Especial: Fàbregas, tudo azul para os Blues: o homem que veio revolucionar o Chelsea

Fàbregas e Costa comemoram primeiro gol da dupla com o Chelsea
Fàbregas e Costa comemoram primeiro gol da dupla com o Chelsea

Não há como deixar de dizer que causa uma certa estranheza ver Cesc Fàbregas, ex-jogador do Arsenal, vestindo o azul royal do Chelsea. Torcedores do time há mais tempo passaram pela mesma situação quando Ashley Cole se transferiu diretamente dos Gunners para Stamford Bridge e, apesar de ter se tornado uma lenda dos Blues, o lateral esquerdo também teve os seus dias de ‘estranho no ninho’. Fàbregas passou, pelo menos, três temporadas no Barcelona para apagar um pouco da imagem visual de vê-lo com a camisa do time vermelho de Londres, Mas, mesmo assim, para alguns é uma cena difícil de digerir.

Desafios em superar o passado vermelho do espanhol à parte, Fàbregas pode ter sido a melhor contratação do Chelsea não apenas nessa janela, mas nos últimos anos. Pergunte para qualquer torcedor do Chelsea e nove em cada dez dirão que o time precisava de um atacante de peso desde que Didier Drogba deixou o clube, como campeão europeu, ao final da temporada 2011/12. Logo, parece óbvio que a chegada de um dos melhores atacantes da temporada passada na Europa, o brasileiro naturalizado espanhol Diego Costa, deveria ser o divisor de águas da história recente do Chelsea no campeonato inglês (o último título veio em 2009, com Carlo Ancelotti). Mas qualquer atacante, mesmo o trio da temporada passada, não resolve nada sozinho.

Nemanja Matic foi a solução para o meio-campo defensivo do Chelsea na temporada passada e, como previsto aqui pelo Chelsea Brasil, melhorou muito a transição do time para o ataque. Mas o buraco deixado por Juan Mata na armação dos ataques ainda estava aberto já que Oscar, Willian, André Schürrle e Eden Hazard tiveram altos e baixos na temporada, atrapalhados por contusões e no caso do alemão até mesmo um semi afastamento do time para ganhar força física. E se Matic resolveu metade do problema do meio campo, Fàbregas chega para resolver a outra metade.

O versátil jogador, que já atuou como ala, meia e falso-atacante, ao que tudo indica, deve jogar na sua posição de origem, como segundo volante (posição que atuou ontem contra o Olimpija no primeiro tempo) no 4-2-3-1, ou como segundo homem de meio-campo em um possível 4-3-3 – esquema que Mourinho usou ontem no segundo tempo. Na ocasião, porém, Cesc era o terceiro homem de meio-campo à frente de Marco van Ginkel – mas isso se justifica pelas ausências de Oscar e Willian, que normalmente ocupam a posição ontem destinada ao espanhol.

Com a saída de Juan Mata, o time perdeu o maestro, aquele jogador que orquestrava as ações do ataque e que tabelava muito bem com Eden Hazard. Os problemas causados por Mata já foram discutidos e apesar da perda da inegável criatividade do espanhol, o Chelsea de Mata – comandado por Roberto di Matteo e Rafael Benitez – não vencia os times grandes e nunca esteve nem perto da briga pelo título inglês. O problema apareceu quando, com a saída do #10, Hazard ficou isolado e principalmente sobrecarregado, já que Oscar, Willian e os outros meias do time não deram retorno ofensivo esperado. A perda de criatividade com a saída de Mata era inegável, mas se os outros jogadores de frente do time tivessem feito sua parte – mesmo tímida perto da qualidade criativa do espanhol –, o Chelsea não teria sofrido.

Normalmente um time, mesmo jogando na retranca, não consegue deslocar dois ou três jogadores para marcar um único adversário, porque isso automaticamente significa que outros oponentes estão desmarcados. Mas o Chelsea da segunda metade da temporada não inspirava essa preocupação aos adversários menores. Não é difícil optar por concentrar a marcação na válvula de escape do time (Hazard, muitas vezes marcado por três jogadores) quando os atacantes estão cada vez mais isolados e têm baixo aproveitamento. Ou quando meias e alas não produzem corridas ou esboçam qualquer capacidade de criar jogadas perigosas. Nem tanta preocupação com quem vem de trás havia, já que os volantes do Chelsea pouco chegavam ao ataque como elementos surpresa.

E é exatamente por isso que a chegada de Fàbregas é taticamente mais importante do que a de Costa. Marcar gols é fundamental e Diego parece não ter os mesmos problemas de inaptidão que os atacantes do Chelsea mostraram em anos recentes. Com 25 anos e 34 gols marcados apenas no campeonato espanhol na temporada passada – para ser ter uma ideia, o trio do Chelsea da temporada passada, Eto’o, Torres e Ba, marcou apenas 19 na Premier League, sendo Eto’o o artilheiro com nove -, Costa está no auge da carreira. Seu porte físico e estilo de jogo se encaixam como uma luva tanto no esquema de Mourinho quanto no futebol praticado na Inglaterra. Mas, para ele marcar, a bola precisa chegar: e é aí que Fàbregas entra.

