Com o fim de uma temporada marcada pela volta de Jose Mourinho à Stamford Bridge, o Chelsea Brasil, em clima de retrospectiva, decidiu fazer um especial com um Top 10 dos momentos mais marcantes do Special One durante a temporada 2013-14.
Sem mais delongas, vamos à primeira parte da lista:
10 – Matemática da discórdia
Para começar a nossa lista, vamos voltar para o início de fevereiro, mais precisamente entre as duas partidas envolvendo o Chelsea e o Manchester City, pela Premier League e pela FA Cup, respectivamente.
Com os ânimos alterados após a derrota em casa por 2-1 nos últimos minutos da partida, o sempre contido Manuel Pellegrini decidiu romper o silêncio antes da partida pela Copa.
É bom lembrar que na partida em questão, Pellegrini não cumprimentou Mourinho depois da partida, devido ao português ter ido comemorar o gol da vitória atrás do banco de reservas dos visitantes, algo que o treinador dos Citizens viu como uma provocação. Mourinho evitou polêmicas, afirmando que foi apenas comemorar o gol com o seu filho.
O chileno, que no fim de semana passado acabou levando o City à conquista da Premier League, acusou o Special One de fazer jogos mentais, e refutou a declaração de que o Chelsea era apenas um “cavalinho”, sem grandes chances na corrida pelo título: “Pode ser um cavalinho, mas um cavalinho bastante rico. Esse é o time que mais gastou nos últimos dez anos, o time que mais gastou esse ano, e o time que mais gastou nessa janela de transferências”, disse.
Mourinho foi categórico na resposta: “Pellegrini é um excelente treinador e o respeito por isso, e também é engenheiro de formação. Acho que um engenheiro não devia precisar de uma calculadora para perceber que Juan Mata rendeu 37 milhões de libras e Kevin De Bruyne, 18 milhões, o que dá 55 milhões. Enquanto Matic custou 21 milhões de Libras e Salah, 11 milhões, o que dá 32 milhões. 55 milhões menos 32 milhões dá 23 milhões”.
“O Chelsea, nesta janela de janeiro, gerou 23 milhões de Libras. É fácil de entender que isto é trabalhar com o fair play financeiro e não há argumentos contra isso. Já eles que não estão preocupados com o fair play financeiro, pois gastaram bastante no inverno”, finalizou o português, referindo-se às contratações de Jovetic, Negredo, Navas e Fernandinho.
Vale ressaltar que Mourinho deixou de fora das contas os £12M gastos na contratação do jovem zagueiro Kurt Zouma, na mesma janela de transferências.
9 – Ovos, cavalos e Chihuahuas
Que o Mourinho é especialista em metáforas absurdas, todo mundo sabe. Mas mesmo dentro dos seus padrões, na temporada que passou, o português esteve bastante inspirado em suas alegorias, arrancando risadas do público mundo afora. Vejamos as três melhores:
Logo após a sua chegada, o Special One, agora autointitulado “Happy One”, disse sobre os seus jogadores:
“São ovos bonitos e jovens. Ovos que precisam de uma mamãe, neste caso de um pai, para tomar conta deles, para os manter quentes no inverno, para lhes trazer um cobertor e para trabalhá-los e melhorá-los. Chegará um dia em que o tempo mudará, o sol brilhará, os ovos irão se quebrar e ficarão prontos para levar a sua vida no mais alto nível.”
Vale lembrar que não é a primeira vez que Mourinho fala a respeito de ovos: próximo à sua demissão do Chelsea em 2007, o treinador recorreu à mesma temática. Confiram:
Já em fevereiro deste ano, durante a coletiva que causou em Manuel Pellegrini a indignação mencionada no número anterior da nossa lista, Mourinho, para tirar a pressão do título do seu time, disse:
“A corrida para o título é entre dois cavalos (Arsenal e City) e um pequeno cavalo (Chelsea) que precisa de leite e ainda tem que aprender a saltar. Talvez na próxima temporada, nós possamos competir”.
