Até o momento, o treinador do Chelsea, Thomas Tuchel, buscou se manter neutro em relação ao processo de venda do clube. Mais que isso, procurou, a todo momento, fazer com que toda a burocrática extracampo não afetasse as performances do time – assim como Emma Hayes, com a equipe feminina, e Andy Myers e Ed Brand com as equipes de desenvolvimento e sub-18.
Porém, com o destino dos Blues cada vez mais próximo de ser definido, o treinador alemão comentou recentemente sobre um fator que deve estar no radar do novo proprietário do clube: a Academia. Em especial nas temporadas mais recentes, os jovens formados em Cobham se tornaram ainda mais importantes para o Chelsea.
Nomes como Mason Mount, Reece James, Callum Hudson-Odoi e Ruben Loftus-Cheek, que, hoje, fazem parte do time principal, foram formados pelo clube. Além disso, são jovens formados no oeste de Londres: Tammy Abraham, Marc Guéhi e Tino Livramento, que estão brilhando, respectivamente, na AS Roma, no Crystal Palace e no Southampton. Enfim, também são produtos de Cobham Conor Gallagher, Armando Broja, Levi Colwill e Billy Gilmour, que podem vir a integrar o plantel de Tuchel na próxima temporada.
Portanto, as categorias de base do Chelsea, que sempre teve destaque, é essencial para o clube. Assim como, cada vez mais, vêm chamando atenção e dando ótimos retornos aos Blues, o que demonstra a necessidade de não abrir mão dos investimentos nesse setor.
Importância dentro e fora do clube
Muito mais do que destaque para dentro do Chelsea, como instituição, a Academia tem muita importância e significância para os torcedores. Isso porque um número considerável de jogadores que fazem parte do programa chegaram ao clube com muito pouca idade. Dessa forma, muito além da formação profissional, os jovens tiveram uma grande formação profissional em Cobham.
Tuchel, portanto, reconheceu essa dimensão e reforçou que poder contar com jogadores formados pelos Blues torna a equipe especial:
“Eu espero por eles [os novos donos], a Academia é tão importante para nós como é para os torcedores. É o que torna qualquer time especial, se você tem uma mistura entre jogadores de fora e jogadores que vêm da academia“.
Necessidade de investimento
Os olhares são muito concentrados na equipe masculina principal de forma que as outras equipes que fazem parte do Chelsea Football Club acabam ficando de lado. Porém, da mesma forma que o time comandado por Tuchel, todos os times de todas as categorias dos Blues demandam investimento.
Investimento esse que, por sua vez, não é só na questão financeira. Mas também de estrutura, recrutamento e seleção. Ainda mais nas categorias de base que, em Cobham, envolvem aspectos para além das quatro linhas do campo.
Nesse sentido, o comandante da equipe principal masculina ressaltou esses aspectos, destacando que a atenção deve ser continuada para com todas as equipes e categorias que constituem o clube:
“Eu não posso forçar qualquer um a fazer o que, do meu ponto de vista, é algo necessário. A Academia do Chelsea é uma grande parte deste clube e é um grande foco de investimento do Roman Abramovich. Assim como é a equipe feminina. O Chelsea é muito mais que o time masculino, então eu só posso pensar que todo mundo vê isso e cuida disso. Eu penso que tem muitos outros investimentos necessários e, pessoalmente, acredito que vale a pena. E eu acho que o conselho diria a qualquer um que quiser comprar o clube a mesma coisa“.
Duas décadas depois, os frutos estão mais maduros que nunca
O grande nome responsável por coordenar o processo de formação de jogadores em Cobham é Neil Bath, que está cuidando das categorias de base desde 2002. Até agora, as principais equipes da Academia (sub-18, sub-19 e sub-23) conquistaram 13 títulos – tanto nacionais como internacionais.
