Já faz um bom tempo desde que o Chelsea trouxe César Azpilicueta do Olympique de Marselha; o espanhol está em sua sexta temporada representando os Blues. Originalmente, tratava-se de um lateral direito comum, sem grandes qualidades ou deficiências. Seu início de trajetória em Stamford Bridge foi até um pouco hesitante, mas o fato é que o atleta foi permanecendo em Londres com o passar dos anos. Sua evolução foi notória. Sob a batuta de José Mourinho, confirmou-se um lateral esquerdo muito competente. Marcador duro porém leal, destacou-se pela simplicidade de seu jogo e foi se tornando um dos pilares daquele time. Mesmo quando veio a péssima fase que culminou na demissão do Special One, Azpi foi um dos poucos jogadores que se salvaram quando a nau azul naufragou.
Diante desse cenário, o espanhol também encontrou terreno fértil quando da chegada de Antonio Conte. O italiano enxergou ainda mais amplamente o que poderia tirar de seu comandado e também lhe confiou papel crucial. Após início titubeante na temporada 2016/17, a invenção de uma nova versão do esquema tático 3-4-3 consagrou o comandante. Um dos ícones da mudança revolucionária foi Azpilicueta. Isso porque Conte percebeu que não estava diante de um lateral, mais de um defensor completo. Atuando com uma linha de três homens recuados, precisaria de boa saída de bola, a qual alcançou com David Luiz, protegido pela presença de outros dois beques, e com Azpi, seu novo e mais confiável zagueiro.
Porém, não foram somente as qualidades defensivas do camisa 28 que forjaram seu papel no onze inicial de Conte. Em variados e distintos momentos de muitas partidas, em circunstâncias em que o Chelsea precisou se lançar ao ataque, o atleta voltou a trabalhar como lateral, permitindo a Victor Moses, Pedro ou Willian maior liberdade à frente. Ou seja, além de possuir um zagueiro completíssimo, com bom tempo de bola, rápido e com capacidade diferenciada para a leitura de jogadas, o técnico italiano passou a contar com um jogador cuja presença lhe possibilita breves mudanças táticas no curso das partidas, o que muitas vezes passa despercebido aos olhares desatentos e explica, em grande medida, porque outras equipes que tentaram replicar o esquema dos Blues fracassaram.
Com justiça, o destemido defensor recebeu a vice-capitania do clube. Com a saída de John Terry, Gary Cahill herdou a braçadeira e é Azpi quem a enverga nas ausências do beque inglês. A essa altura, o jovem lateral que mostrava certa inconsistência ficou no passado; o que se vê a cada partida é um jogador que não para de evoluir, técnica, tática e moralmente. Hoje, é referência.
Neste atribulado início de temporada, em que os rivais de Manchester despontam como os maiores adversários do Chelsea na missão de manter a taça da Premier League em Stamford Bridge, o jogador segue tendo ótimo desempenho. Mesmo atuando na zaga, já tem duas assistências e um marcado e, bem protegido, pela companhia que possui no setor, além da consistência da contenção azul, tem números sólidos, registrando média de 1,6 desarmes, 1,2 interceptações e 4,2 cortes por partida.
É claro que Azpi não tem a importância individual de N’Golo Kanté ou de Eden Hazard, a engrenagem mais fundamental do time e o seu craque de maior potencial técnico. Contudo, se o trabalho de Conte tivesse a cara de um atleta seria a do espanhol. Isso em decorrência da mudança de posição promovida (da lateral para a zaga), diante de um contexto de reinvenção do time no curso de uma temporada, e da importância que o atleta tem para o coletivo em diversos momentos das partidas. Trata-se do mais fiel reprodutor das ideias do italiano e é essa a razão pela qual, ocasionalmente, o comandante elogia seu fiel escudeiro.
Após a goleada dos Blues contra o fraco Qarabag, pela UEFA Champions League, em sua coletiva Conte falou mais do mesmo, reiterando as qualidades de Azpilicueta:
“Na última temporada, Azpi foi um dos jogadores mais importantes para nós. Em sua posição, como zagueiro central, ele é um dos melhores do mundo. Ele é muito bom com e sem a bola. Ele é um cara fantástico, sempre positivo, e durante os treinamentos ele se comporta de forma fantástica. Para um treinador, tê-lo é um sonho”.
O defensor vem atuando em nível muito alto e ganhando, a cada dia, mais admiração do público. Adorado por seu técnico, respeitado pelos companheiros e crucial dentro das quatro linhas, César Azpilicueta jamais será o jogador mais destacado do ponto de vista técnico no Chelsea. A despeito disso, prova, dia após dia, que é um dos atletas mais importantes da esquadra londrina: por suas capacidades defensivas e adaptabilidade ao esquema escolhido por Conte, sobretudo considerando as nuances e exigências de cada partida.
As palavras neste texto condizem com a opinião do autor, não tendo qualquer relação com o Chelsea Brasil.