Com a saída de Carlo Ancelotti do comando dos Blues, depois de duas temporadas completamente distintas em Londres, a direção do Chelsea decidiu que havia chegado a hora de renovar o elenco, de fazer a transição de uma “geração de ouro” do clube para uma nova. Era a hora de olhar para o futuro, construir uma nova equipe. Mas isso significava também romper com um time que por dez anos teve a mesma base, com muitos dos mesmos atletas e líderes. Sem sombra de dúvidas, seria um processo doloroso.
E foi, de fato, doloroso, árduo, doído. Foi uma temporada de sofrimentos, principalmente em seus dois primeiros terços. Depois disso as campanhas foram ainda mais sofridas, mas de uma forma diferente, e levaram o Chelsea a maior glória de sua história. A glória que faltava para essa geração.
Para levar a frente este projeto de transição, foi chamado um técnico exatamente com este perfil que o clube procurava: jovem, mas já vencedor. E o nome era André Villas-Boas, que havia ganhado a Europa League com o Porto, na temporada anterior. As comparações óbvias com José Mourinho foram assunto principal da imprensa inglesa, até porque Villas-Boas era pupilo do treinador ídolo dos Blues, tendo trabalhado como assistente, inclusive, no próprio Chelsea.
O treinador português custou 13,3 milhões de libras aos cofres do Chelsea, valor alto, se considerar que, normalmente, nada se paga para a contratação de um técnico.
O desafio do português, então com 34 anos, era enorme: fazer a transição de um elenco com Frank Lampard, John Terry, Petr Cech, Ashley Cole e Didier Drogba; além de outros como Alex, Essien e Nicolas Anelka. E já de cara, o Chelsea adotou uma política diferente de contratações: apostou em jovens jogadores.
Chegaram, na janela de inicio da temporada 2011/2012, atletas sem muito renome, mas com muito potencial: Thibaut Courtois, 19 anos; Juan Mata, 23 anos; Oriol Romeu, 19 anos; e Romelu Lukaku, 18 anos; além de um não tão jovem, Raul Meireles, com 29 anos.
Mata e Lukaku custaram, 28 e 12 milhões de libras, respectivamente. Já Courtois e Romeu custaram nove e cinco milhões de euros. Enquanto o goleiro foi logo emprestado ao Atlético de Madrid, já que não havia espaço para concorrer com Petr Cech –não àquela época, todos os outro quatro foram integrados ao elenco principal, para, inclusive, terem espaço de destaque.
Raul Meireles, vale destacar, foi contratado por 12 milhões de libras, junto aos rivais Liverpool. O volante era jogador de confiança de Villas-Boas, tendo atuado com o treinador no Porto, por uma temporada, com muito destaque, a ponto de merecer transferência à Inglaterra. O português foi contratado para reforçar um setor que havia sido criticado na temporada anterior, o de proteção da defesa, a famosa volância.
O processo de renovação já havia se iniciado na temporada anterior, com a saída de Deco, Ballack, Shevchenko e a chegada de Torres, David Luiz, Ramires e Sturridge. Mas desta vez foi feito com ainda mais intensidade.
A temporada começou com o treinador fazendo algumas mudanças táticas, como a retirada de Ivanovic do time titular, que até então atuava como lateral-direito, passando assim à opção no banco para a zaga. Para sua vaga José Bonsingwa passou a compor a lateral. Alex e Terry compunham a defesa e Ashley Cole era o lateral-esquerdo.
Villas-Boas também tomou decisões que já haviam se provado perigosas, que era deixar grandes ídolos no banco, ou deixá-los sem muito espaço no elenco. Essas decisões, inclusive, já haviam derrubado um treinador oriundo de terras lusitanas: o brasileiro Felipão. Mas o português, muito pressionado pelo conselho do Chelsea, principalmente quanto a dar tempo em campo para Torres, colocou no banco Didier Drogba e Nicolas Anelka. Além disso, o treinador passou a substituir Lampard no intervalo, ou com poucos minutos do segundo tempo, constantemente, e em grandes partidas, como na derrota contra o Manchester United, ainda no início da temporada. Na oportunidade, Villas-Boas substituiu Lampard logo no inicio do segundo tempo, sendo que o meia inglês não gostou nem um pouco disso.
