No último sábado (23), os Blues fecharam sua turnê nos Estados Unidos com uma dura derrota diante do Arsenal por 4-0. Mesmo que o ritmo da pré-temporada seja menos intenso e que surpresas podem acontecer, a postura do Chelsea chamou atenção. Inclusive, rendendo críticas do próprio treinador da equipe. Nesse sentido, as partidas disputadas em solo americano chamaram atenção e devem servir como base para estruturar a equipe e o planejamento para a temporada – em menos de duas semanas.
Duras palavras depois da derrota
Thomas Tuchel ficou insatisfeito não só com a performance de sua equipe no clássico contra os Gunners, mas também com as atuações na pré-temporada como um todo. Depois de ganhar do América do México, no primeiro jogo em solo americano, os Blues empataram com o Charlotte FC no tempo regulamentar antes de serem derrotados nas penalidades. Por fim, perderam para os rivais londrinos em uma atuação que parecia de um time perdido em campo.
Diante disso, Tuchel reconheceu que a derrota para o Arsenal foi merecida e que a postura da equipe traz um pouco de preocupações:
“Eu acho que merecemos perder porque simplesmente não fomos bem o suficiente. Absolutamente não fomos competitivos. E a parte que preocupa é o nível de comprometimento“.
“Não foi nossa escalação mais forte e essa é parte da explicação. Mas só um pouco. A outra parte é preocupante. A preocupação é o nível de comprometimento físico e mental que foi muito mais alto no Arsenal do que em nós“, seguiu o treinador alemão.
Fragilidades evidentes
Apesar das muitas saídas para a temporada, o Chelsea só trouxe dois reforços, que são muito mais substitutos diretos daqueles que deixaram Londres: Raheem Sterling e Kalidou Koulibaly. Reforços importantes, sem dúvidas, mas longe de serem apenas o necessário para Thomas Tuchel conseguir seu objetivo de desafiar Manchester City e Liverpool durante toda a temporada.
Com a Premier League começando para a equipe no dia 6 de agosto, o tempo está se esgotando e o saldo da pré-temporada não é positivo. Nesse sentido, o treinador demonstrou preocupação com a temporada que se aproxima:
“Meu sentimento pessoal, eu não sei se já perdi uma partida de pré-temporada por 4-0. Eu não consigo lembrar de não vencer duas partidas seguidas em uma pré-temporada. Gosto de uma preparação forte em todos os aspectos: atmosfera, sentimento, performance, crença“.
“Eu sou supersticioso, mas não de uma forma que leve a acreditar que uma pré-temporada ruim levara a uma temporada ruim. Isso não faz sentido para mim. Eu estou aqui, sou parte disso, e preciso achar soluções“.
“Iremos para casa agora e teremos um dia e meio de folga. Na terça (26) precisamos apresentar soluções, precisamos agir. Eu e minha comissão, junto ao time, precisamos reforçar e achar um caminho para superar isso porque machuca no momento“, concluiu Tuchel.
Em suma, as performances da pré-temporada e as impressões do treinador Blue trazem consigo muitas lições para o clube seguir até o fim da janela de transferências e ao longo da temporada, acima de tudo.
1. O ataque é um grande problema (talvez o maior deles)
Lógico que uma derrota por 4-0 pode parecer chamar atenção para uma defesa frágil. Além disso, nos dois outros jogos o Chelsea foi vazado (apesar das circunstâncias dos gols adversários nas duas primeiras partidas). Porém, o que mais chamou atenção na pré-temporada, inclusive de Tuchel, foi o ataque.
Os Blues já entraram na intertemporada sabendo da necessidade de reforçar sua defesa – e assim está buscando fazer. No meio, a necessidade de um meio campista defensivo é algo reconhecido e que já é estudado há bastante tempo, mas o jogo duro do West Ham frustra os sonhos do Chelsea enquanto nenhuma alternativa apareceu até aqui. Enfim, o ataque, pouco a pouco, começou a se mostrar um ponto de atenção. Sobretudo pelos rumores de possíveis saídas.
Contudo, não apenas por isso. Desde a temporada passada uma situação ficou evidente em relação ao Chelsea: os jogadores ofensivos não se aproveitam das chances. Assim, desperdiçando chances, os Blues acumularam tropeços que quase os complicaram ao fim da temporada. Os times que dominaram as últimas edições do campeonato inglês deixam claro que para desafiá-los não se pode vacilar.
