Blog: Dois pesos e duas medidas

José Mourinho afirmou que o lance poderia ter acabado com a carreira de Matic (Foto: Getty Images)
Barnes saiu impune, Matic terá de cumprir dois jogos de suspensão(Foto: Getty Images)

Dois pesos e duas medidas. Corriqueiro ditado popular brasileiro que se refere à injustiça e falta de coerência que costumamos encontrar ao longo de nossas vidas. O ditado, como eu disse, é brasileiro, mas no contexto atual do Chelsea, bem poderia ser um ditado inglês.

E se nós, brasileiros, nos acostumamos a reclamar tanto de nossas arbitragens tendenciosas, errôneas e bizarras, a prova de que o tal ditado do paragrafo anterior poderia ser inglês é o fato de que os juízes ingleses tem se mostrado com nível “brasileiro”, por assim dizer.

Eu estive tentado a escrever este texto desde o apito final do árbitro Martin Atkinson na partida do último sábado, contra o Burnley, pela Premier League; contudo, esperei todo o desenrolar dos fatos, para não acabar cometendo alguma injustiça, já que parecia provável que a punição de Matic fosse ser revertida.

Porém, como se viu, a FA, em decisão pra lá de absurda, reduziu em apenas um jogo a suspensão de Matic, deixando ainda duas partidas para o sérvio ver da arquibancada, sendo que a primeira delas é uma final da campeonato, a primeira final da temporada, em que o Chelsea enfrenta o Tottenham, em Wembley, valendo a taça da Capital One Cup. A FA anunciou também que Barnes, que cometeu a dura falta em Matic, não será punido.

Então, com sentimento de injustiça crescente a cada ato desde o último sábado, resolvi por fim levar minha opinião ao ar.

Do fim do ano passado para cá, José Mourinho, que já não tem lá boa fama junto a FA, criticou severamente a entidade e, chegou até, a acusar repetidamente a entidade a imprensa de uma “campanha anti-Chelsea”, que estaria em curso para tentar prejudicar o clube azul. (veja aqui, aqui, aqui e aqui) Me recordo bem de ler, na imprensa britânica, renomados jornalistas apelidando o português de “lunático” e “alucinado” “com mania de perseguição”. Pode até ser mesmo que Mourinho tenha exagerado em dizer isso, mas os fatos que se seguiram deixam sua fala ainda mais cheia de certezas.

Não irei falar aqui dos inúmeros pênaltis não marcados a favor dos Blues ao longo desta temporada, principalmente pelo fato de que depois de Mourinho ter se enfurecido contra a arbitragem inglesa, nenhuma penalidade foi marcada a favor dos Blues. Já que não quero ser taxado de lunático, não irei falar deste assunto.

No final da janeiro, na partida de volta das semifinais da Capital One Cup, contra o Liverpool, Diego Costa teve confusões com Emre Can e Martin Skrtel. Em um dos lances, Costa pisou no tornozelo de Can, o que não foi visto pelo árbitro. Contudo, posteriormente a FA penalizou o hispano-brasileiro, retroativamente, com três jogos de suspensão. Vendo o lance, ainda não sei dizer se o pisão foi, ou não, intencional, porém, segundo a FA “não restou dúvidas da intenção do jogador”.

Os dias que se seguiram viram notícias que colocavam as palavras “Diego Costa” e “crime” “criminoso” nas mesmas frases, em exagerada reação da imprensa inglesa de acusar o atacante de ser maldoso. Um jornalista de um grande periódico, disse, inclusive, que o jogador era uma “desgraça” para o futebol inglês.

Nas semanas seguintes, contudo, a Premier League viu outros lances igualmente violentos, ou até mais, passarem desapercebidos, sem punição, como a cotovelada de Van Persie em James Tomkins, do West Ham, que inclusive deixou o campo com o nariz quebrado. O lance foi alvo de declaração de Mourinho, que acusou a FA de usar pesos diferentes para casos parecidos. Mourinho sugeriu que se a cotovelada tivesse sido proferida por jogador do Chelsea, uma punição seria certa.

No caso da entrada violenta de Ashley Barnes em Matic, contudo, a comoção não tomou  a mesma proporção do que no caso do pisão de Costa, mesmo que a entrada do jogador do Burnley tenha sido visivelmente e indiscutivelmente mais violenta e deliberada, ao contrário da do atacante dos Blues, já que não é possível provar que Costa realmente quis pisar em Can. E mesmo quando a imprensa britânica resolveu afirmar que Barnes merecia uma punição, o fez de forma discreta e porque não era possível dizer o contrário.

