Colunas: Nada de ônibus, Chelsea 2014/15 é trem expresso

Costa+train+copy[1]

A partir de hoje, todos os sábados, trarei para o Chelsea Brasil uma coluna sobre o time de José Mourinho. Com foco na evolução da equipe, dos jogadores e da proposta tática de Mourinho, analisarei o desempenho dos Blues em geral, e as expectativas e necessidades do time.

Dezenove gols em seis partidas. Nem o mais otimista dos torcedores do Chelsea imaginaria uma média superior a três tentos por partida em setembro de 2013. Porém, o ano é outro e em 2014 o Chelsea de José Mourinho vem impressionando com os números do ataque. Diante de uma mudança tão drástica nos resultados, fica difícil acreditar que o time titular teve apenas duas mudanças se comparado ao elenco que deixava o torcedor blue angustiado pela falta de gols na temporada passada.

No ataque não houve mudança tática, apenas técnica: os três atacantes da temporada passada – Samuel Eto’o, Fernando Torres e Demba Ba foram substituídos. Diego Costa, a lenda do clube – Didier Drogba – e o francês Loïc Remy chegaram e o brasileiro naturalizado espanhol já impressiona com oito gols em seis jogos. A outra mudança aconteceu no meio campo. Cesc Fàbregas veio para ser o armador das jogadas a partir da meia cancha, promovendo uma revolução tática para o time, algo que José Mourinho constatou a necessidade ainda cedo na sua primeira temporada de volta a Stamford Bridge.

No ano passado, por volta de dezembro, após apresentações não convincentes na vitória sobre o Sunderland por 4×3 e na eliminação da League Cup também para os Black Cats, Mourinho deu uma coletiva que surpreendeu a alguns. O técnico admitiu que precisaria dar um passo atrás nos seus planos para o time e que adotaria um sistema mais defensivo. Menos de uma semana depois os torcedores já podiam ver a diferença no empate de 0x0 contra o Arsenal no Emirates Stadium.

Em janeiro, Mourinho trouxe o ex-Blue Nemanja Matic e abriu mão de Juan Mata, ídolo da torcida. David Luiz era pouco utilizado na zaga e jogou como volante em quase todas as suas aparições pelo time no primeiro semestre de 2014. O treinador corrigiu os problemas da defesa e mais do que nunca o Chelsea era rotulado como o time que estacionava o ônibus de frente para o gol (expressão utilizada pelos ingleses para times extra-defensivos, com dez jogadores atrás da linha da bola). Os gols eram poucos, mas mais do que isso, o time era previsível, sem criatividade e em alguns momentos até preguiçoso. Dependendo constantemente de jogadores de brilho individual, principalmente do belga Eden Hazard, a equipe perdeu fôlego na etapa final da corrida pelo título com derrotas para Crystal Palace e Aston Villa. Os times menores – com esquemas defensivos – não encontravam dificuldades para neutralizar o tímido ataque do Chelsea e mesmo quando o time conseguia vencer, não era sem dificuldade para fazer o marcador.

Chelsea's+bus+and+Man+City+copy[1]

Um dos maiores beneficiados com a mudança tática realizada por Mourinho é justamente a principal estrela do time. Em muitas partidas – principalmente contra times da parte debaixo da tabela – a marcação sobre Hazard era dobrada ou até triplicada. Capaz de dribles desconcertantes e com velocidade incrível, o belga conseguiu em muitas vezes se livrar da marcação, sendo o jogador dentre todos os times que mais criou chances de gol na edição passada da Premier League, com 93 (segundo whoscored.com). Mas o jovem meia logo sentiu o peso de carregar o time nas costas e caiu de produção, marcando apenas um gol com bola rolando entre fevereiro a maio.

Em apenas oito partidas oficiais, Hazard pôde experimentar liberdade que já não estava acostumado a ter. Apesar do seu nome não estar tão presente nas estatísticas de assistências (2) e gols (1), principalmente se comparado às seis assistências de Fàbregas e aos oito gols de Costa, o belga esteve envolvido diretamente nas jogadas de quase ¾ dos gols marcados pelo time. A presença de outro criador no time não apenas aliviou a marcação extra sobre Hazard, mas também tirou a pressão sobre o jogador de apenas 23 anos, que passou a jogar com mais leveza, sem o peso de resolver todos os jogos.