Finalmente, após o treinador do Liverpool, Brendan Rodgers, dizer que o Liverpool, no meio dessa corrida de cavalos era apenas um Chihuahua correndo por entre as pernas dos equinos, Mourinho prontamente respondeu:
“Pode até ser um Chihuahua. Mas é um Chihuahua que treina bastante e descansa bastante. Os outros cachorros não treinam e não descansam tanto, porque jogam a cada três dias”, atirou o português, se referindo ao fato de os Reds não disputarem competições Europeias.
“Quando a Premier League chegar num momento crucial, ainda teremos que jogar a Champions League ao mesmo tempo. Jogar, por exemplo, como nós, indo a Instambul enfrentar o Galatasaray na quarta, e voltar para enfrentar o Fulham no sábado. O Chihuahua do Brendan não faz isso: durante a semana ele come, dorme e treina um pouco. Então eu digo que esse Chihuahua é privilegiado e tem uma grande vantagem”, completou.
8 – Vilania em Villa Park
Algumas marcas são feitas para serem batidas e outras para serem mantidas. Nesta caótica partida, os dois casos aconteceram: primeiro, a invencibilidade de 14 jogos que o Chelsea tinha à época foi derrubada. Depois, a maldição de Villa Park continuou firme e forte: José Mourinho até hoje jamais venceu na casa dos Villains.
Numa partida truncada, em que praticamente nada aconteceu na sua primeira metade, com exceção de um gol anulado do Matic, uma série de eventos catastróficos para o Chelsea se sucedeu. Aos 68 minutos, após cometer falta, Willian recebeu o segundo cartão amarelo e foi expulso. A partir daí a tragédia estava anunciada: menos de 15 minutos depois, o Aston Villa marcou o gol da vitória.
A grande polêmica, entretanto, surgiu nos acréscimos finais: na marca de 93 minutos, Ramires cometeu falta violenta e também foi expulso. Mourinho foi expulso na sequência, ao entrar em campo para questionar a decisão do árbitro – juntamente com o treinador adversário, Paul Lambert, membros das duas comissões e de um saliente Agbonlahor, que saiu do banco de reservas para agredir Ramires.
Sobre o incidente, Mourinho, ao contrário do seu comportamento habitual, foi discreto:
“Tentei falar com o Sr. Foy duas vezes. Tentei em campo e eu tentei nos vestiários, onde eu só perguntei educadamente: “Você pode me dar cinco segundos?” E ele se recusou. Isto não é sobre convenções, trata-se de bom senso”
“Estou ansioso para ler a súmula do árbitro, para saber o que ele escreverá sobre a minha expulsão. É a oportunidade de ver a personalidade do senhor Foy. Se fui expulso por estar dentro do campo, pergunto-me porque os outros não o foram, sobretudo um jogador que agrediu outro. Se eu falar, terei um grande problema.”, finalizou.
Não adiantou muita coisa o Special One segurar a língua: a FA multou o treinador da mesma forma no valor £8.000 por conduta imprópria, por invadir o campo. Fãs do Mourinho protestaram e chegaram a organizar uma “vaquinha” para angariar a quantia em favor do português.
Deve-se lembrar que não foi a primeira vez, sequer na temporada, que Mourinho foi expulso por invadir com campo: na partida contra o Cardiff City, ocorrida em 19 de outubro de 2013, acabou indo assistir ao fim da partida das arquibancadas.
7 – Recusa indigesta
Após implicar com Manuel Pellegrini, Mourinho polemizou com outro técnico que também passou pelo Manchester City. Será que Mourinho tem algo contra o time celeste?
Em março, logo antes da partida de volta pelas oitavas-de-final da Champions League, Roberto Mancini, agora treinador do Galatasaray, afirmou que caso o seu time passasse pelo Chelsea na competição, convidaria Jose Mourinho para jantar e pagaria a conta.
O Special One não gostou nada da declaração e, ao ser perguntado se aceitaria o convite, disparou:
“Não. Não tenho interesse. Eu não faço as coisas dependendo do resultado da partida. Simplesmente faço o que tenho em mente, não importa se eu vença ou perca. Para alguns treinadores ou jogadores, uma vitória significa folga. Comigo não é assim: se há uma folga, é porque eu quero, independente de haver vitória ou derrota.”