Nesse sentido, as partidas da pré-temporada deixaram evidentes as limitações do ataque dos Blues principalmente no aspecto das finalizações. Em suma, os Blues conseguem criar boas chances, no entanto, desperdiçam muitas chances. Isso, além de implicar no placar, afeta diretamente a mentalidade dos jogadores e o próprio time em campo.
2. O ritmo das negociações tem que acelerar
Nesse sentido, ao fim da partida contra o Arsenal, o ataque entrou em foco, sendo um tópico sobre o qual Tuchel foi questionado.
Se o treinador alemão tem uma postura de blindar o quanto for possível seus jogadores, desta vez, se mostrou incomodado com a permanência dos mesmos erros e das mesmas situações que se fizeram presentes no terço de ataque durante toda a temporada passada.
“Escute, são os mesmos jogadores, então por que algo teria que mudar? Nós veremos, espero, desenvolvimento, mas no momento temos os mesmos problemas porque temos os mesmos jogadores“, enfatizou o treinador do Chelsea.
Além de Sterling, até aqui, os Blues não deram foco para outros nomes que atuem ofensivamente. O grande foco tem sido a defesa, por necessidade lógico, porém, as outras fragilidades não podem ser ignoradas. Nesse sentido, para Tuchel, a pré-temporada reforçou que o elenco não está completo, muito menos é suficiente para a temporada:
“Infelizmente, o jogo [contra o Arsenal] provou meu ponto e a última semana provou meu ponto. Eu preferia estar errado e fiz tudo para provar que estaca errado, mas, no momento, eu acho que estou certo. Quando olho para a temporada passada e para as partes do jogo nas quais tivemos dificuldades e porque tivemos essas dificuldades“.
3. O passado tem que ser corrigido agora
Pelo momento de transição que o Chelsea vive, é normal que muitos nomes sejam especulados em Stamford Bridge. Alguns deles são interesses reais de Thomas Tuchel e Todd Boehly, enquanto outros não terão qualquer chance de estar junto aos Blues na próxima temporada. Por outro lado, muitas especulações surgem sobre aqueles que podem deixar o clube, e o mesmo acontece.
Alguns jogadores buscam mais espaço e tempo de jogo. Enquanto, existem nomes que não tem mais espaço no time e também devem se tornar uma prioridade na janela. Porque não adianta trazer quem o treinador quer, mas deixá-lo com peças que, no máximo, trarão dor de cabeça. Agir nesse sentido é importante, ainda mais depois dessa pré-temporada.
Se, por um lado, a pré-temporada é um guia para Tuchel montar a base do seu plantel, também é uma oportunidade para tentar chamar atenção para jogadores que não terão chances. Em outras palavras, mesmo que seja nítido que um jogador não tenha espaço no Chelsea, ele vai jogar na pré-temporada porque essa é a chance dele impressionar outros times que, eventualmente, tenham interesse.
Consequências do passado
Todo esse cenário surge da antiga política dos Blues de aproveitar oportunidades de mercado para contratar jogadores que estavam em bom momento ou que eram promessas por um valor baixo. Hoje, Tuchel tem nas costas a necessidade e o dever de lidar com o inchaço do elenco.
Muito mais do que estar com os mesmos jogadores, como o treinador comentou, ele está com alguns mesmos jogadores que ele não quer. Seja porque não foram contratados por ele seja porque não estão no nível que ele demanda. Portanto, as vendas e empréstimos devem, também, ser priorizadas nesse mês final de janela – inclusive para permitir novas chegadas e para abrir caminho para os jovens.
4. Cobham é uma solução, mas não imediata
Da mesma forma que algumas contratações demandam tempo para se adaptar ao futebol inglês e ao clube, os jovens formados no Chelsea precisam de tempo para se acostumar à intensidade do futebol profissional (ou do futebol de elite no caso daqueles que já saíram em empréstimo) e à rotina do elenco principal.
Hoje, no elenco dos Blues, três nomes chamam atenção: Ethan Ampadu, Levi Colwill e Conor Gallgher. Além de Trevoh Chalobah que ainda luta para se estabelecer, enquanto Reece James e Mason Mount já se consolidaram como peças centrais para Tuchel e para o próprio clube. Ampadu, Colwill e Gallagher, nessa pré-temporada, tiveram sua grande chance de impressionar o treinador – e provavelmente o fizeram, mesmo que Colwill e Ampadu tenham atuado um número menor de números.
