
A Alemanha não foi bem contra a Argélia. Assim como não foi contra Portugal, Gana e Estados Unidos. Está ao lado de Brasil e Argentina no grupo “somos favoritos, mas ainda não provamos”. A diferença é que a solução alemã parece ser mais simples, e óbvia. Joachim Low teve três partidas inteiras para observar e chegar a uma conclusão simples: seu time não pode jogar com quatro zagueiros. Como se não bastasse essas três atuações ruins, Low ganhou um sinal do futebol no quarto jogo. O velho e batido ditado “há males que vem para o bem” esteve diante do alemão. O teimoso treinador, que perdeu um zagueiro contundido (Hummels) e colocou outro em seu lugar (Mustafi), viu o substituto também sair lesionado. Pronto, não tinha outra forma, agora um lateral teria que jogar. E Phillip Lahm, um dos melhores laterais direitos do mundo, voltou para onde nunca deveria ter saído.
Como diria outro ditado, são dois coelhos com uma só cajadada. Por isso é mais simples. A seleção não pode jogar com quatro zagueiros e sobrevive tranquilamente, ou até melhor, sem Lahm no meio. Não precisa levar uma invenção de Guardiola para a seleção. Não que as invenções do espanhol sejam inúteis. Até porque o treinador do Bayern tem uma grande parcela nessa atuação de líbero do goleiro Neuer contra a Argélia. Mas a Alemanha é diferente. É futebol ofensivo, rápido e vertical, que perde muito quando não têm laterais. Perde mais ainda quando tem zagueiros por ali, tentando apoiar o ataque e mostrando que não tem cacoete para isso.
Mas porque dava tão errado? Principalmente, porque eles apoiavam o ataque, porque jogavam como laterais. Boateng e Mustafi já atuaram por ali, mas rendem muito mais na zaga. Howedes nunca foi. Eles não têm características para isso. Quando sobem ao ataque, não têm a velocidade necessária para recompor a linha de defesa rapidamente. A Argélia se utilizou disso para levar perigo nos contra ataques. O time perde em profundidade, perde em cruzamentos. Para se ter uma ideia, contra o fechado time argelino, a Alemanha levantou 26 bolas na área e apenas dois desses cruzamentos saíram do pé de um lateral, os dois de Mustafi. Soma-se a isso a diferença no posicionamento e a falta de qualidade técnica para dar um passe mais ousado ou tentar uma jogada individual e terá a base das dificuldades alemãs nos quatros primeiros jogos. Lógico que em alguns casos a dificuldade passa pelo adversário, como a grande partida dos argelinos, mas a Alemanha tinha qualidade técnica para vencer seus quatro jogos.
Mas os quatro zagueiros são passado, ou parecem ser. O foco agora é a França. Disse no início que os alemães são os favoritos que ainda não provaram isso. Os franceses são o oposto. Poucos acreditavam no potencial deste time, mas é uma das seleções que apresentaram o melhor futebol até aqui. Teve um jogo espetacular, quando passou por cima da Suíça, e outras partidas regulares. A França de 2014 pode ser um pouco do que foi a Alemanha de 2010. Perdeu seu craque às vésperas da Copa, chegou sem badalação com algumas jovens promessas no elenco, supriu a ausência do craque e, no fim das contas, foi melhor que alguns favoritos. A França é muito forte mesmo sem Ribery. A defesa terá seu primeiro teste de verdade. Sofreu dois gols até aqui, um de falta. O meio campo é muito técnico, tem boa chegada ao ataque e Pogba, depois de três partidas apagadas, finalmente jogou bola. Na frente, Valbuena vem fazendo a diferença. Sai da direita e circula por todo o campo, é fundamental na construção de jogadas da equipe. Ainda tem Benzema, com três gols e duas assistências, e o garoto Griezmann, que faz uma boa Copa. Contra esse ataque rápido e de muita mobilidade, jogar com quatros zagueiros pode ser um problema.
Ao que tudo indica, Lahm será lateral direito contra a França e Khedira ficará com a vaga no meio campo. André Schürrle também merece a titularidade, mas deve começar no banco. Com a lesão de Reus, existia a possibilidade de o blue ser titular, mas foi preterido por Gotze. Se Low só abriu mão do seu quarteto de zaga na marra, era improvável a titularidade de Schürrle nos primeiros jogos. A não ser que o jogador fosse decisivo quando entrasse. E foi. Conseguiu bater Rais M’Bolhi em um dia muito inspirado e abriu o caminho para a classificação. A titularidade de Schürrle passa mais pela questão tática do que técnica. Ele é do tipo que vai pra cima, busca a jogada individual e a finalização. É mais atacante que Gotze e Ozil, que são mais meias que o jogador do Chelsea. Low gosta que seu time tenha a bola e, provavelmente, terá contra a França. Por isso, Schürrle não deve ser titular. Ele deixa o time mais vertical, mais objetivo e seria uma opção para uma eventual desvantagem no placar.
Por fim, quero deixar claro que quando chamo o treinador de teimoso, digo que ele está errado e outras coisas mais, estou apenas expressando minha opinião. Não quero dizer que sei mais que ele, longe disso. Como boa parte da imprensa nacional e alemã, acredito que Low fez escolhas equivocadas ao longo da Copa e pode pagar caro por isso. A melhor geração alemã em anos pode se despedir do Brasil sem o título, e Low pode ser um dos culpados.
As palavras contidas nessa reportagem condizem à opinião do autor, não tendo qualquer relação com o Chelsea Brasil.