O Chelsea está na final da FA Cup. Após uma vitória diante do Crystal Palace veio com certa dificuldade, imposta principalmente no primeiro tempo. Logo, os gols de Mount e Loftus-Cheek, já na segunda parte, coroaram uma boa atuação na etapa complementar, de um time intenso e agressivo.
Enfim, para entender como se desenhou a classificação dos Blues, é hora de ler o jogo.
Escalações
O Chelsea veio a campo em seu tradicional 3-4-2-1, com César Azpilicueta, Andreas Christensen e Antonio Rüdiger formando a zaga. Thiago Silva, poupado, ficou como opção no banco de reservas. Na segunda linha, os alas seriam, em tese, Reece James e Marcos Alonso, com Jorginho e Mateo Kovacic por dentro. Por fim, Mason Mount, Kai Havertz e Timo Werner formavam o trio de ataque dos Blues.
O Palace, por sua vez, veio com a primeira linha formada por Joel Ward, Joachim Andersen, Marc Guéhi e Tyrick Mitchell. Na teoria, Cheikhou Kouyaté seria o primeiro-homem de meio, ao lado de Jeffrey Schlupp e James McArthur que compunham um setor desfalcado de sua principal figura, Connor Gallagher. O meia, que pertence ao Chelsea, não pode atuar contra seu clube formador e foi ausência sentida pelos Eagles.
Por fim, Eberechi Eze seria o jogador para fazer a ligação com a dupla de ataque, Wilfried Zaha e Jean-Philippe Mateta.
Sistemas híbridos davam a tônica
Como era de se esperar, o Palace baixava suas linhas, entregava a bola para o Chelsea e apostava na velocidade de Zaha quando retomava. No entanto, a novidade estava na configuração tática dos Eagles. Isso porque os comandados de Patrick Vieira se postavam em uma linha de cinco na defesa, já que Kouyaté recuava e fechava como zagueiro pela direita.
Outro que tinha papel fundamental na composição defensiva do Palace era Eze. Sem bola, o camisa 10 era uma espécie de terceiro-homem de meio, pela direita, somando-se a Andersen e Schlupp. Havia momentos, ainda, em que Zaha também voltava e se somava aos outros três meio-campistas, formando assim uma linha de quatro e, então, Eze abria pela direita.
O Chelsea também apresentava uma mudança muito clara: inversão entre James e Azpilicueta, com James sendo o zagueiro pela direita e Azpilicueta o ala. Ou seja, a ideia era ter James tomando conta de Zaha, que caía por aquele lado e era a válvula de escape quando o Palace roubava a bola.
Mas ter James como zagueiro também significava uma maior capacidade de construção por dentro, uma vez que James tinha liberdade para conduzir e criar. Azpilicueta espetava na última linha, com o intuito de arrastar Mitchell e alargar o campo.
Ritmo lento
Com um Palace extremamente bem armado defensivamente, a tônica do jogo era a de um Chelsea que tinha a bola, mas pouco agredia.
Logo, a posse de bola média permanecia sempre acima dos 60% a favor da equipe de Tuchel. Porém, na metade da primeira etapa, a partida ainda não tinha nenhuma finalização de perigo. Já aos 25 minutos, Kovacic sentiu e precisou ser substituído por Loftus-Cheek.
A configuração ofensiva dos Blues, também era um pouco diferente do padrão adotado por Tuchel. Mount atuava, não como meia-aberto, mas por dentro, fazendo a ligação com Werner e Havertz, que jogavam lado a lado, a frente do camisa 19.
Contudo, a movimentação do trio de frente não vinha sendo capaz de causar danos à linha defensiva dos Eagles, e o jogo permanecia monótono. Foi do Palace, aliás, a principal chance do primeiro tempo. Aos 35, Eze levantou bola na área e ela sobrou para Kouyaté, que encheu o pé e obrigou Mendy a espalmar.
E assim o primeiro tempo se encerrou, com um Chelsea inoperante e raras finalizações de lado a lado.
Melhor e mais forte
O Chelsea voltou para o segundo tempo muito mais agressivo e isso se refletiu logo no início, quando, em cinco minutos, os Blues já haviam chegado três vezes, mais do que em toda a primeira etapa. Na principal delas, Loftus-Cheek e Jorginho tabelaram e o camisa 12 enfiou boa bola para Werner, que parou em Jack Butland.
Aos 10, Vieira, observando que seu time cedia mais espaços ao Chelsea no meio-campo, decidiu fazer a primeira troca da partida, tirando Mateta e colocando Jordan Ayew. O ganês entrou para fazer a função de meio-campista pela direita e Eze foi para a esquerda, com Zaha passando a ser o jogador mais adiantado.
Pouco depois, mais uma vez em bola parada e com Kouyaté, o Palace quase marcou, quando o camisa 8 dos Eagles foi para a área em escanteio e cabeceou com perigo.
Cinco minutos mais tarde, porém, a pressão alta do Chelsea surtiu efeito. Azpilicueta roubou bola de Mitchell na saída. Então, ela ficou com Jorginho, que acionou Havertz na área e o alemão tentou cruzar, a bola rebateu em Guéhi e sobrou limpa para Loftus-Cheek, que bateu firme e abriu o placar.
Matando o jogo
Com o gol, o treinador dos Eagles decidiu fazer duas trocas com o objetivo de tornar o time mais ofensivo. Dois meio-campistas saíram, McArthur e Schlupp, para as entradas de Michael Olise e Christian Benteke. As mudanças desfizeram o sistema com três zagueiros e o Palace voltou a atuar com uma linha de quatro. Com isso, Kouyaté retornou ao meio, com Olise ao seu lado e Ayew e Eze abertos pelos lados, tentando municiar a dupla Zaha e Benteke.
Entretanto, com um jogador a menos na linha defensiva dos Eagles, o Chelsea passou a encontrar mais espaços e tirou proveito disso logo na sequência. Entrando nos 15 minutos finais da partida, Werner e Mount combinaram no bico da grande área e o alemão serviu grande bola para o camisa 19, que ajeitou e bateu, sem chances para Butland.
Logo após o Chelsea ampliar o placar, Tuchel fez três trocas de uma só vez: saíram Jorginho, Mount e Havertz, para as entradas de N’Golo Kanté, Hakim Ziyech e Romelu Lukaku. Pouco depois, Thiago Silva ainda entrou na vaga de Christensen.
Na reta final, o Palace se abriu de vez em busca de uma reação, mas os espaços na defesa fizeram as últimas grandes chances ainda serem do Chelsea. Aos 45, Werner cruzou rasteiro para Lukaku que, sozinho, acertou a trave. No rebote, Ziyech bateu e a bola explodiu em Mitchell. No fim, a partida terminou mesmo em 2 a 0 para o Chelsea, com vaga confirmada na decisão.
Destaques individuais
Em uma temporada de recuperação, Loftus-Cheek merece todos os destaques. De desacreditado, se transformou em um jogador muito útil em várias funções na equipe de Tuchel. Dessa vez, entrou em sua posição original, para substituir Kovacic, e novamente não decepcionou. Boa atuação defensiva e ofensiva, coroada com o importante gol, seu primeiro com a camisa do Chelsea desde maio de 2019.
Mount e Werner, autores da jogada do segundo gol, também fizeram boa partida e mostraram, mais uma vez, que se entendem muito bem juntos.
Em suma, a vitória teve ares de dramaticidade, uma vez que o primeiro tempo foi de pouca inspiração e abriu margem para certa preocupação. Só que a melhora na etapa complementar deu aos Blues a justa classificação à final da FA Cup e a chance de erguer mais uma taça na temporada.