John Terry: A despedida do capitão, líder, lenda

Grandes jogadores são marcados por números, títulos e lances que são repassados e admirados por gerações. Já os grandes ídolos, tem todos esses diferenciais listados, mas ainda soma-se a isso, uma identificação com uma camisa, um tempo grande de serviços prestados à equipe e principalmente o respeito do atleta com relação ao time. Portanto, não é fácil se tornar o ídolo de um time de futebol, muito menos quando se trata de um gigante europeu.

O zagueiro John Terry conseguiu se tornar um dos maiores ídolos do Chelsea com extrema dedicação, raça, vontade, identificação e trabalho além do talento que sempre demonstrou ter para defender a meta dos blues. É impossível falar da história do azul de Londres sem citar a importância do ex-capitão. Chega a ser até difícil chama-lo de ex pois foi toda uma carreira dedicada ao time, ciclo que se encerrou oficialmente em 21 de Maio de 2017, sua última partida com a camisa que usou por 717 jogos.

E agora, pouco mais de um ano depois de sua despedida dos Blues, foi feito o anúncio de que a lenda se aposentará. Depois de Frank Lampard, mais uma lenda do Chelsea e do futebol inglês se despede, e todas as homenagens devem ser prestadas, trata-se de um dos maiores.

Terry estreou pelo Chelsea em 1998 [Foto: sportskeeda]

A história de Terry no Chelsea começa bem cedo, desde 1995 nas equipes de base. Apenas 3 anos depois, em outubro de 1998, sob o comando de Gianluca Vialli o inglês fez sua estreia com o time principal, demonstrando que era um talento a ser lapidado. Por isso foi emprestado para o Nottingham Forest em 2000 para fazer meia temporada e retornou no mesmo ano, já pronto. Um ano depois foi eleito a revelação do Chelsea, e a partir da temporada 2003-04 ganhou a braçadeira de capitão, para não largar mais.

É muito comum que os times europeus de ponta contratem ou promovam jogadores jovens para que eles permaneçam por um bom tempo na equipe, e só os dispensem quando atingem uma idade mais avançada, visando renovar o elenco e manter o nível da equipe competitiva para a disputa de grandes torneios.

Em 2014 a CIES Football Observatory fez um estudo sobre a relação entre tempo de permanência dos jogadores no clube e idade de contratação, dando origem a um índice chamado de ASAR (Average age at recruitment). O Chelsea foi o 11º entre clubes das cinco grandes ligas europeias e o 1º na Inglaterra. O que indica idade baixa na chegada dos atletas e longa permanência com a mesma camisa. Ou seja, estabilidade e boa visão de mercado. John Terry é o retrato disso.

Terry com a taça da Champions League conquistada em 2012 [Foto: Action Images/Lee Smith]

Para ficar marcado como grande jogador, o capitão conquistou a Premier League e a FA Cup por cinco vezes cada, além da Europa League em 2013, e principalmente a histórica UEFA Champions League em 2012. Além disso, é o maior defensor artilheiro do campeonato inglês, marcou 67 gols pelo Chelsea considerando competições oficiais, e em 2004/05 ajudou o clube a fazer a temporada com mais jogos sem sofrer gols na história do campeonato nacional.

Os 717 jogos com a camisa do clube, somados à quantidade de títulos e prêmios individuais fizeram com que ele fosse considerado um Mr.Chelsea, talvez a figura mais relacionada ao time na história.

Conquistas de Terry pelo Chelsea [Foto: 101 Great Goals]

Todas essas conquistas e feitos, fizeram com que Terry fosse reconhecido mundialmente, o zagueiro chegou a aparecer na equipe ideal da temporada, eleita pela FIFA, por cinco vezes consecutivas: entre 2005 e 2009. Foi considerado o melhor em sua posição pela UEFA três vezes (2005, 2008 e 2009) e foi eleito o melhor futebolista inglês em 2005.

Terry fez parte do XI da FIFA em 2005, 2006, 2007, 2008 e 2009 [Foto: FIFA]

Depois da conquista da Champions League em 2012, a espinha dorsal do Chelsea começou a ser desmontada. Cech, Terry, Cole, Lampard e Drogba já eram ídolos e tinham um longo tempo de serviços prestados e momentos inesquecíveis com a camisa do azul de Londres. Chegava a reta final para esse time vitorioso, que começava a ser renovado com a chegada de jogadores como Hazard e Azpilicueta.