Na primeira metade da Premier League, o Chelsea teve apenas uma campanha mediana, conseguindo dez vitórias, cinco derrotas e quatro empates. Das cinco derrotas, três foram para os maiores rivais, Manchester United, Liverpool e Arsenal, sendo que nestas três partidas o Chelsea levou dez gols. À essa altura, já choviam notícias de que Villas-Boas não tinha o controle do elenco. As partidas de fim de ano, consideradas decisivas pra o titulo, também foram um fracasso, três empates e uma derrota, em quatro jogos. O ano começou com duas vitórias, mas no total foram apenas estas duas vitórias nos oito primeiros jogos da segunda metade da Premier League.
Com seis meses de muita instabilidade nos azuis de Londres, o Chelsea novamente acelerou o processo de renovação do elenco. Anelka e Alex deixaram o clube em janeiro de 2012. Para seus lugares chegaram Gary Cahill, Lucas Piazon, Kevin De Bruyne, Kenneth Omeruo e Patrick Bamford. Porém apenas o zagueiro inglês foi aproveitado logo de cara. Cahill passou a ser opção frequente para a defesa e se mostraria decisivo mais à frente na temporada.
Enquanto isso, na Champions League, o Chelsea fazia também uma campanha mediana, com três vitórias em seis partidas na fase de grupo, além de dois empates e uma derrota. Os resultados foram suficientes para garantir os Blues na fase de mata-mata do torneio. E o primeiro rival era o Napoli, considerado a época uma das grandes forças da Itália, contando com um elenco com jogadores como Cavani, Lavezzi, Inler e Hamsik.
O jogo de ida aconteceu em 21 de fevereiro de 2012, em Napoli, e o Chelsea saiu na frente, gol de Juan Mata, com 27 minutos jogados. Parecia que seria um confronto fácil para os Blues, que ainda sentiam sede de um titulo europeu, depois de tantas decepções seguidas na competição mais importante de clubes.
Mas ainda no primeiro tempo, Lavazzi empatou para o Napoli, e daí para frente o time desmontou em campo. Nos acréscimos da primeira etapa, Cavani colocou o time italiano na frente. 2 a 1. No segundo tempo, o Chelsea jogou um futebol medíocre e ainda levou um terceiro gol, novamente Lavezzi. 3 a 1 para os italianos e o sonho da Champions League parecia novamente distante, desta vez de forma ainda pior, com uma eliminação provável logo nas oitavas de final.
Com a derrota e um placar difícil de se reverter, ainda mais devido ao momento ruim da equipe, a saída de Villas-Boas parecia cada vez mais próxima, ainda mais se for considerado o quanto a diretoria do Chelsea se mostrou impaciente com técnicos anteriores. Os jogadores mais experientes do time, principalmente os que eram preteridos pelos mais jovens, como Drogba, Lampard, Terry e Malouda, eram noticiados como atletas que queriam a cabeça do português.
Mas a diretoria garantia a permanência do treinador. Porém, uma derrota para o Bolton, dez dias depois da queda ante o Napoli, acabou selando a demissão de Villas-Boas. O treinador, irredutível em suas decisões de deixar grandes ídolos no banco, acabou, posteriormente, por indiretamente jogar a culpa no elenco por sua demissão. Mas a verdade é que, fora os problemas de vestiários com as grandes estrelas do clube, o Chelsea fazia campanhas muito abaixo das expectativas dos torcedores e da direção.
Os Blues, que haviam tentado Pep Guardiola para o cargo, demitiam novamente um técnico, o sexto em cinco anos. E a sensação que se tinha era que Villas-Boas era, talvez, um dos menos culpados por isso, apesar do fraco desempenho da equipe. Ele foi contratado para fazer uma transição, e ao tentar fazê-la, acabou por ter seu contrato de quatro anos reduzido a apenas nove meses.
Recentemente, os rumores de que os próprios jogadores haviam sabotado o treinador português, pela sua falta de experiência e por suas decisões duvidosas em relação aos veteranos, acabou por se confirmar verdade, com o ex-lateral e ídolo dos Blues, Ashley Cole, admitindo que alguns jogadores do elenco dos Blues à época não se esforçavam por André Villas-Boas.