Mas se a chegada de Fàbregas parece ter feito mágica no ataque dos Blues, é preciso observar que a defesa precisará de mais tempo para ser ajustada. Fica claro que quando chegou em junho do ano passado, a ideia de Mourinho era montar um time com meio-campo pegado, que pressionaria a saída de bola e que jogaria em alta velocidade no contra-ataque quando não tivesse a bola e pressionando com a posse. Como não encontrou no elenco os jogadores para sustentar o esquema, Mourinho apostou na velha tática de que a defesa é o melhor ataque. Jogando com os laterais mais presos e a dupla de volantes protegendo a zaga, o trabalho de John Terry e Gary Cahill foi facilitado, mas tudo isso mudou.

Hoje, Matic é o jogador mais recuado do meio-campo, mas mesmo assim sobe muitas vezes para apoiar o ataque e aumentar o número de jogadores de azul no campo adversário. Seu conterrâneo, Branislav Ivanovic, parece ter renascido nos dois meses de férias que teve entre maio e julho. Lembrando o jogador que era sob o comando de Carlo Ancelotti em 2010, o sérvio se tornou uma das referências no ataque, não apenas com gols, mas também com cruzamentos, triangulações e assistências. Nesse começo de temporada é difícil – se não impossível – apontar um lateral na Europa em melhor forma ofensiva do que Ivanovic.

Dois corpos não podem ocupar um mesmo lugar no espaço, nem tampouco um corpo ocupar dois lugares simultaneamente. Com as constantes subidas do lateral direito ao ataque e com Matic muitas vezes atuando no campo adversário, a zaga ficou mais descoberta e os clean sheets (partidas sem gols cedidos) que eram tão comuns na temporada passada desapareceram. Em seis jogos pela Premier League foram apenas duas ocasiões sem gols do adversário e nas duas outras partidas oficiais da temporada contra o Schalke pela Champions League e Bolton pela League Cup, o time também não foi capaz de sair sem tomar gols.

Mesmo assim, a defesa vazada não preocupa tanto. Pela primeira vez desde que bateu o recorde de gols da Premier League na temporada 2009/10 (103), quando sagrou-se campeão, a sensação é de que mesmo quando o time ceder gols, o ataque se encarregará de marcar mais do que os adversários. Manchester City e Liverpool – campeão e vice-campeão da Premier League 2013/14 – adotavam estilos semelhantes, com 102 e 101 respectivamente para 37 e 50 gols sofridos. Para se ter uma ideia da mudança ocorrida nessa temporada, o Chelsea, terceiro colocado, anotou 71 e sofreu 27 na edição passada da Premier League.

É bem provável que o time não consiga manter a média de 3,16 gols por partida nos próximos oito meses e, assim alcançar a marca de 120 tentos ao fim das 38 rodadas do campeonato inglês. Mas Mourinho já deu inúmeras declarações de que ajustes serão feitos na defesa e meio-campo da equipe. Mesmo sendo muito mais ofensivo agora do que no passado, o português continua sendo apreciador de uma defesa sólida e não descansará até acertar a marcação do time no novo esquema. Além desses aprimoramentos, a melhora natural do entrosamento entre Matic e Fàbregas e o ganho da melhor condição física após dois meses de competição, certamente levarão o time a ceder menos gols. O resultado de 3×0 contra o Aston Villa esboçou melhora no posicionamento e cobertura da defesa e meio-campo.

De qualquer forma, o Chelsea desponta nesse começo de temporada como o time a ser batido. E as defesas adversárias não terão a facilidade que tiveram em 2013/14. Hazard não é mais o único jogador do time a ser parado e se a marcação sobre ele for dobrada outros jogadores perigosos como Fàbregas, Costa, o campeão mundial André Schürrle e os brasileiros Oscar e Willian terão mais espaço e liberdade para atacar. Thibaut Courtois – titular do time até aqui na Premier League e na Champions League – talvez sinta saudade dos tempos de Atlético de Madrid, quando tinha à sua frente uma defesa tão eficiente quanto a do Chelsea na temporada passada. Até agora, o goleiro não decepcionou e já realizou defesas fantásticas, como na partida contra o Leicester. Talvez seja essa uma oportunidade para se consolidar ainda mais como um dos melhores goleiros do mundo. Os torcedores provavelmente esperam que não seja assim e que o time encontre o equilíbrio necessário para se firmar e não contar com surpresas e que Courtois continue brilhando, mas sem ser tão exposto. De qualquer forma, Mourinho parece querer um novo rótulo automobilístico para o seu elenco – algo mais parecido com um dos heróis da saga de Tranformers.

Mourinho+the+transformer+copy[1]

*Ilustrações de Omar Momani.

As palavras contidas nessa reportagem condizem à opinião do autor, não tendo qualquer relação com o Chelsea Brasil.

Category: Opinião

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Article by: Chelsea Brasil

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