O que Tite pôde extrair de Guardiola e Conte no Etihad Stadium

No último domingo, dia 04/03, o técnico Tite e seu auxiliar Sylvinho, da seleção brasileira, foram ao Etihad Stadium para assistir ao confronto entre Manchester City e Chelsea, valido pela 29ª rodada do campeonato inglês. Mais do que para assistir a disputa pelo título, até porque essa já está praticamente definida, o treinador foi para buscar aprimorar suas técnicas para fazer seu time atacar ou defender. Estilo de jogo aplicado com primor pelas duas equipes, cada uma dentro de sua proposta no jogo.

Além disso, alguns brasileiros que fazem parte da seleção montada por Tite estavam presentes na partida. O goleiro Ederson foi titular pelo City e Willian saiu jogando pelo lado do Chelsea. Talvez o treinador da seleção esperasse assistir Gabriel Jesus começando pelos citizens, porém a fase de Sergio Agüero é fantástica, além do ex palmeirense estar em fase final de recuperação de lesão. Danilo foi o outro brasileiro no banco do City. Já David Luiz e Fernandinho não apareceram nem no banco de reservas.

Na Copa do Mundo, a seleção brasileira está num grupo com duas equipes europeias que se defendem muito bem, Suíça e Sérvia são conhecidas por montar equipes que marcam muito forte e tentam diminuir os espaços do adversário. Tendo em mente o empate em 0x0 no amistoso realizado contra a Inglaterra em Wembley no mês de Novembro/17, Tite sabia que precisava acompanhar partidas de equipes que se defendem com primor, uma vez que naquela partida, a defesa inglesa conseguiu anular todas as tentativas de ataque dos brasileiros. Também era necessário ver como encontrar espaços em defesas tão bem postadas, e acreditou que a equipe de Pep Guardiola o ensinaria isso.

A partida entre City e Chelsea entregou exatamente o que Tite queria. O treinador dos Blues montou uma equipe que vinha para fechar todos os espaços do time de Manchester. Um 5-4-1 defensivo, com apenas Eden Hazard na referência. A falta de um centro avante de ofício se justificava no cenário defensivo; Pedro Rodríguez e Willian voltam mais do que o belga, fechando espaços pelos lados e contendo a subida dos laterais do adversário. Além disso, teria um trio rápido para contra atacar.

Clássico inglês foi um prato cheio para Tite (Foto: Getty Images)

O foco mesmo era a defesa. Os dois alas, Victor Moses e Marcos Alonso, se preocuparam apenas em conter os pontas do City, enquanto o trio de zagueiros se posicionava em linha e revezavam na saída para dar o bote e fazer a cobertura. Além disso, os dois meias centrais tinham a missão de encostar na linha defensiva e desconstruir jogadas – mesmo que Fàbregas também tivesse a função de achar lançamentos e passes para puxar contra ataques – Ou seja, Antonio Conte mostrou para Tite como montar um time defensivo e como eles se comportam ao longo de uma partida em que recebem pressão o tempo todo.

O time da casa, a sensação do campeonato, mostrou mais uma vez porque carrega todo esse status e é o favorito para conquistar o título. O treinador brasileiro deve agradecer a Pep Guardiola por também entregar exatamente aquilo que ele queria ver. Durante os 90 minutos da partida, o Manchester City usou todas as armas que tinha para superar o ferrolho montado pelo adversário. O time foi montado num 4-3-3 com três meias criativos e dois pontas que têm o drible e a velocidade como armas principais.

A primeira ferramenta que Pep Guardiola utilizou para penetrar defesas foi a marcação alta. O Chelsea não conseguia trocar passes no campo de defesa sem que um ou dois jogadores do City aparecessem com muito apetite tentando roubar, com isso a bola era quebrada da defesa para o ataque, que não tinha o centro avante para tentar segurá-la, e com isso o Manchester retomava a bola para dar início a uma nova tentativa de ataque. Isso fez com que os citizens terminassem a partida com 71% da posse de bola.

Além disso, o uso de meio campistas com muita qualidade técnica facilitou a criação de jogadas do City. Na ausência de Fernandinho, İlkay Gündoğan foi o primeiro volante – decisão corajosa para um time que vai enfrentar uma equipe como o Chelsea – além dele, David Silva e Kevin De Bruyne se aproximavam muito para trocar passes, deixando as pontas com Bernardo Silva e Leroy Sané, que recebiam a bola para tentar enfrentar a defesa no mano a mano, ou seja, a jogada começa pelo meio e termina em uma das pontas para que finalizem ou toquem para dentro da área.

Trazendo isso para a seleção brasileira, Tite poderia adaptar algumas jogadas que viu para seu esquema, Willian bem aberto pela direita como fez Bernardo e Neymar pela esquerda, como Sané, além de Coutinho chegando por dentro tentando organizar e finalizar como fez De Bruyne. Enfim, o treinador da seleção deve pensar o melhor para sua equipe, e com certeza viu uma aula de criação de jogadas.

Voltando um pouco ao que foi o jogo, em um confronto em que a defesa se comportou tão bem e o ataque não parava de pressionar, o único gol saiu apenas em uma falha individual de um defensor. O dinamarquês Andreas Christensen afastou mal e, em cima disso, o City criou sua jogada rapidamente até que David Silva achasse Bernardo na segunda trave para completar um cruzamento fatal. O gol poderia ter saído na bola parada de alguma das equipes, numa jogada bem construída pelo Manchester ou em um bom contra-ataque do Chelsea, mas numa partida com duas propostas de jogo tão bem executadas, quis o destino que o 1×0 para os mandantes fosse o resultado final.

Tite e Sylvinho estavam no Etihad Stadium acompanhando a partida [Foto: Jornal O Tempo]

No final das contas, nenhum dos brasileiros conseguiu se destacar muito. Pelo lado do Chelsea, Willian tentou puxar alguns ataques em velocidade mas nenhum conseguiu levar perigo ao gol de Ederson, que também não foi exigido. O goleiro do City mostrou trabalho apenas cortando alguns cruzamentos e saindo da área para cortar um passe em profundidade tentado por Cesc Fàbregas, além de mostrar tranquilidade mesmo quando esteve apertado, em pouquíssimas oportunidades. No final da partida, Gabriel Jesus e Danilo entraram para manter a pressão na marcação durante as últimas tentativas de ataque do Chelsea, mas não tiveram tempo para mostrar nada além de boa movimentação.

Para aqueles que acreditam que  futebol é ter o controle da partida e criar jogadas, a vitória do City foi um resultado justo. Aos que veem o jogo como um duelo tático e execução da proposta implementada pelo treinador, tanto a vitória de Pep quanto a de Conte poderiam ser vistas com justiça. Foi um jogo interessante, no qual um dos grandes vitoriosos foi Tite, que teve a oportunidade de assistir in loco um confronto de ataque contra defesa proposto por dois dos maiores treinadores do mundo, uma aula para estudar futebol.

As palavras contidas nessa reportagem condizem à opinião do autor, não tendo qualquer relação com o Chelsea Brasil.

Category: Opinião

Tags:

Article by: Victor Rosa

Jornalista e viúvo de Eden Michael Hazard.