Foi em um desses momentos, aos 10 minutos, que o meio-campista português buscou a bola na defesa e lançou para Çelik, que explorou as costas de Alonso, saiu livre, mas errou o cruzamento. 

Quem também ia se destacando pela movimentação era Bamba. Partindo da esquerda, o atacante francês era outro que circulava por todo o campo e gerava dificuldades para o sistema de marcação dos Blues.

Entretanto, mesmo com a postura ofensiva do Lille, o Chelsea seguia tendo mais a bola e encontrando, nas diagonais longas, boas alternativas. Foi assim que Kanté, aos 18, dominou do lado direito da intermediária ofensiva e inverteu grande bola para Alonso no lado oposto. O espanhol, já na área, pegou de primeira e Léo Jardim fez a defesa.

À medida que o tempo ia passando, o Lille ia tendo cada vez mais a bola e o Chelsea apostava em retomar e acelerar. Com essa configuração, Thiago Silva ia se destacando pela eficiência nos cortes e duelos, garantindo a solidez defensiva dos Blues.

(Reprodução: Chelsea FC)

Assim, a partir desse momento a única finalização do Lille foi já aos 39, quando Sánchez fez jogada individual, conduziu da esquerda para dentro e bateu sobre o gol.

Todavia, nos minutos finais, o Lille baixou o ritmo e passou a alternar a pressão, o que reduziu a velocidade do jogo. Com um Chelsea seguro e postado, os franceses, quando tinham a posse, rodavam a bola mas não conseguiam agredir, tanto que o primeiro tempo se encerrou com o Lille não tendo finalizado nenhuma vez no alvo.

À moda Kanté

O segundo tempo começou novamente em altíssima intensidade. Lá e cá, Chelsea e Lille criaram boas oportunidades nas transições rápidas. Mas, logo aos seis do segundo tempo, Kovacic sentiu e teve que ser substituído por Ruben Loftus-Cheek. 

Por falar em meio-campo, quem ia se destacando no setor central era Kanté. Com muita intensidade, o camisa 7 ia aparecendo pelo campo todo, tanto ofensiva quanto defensivamente, bem à sua maneira. Foi assim que, dois minutos após a saída de Kovacic, Kanté e Azpilicueta tabelaram, o francês chegou na linha de fundo e cruzou. A bola sobrou para Alonso, que encheu o pé e Çelik tirou muito próximo da linha do gol. 

As lesões seguiam perseguindo o Chelsea e, aos 15, foi a vez de Ziyech sentir e ter que deixar a partida. Dessa vez, entretanto, Tuchel não substituiu o marroquino por outro jogador da mesma função e lançou Saúl Ñiguez em campo. A ideia era povoar o meio-campo com mais um jogador, para que a equipe não sofresse com a movimentação dos meias do Lille.

(Reprodução: Share My Tatics)

Dois minutos mais tarde, quando o Chelsea já tinha uma postura mais retraída, o plano de roubar e acelerar surtiu efeito. Com o Lille todo no ataque, o Chelsea roubou, Thiago Silva acionou rapidamente Kanté, que conduziu em progressão. Então o francês serviu Pulisic, que invadiu a área e tocou com categoria, na saída de Léo Jardim. 

(Reprodução: Chelsea FC)

Trocas, mas jogo inalterado

Daí em diante, o Chelsea entregou definitivamente a bola para o Lille, mas os franceses tinham ainda mais dificuldade para penetrar. A ideia de colocar mais um jogador no meio-campo do Chelsea deu certo e os Blues pararam de sofrer com as movimentações de Sánchez e Bamba.

Na sequência, Jocelyn Gourvennec e Thomas Tuchel promoveram uma série de mudanças nas equipes. As trocas, entretanto, foram apenas para renovar o fôlego, já que mantiveram os mesmos sistemas táticos. Primeiro, nos franceses, o centroavante Burak Yilmaz entrou na vaga de Onana e, então, Jonathan David passou a atuar por trás do turco, que virou a referência. 

Mais tarde, foi a vez do Chelsea movimentar o elenco e gastar seu último intervalo para trocas, colocando Timo Werner e Malang Sarr nas vagas de Pulisic e Alonso. Sarr entrou para seguir fazendo a ala, dando um pouco mais de poder de marcação pelos lados; já Werner, formou a dupla de ataque ao lado de Havertz.

Por fim, no Lille, mais três trocas ocorreram, entre elas a saída de Jonathan David e a entrada de Ben Arfa. Mas os visitantes não conseguiram criar nenhuma chance que assustasse Mendy, e o Chelsea assegurou o resultado. 

Destaques individuais

Muito além dos gols, Havertz e Pulisic fizeram excelente jogo, participando ativamente das jogadas de ataque. Sem Lukaku, a movimentação entre eles e Ziyech, foi muito maior e confundiu a marcação francesa. 

(Reprodução: Sky Sports)

Com uma atuação defensiva impecável, Thiago Silva foi outra figura fundamental, ganhando todos os duelos e garantindo que a defesa não fosse vazada. Além disso, teve importante contribuição na construção do segundo gol, verticalizando o passe para Kanté, o que permitiu a saída rápida que culminou na finalização de Pulisic. 

Mas o craque do jogo foi mesmo N’Golo Kanté. Em uma noite que relembrou as mágicas atuações do francês na vitoriosa campanha da Champions League passada, Kanté comandou o meio-campo. O camisa 7 do Chelsea parece se agigantar ainda mais na competição e, não à toa, foi oficialmente eleito o melhor em campo.

(Reprodução: Chelsea FC)

Em suma, o Chelsea teve uma atuação sólida, consistente, com a cara de Tuchel e de um atual campeão europeu. A ausência de Lukaku foi outro fator que trouxe à mente aquele ataque envolvente da temporada passada. Com atuações desse nível, é plenamente possível sonhar com o bicampeonato consecutivo.

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Article by: Marcelo Vilela