Opinião: A três jogadores do sucesso

Marcel Desailly, ídolo do Chelsea no final dos anos 90, afirmou exclusivamente ao SunSports que, para ter sucesso treinando o clube de Londres, o técnico Antonio Conte deverá desistir dos atletas que não estejam de acordo com a sua filosofia de trabalho. Não citou nomes, mas demonstrou dúvidas quanto a capacidade de adaptação de Eden Hazard ao novo treinador.

Eu ainda estou esperando para ver como irão organizar o time em torno dele (Conte) porque alguns dos jogadores que estão lá não combinam com a sua filosofia de jogo. Ele provavelmente terá de ‘se livrar’ de dois ou três jogadores antes de poder desenvolver suas habilidades, porque é um técnico muito talentoso”

Durante entrevista antes do jogo entre Alemanha e França pelas semifinais da Eurocopa, Desailly comentou sobre as alternativas de Conte para montar o time para esta temporada, demonstrou dúvidas sobre a principal estrela do Chelsea, Hazard, e lamentou o fato de que o italiano poderá sofrer para implementar a formação 3-5-2 que utilizou na seleção italiana durante a Euro 2016.

A receita para o sucesso de Antonio Conte no Chelsea, na visão do beque francês, é bastante simples: liberar os jogadores que não estiverem de acordo com a filosofia de jogo (marcação forte, verticalização pelas laterais e posse de bola inteligente) e que não se encaixem nas formações preferidas pelo ex-técnico da Azzurra, principalmente as com três zagueiros.

Sabe-se que todo treinador que tenta implementar um sistema com três zagueiros na Inglaterra torna-se alvo de críticas por parte da mídia, torcedores, dirigentes e até por parte dos jogadores. Porém, Conte conseguiu adequar os jogadores da Juventus a sua filosofia na sua passagem pelo clube. Hazard, diferentemente do que pensa o antigo capitão dos Blues, pode se firmar como um dos pilares na gestão italiana do Chelsea, sendo o jogador de habilidade e decisão que o clube precisa no ataque. Com sua movimentação, força física e técnica o belga tem qualidade para brilhar sob a tutela de Conte.

Engana-se quem pensa que o esquema do novo treinador dos Blues é somente defensivo, que prioriza defender com o máximo de jogadores (o famoso ônibus) e contra-atacar com a maior velocidade possível. O padrão de jogo da Juve durante a passagem de Conte utilizava-se de três zagueiros com boa saída de bola, que conseguiam fazer lançamentos longos quando necessário e de bom porte físico, o que lhes dava vantagem no jogo aéreo. Ainda passava por três peças de criatividade no meio-campo, bom toque de bola e movimentação, dois alas de profundidade para “alargar” o campo que muniam bem o ataque além de defender bem. O esquema chegava finalmente ao ataque, com duas peças: uma mais estática (força física e presença de área) e a outra de constante movimentação (habilidade e conexão entre o meio e o ataque).

Essa espinha dorsal de qualquer time treinado por Antonio Conte independe de formações táticas, mas sim de uma mentalidade específica. Dito isso, Desailly foi muito feliz ao afirmar que alguns jogadores do Chelsea podem não se adaptar. É o caso especificamente de três jogadores: Pedro, Oscar e Willian.

Pedro

Nunca foi unanimidade entre a torcida, além de, na maioria dos jogos, sobrar em vontade mas pecar  na parte técnica. Seu melhor momento na carreira foi num esquema com três atacantes no Barcelona de Pep Guardiola, que possuía uma mentalidade totalmente contrária ao estilo de jogo implementado por Conte, onde obteve uma média de aproximadamente um gol a cada três jogos. Nos Blues foi utilizado numa linha de três armadores no 4-2-3-1 de José Mourinho mas não convenceu. No novo esquema do Chelsea o seu papel pode ser limitado a um reserva para mudar o desenho tático durante as partidas ou como o atacante de movimentação. Pedro não possui os atributos físicos para lidar com o futebol inglês nem com a filosofia tática de Conte, além de ser um jogador caro que não aceita bem a condição de reserva, tanto no clube quanto na seleção.

Oscar

O brasileiro já foi peça chave do esquema de Mourinho no Chelsea quando, com movimentação intensa, conseguia dar segurança para Cesc Fàbregas ditar o ritmo de jogo, auxiliar o sérvio Nemanja Matic na marcação e ainda aparecer no ataque para concluir jogadas e conceder assistências. A decadência dos azuis de Londres coincidiu com a do próprio Oscar que desde então alterna entre bons e maus momentos, o que demonstra que a parte psicológica do jogador não está a ideal. Para que o sistema que o italiano deseja implementar no Chelsea funcione, os meio-campistas devem ser os motores do time e estarem 100% física, técnica, emocional e psicologicamente.

Willian

Willian? O melhor jogador do Chelsea na última temporada? Sim, ele mesmo. O também brasileiro, apesar de ter sido o atleta mais regular na campanha fraca da última temporada pode não se adaptar ao jeito de jogar do novo treinador. Isto é, a menos que mude de posição. Willian, assim como Pedro, está acostumado a jogar em uma linha de três meias armadores de movimentação, com a chegada de Conte talvez o brasileiro tenha que se adaptar a jogar ou no meio campo mais recuado como armador das jogadas ou como ala, função que prejudica a sua movimentação, limita seus pensamentos e coloca um funil na sua habilidade de criar jogadas e de arrancar em velocidade cortando para o meio. Willian seria melhor aproveitado no sistema tático de Conte como um meia armador solitário de bastante movimentação, seja com dois ou três atacantes a sua frente mas distribuindo as jogadas do meio para as pontas e não ao contrário.

Bônus: Loic Remy, Matt Miazga e Baba

São jogadores que provavelmente não terão muitas chances de mostrarem seu futebol na nova gestão. Remy, constantemente ligado a transferências e bastante especulado como moeda de troca ainda não definiu seu futuro mas provavelmente será longe de Stamford Bridge. O estadounidense Miazga é um que deverá ter poucas chances, principalmente pela permanência dos veteranos Branislav Ivanovic, Gary Cahill e do capitão John Terry, além da recuperação de Kurt Zouma e da provável chegada de reforços no setor, seja pela volta de jogadores emprestados seja pela contratação de novos nomes. Baba Rahman é um que deverá ter um pouco mais de oportunidades do que os demais citados, mas será logo sacado do time se não apresentar um bom futebol (coisa que não fez até o presente momento, falhando tanto em posicionamento quanto tecnicamente).

Resumo

O clube possui, na maioria dos seus jogadores, peças que se encaixam no todo imaginado por Antonio Conte e que, muito provavelmente, não vão ter problemas em assimilar novos papeis táticos e agradecerão pelo rodízio sempre imposto pelo italiano em seus clubes. O futebol atual não pode ser jogado somente por 11 jogadores, por isso jogadores que só atuem em uma posição, que possuam preparo físico deficiente ou que não estejam de acordo com a mentalidade do resto do time devem ser liberados para que possam buscar novas agremiações onde possam desenvolver melhor o seu potencial.

As palavras neste texto condizem com a opinião do autor, não tendo qualquer relação com o Chelsea Brasil.

Category: Opinião

Tags:

Article by: Lucas Jensen

Jornalista que ainda acredita que o futebol pode ser apreciado sem torcer (mas não se segura e torce mesmo assim). Fã de tática e do jogo reativo, se deleita nos contra-ataques e toques 'de primeira'. Amante racional da Premier League e nostálgico do Calcio, seus hobbies incluem teorias mirabolantes e soluções inusitadas.