Passe de gol de Fàbregas para Costa contra Olimpija
Passe de gol de Fàbregas para Costa contra Olimpija (Imagem: tumblr)

Olhando para as estatísticas do jogador, causa espanto saber que mesmo tendo passado os últimos três anos fora da Inglaterra, Fàbregas ainda é o jogador com mais lançamentos certos nos últimos cinco anos da liga (64 em 52 partidas – segundo whoscored.com). O segundo colocado da lista é David Silva do Manchester City que meteu 52 bolas, porém não em dois anos como Cesc, mas em cinco, precisando de 130 jogos para alcançar a marca. Isso mostra a visão de Fábregas e a capacidade que ele tem de executar passes longos, como ontem no jogo contra o Olimpija, quando assistiu Costa (acima).

Porém, a primeira pergunta que pode vir à cabeça do torcedor é: então vendemos Mata há seis meses para contratar outro jogador igual, mas pior? Devido à versatilidade de Fàbregas e as muitas vezes que foi usado como #10 no Barcelona e na seleção espanhola, esse parece um raciocínio lógico, mas mesmo assim é falho. Jogar como meia-armador é apenas uma das posições que Cesc está acostumado e talvez nem seja a mais efetiva dentre elas. Apesar de não ser tão grande, Fàbregas foi formado no futebol inglês e ao longo das muitas temporadas que passou no Arsenal, aonde chegou com apenas 16 anos, o espanhol foi desenvolvendo pegada, força e até marra.

Quantos não se lembram das confusões que Fàbregas arrumou com Frank Lampard? Jogador tarimbado, marrento, razoavelmente rápido e brigador, Cesc difere de Mata não apenas nos atributos físicos, mas também na personalidade. Tais características fazem com que ele não seja facilmente desarmado pelos oponentes na base da força física – marca do futebol inglês e com a qual Mata sofre até hoje. Fàbregas não é tão criativo e alguns podem até dizer que tem visão de jogo inferior a Mata (o que seria discutível), mas é mais guerreiro e melhor marcador, tendo atuado a maior parte da sua carreira no Arsenal como segundo volante. E tem uma característica que faz toda diferença comparada ao conterrâneo: ele muda o tempo do jogo. Enquanto Mata normalmente acompanhava o ritmo, Fàbregas dita.

Não é apenas em contra-ataques que as bolas enviadas de Fàbregas fazem diferença. Com visão privilegiada em relação a outros jogadores, mesmo com a posse de bola, ele consegue perceber os companheiros se movimentando entre as linhas dos adversários, como demonstrado no vídeo acima da ScoutNation – que detalha os gols, assistências e habilidade do jogador na temporada passada (vídeos similares com outros atletas podem ser encontrados no canal, inclusive do Chelsea). Em inúmeras ocasiões, o Barcelona tinha a posse de bola e Cesc rapidamente via o companheiro bem posicionado e com um aproveitamento excelente de passes completos, passava a bola que originou gols ou lances de perigo. O que torna Fàbregas um jogador especial é a sua visão e objetividade. E por isso ele não deu certo no Barcelona – ele é muito direto para o tiki taka espanhol.

Quer seja no 4-2-3-1 como segundo volante ou no 4-3-3 como box-to-box (posição preferida de Lampard – que seria o meio-campista que atua de uma área à outra), Fàbregas oferece uma grande preocupação para a defesa adversária, além claro, da presença de Diego Costa. Se dois ou três jogadores cercarem Hazard, significa que pelo menos um (se não mais) dentre Fàbregas, Costa e Oscar, Willian, Salah ou Schürrle, estarão desmarcados ou marcados à distância e, com alguém capaz de distribuir a bola com precisão para qualquer um dos outros três e de qualquer distância, marcação dobrada ou tripla seria suicídio. Se o espanhol se adaptar bem ao time – o que parece ser o caso baseado apenas em uma partida – as equipes que deram trabalho para o Chelsea na temporada passada podem começar a repensar as suas táticas. Com um jogador vindo de trás da qualidade de Cesc Fàbregas, é melhor que cada oponente marque o seu, porque bons finalizadores como Oscar, Willian e Schürrle, ou jogadores que se posicionam muito bem como Hazard, o próprio Schürrle e Diego Costa desmarcados ou mal marcados farão com que as estatísticas abaixo (publicadas pela edição deste mês da Chelsea Magazine) de Fàbregas se tornem ainda melhores.

Estatísticas de Cesc Fàbregas publicadas pela revista oficial do clube (Reprodução)
*Estatísticas de Cesc Fàbregas publicadas pela revista oficial do clube (Reprodução)
Legenda
Mins per assist: minutos por assistência
Mins per big chance created: minutos por chance real de gol criada
Mins per goal (central and attacking midfielders only): minutos por gol (apenas meio-campistas e meia-atacantes)
Player: jogador
Club: clube
Appearances: partidas disputadas
Mins played: minutos jogados
Assists: assistências
Big chances created: chances claras de gol criadas
Goals scored: gols marcados 
*Fonte: Chelsea Magazine/Opta 

Category: Conteúdos Especiais

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Article by: Chelsea Brasil

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