Antes do retorno de José Mourinho ao clube, no início da temporada 2013/2014, o zagueiro vinha sendo contestado nas temporadas anteriores.

“Eu não duvidei de mim mesmo. Quando você tem lesões, é difícil manter a forma e impossível se ficar entrando e saindo do time. Quando joguei, fui bem e fiz gols, mas o treinador preferiu os outros dois (Gary Cahill e David Luiz). Tudo bem.”

Afirmou John em uma oportunidade naquela época.

Já com o português, Terry conseguiu voltar a jogar bem e voltar a ser fundamental para a equipe e conquistar a Premier League. O zagueiro participou de todos os jogos naquela campanha, sendo considerado, mais uma vez, um dos melhores jogadores da temporada 2013/14 na Inglaterra. Ele não precisava provar mais nada, mas confirmou mais uma vez que era um dos maiores defensores do país, se não o maior.

Depois disso, renovou por mais uma temporada, uma vez que o Chelsea tem uma política de renovar contrato de atletas com mais de 30 anos nesse prazo. Com a chegada de Antônio Conte em 2016, a vida de Terry ficou mais difícil:

“Sim [os treinos eram mais duros]. Mais duro que a maioria, fisicamente muito duro, mais exigente, um pouco mais corrido, o que é normal para técnicos italianos”, explicou o zagueiro.

Além disso, o esquema escolhido pelo treinador tinha 3 zagueiros, que precisavam cobrir a subida dos laterais. Azpilicueta, David Luiz e Cahill fizeram excelente temporada, e o último havia assumido com eficiência a faixa de capitão. Era o momento do zagueiro de 37 anos buscar novos ares, ou se aposentar.

No dia 17 de abril de 2017, o Chelsea anunciou que Terry iria sair no fim da temporada. Foi homenageado no dia 21 de maio de 2017, em uma vitória sobre o Sunderland, nessa partida o inglês foi substituído com 26 minutos (número de sua camisa), e ao final da partida levantou o troféu de seu 5º título de Premier League com os Blues.

Terry sendo homenageado em seu último jogo pelo Chelsea. Foto: [AFP Photo/Ian Kongston]

Em julho de 2017 John Terry surpreendeu e acertou por um ano com o Aston Villa, atualmente 2ª divisão inglesa, ao invés de se aposentar ao final de seu contrato com o Chelsea. E diferente do que muitos podem ter pensado, ainda fez partidas em alto nível e, sem problemas físicos, jogou os 90 minutos de todos os 13 primeiros jogos do Aston Villa na Championship. O zagueiro foi capitão da equipe e quase ajudou os Villans a subir para a primeira divisão, mas acabaram sendo derrotados nos play-offs.

Ontem, dia 07 de outubro, John Terry anunciou sua aposentadoria. Fez um post em seu Instagram fazendo uma série de agradecimentos, incluindo diversas palavras de gratidão ao Chelsea.

“Depois de 23 anos incríveis como jogador de futebol, eu decidi que agora é o momento certo de me aposentar.”

“Com 14 anos de idade, fiz minha maior e melhor decisão: assinar com o Chelsea Football Club. Palavras jamais serão suficientes para mostrar o que o clube significa para mim, particularmente os fãs.”

Palavras realmente não são suficientes. Mas suas atitudes foram, Terry. Seu empenho em campo é algo que sempre será lembrado por todos os torcedores que tiveram o prazer de acompanhar seu futebol.

O adeus da torcida do Chelsea deve ser apenas um até logo. Pode ser que, em breve, Terry volte a trabalhar nos bastidores de seu time do coração, e isso talvez acalme o coração dos Blues, que para sempre sentirão falta de seu capitão, líder e lenda em campo.

Homenagem feita pelo Chelsea ao Terry no Instagram. [Foto: Chelsea FC]

Obrigado, John Terry.

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Article by: Victor Rosa

Jornalista e viúvo de Eden Michael Hazard.