Desse modo, é provável que os três permaneçam junto ao elenco para a temporada e agreguem, e muito, ao plantel base que Tuchel tem desde que chegou ao clube. No entanto, eles não podem ser vistos como a solução imediata para os problemas que existem porque eles não tem a responsabilidade de sê-lo. Pelo menos não agora.
Isso não significa que eles não devam ter suas chances. Pelo contrário, é apenas com as chances que eles receberão que eles terão a oportunidade de se desenvolver para, eventualmente, exercerem a liderança técnica que a torcida demanda.
A grande questão é ter um planejamento e paciência em todo o processo. Porque esses jogadores estão sendo lapidados e, em meio ao desenvolvimento de cada um, haverá oscilações. Portanto, não adianta apenas permitir que estejam no elenco sem utilizá-los, mas também não é para dar chance e espaço aos jogadores sem que haja um plano. Até porque, a mesma torcida que perde é aquela que na oportunidade que tem perde a cabeça.
Em suma, Cobham não pode ser esquecida – tanto pr o seu papel formador como pelo que pode proporcionar ao clube. E integrar os jovens ao elenco principal, das mais diversas formas possíveis, é algo que deve ser promovido por Tuchel porque os frutos que surgirão disso, com certeza, serão muito benéficos. Seja em termos de fortalecimento do elenco ou pelo lado financeiro, afinal, infelizmente, nem todos terão a chance de atuar em Blue.
5. A pré-temporada não é parâmetro
Como o próprio Tuchel falou, uma pré-temporada ruim não significa, necessariamente, uma temporada ruim. Na verdade, a pré-temporada mostra os caminhos para que não seja uma temporada ruim.
O time ainda terá duas semanas até a primeira rodada da Premier League, na qual os Blues enfrentarão o Everton no Goodison Park, e mais um mês até o fim da janela de transferências, que fecha no dia 1º de setembro. E muita coisa acontecerá até lá, sem dúvidas.
O Chelsea terá alguns dias de preparação em Londres antes de seguir para a Itália. Lá, enfrentarão a Udinese na próxima sexta-feira (29) para, finalmente, fechar a pré-temporada. A expectativa é de que Kanté e Ruben Loftus-Cheek, que não puderam viajar para os Estados Unidos por conta de lacunas no esquema vacinal, estarão disponíveis para a partida. Sendo assim, o treinador terá mais dois nomes experientes para a reta final das preparações.
Além disso, alguns nomes podem deixar o clube em empréstimo ou até mesmo em acordos definitivos. A volta para a Europa também demandará que negócios sejam (re)abertos e resolvidos para que assim jogadores e clube possam seguir em frente – tanto os que eventualmente chegarão como aqueles que partirão.
Em suma, a partida contra a Udinese será o grande teste. A expectativa é que tudo que faltou durante a viagem aos Estados Unidos esteja presente, da melhor forma possível, na Itália no fim da semana. Se nos jogos anteriores times mistos entraram em campo, contra os italianos Tuchel deve escalar o time mais próximo possível do ideal para a partida contra o Everton e, por isso, vai servir muito mais como base para críticas e elogios do que tudo que aconteceu até então.
Mesmo que não sirva de base para nada, é inegável que a performance na pré-temporada deixa um gosto amargo na torcida, no treinador e nos jogadores. Porém, não significa nada até então. Muitas coisas ainda vão acontecer e a semana do dia 24 ao dia 31 de julho será essencial para que todas as peças se encaixem dentro e fora de campo. As especulações vão seguir e a procura por reforços vai aumentar (podendo esses reforços já até estarem no elenco) para que os dias finais antes da estreia oficial na temporada tenham como foco o que realmente importa.
O elenco atual
Por fim, esses são os jogadores que Thomas Tuchel tem à disposição:
Goleiros: Kepa Arrizabalaga, Marcus Bettinelli e Edouard Mendy.
Defensores: Marcos Alonso, Thiago Silva, Trevoh Chalobah, Ben Chilwell, Reece James, Cesar Azpilicueta, Malang Sarr, Ethan Ampadu, Kalidou Koulibaly e Emerson.
Meio-campistas: Jorginho, N’Golo Kanté, Mateo Kovacic, Ruben Loftus-Cheek, Ross Barkley, Mason Mount, Conor Gallgher e Billy Gilmour.
Atacantes: Christian Pulisic, Timo Werner, Hakim Ziyech, Kenedy, Kai Havertz, Michy Batshuayi, Armando Broja e Raheem Sterling.