O Chelsea tem, como já foi dito e visto por quase todos nós, caído de produção vertiginosamente desde o início do segundo turno. De janeiro para cá, fomos eliminados da FA Cup, da Champions League, e passamos por alguns momentos difíceis também na Premier League, apesar da considerável diferença no topo da tabela. São seis pontos para o segundo colocado e ainda um jogo a menos, mas muitos por aí já questionam se é, de fato, uma diferença tão considerável assim, uma vez que temos clássicos ainda por disputar, contra Manchester United, Liverpool e Arsenal.
A verdade é que o time vem jogado mal. Não consegue mais repetir o futebol envolvente que deu a tônica do início da temporada. Muita gente fala em “fase”, “mau momento” e tal, mas eu credito essa queda de produção a uma coisa bem específica: a falta de rotação do elenco.
Acredito que muitos de vocês já tenham reparado, mas o time começa praticamente todos os jogos com a mesma escalação: Courtois; Ivanovic, Cahill, Terry, Azpilicueta; Matic, Fàbregas; Oscar, Willian, Hazard; Diego Costa.
A não ser por momentos em que algum jogador esteve suspenso ou machucado, o time titular não mudou. Com exceção de Kurt Zouma que, ali pelo meio da temporada, ganhou uma vaga entre os 11 e foi muito bem. Porém, nas últimas partidas, já vimos Cahill de volta ao time, mesmo em má fase.
Filipe Luís foi contratado por 19 milhões de libras e praticamente não jogou. Schürrle e Salah saíram do clube para buscar espaços em outros times exatamente por não entrarem em campo. Salah inclusive tem brilhado na Fiorentina, provando que seu problema não é falta de qualidade.
Outros que provaram seu valor fora dos Blues são Juan Mata e De Bruyne. Especialmente este último, que tem sido um dos principais armadores da Europa, defendendo o Wolfsburg. Será que nenhum desses jogadores poderiam integrar o elenco com algum destaque?
A resposta fácil é: Sim, claro! Mas a resposta real é: Não! E não é por falta de futebol, é porque Mourinho não daria chances mesmo a eles, como não deu e os deixou sair. Claro que lucramos uns bons milhões com as vendas de todos eles, reservas, mas isso é um dos sinais de que o time não gira muito, já que sabemos exatamente quem são os reservas.
Outro fator que prova que Mourinho não tem girado bem o elenco é o cansaço dos jogadores titulares. E é exatamente isso que vem, na minha opinião, causando a queda de produção do time nas últimas semanas.
Alguns dos melhores times da Europa estão tendo, agora, seus ápices na temporada, técnica e fisicamente. E exatamente por terem rodado bastante o elenco durante a temporada, por terem dado minutos a vários jogadores, preservando o aspecto físico dos mais importantes e, mais do que isso, conseguindo encontrar, dentro do grupo, jogadores que podem ser úteis neste ou naquele momento.
E Mourinho não fez isso. Não rodou o time, não deu chances a seus “reservas”, não encontrou soluções e, muito pelo contrário, queimou as que tínhamos. Mais do que isso, ele cansou seus titulares e, agora, no momento mais decisivo da temporada, eles não conseguem mais demonstrar um bom futebol.
E nem com os sinais claros de desgaste dos jogadores considerados principais do elenco Mourinho muda. Juan Cuadrado chegou há quase dois meses e nada. A culpa não é do jogador, eu digo, para quem já saiu por aí queimando o colombiano nas últimas semanas. Falta para ele apenas minutos em campo, jogar.
“O problema é adaptação. Ele não está adaptado”, disseram alguns… Mas e Schürrle e Mata e Salah, que já tinham, no mínimo, um ano de casa quando foram deixados ir? Eles também não vinham ganhando chances, como Cuadrado. Ou seja? A culpa é mesmo de Mourinho, que não gira o elenco.