Era 3 de março de 2012 e a temporada do Chelsea parecia que já havia acabado. O auxiliar de Villas-Boas, Roberto Di Matteo, ídolo dos Blues como jogador, assumia a equipe como interino, apenas para terminar a temporada. Os torcedores e o clube não tinham muitas pretensões. Mas ao anunciar o italiano como técnico, o Chelsea declarou exatamente estas palavras:
“O clube ainda disputa competições importantes, como Champions League e a FA Cup, e espera que possa lutar por estes títulos até o final da temporada.”
Parecia que alguém lá dentro previa a história. Com Di Matteo assumindo o Chelsea, algumas coisas mudaram. A principal delas foi a volta dos veteranos a posições de destaque dentro do elenco. Lampard e Terry voltaram a ser incontestáveis, Drogba voltou ao time titular, e Torres foi para o banco. Ivanovic voltou a lateral direita e Bosingwa passou a ser opção. Jogadores mais jovens como Romeu e Lukaku passaram a ser pouco utilizados.
Em nível nacional, a campanha do Chelsea não melhorou tanto, conseguindo cinco vitórias, três empates e três derrotas nos últimos 11 confrontos da Premier League. Com a classificação final, inclusive, os Blues ficariam fora da UEFA Champions League da temporada seguinte. E é exatamente essa competição que levará destaque daqui para frente.
Menos de dez dias após assumir o comando azul, Di Matteo tinha pela frente , de cara, um 3 a 1 contra, em Stamford Bridge, para reverter, e diante de um adversário forte. O Chelsea foi a campo com todos seus veteranos, com toda sua experiência. Cech, Terry, Ashley Cole, Lampard, Essien e Drogba no time titular. Os pilares de uma década de glórias. Completavam o time David Luiz, Ramires, Ivanovic, Juan Mata e Sturridge.
Muitos acreditavam na classificação, mas poucos imaginavam que seria um jogo para entrar na história dos Blues, como tantos outros desta campanha. Com bola rolando, o Napoli mostrou sua força, teve em Cavani sua primeira chance e em Lavazzi a segunda, ambas com muito perigo. Mas quem marcou foi Chelsea: após cruzamento lindo de Ramires, Drogba testou para o fundo das redes e o Stamford Brigde enlouquecia. Eram 30 do primeiro tempo e mais um gol apenas bastava para a classificação.
Veja aqui a Parte 1 de um vídeo especial sobre o confronto com o Napoli:
https://www.youtube.com/watch?v=ZTVhjbzNshw
O Chelsea ainda teve outra chance clara. Em cruzamento de Sturridge, após boa jogada, a bola passou frente ao gol do Napoli, mas Drogba chegou atrasado. Logo depois Cavani teve a chance de empatar, em contra ataque rápido dos italianos, mas errou o alvo. David Luiz ainda cruzou uma bola na área com perigo, mas a defesa do Napoli salvou o lance.
Para o segundo, tempo bastava um gol. E o Chelsea conseguiu logo com dois minutos da etapa final, em escanteio cobrado por Lampard, Terry testou no primeiro pau para ampliar o placar. Jogada típica de Chelsea. E a classificação ficava próxima. Na comemoração, Terry batia no peito, emocionado. David Luiz gritava e pulava, era mais um ídolo àquela época.
Porém, aos dez do segundo tempo, minutos após o gol de Terry, a defesa do Chelsea deixou Inler livre na entrada da área para pegar o rebote. O suíço dominou no peito, e sem que ninguém o ameaçasse, chutou no canto de Cech, que nem esboçou reação. 2 a 1 e a classificação voltava aos italianos. Tristeza em Stamford Bridge. O Chelsea precisava de um gol para levar a prorrogação.
O Chelsea teve chances com Ivanovic e Drogba, mas o goleiro De Sanctis praticou milagres à italiana. Zuniga teve a chance de matar o confronto para o Napoli, mas Cech também mostrou ser milagreiro. Com a partida partindo para o fim, restando pouco mais de 15 minutos por jogar, o Chelsea tinha um escanteio. Cobrado na cabeça de Ivanovic, que seria o nome do jogo. O sérvio cabeceou rumo ao gol, mas Aronica colocou a mão na bola. Alguns segundos de suspense, intermináveis. Mas o árbitro assinalou a marca da cal. Pênalti para os Blues.
