Pela primeira vez em sua história, o Chelsea é campeão mundial! Foi com sofrimento, no fim da prorrogação e com Kai Havertz sendo o herói do título mais uma vez.
Em um jogo amarrado, com poucos espaços e raríssimas oportunidades de gol, o Chelsea teve muito mais a bola, mas esbarrou em um forte sistema defensivo do Palmeiras. Para tentar furar o bloqueio adversário, Thomas Tuchel variou a formação diversas vezes ao longo dos 120 minutos e travou grande duelo tático contra Abel Ferreira.
E para entender como foi a partida e de que forma Chelsea e Palmeiras brigaram pelos espaços, é hora de ler o jogo.
Reforços importantes
Com a presença de Thomas Tuchel, que chegou à Abu Dhabi na véspera da decisão recuperado do covid, o Chelsea veio escalado em seu 3-4-2-1. Outro retorno importante foi o de Édouard Mendy ao time titular após a conquista da Copa Africana de Nações com Senegal. A frente dele, Andreas Christensen, Thiago Silva e Antonio Rüdiger eram os zagueiros.
César Azpilicueta era o ala pela direita e Hudson-Odoi o ala pela esquerda, com Marcos Alonso ficando apenas como opção no banco de reservas. Por dentro, Jorginho, titular na semifinal, deu lugar a N’Golo Kanté, que formou dupla com Mateo Kovacic. Já no ataque, Mason Mount e Kai Havertz faziam companhia a Romelu Lukaku.
O Palmeiras, por sua vez, veio com o mesmo time que atuou na fase anterior. Assim, além de Weverton no gol, Gustavo Gómez, Luan e Joaquín Piquerez eram os zagueiros, com Marcos Rocha e Gustavo Scarpa, em tese, nas alas. Danilo e Zé Rafael davam sustentação pelo centro, com Raphael Veiga, Dudu e Rony completando a equipe.
Espaços escassos
Conforme o esperado, o Palmeiras entregava a bola para o Chelsea e apostava nas transições rápidas. Na prática, sem bola o Palmeiras se postava em uma linha de seis na defesa, com Rony sendo uma espécie de ala-direito.
A ideia era simples: ter superioridade numérica na defesa. Isso porque, quando ataca, o Chelsea tradicionalmente povoa o setor ofensivo com uma linha de cinco, já que os alas espetam e se somam ao trio de atacantes. Dessa forma, uma linha defensiva com seis geraria menos exposição.
No plano de resistir, o Palmeiras apostava em encaixes individuais: Rony era o responsável por marcar Odoi na direita e Scarpa fazia o mesmo com Azpilicueta pelo outro lado. Assim, por dentro, Marcos Rocha perseguia Havertz e Piquerez perseguia Mount. Sobravam, portanto, dois para um: Luan e Gómez contra Lukaku. Assim, a dupla de zaga palmeirense dificultava a ação do belga, que ficava ilhado entre a marcação rival.
A frente da linha de seis, Danilo e Zé Rafael vigiavam Kovacic e Kanté, respectivamente. Por fim, Veiga e Dudu exerciam o papel de incomodar a saída dos zagueiros de lado do Chelsea, Christensen e Rüdiger. Assim, sobrava Thiago Silva, que era quem tinha liberdade para construir.
Por consequência, o Chelsea dominava a posse. Porém, ela ficava muito concentrada entre os zagueiros e os meias, sem conseguir agredir efetivamente. Logo, foi somente aos 23 minutos que saiu a primeira finalização de perigo no jogo. E foi por parte do Palmeiras: Dudu fez jogada individual, arriscou de fora da área e a bola passou sobre o gol de Mendy.
Quatro minutos mais tarde, surgiu outra chance ainda mais clara para o Alviverde. Zé Rafael recebeu em profundidade, ganhou de Christensen e tocou para Dudu, que recebeu sozinho na área, mas se enrolou e bateu mal.
A mudança forçada que gerou melhora
Com meia hora de partida, Mason Mount sentiu e teve que ser substituído por Christian Pulisic. A troca, que poderia parecer negativa, surtiu efeito contrário porque Pulisic entrou dando mais mobilidade ao setor ofensivo. Com liberdade de movimentação, o norte-americano fazia o movimento de fora pra dentro, arrastando Piquerez consigo e gerando espaços.
Ainda sim, o Chelsea seguia pouco criativo e tinha na pressão alta sua melhor arma para tentar pegar o sistema de marcação palmeirense desorganizado. Foi assim que, aos 34, Pulisic pressionou Scarpa próximo à linha lateral e o Chelsea recuperou a bola. Ela sobrou para Kanté, que devolveu para Pulisic e o camisa 10 dos Blues invadiu a área, cruzou para trás, mas a defesa do Palmeiras conseguiu se recuperar.
Já aos 43, o Palmeiras deu mais uma escapada com Zé Rafael, que foi acionado por Veiga, saiu livre em direção ao gol e tentou tocar de lado para Rony, mas errou o passe e Christensen interceptou.
Nos acréscimos, o Chelsea teve de fato seu único chute de perigo no primeiro tempo. Thiago Silva se aproveitou da liberdade que o sistema de marcação palmeirense o concedia, carregou e arriscou de fora da área, obrigando Weverton a espalmar.
