Na última vez em que vim a este espaço, ressaltei a importância da passagem de Tammy Abraham pelo Swansea City. Ela ficou evidente com a convocação do atacante para a Seleção Inglesa principal, recebendo oportunidades com o treinador Gareth Southgate. Além dele, o comandante do English Team deu espaço para Ruben Loftus-Cheek, jogador que há tempos é pedido no grupo de profissionais do Chelsea – desde os tempos de José Mourinho. O bom desempenho do meia na partida contra a Alemanha (foi, inclusive, eleito o melhor em campo), obviamente, colocou holofotes sobre sua cabeça e muitos falaram sobre o jovem. Ótimo, mas pouco. É evidente que o timing proporcionou tamanha repercussão, mas a cobrança e o acompanhamento da evolução dos garotos precisa ser constante.
Vasculhando apenas as pautas recentes do Sky Sports, encontram-se rapidamente falas de quatro pessoas a respeito de Loftus. Enquanto Willian disse que “ele é um ótimo jogador. Ele é forte, tem qualidades. Tem um grande futuro. Não sei o porquê de ele estar no Crystal Palace agora. Não sei. Ele tem que voltar”, Antonio Conte afirmou que “Ruben e Tammy serão o futuro do Chelsea”. Além deles, o pai de RLC e o comentarista Jamie Redknapp também se manifestaram. Excelente, exceto pelo fato de que isso precisa se tornar realidade, caso contrário não passarão de palavras vazias.
Southgate aproveitou-se do fato de os Three Lions estarem classificados para a Copa do Mundo para fazer testes e a verdade é que Abraham e Loftus-Cheek não estão tão próximos de frequentar o esquadrão inglês. Harry Kane, Jermain Defoe, Daniel Sturridge e Danny Welbeck não foram chamados para o ataque. É claro que nem todos estarão no grupo dos 23 que vão à Rússia, mas até por uma questão de coerência estão bem melhor cotados. No meio-campo, a situação é semelhante. Dele Alli, Jordan Henderson ou Adam Lallana ficaram de fora. Em condições físicas ideais, serão presença certa. Como no Chelsea, os recém-convocados representam o futuro, não o presente.
E é por isso que não se pode esperar por acontecimentos esporádicos para trazer à tona a óbvia realidade em que Tammy e Ruben são realidades para o futuro. Não se pode deixar esse assunto para as oportunidades em que os garotos estejam em evidência, pois evidente é seu talento e isso não depende de timing positivo. Na medida em que se espera por fatos extraordinários (no sentido de algo “além do comum” e não de “fantástico”) para exaltar a qualidade dos garotos, seu futuro fica mais longe.
É claro que a saída de Michael Emenalo do Chelsea traz outra perspectiva ao clube. Mas ainda é prematuro dizer se tal fato será positivo ou não para o futuro dos talentos das categorias de base dos Blues. O acompanhamento do desenvolvimento dos garotos precisa ser constante. É necessário falar deles como o futuro do Chelsea com habitualidade. E assim deve ser não somente porque eles merecem ou o clube londrino deles precisa. Há dois outros pontos chave: os jovens têm que acreditar que terão efetivas chances e necessitam desenvolver sua personalidade para alcançar o mais alto nível. A saída de Dominic Solanke (outro convocado por Southgate) do Chelsea não pode ser esquecida.
E Solanke não está sozinho. Ainda que não tenha fechado as portas a um retorno a Stamford Bridge, Bertrand Traoré, hoje destaque do Lyon, após boa passagem pelo Ajax, disse que “deixar o Chelsea foi a melhor decisão para mim […] Como um jogador você só pode melhorar jogando toda semana”. Outro que assumiu que deixaria o clube se não obtivesse chances foi Andreas Christensen. Já pensaram o tamanho que essa perda representaria? Esse é o ponto. Todos precisam jogar com regularidade e, se as oportunidades não chegarem, deixarão os azuis de Londres. E quem mais perde com isso é o próprio clube. Perde porque boa parte desses garotos é realmente talentosa, tem baixo custo e gana de evoluir enquanto futebolista.
É claro que deve haver equilíbrio, sendo impossível montar um time só de garotos. Porém, o Chelsea já tem um grupo consolidado de referências. Por isso, esse tema não pode ficar refém de acontecimentos “fora da curva” para permear as falas, pautas e a cobertura jornalística dos Blues. Os jogadores precisam ser valorizados e necessitam saber que o são. Evidente também que não é o caso de Conte, ou quem quer que seja, elogiá-los sem finalidade alguma. Eles precisam saber, com regularidade, que dando o seu máximo semana após semana, as chances virão. Não dá para esperar uma convocação para que isso aconteça.
As palavras neste texto condizem com a opinião do autor, não tendo qualquer relação com o Chelsea Brasil.