“Amanhã eu não vou compartilhar uma refeição com alguém que tem o mesmo trabalho que eu, e a única coisa que temos em comum é o fato de ambos sermos treinadores de futebol”, encerrou.
Mancini parece não ter engolido bem a amarga resposta do português, e chegou a afirmar que Mourinho não tem amigos no futebol. Uma declaração um tanto quanto incoerente para alguém que tem Didier Drogba e Wesley Sneijder no plantel.
Na ocasião, o Chelsea passou pelo Galatasaray, fazendo 2-0 em Stamford Bridge. Mourinho pode não ter ganhado o jantar, mas certamente ficou bastante satisfeito com o sabor da vitória.
6 – Atacando os atacantes
Em diversas ocasiões ao longo da temporada, Mourinho demonstrou descontentamento com os seus atacantes. Após derrota para o Stoke City em dezembro do ano passado, o treinador se queixou da falta de poder de fogo da equipe:
“Você vê que nessa altura o Aguero já marcou dez, doze gols, Negredo também, Dzeko uns quatro ou cinco; Rooney oito ou dez, Giroud e Sturridge a mesma coisa; Suarez, entre dez e doze. Se você me perguntasse se eu queria que os meus atacantes marcassem oito, dez, doze gols, eu diria que sim. Se os meus atacantes tivessem feito oito, dez, doze gols, estaríamos no topo da Liga.”
No fim do mesmo mês, passados 18 jogos da Premier League, os seus três atacantes tinham marcado juntos apenas cinco gols, quantidade inferior a diversos meio-campistas do elenco separados. Após vitória difícil em Stamford Bridge contra o Swansea City e passada praticamente metade da temporada, Mourinho declarou: “Se eles marcarem dez gols ao invés de cinco na segunda metade da temporada, teremos mais chances de vencer a competição.”
Em outra ocasião, após vitória magra contra o Everton – que foi a sétima partida em que nenhum dos seus atacantes marcou -, em entrevista ao canal francês Canal+, ao ser perguntado sobre Falcao Garcia, atual jogador do AS Mônaco, Mourinho disse que não tem atacantes:
“Eu tenho um time, mas não tenho atacantes e Falcao não tem um time. Ele não é jogador para se apresentar diante de três mil torcedores. O Mônaco é time para encerrar a carreira, mas é impossível tirá-lo de lá também.”
Mais à frente, após a derrota para o Aston Villa mencionada no número 8 da lista, onde o seu ataque passou em branco, o time de Jose Mourinho sofreu outra derrota, dessa vez para o Crystal Palace. O português, apesar de elogiar a sua defesa, criticou, sem mencionar nomes, jogadores que “desaparecem” durante as partidas, e, frustrado, acabou revelando os planos para a próxima janela de contratações:
“Não acho que agora seja o momento de se falar sobre a próxima temporada, mas é óbvio para todos que no próximo ano nós queremos trazer um atacante.”
A gota d’água para a insatisfação total do Special One em relação aos atacantes do time foi a derrota para o Paris Saint-Germain por 3-1 nas quartas-de-final da Champions League. Nessa ocasião, disse:
“Não estou feliz com as atuações dos meus atacantes, então eu tenho que tentar coisas. Mas futebol não é só isso. Futebol também é sobre marcar gols, chegar por trás, e isso é para os atacantes. Atacantes de verdade.”
“É difícil para nós marcarmos gols, especialmente quando os jogos estão apertados. É difícil para nós transformarmos meias chances em chances reais. Quando se comete erros defensivos, você está com problemas.”
Vale lembrar que em certa ocasião, ao ser perguntado sobre o que estava faltando no Chelsea e que ele gostaria de trazer para o time na próxima temporada, um insatisfeito Mourinho apenas escreveu a sua resposta num bloco de notas:
Bem, leitores blues, esta foi a primeira parte do nosso Top 10 com os momentos mais marcantes do Jose Mourinho na temporada 2013-14 no comando do Chelsea. A segunda parte sairá neste domingo (18).