Lampard, sempre ele, foi para a cobrança. 3 a 1 Chelsea. E a noite começava a entrar para história. O jogo continuava lá e cá, até o apito final do arbitro. A partida ia para a prorrogação. Malouda e Bosingwa foram para a partida, saíram Terry e Mata. E o Chelsea ia para o ataque, queria o resultado sem pênaltis. Mas o Napoli apresentava grande risco.
Com o primeiro tempo da prorrogação acabando, veio um lance que marcou muitos blues. Ramires, na lateral de ataque do campo, já que ele jogava mais avançado no sistema de Di Matteo, tocou para Drogba, que dominou de letra, cortando o zagueiro, antes de cruzar para a área. E lá estava Fernando Torres, posicionado. Mas quem chutou foi outro “centro-avante” da equipe. Branislav Ivanovic. Posicionado como matador, o sérvio chutou forte, alto, no meio do gol. Linda finalização, e depois só correu para o abraço. Uma das comemorações mais emocionantes de minha vida! A câmera em Stamford Bridge tremia. O banco do Chelsea ia a loucura.
O resultado foi suficiente para colocar o Chelsea nas quartas de final, claro, não sem antes um segundo tempo tenso de prorrogação. Com o Napoli no ataque e o Chelsea apenas apostando em contra-ataques, tática memorável de Di Matteo. Drogba ainda teve a chance de matar de vez o confronto, frente a frente com o goleiro, em contra ataque puxado por Ramires, a arma chave do Chelsea daquela temporada, mas chutou para fora.
Ao fim do jogo, se alguém ligasse a televisão, juraria que o Chelsea já era campeão europeu. Jogadores chorando em campo, se abraçando, Di Matteo pulando como um louco e torcida cantando, sorrindo e balançando suas bandeirinhas quadriculadas típicas. O Chelsea passava de fase.
Agora uma pausa para um momento que poucos se lembram. No primeiro confronto ante o Napoli, Ashley Cole salvou uma bola literalmente em cima da linha, que daria o 4 a 1 para os italianos. Talvez sem esse lance épico de Cole, o Chelsea nunca teria avançado de fase. O lance ficou conhecido como “O Conto do Herói Silencioso”.
Veja aqui, a Parte 2 e 3 do vídeo contando a história do confronto:
https://www.youtube.com/watch?v=i1kij2qJ-Dc
https://www.youtube.com/watch?v=5cOxHhWHSKg
Passando de fase, o Chelsea passou a adotar um esquema mais conservador na competição. Apostando na defesa e nos contra -ataques. O adversário era o Benfica e o Chelsea ia a campo com um time misto, devido ao cansaço e lesões de alguns jogadores titulares. Mas, apesar de o Benfica dominar as ações praticamente o jogo inteiro, o Chelsea foi quem saiu com a vitória, gol salvador de Salomon Kalou. Um dos poucos dele na temporada, mas um dos mais fundamentais da campanha.
No jogo de volta o Chelsea precisava apenas segurar o resultado. Mas saiu na frente, logo aos 21 minutos, gol de Lampard, de pênalti. E o jogo ficou equilibrado, com o Benfica atacando bem. Porém, parecia que seria mesmo a noite do Chelsea. Até que, a cinco minutos do fim Javi García, marcou um gol para os encarnados. Colocando fogo na partida, já que mais um gol colocaria o Benfica nas semifinais.
O Chelsea recuou e o jogo ficou tenso. Porém, já nos acréscimos, a um minuto do fim do jogo, Raul Meireles ganhou dividida, na intermediária de defesa do Chelsea, partiu livre com a bola até área adversária, já que o Benfica estava completo sufocando os Blues em seu campo, quando soltou uma bomba e marcou um golaço! Chelsea nas semi novamente e contra um típico rival. O Barcelona. Ah, sabem quem jogou ambas as partidas com a camisa do Benfica? Nemanja Matic. Pois é.
Difícil não lembrar do confronto da temporada 2008/2009, e todo aquele drama contra a mesma equipe. As falhas da arbitragem, a revolta. Depois daquele jogo, o Barcelona estava engasgado na garganta. E era, ao que parecia, um Barça ainda melhor. Se em 2009 o time de Guardiola ainda não era tão louvado, em 2012 eles eram atuais campeões da Uefa Champions League e melhor equipe do mundo. Muitos se falavam em um dos maiores esquadrões da história. Fàbregas, Xavi, Iniesta, Messi, Dani Alves, Pique, Puyol, Alexis Sánchez, e tantos outros.
