O Chelsea Brasil está fazendo uma série de textos especiais que antecedem o início da nova temporada. A segunda parte do Guia da Temporada 2020/21 é sobre a defesa. A cada dia um texto sobre o time londrino, jogadores do elenco e considerações sobre as melhores possibilidades para deixar o elenco dos Blues mais forte.
Abaixo, você irá conferir uma análise sobre o desempenho desse setor e razões pelo qual a defesa foi tão vazada na temporada, como também as variações táticas empregadas por Frank Lampard ao longo do último ano, o impacto dos novos reforços e potenciais saídas.
Uma defesa que não passou confiança
Desde a chegada de Roman Abramovich, o Chelsea se consolidou por ter um sólido sistema defensivo. O recorde de melhor defesa da história da Premier League, com apenas 15 gols sofridos na campanha do título em 2004/05, persiste até hoje.
No entanto, o mesmo sistema que foi motivo de orgulho no passado está passando por uma crise. Na última temporada, a equipe sofreu 79 gols, sendo essa a pior marca desde 1990/91. Para piorar, a equipe sofreu 15 gols na Champions League, a pior marca do clube na competição europeia.
Os números assustam, e o pensamento instantâneo da torcida e imprensa é “tentar achar um culpado”. Porém, é importante entender que um sistema defensivo não são apenas os jogadores de defesa. Não só o time precisa estar entrosado, como também os onze jogadores em campo precisam desempenhar seus papéis para que nenhum área do campo fique sobrecarregada.
Tentativa e erro
Por mais que Lampard tentasse algo diferente, a defesa continuava sendo o ponto fraco do time. O treinador variava esquemas táticos, ora em um formação “tradicional” com dois zagueiros e laterais, ora com três zagueiros e dois alas.
Independente do esquema, a equipe era vulnerável na parte defensiva, e não era necessário muito para furar a defesa londrina. De acordo com o site de estatísticas “Whoscored”, o Chelsea foi a equipe na Premier League que concedeu a segunda menor média de chutes ao gol por jogo, com 8,5 por jogo.
Essa fragilidade defensiva foi o diferencial em jogos cruciais da temporada. Ao todo, os Blues enfrentaram 15 vezes equipes do chamado “Big Six”. Dessas ocasiões, venceu seis e perdeu oito, incluindo derrotas nos dois turnos para United e Liverpool. Quando se deparou com o Arsenal na final da FA Cup, as peças defensivas não conseguiram dar conta de Aubameyang, que decidiu o jogo para os Gunners.
Os pontos fracos
De todas as possíveis situações de gol, as jogadas de bola parada foram as mais efetivas contra a equipe londrina. Foram 10 gols sofridos em escanteios, segunda pior marca no Campeonato Inglês junto com o Aston Villa. Essa situação fica ainda pior ao saber que o time azul concedeu o menor número de escanteios no torneio.
Outro problema recorrente foram os gols de contra-ataque. Sob o comando de Lampard, o Chelsea se tornou uma equipe mais agressiva e intensa, pressionando a defesa adversária com linhas altas para roubar a bola no campo de ataque. No entanto, quando os jogadores avançados não conseguem recuperar a bola, a defesa fica exposta. Isso acontece por dois motivos: a transição defensiva do time é lenta e as linhas ficam muita espaçadas.
Assim, o adversário que consegue sair rápido da defesa se encontra em uma situação favorável. E esse cenário resultou em oito gols sofridos de contra-ataque, maior número da Premier League.
Consequência dos erros
A derrota para o West Ham ilustra bem essas fragilidades defensivas.
No primeiro gol dos mandantes, a defesa dos Blues adota uma marcação homem-a-homem no escanteio. O West Ham entende que pode tirar vantagem disso e alinha seus três jogadores mais altos na marca do pênalti.