Nova estrutura
O Chelsea voltou para o segundo tempo com as mesmas peças, mas com uma distribuição diferente. Agora, Pulisic jogava mais recuado, como meio-campista pela direita, com Kovacic pela esquerda e Kanté de primeiro-volante. Então, Lukaku passava a formar uma dupla de ataque com Havertz, o que, consequentemente, fez com que o belga atuasse mais solto, caindo pela direita. Isso liberou Lukaku da marcação dupla que vinha sofrendo e mais associações com o camisa 9 do Chelsea passaram a acontecer.
A troca ocasionou uma desorganização no sistema defensivo do Palmeiras, uma vez que o Alviverde marcava com perseguições individuais e, com Pulisic no meio, Piquerez era obrigado a sair constantemente da linha para perseguir o norte-americano. Danilo seguia marcando Kovacic, agora pelo lado, e Zé Rafael seguia em Kanté por dentro.
Com tudo isso, o Chelsea voltou bem para o segundo tempo, encontrando mais espaços. Assim, logo aos nove minutos, Kovacic superou Danilo, acionou Odoi na profundidade e o ala dos Blues cruzou na medida para Lukaku cabecear e abrir o placar.
Dois minutos mais tarde, Lukaku mais uma vez teve liberdade e fez a parede para Pulisic, que bateu de pé esquerdo, com perigo, à direita do gol de Weverton.
Para aumentar o poder de marcação no meio e tentar conter o ímpeto do Chelsea, Abel fez a primeira troca: Zé Rafael saiu, Jaílson entrou. Logo na sequência, o Palmeiras foi ao ataque e Thiago Silva tocou com a mão na bola em uma disputa pelo alto. Portanto, pênalti para o Palmeiras convertido por Veiga e tudo igual no placar novamente.
Ainda houve tempo para a repetição da jogada feita minutos antes. Lukaku fez o pivô para Pulisic, que bateu de pé esquerdo à direita de Weverton mais uma vez.
Substituições para renovar o gás
Faltando 15 minutos para o fim do tempo normal, Tuchel e Abel resolveram mexer por atacado. Do lado Blue, saíram Odoi e Lukaku, paras entradas de Timo Werner e Saúl Ñiguez. Já no Palmeiras, Veiga e Rony deram lugar a Eduard Atuesta e Wesley.
Com isso, Saúl entrou como meio-campista pela direita, que vinha sendo exercida por Pulisic. O camisa 10, então, passou a atuar pela ala-esquerda. Na frente, Werner entrou na mesma função de Lukaku, caindo pela direita e formando dupla com Havertz.
Por outro lado, o Palmeiras trocou os encaixes de marcação para expor menos o sistema. Atuesta entrou para marcar Kovacic, liberando Danilo para vigiar Kanté e Jaílson para perseguir Saúl. O objetivo era prender Atuesta na linha de defesa, evitando que ele seguisse se descolando para caçar no meio-campo.
Em contrapartida, sem Veiga e com Atuesta, o Palmeiras passava a ter só Dudu na frente, o que dificultou ainda mais a manutenção da posse por parte dos palmeirenses.
O Chelsea tinha ainda mais a bola, mas encontrava menos espaços, o que tornou o jogo mais burocrático, sem chances reais até o fim do tempo normal.
Domínio do Chelsea e prêmio no fim
O time de Londres iniciou a prorrogação com mais duas mudanças: Sarr entrou na vaga de Christensen e Ziyech na vaga de Kovacic. Assim, os Blues passaram a atuar com linha de quatro atrás e Pulisic voltou a ser meio-campista pela direita em um 4-3-3. Na frente, Havertz atuava por dentro, com Werner e Ziyech pelos lados.
Com gás renovado para fazer o perde-pressiona na frente, o Chelsea forçava os palmeirenses a se desfazerem rapidamente da bola, o que gerou amplo domínio dos Blues.
Com Sarr e Azpilicueta bem presos para impedir a saída rápida adversária, Werner e Ziyech eram os responsáveis pela amplitude, alargando o campo e gerando espaços por dentro. Foi assim que, aos oito minutos da prorrogação, Pulisic achou Havertz com espaço e o camisa 29 girou e abriu para Werner, que chegou à linha de fundo, cruzou e Danilo interceptou. Mas a bola tocou no travessão e quase entrou.
Aos 12, Dudu deu lugar a Rafael Navarro no Palmeiras, que tentava renovar o fôlego na frente para incomodar mais. Entretanto, com 84% de posse de bola a favor do Chelsea, o primeiro tempo se encerrou da mesma forma.
Já na etapa final, quando o Chelsea seguia rondando a área adversária, Ziyech cobrou escanteio e a bola sobrou para Azpilicueta, que bateu em direção ao gol e o chute explodiu na mão de Luan. Após consultar o VAR, o árbitro assinalou pênalti. Havertz bateu e estufou as redes de Weverton.
Posteriormente, Deyverson entrou no lugar de Marcos Rocha e Gómez ainda virou centroavante, numa última alternativa. Entretanto, o Chelsea administrou bem e ainda houve tempo para Luan ser expulso após matar chance clara de gol com falta em Havertz. Na sequência, o árbitro encerrou o jogo e assegurou ao Chelsea seu primeiro título mundial.