Para piorar, a decisão seria na Catalunha. Com isso o Chelsea recebeu o Barcelona em Stamford Bridge com uma estratégia clara: não tomar gols. E assim foi. Os Blues se seguraram como puderam. Sánchez acertou o travessão, em lance de cobertura sobre Cech. Fàbregas furou um chute frente à frente com o gol. Cech fez ao menos cinco defesas incríveis. Ashley Cole salvou novamente em cima da linha, dessa vez um chute de Fàbregas.
Tudo isso no primeiro tempo. Já nos acréscimos, depois de um primeiro tempo tenso para a torcida azul, Lampard ganhou dividida com Messi, lançou Ramires, em contra-ataque, partindo por atrás da defesa barcelonista. O brasileiro recebeu a bola, avançou, e cruzou para o meio da área. Drogba, um gigante, chutou. A bola ainda bateu em Valdez antes de morrer nas redes. O artilheiro voltava a brilhar.
Depois do jogo, ele disse uma frase que resumiria a campanha: “Todo jogo da Champions League vai ser uma guerra. Um drama”. O Chelsea levava uma vantagem: não havia sofrido gols em casa. E ia para a Espanha esperando um confronto difícil e apostando ainda mais na defesa. Contudo, mesmo com o resultado positivo, a imprensa europeia dava como praticamente certa a classificação do Barcelona, já que em casa a equipe era considerada “mágica”.
E lá foi o Chelsea. Com sua estratégia italiana, defensiva. O Barcelona atacou desde o primeiro minuto. Messi e Fábregas perderam gols, antes que os espanhóis abrissem o placar. Eram raros os ataque do Chelsea, Drogba jogava sozinho no ataque. Os Blues suportaram 35 minutos. Até que Busquets abriu o placar para a equipe de Guardiola.
Dois minutos depois, Terry deu uma joelhada em Sánchez em jogada sem muita importância. Pelo lance, o zagueiro camisa 26, como simplesmente foi chamado o capitão Terry por um comentarista da TV aberta brasileira, era expulso. Com um a menos e em desvantagem no placar, o sonho europeu ia se esvaindo. E o sonho ficou ainda mais distante depois do gol de Iniesta, aos 43 do segundo tempo. O narrador da TV aberta brasileira avisou que seria um “chocolate” para o Barcelona.
Importante ressaltar que David Luiz não podia jogar, devido a lesão, e a zaga foi a campo com Terry e Cahill. Aos 12 minutos de jogo, Cahill machucou e a campo foi Bosingwa, com isso Ivanovic era movido para a zaga. Porém,com a expulsão de Terry, o sérvio passou a ser o único zagueiro em campo. Bosingwa passou a atuar como defensor ao lado do sérvio. E isso tornava tudo mais improvável, já que o Chelsea não precisava mais se defender. Ramires virou lateral direito no esquema improvisado.
E foi dali que nasceu o gol do ano. Em contra ataque, Ramires partiu, acionou Lampard no meio de campo, que dividiu com Mascherano, ganhou, e devolveu para o brasileiro, em profundidade. Ramires ia sozinho rumo a bola, com a zaga do Barcelona voltando. E eis que aconteceu o mais improvável. O impossível. Ramires chutou, por cobertura, e marcou um dos gols mais bonitos e importantes da historia do Chelsea, e que ficará marcado também na historia do torneio. Golaço! Eram 46 do primeiro tempo. O gol de Ramires dava a classificação, pelo critério do gol fora de casa.
O segundo tempo começou como foi o primeiro: 10 jogadores do Chelsea dentro da própria área. E com menos de cinco minutos, Drogba cometeu pênalti em Fàbregas. Desespero para os torcedores dos Blues. E ia para a cobrança simplesmente Lionel Messi, o melhor do mundo até então. E o sonho que havia dado esperança com Ramires, dava adeus novamente.