Quando a bola é lançada no segundo pau, Soucek (1,92m) está sendo marcado por Azpilicueta (1,78m). A diferença entre os atleta dá total vantagem para Soucek realizar o movimento preciso e balançar a rede de Kepa, que fica preso na pequena área pelo congestionamento de jogadores e não consegue socar a bola.
Nos minutos finais, foram todos ao ataque buscar os três pontos, mas o desespero pela vitória custou caro. Após confusão na área, Rice afastou o perigo e encontrou Antonio. O atacante usou sua força física no pivô e conseguiu tabelar com Fornals. Dessa forma, os Hammers criaram superioridade no ataque. Yarmolenko dominou, passou por Rüdiger e acertou um belo chute para sacramentar o placar de 3 a 2.
Reforços sólidos para elevar o patamar
O caos defensivo escancarou algo óbvio: o Chelsea precisava se mexer no mercado e contratar defensores de qualidade para competir em nível nacional e internacional.
Novo dono na lateral esquerda
Desde a chegada de Frank Lampard, Ben Chilwell era especulado para ocupar a lateral esquerda. Marcos Alonso caiu de rendimento após a saída de Conte e Emerson jamais conseguiu dar conta do recado. Por serem jogadores com características ofensivas e pelo fato da defesa sofrer muitos gols, era necessário contratar um novo lateral esquerdo.
Como apontado no Lupa Tática, Chilwell irá trazer equilíbrio e regularidade para um setor tão criticado nas últimas temporadas. Vale destacar positivamente o trabalho de Marina Granovskaia, responsável por conduzir as negociações com o Leicester, conhecido por dificultar na venda de seus atletas.
O líder chegou!
A diretora do clube não parou por aí. Outra necessidade para o elenco era um zagueiro com experiência e recursos técnicos capaz de liderar o miolo de zaga. Aproveitando uma excelente oportunidade de mercado, contratou Thiago Silva, multicampeão pelo PSG, Milan e Seleção Brasileira. Suas credencias dispensam comentários. O brasileiro já figurou inúmeras vezes nos “Times do Ano” da UEFA e FIFA.
Mesmo com 35 anos e chegando perto do final da carreira, Thiago é um jogador de elite e chega como o melhor defensor da equipe. Suas atuações na reta final da última Champions League exemplificam o perfil de zagueiro que o Chelsea precisava: seguro com a bola nos pés, timing acima da média para dar carrinhos e recuperar bolas e um posicionamento defensivo dos melhores.
A dúvida que resta é quanto tempo será necessário para ele se adaptar ao estilo da Premier League.
Qual a melhor opção?
Chilwell e Thiago Silva chegam para serem titulares absolutos e só devem sair do time por lesão ou condicionamento físico. Dessa forma há duas vagas em jogo para completar a defesa.
Pelo lado direito, Azpilicueta será o titular após terminar a temporada em alta. O capitão da equipe liderou o time em interceptações e bloqueios, além de terminar em segundo nas assistências e chances criadas. Não obstante, exerceu com maestria o papel de líder, ajudando os mais jovens na adaptação e dando respostas quando o time passava por momentos ruins.
A briga para fazer parceira com o brasileiro deve ficar entre Rudiger e Zouma, tendo em vista que Christensen vem cometendo muitos erros individuais e não possuí a velocidade necessária para complementar o jogo de Thiago Silva. Ao que parece, Lampard irá confiar no alemão neste início de temporada, mas não será nenhuma surpresa se o francês ou o dinamarquês figurarem entre os titulares, até porque Lampard mostrou que pode atuar com três zagueiros em determinadas ocasiões.
Saídas e empréstimos
No momento, o Chelsea conta com mais de 15 defensores no elenco principal. Esse número deverá ser reduzido até o dia 5 de outubro, quando a janela de transferências na Inglaterra se encerra, tal como o período de inscrição de atletas nas competições europeias.