Desde que as sanções a Abramovich foram anunciadas, surgiu a discussão sobre como o cenário poderia afetar um setor tão importante no clube. Nesse sentido, Bath foi essencial para acalmar os ânimos pela Academia e Tuchel reconheceu a importância de seu trabalho, ainda mais sob as condições atuais:
“Eu não conhecia Neil, que comanda a Academia, antes de chegar aqui. Mas, uma vez que você o conhece e sente a paixão, ele fala sobre o que ele está fazendo, sobre o futuro. Você precisa de cinco minutos para entender que tem algo especial acontecendo. Ele tem feito um trabalho fantástico ao longo de décadas e ele já está pensando nos próximos 10 anos e não só sobre os caras que já estão aqui“.
“É muito, muito impressionante. Na quinta (14), tivemos alguns jogadores do sub-18 com a gente no treinamento. E todos os jogadores eram muito comportados, muito humildes. Mas não tão tímidos, trabalharam duro e com uma boa atitude. Eles são bons garotos e sempre muito, muito rápidos. Em um nível que eles podem treinar conosco e esse é o primeiro passo”, concluiu o alemão.
Uma possível mudança de postura
A verdade é que, logo que Tuchel chegou a Londres, havia receio quanto ao que aconteceria com os jogadores da Academia que já estavam integrados à equipe principal. Assim como em relação às possibilidades que outros jovens teriam em conquistar sua vaga no elenco.
Isso porque, enquanto Frank Lampard foi treinador do Chelsea, os jogadores formados no clube assumiram papel central em seu plantel. Mesmo que muitos digam que foi por conta de necessidade, uma vez que os Blues estavam impossibilitados de contratar. Porém, vai muito além disso.
Quando Lampard chegou para comandar o time no qual ele se consolidou e, mais tarde, se tornou ídolo incontestável, dois dos comandantes das equipes da base eram Joe Edwards e Jody Morris – também ex-jogadores dos Blues. No entanto, com o ex-camisa 8 no comando, Edwards e Morris se tornaram seu auxiliar técnico e logo assumiram a importante função de ajudar os jovens a traçarem seu caminho no clube.
Ainda em 2019, Edwards ressaltou o quanto a integração da Academia com o time principal é importante:
“Todo mundo sabe que um grupo forte de jogadores que tivemos veio da Academia ao longo dos anos. E isso ajuda quando eles tem pessoas deste lado que sabem pelo que eles estão passando. Eles podem se sentir mais confiantes de chegar e se imporem nos treinos. Apesar de que, igualmente, nós sabemos seus parâmetros e quando precisamos apertar seus botões, para que possamos motivá-los mais“.
Uma boa surpresa
Apesar da saída de Lampard, Edwards seguiu trabalhando como auxiliar técnico no Chelsea junto à Tuchel. Inclusive, estando presente na conquista da Liga dos Campeões na última temporada. E outra coisa que se manteve foi a continuidade de jogadores formados no clube como titulares sob o esquema do alemão.
Nesse sentido, treinador conseguiu extrair ainda mais desses jogadores, tornando-os pilares de seu esquema de jogo – como é o caso de Mount e James, e até mesmo Hudson-Odoi. Da mesma forma, deu chance para que outros jogadores de Cobham, que retornaram de empréstimo, traçassem seu caminho até o time principal e, até mesmo, se aproveitou das copas para promover a estreia de alguns jogadores pelo time principal.
Ademais, na pré-temporada, Tuchel observou qualidade em jogadores formados pelos Blues, mas que não teriam espaço imediatamente. Assim, eles saíram em empréstimo, podendo integrar a equipe principal na próxima temporada. Mesmo com os jogadores não estando envolvidos diretamente nas atividades do Chelsea, o treinador já deixou explícito diversas vezes que acompanha a evolução desses jogadores e que, no próximo verão, estará pronto para vê-los nos treinos e nas preparações para 2022/23.
Dessa forma, é nítido que apoio de Tuchel não falta em relação ao trabalho da Academia do clube. O que é muito importante para que o projeto siga em constante evolução e para que, cada vez mais, os Blues possam colher os frutos disso. Sem dúvidas, o novo proprietário deverá prestar muita atenção nesse setor e não poupar esforços para fazê-lo crescer. Em suma, o apoio de dentro e de fora é essencial para que Cobham siga se desenvolvendo e sendo referência na Inglaterra e no mundo.