Colunas: O “futebol total” é o melhor caminho?

A polêmica figura de José Mourinho, que não permite meio termo entre seus admiradores ou odiadores (Foto: Telegraph)

Há um argumento claro e de certa forma fundamentado daqueles que não concordam com a filosofia de trabalho de José Mourinho. “Com o dinheiro e o elenco que ele tem a disposição, é inadmissível a sua covardia em jogos importantes”. Sim, isso faz algum sentido. Mas, historicamente, será que o futebol bem jogado vence a solidez defensiva?

Não é necessário fazer uma pesquisa de opinião para saber que qualquer torcedor, de qualquer clube do mundo, gostaria de ver seu time jogar para frente, com média de três ou quatro gols por partida. Ver equipes sem tanto poderio técnico/financeiro avançar fases importantes de grandes competições pode parecer “chato”, pois o jogo deles não é tão atrativo. Mas aliás, o que importa? Levar taças para a galeria ou ficar marcado por ter um time forte e envolvente?

Abaixo, fiz um pequeno dossiê sobre times que foram campeões ou tiveram grandes campanhas na UEFA Champions League ao longo das últimas onze anos. Para quem é defensor de times “cascudos” e conhece a história da competição, não é tão necessário ler. Nesse caso, é aconselhável pular os próximos parágrafos/bíblia. Mas aos que querem relembrar boas histórias, a leitura será até divertida.

2003/04: O Porto, de José Mourinho, passou da primeira fase em segundo lugar (atrás do Real Madrid), não ganhando nenhum jogo por mais de um gol de diferença. Nas oitavas, passou pelo United com uma agregado de 3-2, segurando empate fora de casa. Na sequência, fez bom resultado contra o Lyon de Juninho Pernambucano em casa, e ficou com empate fora. Na semi-final, 1-0 chorado diante do La Coruña, em casa, que o credenciou a final. Nesse caminho todo, só UMA vez o time teve um triunfo com mais de um gol de diferença. A taça foi para Portugal, mesmo sem o encanto julgado como necessário. Vale lembrar que o outro finalista foi o Mônaco, que eliminou o Real Madrid, por exemplo, pelos gols fora de casa.

Treinador conquistou sua primeira taça européia no comando do Porto (Foto: DailyMail)

2004/05: A campanha do campeão Liverpool também não foi de futebol extremamente envolvente. Passou em segundo lugar no grupo que teve o Mônaco como líder. Nas oitavas, venceu bem o Leverkusen, no único momento de gols em excesso (3-1 na ida e na volta). As quartas tiveram um 2-1 magro contra a Juventus, e na semi o polêmico 1 a 0 contra o Chelsea no Stamford Bridge. Na decisão um emocionante 3-3 com o Milan, com vitória nos pênaltis.

2005/06: Comandado por Ronaldinho, o Barcelona fez 16 gols na primeira fase, passou bem por adversários nas eliminatórias e na final bateu, de forma suada, o Arsenal. Apesar de ser notabilizado por um futebol extremamente bonito e atrativo, o time teve como ponto forte a defesa: 6 gols sofridos em TODA a competição. Temos um meio termo entre a solidez defensiva e o futebol total.

2006/07: O Milan passou da primeira fase com oito gols em seis jogos, média baixa. Nas eliminatórias, fez três a zero contra o United no San Siro, enquanto no restante dessa mesma fase passou sem tanto brilho por outras equipes (com direito a 1-0 contra o Celtic, no agregado). A final foi uma reedição do ano anterior, dessa vez com glória para os italianos. 2-1 contra o Liverpool, que mais uma vez chegou a final em campanha marcada por jogos truncados, com direito a uma classificação pelos gols fora de casa contra o encantador Barcelona, e outra nos pênaltis contra o Chelsea.

2007/08: A mais doída para os Blues. Após chegar na final com a baixa média de 1,3 gols por partida, o Chelsea foi derrotado pelo Manchester United de Alex Ferguson e Cristiano Ronaldo nos pênaltis. Este teve 1,5 gols por partida, média também baixa, vendo Ronaldo fazer quase a metade dos gols do time na competição (8 de 20). O time teve como grande destaque a sua solidez no meio campo e na defesa, comandada por van der Sar, Vidic e Ferdinand.