Por isso, a diretoria trabalha até o próximo mês para tentar vender ou emprestar jogadores que não deverão fazer parte do elenco. Emerson Palmieri e Zappacosta encabeçam a lista, e o destino de ambos pode ser a Itália. O ítalo-brasileiro deve receber menos oportunidades em Londres com a chegada de Chilwell. Com isso, pode ser peça da Inter de Milão, que demonstrou interesse nele.
Zappacosta atuou na Roma na última temporada, no entanto, não foi tão aproveitado pois se lesionou na etapa final do ano. Mesmo assim, a Atalanta se mostrou interessada no italiano, e pode acabar levando o jogador.
Outro que pode sair é Victor Moses. O nigeriano passou um tempo no Fenerbahçe e atuou sob Antonio Conte em Milão na temporada passada. Mas seu aproveitamento foi abaixo das expectativas e ele voltou. Com apenas um ano de contrato restante, será emprestado ou ficará encostado, tendo em vista a concorrência não apenas na lateral como na ponta direita.
Para ficar de olho
Há ainda três jogadores para o torcedor prestar atenção. O primeiro é Ethan Ampadu. O gâles de 19 anos estava empresado ao RB Leipzig. Na Alemanha, não recebeu muitas oportunidades e agora será emprestado ao Sheffield United. Sob o comando de Chris Wilder, que moldou um sólido sistema defensivo nos Blades, o versátil zagueiro, que pode jogar com volante, deverá ter um temporada decisiva na carreira.
Quem também merece atenção é Xavier Mbuyamba. Com apenas 18 anos, o holandês despertou interesse quando atuou no Maastricht. O Barcelona convenceu o atleta e o levou a La Masia, onde atuou no Barcelona B. O zagueiro gostaria de tempo de jogo no time principal, mas a diretoria jogou duro e ambas partes chegaram a uma rescisão contratual.
Sendo assim, o Chelsea bateu a concorrência de outros grandes europeus e contratou o garoto. Ainda não se sabe se ele jogará na equipe sub-23 ou será emprestado, mas pela nacionalidade, altura e qualidade com a bola nos pés, seu potencial é comparado ao de Virgil Van Dijk.
Outro atleta que rescindiu seu vínculo contratual e chegou à custo zero para o Chelsea foi Malang Sarr. O francês foi figura importante no Nice e com 22 anos, deverá ser emprestado para ter tempo de jogo e poder alcançar seu potencial. Como assinou por cinco temporadas, a equipe pensa em utilizá-lo futuro.
Jovens promissores
Uma das tentativas ná ultima temporada foi encontrar soluções dentro do elenco, haja visto que o clube estava impossibilitado de contratar jogadores. Por isso, jogadores da base como Fikayo Tomori e Reece James ganharam oportunidades.
O primeiro chegou a empolgar a torcida no início, mas ainda precisa amadurecer, e seu desenvolvimento sofreu um baque com uma lesão no final da temporada. O clube deve emprestá-lo para que ele recebe mais oportunidades na própria Premier League.
Já o lateral inglês mostrou que pode ser peça importante na construção de jogadas ofensivas, pois tem muita qualidade nos passes e cruzamentos. Contudo, precisa evoluir no posicionamento defensivo, sendo esse um dos motivos de não ter deslanchado como titular absoluto.
Futuro promissor
A chegada de dois jogadores de alta qualidade técnica certamente deixará a defesa mais segura. Desta maneira, é possível prever que o Chelsea sofrerá menos gols ao longo da temporada e tenha uma postura mais firme na parte de trás.
Mesmo assim, a responsabilidade maior será de Frank Lampard. O treinador adquiriu mais experiência no cargo e conseguiu trazer atletas que estavam em sua lista. Portanto, será cobrado caso os Blues não mostrem uma melhora significativa nos números defensivos.
Agora, ele precisa encontrar o melhor esquema tático para os jogadores à disposição e aplicar treinamentos que diminuam as fraquezas da equipe.
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