O Chelsea visitou o Tottenham Hotspurs no último final de semana e não tomou conhecimento de seu rival. Com a vitória maiúscula no dérbi londrino, os Blues assumem a liderança da Premier League e, mais do que isso, demonstram mais uma vez sua força como equipe.
O duelo, rico taticamente, contou com importantes intervenções de Thomas Tuchel para se tornar ao feitio dos Blues. E, para entender todos os caminhos que levaram à essa importante vitória do Chelsea, é hora da análise tática.
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Tottenham buscava povoar o meio-campo
O Chelsea entrou em campo com duas mudanças em relação ao seu time base: Edouard Mendy, machucado, deu lugar a Kepa Arrizabalaga no gol e Andreas Christensen entrou na vaga de Reece James, com César Azpilicueta sendo deslocado para a ala-direita.
Já o Tottenham atuou em um 4-3-2-1, com Emile Højbjerg, Tonguy Ndombélé e Dele Alli formando a trinca de meio-campo e Giovani Lo Celso ao lado de Harry Kane, com Heung-Min Son sendo o jogador mais avançado:
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A ideia de Nuno Espírito Santo, ao escalar Kane atrás de Son, era obter superioridade numérica no meio-campo a partir das movimentações do camisa 10, além de atrair Christensen para explorar os espaços nas costas da defesa azul.
Marcações individuais deram o tom
Os primeiros minutos já foram um indicativo de que o jogo seria marcado pela intensa disputa por espaços. Ambos os times subiam as linhas e buscavam gerar desconforto na saída de bola adversária.
Dessa forma, quando não tinha a bola, o Chelsea alterava seu posicionamento habitual. Kai Havertz e Romelu Lukaku ficavam a frente e eram os responsáveis por fechar a saída da dupla de zaga dos Spurs, enquanto Mason Mount recuava e perseguia Højbjerg, principal construtor na saída dos donos casa.
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Analogamente, quando o Chelsea trabalhava na saída de bola, o Tottenham também perseguia com encaixes de marcação. Son ficava em Thiago Silva por dentro e Kane e Lo Celso fechavam em Christensen e Antonio Rüdiger, respectivamente; Jorginho era perseguido por Dele Alli, enquanto Kovacic tinha Ndombélé em seu encalço.
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Sobrava Højbjerg, que ficava responsável pela cobertura dos espaços. Dessa forma o Tottenham, por vezes, acabava por ter superioridade numérica no meio-campo e o Chelsea tinha dificuldades na criação.
Tuchel e Nuno moviam as peças
O comandante dos Blues, então, trouxe Mount para o meio-campo, formando uma trinca com Jorginho e Kovacic, tendo Havertz e Lukaku a frente em um 3-5-2. Assim, Dele Alli acabou tendo que tomar conta de Mount, o que fez com que Jorginho tivesse mais liberdade na criação.
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Como antídoto à liberdade do ítalo-brasileiro, Son passou a recuar para vigiar Jorginho e, a partir daí, Thiago Silva foi quem passou a se destacar no controle e na criação.
No entanto, nos deslocamentos de Kane e Lo Celso o Tottenham continuava encontrando espaços entre as linhas do Chelsea. Foi assim que Reguilón e Son tiveram chances, mas não aproveitaram – o segundo, por boa intervenção de Kepa.
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Por fim, os Blues, quando conseguiam sair da pressão, também ameaçavam os Spurs, principalmente com Marcos Alonso pela esquerda. Mas os visitantes esbarravam em erros nas tomadas de decisões.
A substituição que mudou o jogo
No segundo tempo, o Chelsea voltou com N’Golo Kanté, recuperado de lesão, no lugar de Mount. A substituição que, a princípio, poderia parecer defensiva, tornou o time muito mais agressivo.
A troca manteve a mesma configuração tática, uma vez que Mount já vinha exercendo o papel de meio-campista. O objetivo de Tuchel ao lançar mão de Kanté era, na verdade, obter mais dinamismo no setor que vinha sendo alvo das grandes disputas na partida.
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O francês correspondeu de forma excepcional. A substituição fez com que o Chelsea passasse a ganhar todos os duelos na faixa central e obtivesse absoluto domínio das ações.
Assim, o gol não tardou a sair. Primeiro com Thiago Silva, de cabeça, após escanteio cobrado por Alonso. Oito minutos mais tarde, após blitz na saída do Tottenham, o próprio Kanté arriscou de fora, a bola desviou em Eric Dier, enganou Hugo Lloris e morreu no fundo do gol.
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Com os dois gols de vantagem, o Chelsea passou a controlar o jogo. Alternando entre administrar com a posse e abaixar as linhas para explorar os espaços, foi pouco ameaçado. Com um meio-campo intenso, orquestrado por Kanté, passou a chegar na área dos donos da casa com facilidade e abusou de perder gols.
Timo Werner entrou no lugar de Havertz na reta final, participou ativamente das movimentações ofensivas. Embora tenha desperdiçado boas oportunidades, encontrou Rüdiger sozinho no meio da área e o zagueiro alemão concluiu com categoria, para fechar o placar já nos acréscimos.
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Destaques individuais
Além do natural destaque para Kanté, é fundamental mencionar Thiago Silva – o melhor em campo –, que venceu todos os duelos pelo alto, teve papel importante também na construção e ainda foi o responsável pelo gol que abriu caminho para a vitória. Além dele, Marcos Alonso se destacou como grande arma ofensiva pelo lado esquerdo, dando amplitude e levando perigo a todo momento.
Your winner, what a performance! ✨ pic.twitter.com/tvwlagN7gc
— Chelsea FC (@ChelseaFC) September 20, 2021
Em suma, um resultado que evidencia, novamente, a força do coletivo e a capacidade de se reinventar dentro de um cenário adverso. Uma partida que mostrou, também, a habilidade de Thomas Tuchel para usufruir das variedades que o elenco lhe oferece, tirar o máximo de cada jogador e movimentar as peças no tabuleiro como em um autêntico jogo de xadrez.