A sete rodadas do fim do primeiro turno, o Chelsea assumiu a liderança do Campeonato Inglês, depois de bater o Middlesbrough, fora de casa, neste domingo, e ver o Liverpool tropeçar diante do Southampton. O período atual ainda é bem distante do fim da competição, mas suficiente para indicar que ser líder não é obra do acaso. Nunca foi, e nem será (a menos que haja um amplo conjunto de interferência grave da arbitragem em favor de alguém. Não é o caso!). O próprio Leicester, campeão na última temporada, conseguiu tal feito por méritos, atingindo a meta traçada (ou descoberta no meio do caminho) com eficiência dentro de sua proposta de jogo.
É justamente sobre estilo de estratégia que vamos falar. Muito provavelmente, irão aparecer, em breve, questionamentos quanto à posição dos Blues na tabela. A pouca posse de bola e a linha de cinco defensores, por exemplo, são fatores que afastam a simpatia de quem olha de fora, sem o sentimento pelo clube envolvido, e, às vezes, até raivoso por isto.
A discussão é longa e gera um debate inteiro de vários capítulos. O confronto entre o modo de jogar as partidas e os resultados obtidos é pauta nas mesas de bar e de programas esportivos desde que “o mundo é mundo” (ou melhor: desde que o futebol é futebol). Só que, ao contrário do basquete e do vôlei, o esporte mais querido do planeta não exige a postura majoritariamente ofensiva. Basta uma bola dentro da rede para conseguir a vitória, que pode acontecer de inúmeras maneiras, inclusive se defendendo. Ou alguém se esqueceu que existe um tal de “contra-ataque”?
Também não é regra que quem preenche bastante o campo defensivo faz poucos gols. O Chelsea marcou 27, atrás apenas do Liverpool (30). A filosofia, quando executada próxima da perfeição, proporciona resultados completos. Olhem a defesa azul! Só sofreu mais gols que o Tottenham (9 a 8).
Quando a gente traz esse estudo para o Brasil, nos deparamos com o virtual campeão Palmeiras. Não joga de forma brilhante, atrai críticas acentuadas (muitas vezes até exageradas, já que existe, sim, repertório no time de Cuca), mas vai (tende a) chegar ao objetivo final. A diferença é que o nível técnico do elenco paulista está (no papel) bem abaixo das grandes potências europeias. Então, o Chelsea, por ser teoricamente superior, deveria obrigatoriamente dar show em sua liga? Não! É preciso levar em conta a competitividade expressivamente mais pesada que o esquadrão inglês encontra na Premier League (basta ler a escalação do Manchester United, para iniciar a comparação). Do outro lado, o Alviverde Imponente reside num país onde a prática do futebol interno passa por um processo de empobrecimento – um contraponto com a atual fase da seleção de Tite e a própria história dos clubes brasileiros. Portanto, o campeão desta liga só pode ser o próprio reflexo da mesma. Ainda assim, alguém ousa contestar uma equipe que fica 27 de 36 rodadas em primeiro lugar, tem o segundo melhor ataque (59 gols) e a defesa menos vazada (31)?
Em suma, não é 3-5-2, 4-3-3 ou 5-4-1 que vai decretar o método de um time se comportar em campo. Isso daria, sim, é uma boa linha de ônibus. Claro que apresentar espetáculos enche os olhos de quem assiste e leva orgulho ao torcedor. Se todo mundo jogasse assim, estaríamos em um céu de brigadeiro. Mas, felizmente, o futebol é feito para todos. Cada um escolhe, dentre as armas, a que mais lhe favorece. E o mais perfeccionista leva os três pontos ao fim dos 90 minutos. Conte entendeu que o Chelsea precisar atuar com compactação atrás e velocidade na frente, entregando a bola aos oponentes para explorar os erros alheios (o que não necessariamente ocasiona um futebol feio). Conseguiu, pelo menos até agora, montar uma “defesa que ninguém passa” e uma “linha atacante de raça”.
As palavras neste texto condizem com a opinião do autor, não tendo qualquer relação com o Chelsea Brasil.