A desproporção entre o tratamento de Costa e Barnes é evidente e assustador.

Curioso perceber que no mesmo fim de semana em que Matic é punido por reagir a uma entrada dura de um adversário, que poderia ter-lhe quebrado a perna facilmente, um jogador teve uma atitude semelhante e passou impune. Num lance da última rodada, o zagueiro Vertonghen, do Tottenham, empurrou claramente Mark Noble, do West Ham, por este ter cometido dura falta dura em um adversário.

Vertonghen nem amarelo viu. E a FA não pretende puni-lo pelo lance, o que o credencia a ser titular contra o Chelsea na Final da Copa da Liga. Qual é a diferença entre esse lance e o de Matic? O do sérvio não seria até mesmo mais justificado, em se tratando da violência do lance e por te sido contra ele próprio?

Veja os dois lances abaixo:

https://www.youtube.com/watch?v=1SOD9SQ6XL0

Passado alguns dias do ocorrido, a FA já encerrou todo o caso e, ao final, tivemos, como dito, e como faço questão de ressaltar, a notícia de que Ashley Barnes não será punido pelas entradas em Ivanovic e Matic. Já volante sérvio teve sua pena reduzida em apenas um jogo, sendo que, como dito, o jogador ficará de fora de duas partidas. Resumindo, o agressor saiu impune e Matic pagará pelos pecados de Barnes e, mais que isso, perderá o jogo mais importante da temporada, até o momento.

Se levarmos em consideração a punição imposta a Diego Costa, Barnes não merecia um tratamento igual? Com três jogos de suspensão, ao menos? O argumento da FA é de que, ao contrário do lance de Costa, o de Barnes foi visto pelo árbitro, que decidiu não puni-lo, encerrando assim o assunto. Mas e se fosse um jogador do Chelsea a cometer uma falta deste tipo?

Para pegarmos apenas casos semelhantes, em lances de revolta contra uma falta, uma entrada, ou algo do gênero, vimos, nesta temporada, vários lances parecidos com o de Matic, e todos eles passaram impunes, nem um jogo sequer de suspensão. Em um deles, inclusive, Joe Hart, goleiro do Manchester City, deu uma cabeçada no árbitro Michael Oliver.

Veja os lances abaixo:

https://www.youtube.com/watch?v=Nr8g0_cE1k0

https://www.youtube.com/watch?v=viu0GEc6JU0

Hart não foi punido por cabeçada em Michael Oliver, em novembro
Hart não foi punido por cabeçada em Michael Oliver, em novembro

Uma situação notória, em um caso muito parecido, é a de Routledge, do Swansea, que se irritou com Karl Henry após sofrer um violenta falta do jogador do QPR. Routledge foi expulso por ter chutado o adversário em retaliação. Contudo, a FA anulou seu cartão vermelho, alegando que sua atitude foi considerada compreensível devido a gravidade do lance, descrito no julgamento como “uma entrada que poderia ter quebrado a perna do jogador.”

Routledge teve seu cartão vermelho anulado pela FA em lance semelhante ao de Matic (Foto: Getty Images)
Routledge teve seu cartão vermelho anulado pela FA em lance semelhante ao de Matic

Todavia, este não foi o mesmo critério levado em consideração no caso de Matic. Dois pesos e duas medidas. Routledge teve sua punição reduzida a zero, como permite as atuais regras da FA, por ter uma atitude “compreensível”, já Matic terá de cumprir dois jogos de suspensão. Casos idênticos, decisões contrárias: Onde está o critério?

Por fim, se afirmar que há, de fato, uma “campanha” contra o Chelsea, como disse Mourinho, é um exagero, não dá para se enganar e não deixar de ver que a FA tem tido falhas em seus critérios e que, especialmente os Blues, tem sofrido com isso. O mínimo que poderia ter sido feito neste caso é a aplicação de uma pena, nem que fosse de um jogo, aplicada a Barnes; e, por outro lado, ter sido Matic liberado de sua suspensão. Porém, as decisões invertidas no caso, alimentam ainda mais o sentimento de injustiça que fica nos torcedores do Chelsea na temporada e faz qualquer declaração de Mourinho neste sentido, justificada.

E fica no ar uma pergunta: E se fosse Diego Costa a fazer uma falta como a de Barnes, o que teria sido dele?

As palavras contidas nessa reportagem condizem à opinião do autor, não tendo qualquer relação com o Chelsea Brasil.

Category: Opinião

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