Quatro jogadores de linha no banco. Esse poderia ser o relato bizarro de alguma liga periférica pelo mundo – ou do próprio Campeonato Brasileiro –, mas foi a realidade do Chelsea em um jogo na maior liga de clubes do planeta.
Assolados pela covid e pelas lesões, os Blues tiveram que jogar com o que tinham em um confronto que já seria naturalmente difícil diante do Wolverhampton fora de casa. O empate sem gols afasta ainda mais o Chelsea da ponta da tabela, uma vez que, agora, são seis pontos de desvantagem para o líder Manchester City.
Enfim, para entender como foi o duelo em Wolverhampton, é hora de ler o jogo.
Uns remendados, outros completos
Além dos quatro jogadores que já haviam testado positivo anteriormente, Jorginho, Loftus-Cheek e Havertz se somaram à lista. Assim, o Chelsea solicitou o adiamento da partida, mas teve seu pedido negado pela liga.
Então, a dupla titular no meio-campo foi Trevoh Chalobah e N’Golo Kanté – o segundo atuou pela primeira vez depois de um mês. O ponto positivo foi o retorno de Mateo Kovacic entre os relacionados, após quase dois meses de ausência por lesão.
This is your Chelsea team today! 🤝
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— Chelsea FC (@ChelseaFC) December 19, 2021
Já o Wolverhampton veio com força quase total, tendo o ala-esquerdo Rayan Aït-Nouri como único desfalque. No lugar dele, portanto, entrou o brasileiro Fernando Marçal.
O técnico Bruno Lage optou por povoar o meio-campo e escalou uma equipe com três no meio-campo e somente Daniel Podence e Raúl Giménez na frente.
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Jogo pobre em chances
Reconhecido por ser um time reativo, que aposta em transições rápidas, o Wolverhampton surpreendeu com sua postura inicial. Nesse sentido, os Wolves equilibraram as ações e impuseram dificuldades ao Chelsea.
Com o trio de meio-campistas, os Wolves obtiam êxito na proposta de povoar o setor e impedir a criação dos Blues. Leandro Dendoncker, Ruben Neves e João Moutinho fechavam as linhas de passe e o Chelsea não conseguia evoluir. Cholabah tinha dificuldades de dar ritmo com a bola e errava muitos passes.
Como resultado dessa intensa disputa no meio-campo, o jogo ficou truncado e os dez primeiros minutos se passaram sem nenhum chute a gol.
E foram os donos da casa que assustaram primeiro, com Podence mandando para o gol. Entretanto, Jiménez estava adiantado, participou da jogada e, portanto, o gol foi anulado.
No vigésimo minuto, a estatística indicava 59% de posse de bola do Wolverhampton, o que escancarava a dificuldade dos Blues em controlar as ações. Mas aos poucos o Chelsea foi equilibrando a posse, apesar de seguir sem conseguir agredir.
O maior escape era Kanté, que ia dando ritmo e levando perigo quando conseguia acelerar com a bola dominada. E foi dessa forma que a primeira boa jogada do Chelsea se desenhou, quando o camisa 7 conduziu e acionou Christian Pulisic na área. Então, o norte-americano saiu frente a frente com José Sá, tentou driblar o goleiro português, mas perdeu tempo e desperdiçou a oportunidade.
Todavia, o jogo seguiu com pouca inspiração para ambos os lados e o primeiro terminou sem grandes emoções.
Enfim dominante, mas pecando no acabamento
Os Blues voltaram para a segunda etapa com Saúl Ñiguez na vaga de Chalobah, que havia sentido ainda no primeiro tempo. Mas a grande mudança nos comandados de Thomas Tuchel foi a postura. Com muito mais agressividade, o Chelsea rapidamente tomou conta das ações e passou a ter volume ofensivo.
Nesse sentido, Saúl foi bem e ajudou a controlar o meio-campo. Quando perdia a bola, o Chelsea conseguia encaixar a pressão alta e fazia com que o Wolverhampton se desfizesse rapidamente da posse.
Com as associações entre Kanté, James e Mount pela direita, o Chelsea criava boas tramas, mas seguia esbarrando no bom sistema defensivo dos Wolves. Dessa forma, quando o relógio já marcava metade da etapa complementar, os Blues registravam 70% de posse de bola, mas nenhuma finalização.
A essa altura, Hakim Ziyech já havia deixado o gramado, também por lesão, dando lugar a Kovacic. Com isso, o Chelsea passou a ter ainda mais controle no meio-campo e Mount ficou mais livre para encostar no ataque.
Na reta final, os Blues enfim conseguiram criar boas chances, mas sem concluir com precisão. Na principal delas, aos 32, Pulisic recebeu ótimo passe de Marcos Alonso, saiu na cara do gol, mas José Sá fez grande defesa.
Mount ainda teve chance em lançamento de Thiago Silva, mas também não aproveitou e o placar ficou mesmo em 0 a 0.
Destaques individuais
Thiago Silva teve atuação impecável. Com a pressão exercida pelo Chelsea na segunda etapa e a característica de transições rápidas do adversário, a recomposição defensiva da equipe poderia ser um fator de preocupação. Entretanto o zagueiro brasileiro foi soberano sempre que ficou mano a mano contra os atacantes dos Wolves e garantiu a segurança. Mas Thiago ainda foi importante ofensivamente, iniciando as jogadas com qualidade e encontrando bons passes longos.
Mount e Ziyech também foram bem na movimentação ofensiva e geraram boas tramas, agregando velocidade e criatividade.
Mas o grande destaque foi mesmo N’Golo Kanté. Atuando pela primeira vez desde o dia 23 de novembro, o meio-campista francês teve que se sacrificar e jogar os 90 minutos graças a ausência de mais opções disponíveis. E Kanté definitivamente fez a diferença. Com e sem a bola, dando o ritmo que a equipe precisava em todos os momentos. Pareceu estar atuando no auge de sua forma, o que esteve longe de ser o caso, mas o pequenino camisa 7 mostrou mais uma vez o gigante que é dentro de campo.
Enfim, o Chelsea fez de tudo para superar seus problemas e competir. Inclusive produziu o suficiente para ganhar o jogo, mas sempre esbarrou no último passe ou na finalização. Contudo, os Blues lutaram em uma batalha que sequer deveria ter começado, porque as condições para isso não eram razoáveis.
A COVID, que mais uma vez assusta o Reino Unido, parece não ter sido motivo suficiente para adiar o jogo do Chelsea, embora outras equipes da liga tenham tido suas partidas adiadas. Então, o saldo é: uma briga pelo título ainda mais comprometida e o sentimento de injustiça ainda mais latente.