Colunas: Por que o Chelsea não tem pratas da casa?

Ruben Loftus-Cheek, de 18 anos, contra o Sporting, pela Champions League
Ruben Loftus-Cheek, de 18 anos, contra o Sporting, pela Champions League

O Chelsea tem hoje a categoria de base mais premiada da Inglaterra, com títulos desde o sub-15 até o sub-21, chegando sempre às fases decisivas dos torneios. O sucesso não se deve apenas aos bons olheiros do clube espalhados pelo mundo, mas ao investimento feito na estrutura. Desde que se tornou dono do clube, Roman Abramovich investiu no centro de treinamento de Cobham, onde o time principal também treina, com instalações de primeira, campos, alojamentos, academia, equipamentos, etc.

Com tanto investimento e com jogadores de talento que foram levados para Cobham, é de se espantar que o time principal não tenha nenhum jogador formado na base. O único caso é o do capitão, e veterano, John Terry, que está no Chelsea há 20 anos. Mesmo com o time recheado de estrelas que custaram fortunas aos cofres do clube, era de se esperar que mais jogadores fossem integrados ao elenco ao longo dos anos.

Claro que um dos principais fatores para os pratas da casa chegarem ao time cima é a instabilidade da comissão técnica. José Mourinho foi o treinador na história recente do clube que mais tempo ficou à frente do time, por três temporadas (em sua primeira passagem por Stamford Bridge). O treinador novo sempre chega pressionado a apresentar resultados rápidos e isso acaba sendo um entrave para os garotos da base receberem chances.

Sempre haverá muita pressão para um time do tamanho do investimento do Chelsea vença títulos. O clube não enfrenta problemas financeiros, mesmo com as regras do Fair Play Financeiro que tem fiscalizado as contas dos times europeus e por isso ainda investe muito dinheiro em jogadores mais experientes e prontos. Por exemplo, para a lateral o Chelsea pagou caro pela contração de Filipe Luís, mas o brasileiro é apenas reserva de César Azpilicueta, que joga improvisado na esquerda.

Nathan Aké – que joga tanto como volante, como lateral – terá ainda menos chances, com a chegada de Luís. O mesmo ocorre com Ruben Loftus-Cheek, Jeremie Boga, Lewis Baker que viram as chegadas de André Schürrle, Mohamed Salah e Marco van Ginkel (que está atualmente emprestado ao Milan). Com jogadores vindo de fora, contratados para o time principal – e com investimento considerável, as chances dos jogadores formados no clube jogarem na equipe principal ficam ainda mais reduzidas.

Outra dificuldade é justamente a quantidade de jogadores jovens que o Chelsea tem contratado nos últimos anos. O time conta com quase trinta jogadores emprestados aos diversos clubes da Europa, sendo que 17 (de 25) são sub-21. Talentos como Bertrand Traoré – de apenas 17 anos na época – são contratados pelo clube, que em muitos casos prefere emprestar o jogador para outros times, para que tenha mais tempo de jogo com o time de cima. Alguns desses jogadores, como o goleiro Thibaut Courtois e Kevin de Bruyne foram re-integrados ao clube, após boas experiências de empréstimo, dificultando ainda mais a vida daqueles que estão disputando apenas competições juniores.

Muitos torcedores locais do clube têm cobrado mais jogadores – principalmente ingleses – integrados ao elenco principal e Mourinho chegou a declarar que se alguns desses jovens talentos não fizerem parte da seleção inglesa em alguns anos, terá sido culpa dele. Mas o fato é que o técnico português não é conhecido por dar muitas chances aos jogadores vindo da base, apesar de não ter problema para integrar jovens talentos de outros clubes. Raphaël Varane e Kurt Zouma – ambos zagueiros franceses – foram trazidos por Mourinho ao Real Madrid e Chelsea, respectivamente com 18 e 19 anos e utilizados pelo treinador.

A tendência – segundo declarações do diretor de futebol do clube Michael Emenalo e do próprio Mourinho -, é continuar com as contratações de jovens promessas que na sequencia são emprestadas. Os jogadores que se desenvolverem bem, serão negociados pelo clube, como aconteceu com o próprio de Bruyne e também Romelu Lukaku. Aqueles que forem ainda mais bem sucedidos em suas jornadas longe de Stamford Bridge receberão chances no time, como é o caso de Courtois. Com isso, o Chelsea quer, não apenas reduzir o investimento feito em jogadores, mas conseguir aumentar ainda mais a arrecadação do clube, lucrando com a valorização do passe dos jogadores enquanto estiveram emprestados.

Se Mourinho será capaz de cumprir a promessa que fez aos torcedores ingleses, e integrar os jovens talentos da Inglaterra que estão na base do Chelsea, não se sabe. O fato é que nem sempre dinheiro, infraestrutura, competições e talentos é suficiente para um jogador se desenvolver e alcançar o time principal. É preciso desenvolver uma cultura e filosofia de trabalho, como é feito no Barcelona e no Bayern Munich. O time alemão, inclusive, visitou ‘La Cantera’ do Barcelona e estudou e aprendeu com o time catalão integra não apenas os jogadores, mas a filosofia e estilo de jogar do time desde o dente de leite até o time sênior. Enquanto não houver no Chelsea uma cultura que valorize os pratas da casa e uma filosofia de trabalho que identifique o jogador Blue desde os times mirins até o time principal, o investimento de Abramovich não renderá frutos em termos de integração. E vale ressaltar que tanto a Premier League como a Champions League exigem em seus regulamentos que uma quota do elenco inscrito nas competições seja natural do país onde o clube é sediado e uma outra quota de jogadores treinados na base.

Mudanças precisam ser feitas na maneira como a promoção da base do Chelsea é conduzida para que não apenas os torcedores possam ter orgulho de ver jogadores como John Terry, que é fortemente identificado com o clube e que jogou lá a vida inteira, mas até mesmo para alcançar as exigências da UEFA e da FA. Mas essas mudanças requerem tempo e mesmo que Mourinho tenha sido muito mais cauteloso do que poderia com as chances que têm dados aos garotos, esse processo não acontecerá da noite para o dia como esperam alguns.

As palavras contidas nessa reportagem condizem à opinião da autora, não tendo qualquer relação com o Chelsea Brasil.

Category: Opinião

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Article by: Chelsea Brasil

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