Matic: a solução de um dos problemas de longa data do Chelsea

Mantic chegou após ficar três anos fora do clube (Imagem: Sky Sports)
Matic chegou após ficar três anos fora do clube (Imagem: Sky Sports)

O volante Nemanja Matic foi confirmado hoje como jogador do Chelsea, após já ter passado duas temporadas no clube londrino (uma delas em empréstimo ao Vitesse) e feito apenas duas partidas oficiais, na campanha do título da Premier League de 2009/10. O volante de 25 anos vinha jogando pelo Benfica nos últimos dois anos, onde teve oportunidade de crescer e se desenvolver– algo que poderia ser difícil no Chelsea com a concorrência na posição na época – e foi um dos destaques do time na última temporada. Mas o que se esperar desse jogador e por que o Chelsea precisava tanto de um volante de contenção mais físico e técnico?

Vamos primeiro olhar o problema crônico que os Blues têm desde a saída de Michael Ballack, em 2010. A dupla de volantes (conhecida como pivot em inglês) é uma das chaves do sucesso dentro do futebol moderno, principalmente em uma liga tão física quanto a Premier League. Espera-se que esses jogadores tenham excelente capacidade de desarmar, pressionar a saída de bola e interceptar passes adversários, mas com a evolução do esporte nos últimos anos, a qualidade do passe e a capacidade de chegar na frente e sair jogando com a bola dominada também passaram a ser essenciais. Em se tratando de futebol inglês, além desses fatores, o porte físico do jogador e sua resiliência também influenciam em como uma time consegue controlar e dominar o jogo pela meia cancha.

O Chelsea enfrenta problemas na posição desde que Ballack saiu, deixando um buraco que não foi preenchido por Frank Lampard (função diferente), John Obi Mikel (mais lento, menos forte) ou nem ainda com a chegada de Ramires (franzino, função diferente). O futebol inglês é rápido e é extremamente importante que os jogadores de meio-campo tenham velocidade, mas também qualidade de passe para fazer a transição do meio-campo para o ataque. E a dificuldade dos Blues era justamente nesses últimos quesitos. Ramires é um dos jogadores mais rápidos da Inglaterra e com a sua chegada, ele compensou a lentidão de Mikel – que nunca conseguiu imprimir velocidade ao seu jogo – e de Lampard – que sentia cada vez mais o peso da idade. Porém, o brasileiro que é mestre em desarmes, e que sabe chegar à frente, tem um passe vertical regular (em alguns casos ruim), e às vezes lhe falta visão de jogo.

Posicionamento: Matic deve ser primeiro volante e ficar mais preso enquanto Ramires exerce função box-to-box (Foto-montagem: Barbara Soares Cavalcanti / Chelsea Brasil)
Posicionamento: Matic deve ser primeiro volante e ficar mais preso, enquanto Ramires exerce função box-to-box (Foto-montagem: Barbara Soares Cavalcanti / Chelsea Brasil)

Lampard, por sua vez, tem um passe bom e uma leitura do jogo rápida e inteligente, porém o #8 já não era mais o jogador de anos atrás, e os problemas físicos, falta de confiança dos técnicos e a idade, dificultaram a vida do recordista de gols do Chelsea. Já o nigeriano Mikel, marca como ninguém no time, mas por motivos que não se pode compreender (já que na seleção da Nigéria apresenta de forma bem diferente), o primeiro volante não avança. Normalmente quando a bola chega aos seus pés ele prefere passar para o companheiro ao lado, ao invés de avançar com a bola ou passar para os meias e muitas vezes recua a bola para um dos zagueiros. Ou seja, com a saída de Ballack do time, o Chelsea perdeu a força física no meio campo, a transição mais suave para o ataque e deixou Lampard sobrecarregado.

Com a chegada de Matic, que tem 1.94m e é forte, o time ganha em poder defensivo, mas também melhora a transição, dá mais liberdade para Ramires e Lampard (que devem ser os jogadores a compor o pivot ao lado do sérvio, sendo que a tendência é Mourinho usar mais o brasileiro do que o inglês). A verdade é que olhando para a temporada, Mourinho apesar de ter usado Ramires mais do que qualquer outro volante, não conseguia usar o brasileiro na posição que ele é mais produtivo: segundo volante (ou como os ingleses dizem box-to-box ou B2B, que é o meio-campista que cobre todo o campo entre uma área (box) e a outra, conforme mostrado no círculo azul da foto-montagem acima). Ramires começou como titular em 20 jogos pela Premier League e quatro pela Champions League. Nesses 24 jogos atuou como primeiro volante em 12 partidas e como segundo em oito, além de ter jogado como ala direita em quatro delas (por opção tática de Mourinho).  Com Matic no time, o sérvio atuaria principalmente como primeiro volante, cobrindo o lado esquerdo do campo, desde a área do Chelsea até a intermediária adversária, preenchendo e ocupando essa zona (círculo roxo e setas vermelhas) oferecendo principalmente marcação forte, mas também qualidade de passe. Além disso o jogador tem boa finalização e poderia ser elemento surpresa (setas brancas) no ataque.