Messi chutou. No travessão. Um dos poucos erros da carreira do argentino. Seria intervenção divina? O camisa 10 do Barcelona bateu mal. E o sonho da final crescia ainda mais dentro do peito dos torcedores azuis. Mas a situação parecia ainda difícil para o Chelsea. O Barcelona continuava no seu jogo de toque de bola e ataque contra defesa. Sánchez, Cuenca, Messi, Iniesta perdiam chances de marcar. Cech se agigantava.
Drogba tentou um chute de antes do meio de campo. O Chelsea parecia inofensivo. Alexis Sánchez até marcou um gol, mas Dani Alves, que havia feito o cruzamento, estava impedido. Ufa! Messi teve uma chance, chutou rasteiro, na trave, um susto! No replay, notou-se que Cech encostou de leve na bola, o suficiente para evitar o gol. Um milagre! O jogo caminhava para o fim…
O que parecia impossível, aos poucos ia se mostrando provável, o jogo chegava perto de terminar, mas o Barcelona não dava tempo nem de a defesa do Chelsea respirar. Parecia que a qualquer momento os catalães fariam o gol da classificação.
Já próximo do fim do jogo, aos 92 minutos disputados, Torres, que havia entrado aos 80 minutos, tentou puxar contra-ataque, mas ainda na intermediária, foi desarmado. No pique que estava, continuou por lá, mais próximo do meio de campo, como se desistindo da jogada. Ele era, no momento, o jogador mais adiantado do Chelsea, mas jogava quase como lateral. A bola ficou com o Barça que lançou na área, mas Bosingwa cortou, num chutão para frente, sem nenhuma pretensão.
O câmera, que filmava a partida, estava tão pouco acostumado com o Chelsea no ataque, que nem moveu a câmera da área dos Blues. Quando percebeu que o chutão de Bosingwa tinha acabado milagrosamente nos pés de um jogador do Chelsea, virou a câmera para o ataque, lentamente. Ninguém esperava nada, porém, quando a câmera enfim enquadrou o lance, apenas vimos Torres partindo sozinho em direção ao gol, numa corrida meio lenta. O tempo parecia parar, parecia que era mentira.
O espanhol olhou para o lado, procurando um defensor…depois partiu para cima de Valdés, driblou o goleiro em lance típico de seu auge e chutou para o gol. Ninguém acreditava. O atacante de 50 milhões de libras finalmente fazia valer o investimento. Torcedores ao redor do mundo choravam (inclusive, para quem não fez este exercício ainda, sugiro ir ao Youtube e procurar por vídeos de reações de torcedores ao gol do Torres).
Veja abaixo os melhores momentos da partida contra o Barcelona, no Camp Nou:
https://www.youtube.com/watch?v=vFmEQDOMb20
Era o Chelsea na final da UEFA Champions League, depois de quatro anos. Foi praticamente o último lance do jogo: Torres correndo livre. O coração dos blues foram à boca e muitos até duvidaram que Torres marcaria. Mas o Chelsea foi a final. É bem verdade que o placar já dava a classificação aos Blues, mas o gol do espanhol tirou o peso do mundo das costas do Chelsea. O lance ainda hoje é lembrado como um dos mais emocionantes por qualquer torcedor azul.
Jogadores choravam em campo, se abraçavam, gritavam. Di Matteo agarrava Torres e seus companheiros pelo pescoço. Uma festa para se lembrar. E mais que isso. Era a vingança pela eliminação, na mesma fase, três anos antes, em Stamford Bridge. Contra tudo e contra todos, e sem contar com nenhum erro da arbitragem, o Chelsea se classificava. Histórico! Heroico! Épico!
O jogo contra o Barcelona, um dos maiores jogos da longa história dos Blues, aconteceu em um 24 de abril. Dez dias antes, o Chelsea havia conseguido também se garantir em outra final, a da FA Cup, com uma vitória de 5 a 1 sobre o Tottenham de Gareth Bale, em Wembley. Adivinha quem marcou no estádio? Drogba, claro! Um vitória maíuscula que levava o Chelsea a duas finais, numa temporada que parecia perdida. Era a chance de alcançar, enfim, a maior glória de sua história e ainda conquistar a FA Cup pela quarta fez na “Era Abramovich”. Tudo com muito drama, bem ao estilo Chelsea de ser.
E esses momentos, essas duas finais, são tão importantes na história dos Blues, que merecem um capitulo à parte…