3-4-3 não é o diferencial do Chelsea, Conte é

Quando Roman Abramovich trouxe José Mourinho para comandar o Chelsea em 2004, o português revolucionou o futebol inglês, ao implantar o 3-4-3. A proeza do português foi usar um meio campo defensivo com três jogadores, um mais recuado e outros dois mais avançados para jogar contra o 4-4-2 da maioria dos times da Premier League na época.

Agora 12 anos depois, parece que novamente um treinador blue vem revolucionar o futebol da terra da rainha. Antonio Conte não inventou o 3-4-3 e jogar com três zagueiros não é exatamente novidade no mundo do futebol. Porém, o fato é que o italiano popularizou o esquema na Inglaterra e até fora, e cada vez mais times vêm empregando a formação com três beques.

Louis van Gaal durante sua passagem pouco vitoriosa pelo Manchester United, insistiu na formação com três defensores, optando pelo 3-5-2 e em alguns momentos pelo 3-4-3, mas a única coisa que conseguiu, além de uma melancólica FA Cup, foi acumular alguns recordes negativos nos Red Devils. Outros treinadores também arriscaram inovações na Inglaterra, mas nada revolucionou o futebol inglês como Mourinho fez quando chegou Londres.

Isso até a chegada de Conte. Declarações do treinador durante a pré-temporada, antes da janela de verão fechar, deram conta que o 3-5-2 seria a formação ideal, porém em coletiva de imprensa no começo de setembro, Conte admitiu não ter os jogadores ideais para esquema, mas que tinha o que precisava para o 3-4-3. Três semanas depois, após derrotas para Liverpool e Arsenal, o técnico abandonou de vez a zaga com quatro jogadores.

Mas a chave para o sucesso não foi escolher um sistema e colocar em campo. Após tentar diferentes opções nos dois primeiros meses em Stamford Bridge, Conte percebeu rapidamente que as fraquezas do seu elenco eram facilmente expostas. Então veio o golpe de mestre. Se o time não tinha o que Conte julgava ser importante para jogar com dois atacantes de ofício, uma das variações do esquema com três zagueiros era completamente viável.

Deixando David Luiz na cobertura e centralizado, Conte colocou César Azpilicueta pela direita – lado que o espanhol pouca vezes jogou nas últimas quatro temporadas – e deixou o vacilante Gary Cahill pelo outro lado. Com isso o brasileiro não apenas pôde se concentrar melhor nas suas atribuições defensivas e se expor menos a jogadas estabanadas – e típicas, mas ofereceu ao companheiro inglês de zaga cobertura essencial, já que Cahill é um defensor passivo, que raramente ataca o adversário e que parece ter verdadeiro pavor de precisar sair jogando. O que se vê muitas vezes na zaga são os dois zagueiros de lado alternando em avançar até a outra metade do campo, com David Luiz sendo opção de transição ao ataque através de passe longo e não mais carregando a bola.

Pelo meio, ainda que haja um clamor por Cesc Fàbregas por parte de muitos torcedores, Conte acertadamente identificou a necessidade de dar mais solidez defensiva e força física ao optar por Nemanja Matic. O sérvio alternou até aqui partidas boas e apagadas, mas não chegou a comprometer. Já o espanhol segue como 12o jogador e ás na manga do treinador, que tem usado o maestro azul como elemento surpresa. Pelas alas, Conte usou a velocidade e dedicação de Victor Moses para dar mobilidade, energia, stamina, mas também segurança pelo lado do campo. O nigeriano não carrega uma responsabilidade maior do que a que pode suportar e no papel secundário que ocupa no time, vez ou outra é capaz de se destacar e aparecer como um dos melhores em campo. Pelo outro lado está Marcos Alonso, chegado da Fiorentina, acostumado a atuar na posição de ala que desempenha e que tem se mostrado mais e mais adaptado ao futebol inglês. Defensivamente, Alonso ainda encontra dificuldade para lidar com o aspecto físico do jogo na Inglaterra, mas a presença de três zagueiros compensa os momentos, ainda relativamente frequentes, em que o espanhol é batido pelos oponentes.

N’Golo Kanté, porém, merece destaque. Uma das melhores contratações do Chelsea nos últimos anos, o jogador que apesar de ter sido essencial ao título do Leicester na temporada anterior e ter atraído interesse do United, não figurava exatamente como o box-to-box mais desejado do mercado, mas por méritos próprios, se tornou uma das peças chaves do esquema de Conte. Ladrão de bolas nato, Kanté é implacável na marcação, corre o campo de área a área, oferece cobertura, velocidade e em algumas vezes até se aventura a apoiar o ataque de maneira mais incisiva. Não é dono de grande passe e em jogos em que está abaixo do nível normal, erra mais do que o torcedor gostaria ao passar a bola, mas é sem dúvida, essencial para o esquema de Conte ser praticamente impenetrável para os adversários.

Na frente, Eden Hazard e Diego Costa renasceram sob o comando do treinador e desfrutam de liberdade e apoio tanto dos companheiros como da formação para mostrarem seu melhor futebol, mas é Pedro Rodríguez que merece destaque. Trazido na temporada passada por Mourinho, Pedro parecia ser uma grande decepção e completamente inapto para jogar na Inglaterra. Atuando com Conte, o ex-jogador do Barcelona pôde mostrar o que fez no time catalão pelos muitos anos que passou por lá, sendo decisivo, como homem importante, atuante e oportuno atrás das estrelas do ataque, mas sem holofotes. Pedro não carrega parte do ataque sozinho, mas usufrui do espaço que Hazard e Costa oferecem ao terceiro homem do setor ofensivo. Coadjuvante que muitas vezes rouba cena – papel que melhor cumpriu no decorrer da carreira, Pedro foi beneficiado pela leitura genial do treinador que vive, respira e transpira futebol.

O 3-4-3 pode até ter virado esquema modinha – esquema Nutella se você preferir – mas o que torna o Chelsea vencedor não é a formação, porém o homem que adaptou seus planos aos jogadores que tinha em mãos, potencializando o desempenho do goleiro ao centroavante. Forza Conte, nosso Poderoso Chefão – de raiz.

As palavras neste texto condizem com a opinião da autora, não tendo qualquer relação com o Chelsea Brasil.

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Article by: Chelsea Brasil

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