2008/09: O Barcelona voltou a despontar, após duas temporada, como o time de futebol “pra frente”. Notabilizado pelo toque de bola e bom número de gols, o time espanhol bateu o Manchester United na decisão por 2 a 0, fazendo assim com que a equipe mais brilhante da competição, enfim, triunfasse mais uma vez.

2009/10: O Barcelona seguia fazendo sua história e se firmando como a melhor equipe da Europa. Mas havia uma Inter pelo caminho. Comandada por Mourinho, que armou seu corriqueiro 4-2-3-1 com muita colaboração dos alas e dos meias, a equipe italiana chegou até a decisão com 1,3 gols de média por partida, voltando a colocar a “retranca” no topo.

2010/11: Com o ápice de seu bom futebol, o Barcelona entrou na competição como favorito mais uma vez, e dessa fez esse rótulo valer. Com poderosos 12 gols de Messi e uma vitória tranquila na final contra o Manchester United, os comandados de Pep Guardiola fizeram o jogo de domínio valer novamente.

Barcelona, de Guardiola, acabou sendo o símbolo de futebol ofensivo na última década (Foto: Soccernet)

2011/12: Essa dispensa apresentações. Com uma retranca assumida nos jogos decisivos, em que contra-ataques e escanteios fizeram valer o título, o Chelsea venceu, sem um time exatamente brilhante, o seu primeiro título da Champions League.

2012/13: O Bayern teve boa média de gols, mas sua principal característica era o contra-ataque insano armado por Jupp Heynckes. Temos, mais uma vez, um meio termo.

2013/14: A “lá décima” veio com um time realmente poderoso ofensivamente , e impressionantes 17 gols de Cristiano Ronaldo ao decorrer da competição. Mas vale ressalva ao outro finalista, o Atlético de Madrid, que se notabilizou com bolas paradas e contra-ataques mortais.

Certamente seria possível citar mais diversos exemplos. Mas esses, recentes, acabam sendo mais fáceis de se recordar e também evidenciam uma ideia nova de pensar futebol.

A vantagem de times que se armam para defender e esperar oportunidades de matar a partida é evidente. E nesse cenário podemos falar um pouco sobre a questionável figura de José Mourinho. Quando chegou ao Real Madrid, o português teve boas condições para contratar e comandar uma reformulação. Mas houve um problema: enquanto ele MONTAVA um time, o seu rival já estava preparado, e jogando o melhor futebol da Europa, com o melhor jogador do mundo. Mesmo assim, por conta da pressão da imprensa e dos adeptos, ele não fez questão de retrancar, até porque provavelmente seria crucificado, já que por trás de tudo isso estava o gigante e ganancioso Real Madrid. Isso até gerou bons frutos, como um título espanhol com o melhor ataque da história da competição, mas não foi o suficiente para que ele marcasse época.

Numa das únicas vezes em que admitiu inferioridade técnica e escalou Pepe como volante, a equipe ganhou a Copa do Rei contra o Barça na prorrogação. Certamente valeu a pena. E teria dado mais resultado se o treinador admitisse suas filosofias publicamente e não deixasse que a pressão mandasse em suas escalações. Por fim, ele será sempre lembrado – injustamente –  por ter fracassado em Madrid por conta da ausência de um título europeu. Foi o português que preparou todo o terreno para Ancelotti conquistar a Europa no ano seguinte. E o treinador italiano ainda ganhou Bale como um brinde de 100 milhões de euros.

Pode causar certa revolta ver Mourinho chamando o adversário em jogos contra Liverpool e City, por exemplo. Mas não está dando certo? Ver o comportamento dele nas próximas fases da UEFA Champions League será fundamental, e se o português olhar para o retrospecto da competição, uma mudança de comportamente não é prevista. O Chelsea da temporada 2014-15 parece estar pronto para jogos grandes, já que há uma maturidade muito maior se compararmos com a temporada passada. Nós podemos sair sem o título Europeu nesse ano, mas pode ter certeza que ele ficará cada vez mais maduro.

Category: Opinião

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Article by: Chelsea Brasil

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