Gol de Matic foi eleito segundo mais bonito pela FIFA nessa semana (Imagem: tumblr)
Elemento surpresa: gol de Matic foi eleito segundo mais bonito pela FIFA em 2013 (Imagem: tumblr)

No sistema de marcação forte na saída de bola adversária, quando Ramires joga como segundo volante, ele é ainda mais efetivo do que como primeiro, já que é excelente roubador de bolas e pode dar o bote mais próximo da área adversária do que quando guarda posição um pouco mais atrás. Em dupla com Matic, não somente o brasileiro terá a chance de se posicionar na zona do campo que enaltece suas características (bom em desarmes, rápido, opção para chute de longa distância), mas também se verá menos sobrecarregado com as responsabilidades defensivas, algo que só acontecia quando formava dupla com Mikel. Nas ocasiões em que Lampard for o escolhido de Mourinho para fazer dupla com o sérvio recém-contratado, o inglês irá usufruir dos mesmos benefícios (exceto que Ramires é muito mais veloz que Matic e a lentidão de Lampard que o brasileiro compensava continuará sendo um problema). A tendência é que Mikel se torne reserva de Matic, e seja usado menos frequentemente.

Outra vantagem trazida com a chegada do novo reforço são as bolas aéreas. Além de ser opção de ataque e defesa em bolas paradas, Matic pode fazer diferença nos duelos aéreos do meio campo. Com exceção dos defensores e de Demba Ba e Torres (que como atacantes normalmente estão um pouco mais avançados), o Chelsea tem jogadores de altura mediana e alguns considerados baixos, principalmente no meio-campo. O sérvio chega para melhorar ainda mais as estatísticas do time nesse quesito que hoje é dominada por Branislav Ivanovic, David Luiz, John Terry e Gary Cahill.

Por último, é importante falar sobre a transição, aspecto importante principalmente em times que jogam com forte marcação, como o Chelsea. A partir do momento que a posse de bola é roubada, no meio-campo ou na defesa, a transição é o que vai ditar quão efetivo ou não o ataque será. Essa é uma das principais deficiências do Chelsea, apesar de ter um dos melhores trios ofensivos da Europa (com Eden Hazard, Oscar, Willian, Juan Mata e André Schürrle). A maneira e a velocidade com que esse passe chega aos meias e alas, os passes longos, bolas de penetração e triangulações no meio-campo são essenciais para que o time possa capitalizar os ataques e contra-ataques armados decorrentes dos desarmes. A melhor opção para o Chelsea até então era as bolas longas de David Luiz (que como esperado, principalmente de um zagueiro, tem baixo aproveitamento), o recuo dos meias (principalmente Oscar, Willian e Mata) para começar a jogada, ou Lampard, nas partidas que participou. Mikel, conforme dito anteriormente, é lento e prefere o passe para o lado. Ramires é rápido, mas o aproveitamento de passes do volante brasileiro no ataque é ruim e tem impacto direto no aproveitamento dessas chances.

Matic marca gol após roubar bola na intermediária (Imagem: tumblr)
Matic marca gol após roubar bola na intermediária (Imagem: tumblr)

Segundo dados do Squawka, Matic teve aproveitamento de passes na Champions League de 83% (considerado bom), mas desses passes vale ressaltar que 70% foram para frente, ou seja, apenas 30% dos passes do sérvio no torneio continental foram para o lado ou para trás. Com aproveitamento na casa dos 80% e verticalidade, o sérvio passa a oferecer maiores opções para a saída de bola do Chelsea pela qualidade no passe. Matic foi eleito o melhor jogador do campeonato português na temporada passada, feito importante, principalmente se considerarmos a sua posição.

Apesar das excelentes expectativas com a contratação do volante, é importante observar que Matic fez apenas três partidas em sua primeira passagem pelo clube e certamente precisará de um tempo para se adaptar ao futebol inglês, que é mais rápido e físico que as ligas portuguesas. De qualquer forma, essa parece ser a resposta para melhoria ou quem sabe até a solução de um dos problemas que vinham atormentando os torcedores e técnicos do Chelsea por três anos.

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Article by: Chelsea Brasil

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