E muitos tem criticado jogadores específicos, culpando-os pelo momento que o time tem atravessado, mas não veem que é difícil para um atleta jogar quarta e domingo, quarta e domingo, durante oito meses sem sentir o desgaste. Fàbregas, Oscar, Willian e tantos tem sentido o cansaço, mas será que a culpa é realmente deles?
Alguns atletas merecem mesmo ficar de fora do time pelo momento técnico, como Cahill e Ivanovic; apesar de eu achar que o sérvio merece mais um descanso do que qualquer outra coisa.
O valor supremo do futebol moderno “Não se forma um time vencedor, e sim um elenco” vale mais do que nunca aqui e deveria ser usado por nosso treinador. Assim teríamos um time preservado, descansado, treinado e experimentado em campo. E talvez, com isso, estaríamos ainda falando em ganhar todos os títulos, como se dizia no início da temporada.
Schürrle, Salah, Remy, Cuadrado, Aké, Loftus-Cheek, Solanke, Filipe Luís, Kurt Zouma. Todos jogadores que tem grande qualidade. Todos jogadores que poderiam ir disputando partidas aqui e ali, entrando um a um para substituir um titular, sem mexer na base da equipe, para ir descansando aos poucos o elenco e dando chances a quem precisa.
Até mesmo os jovens, da base, tem sua qualidade e poderiam ter ajudado mais na campanha, tanto é que Loftus-Cheek recebeu elogios recentes de Mourinho recentemente, a ponto do português afirmar que o jovem inglês será uma das grandes surpresas da próxima temporada da Premier League.
Ora, se será, porque já não é? Porque não está sendo usado? Talvez se ele tivesse sido mais utilizado ao longo da temporada, poderia ter substituído Matic quando se precisou de alguém da posição.
Loïc Remy, que marcou o gol decisivo na vitória contra o Hull City, por exemplo, tem pouco mais de 700 minutos em campo na temporada, contra mais de 2600 de Diego Costa. E isto porque o atacante hispano-brasileiro desfalcou o time em várias opoartunidades.
Kurt Zouma, que foi um dos reservas mais utilizados, disputou pouco mais de 900 minutos até o momento, contra quase 3000 de Gary Cahill e 3500 de John Terry. Filipe Luís tem pouco mais de 1100 minutos em campo, contra 2500 de Azpilicueta e 3500 de Ivanovic.
Juan Cuadrado, em quase dois meses de Chelsea, tem exatos 166 minutos em campo, menos de duas partidas completas. Já Mohamed Salah, tem 760 minutos pela Fiorentina no mesmo período. E até André Schürrle, que tem sofrido com a forma física em seu retorno à Alemanha, já tem mais de 600 minutos em campo.
Nathan Aké, que faz parte do elenco principal dos Blues desde 2012/2013 e que mostra excelente futebol toda vez que está em campo, disputou pouco mais de 70 minutos na atual temporada. Dominic Solanke, apenas 17. Já Loftus-Cheek, que Mourinho insiste em afirmar que brigará pelo time titular na próxima temporada, jogou incríveis oito minutos até o momento.
Mourinho precisa repensar urgentemente seu sistema de rotação do elenco, ou cairá na mesma armadilha da última temporada: começará em grande estilo, mas perderá folego na hora que realmente importa.
Nesta temporada torcemos para que isso não aconteça, e até podemos deduzir que não, pois temos uma boa vantagem na liderança e apenas uma competição por disputar. Mas a verdade é que se o nível técnico dos nossos rivais tivesse sido mais regular, estaríamos em maus lençóis.
O time precisa de rotação, de descanso, de dar chances aos jogadores do banco. O time não precisa ter 11 titulares, precisa de 15, 16 titulares, pois é assim que se faz um elenco campeão. Infelizmente não é o que temos agora, mas é o que precisamos para os próximos jogos, e mais ainda para a próxima temporada, se quisermos que este elenco seja, de fato, marcado como vencendor.
As palavras contidas nessa reportagem condizem à opinião do autor, não tendo qualquer relação com o Chelsea Brasil