Terceiro tempo: O que esperar do Chelsea de Frank Lampard

A saída de Maurizio Sarri para a Juventus obrigou o Chelsea a recomeçar um planejamento do zero. A preparação e a forma de montar o time, que vinha sendo trabalhado pelo italiano ao longo de toda a temporada passada precisou ser derrubada, e um novo treinador precisaria ser escolhido para iniciar uma nova montagem de equipe.

Somou-se a isso, a dificuldade que a punição da FIFA, de duas janelas de transferências sem poder contratar, trouxe para o clube.

A solução para os problemas foi caseira. O ídolo Frank Lampard foi contratado do Derby County e jovens jogadores que estavam emprestaram voltaram ao clube para que o elenco apresentasse mais opções e que de certa forma uma renovação fosse iniciada.

Alguns jogadores deixaram o clube: Eden Hazard, Gonzalo Higuaín e Gary Cahll são as saídas mais sentidas até o momento. Em compensação, alguns jogadores queridos por boa parte da torcida devem passar a fazer parte do plantel na temporada: Kurt Zouma, Christian Pulisic, Michy Batshuayi, Tammy Abraham, Mason Mount e Reece James são alguns dos principais “reforços” para essa temporada.

Mesmo sem contratar, Chelsea terá “caras novas” na temporada. (Foto: Chelsea FC)

A escolha de Frank Lampard não foi por acaso. O treinador vêm com o objetivo de dar chances aos novos talentos, e principalmente, fazer com que os jovens tenham uma identificação maior com o Chelsea, e passem isso ao torcedor, que quer ver um time esforçado e identificado em campo, repleto de crias do clube, com um potencial enorme para o futuro.

Primeiro Tempo – A chegada do treinador

Ele veio dadas as circunstâncias e as opções existentes no mercado, que não são muitas. Além de Maximiliano Allegri, que foi demitido da Juventus depois de anos vitoriosos à frente do clube italiano, mas que dificilmente aceitaria devido ao fato de não poder contratar peças para ajudar a dar seu estilo ao time. Outros nomes citados foram o de Jose Mourinho e Rafa Benítez, os dois já tiveram suas oportunidades no Cheçsea, talvez não fosse o momento de trazer um deles novamente.

Nem mesmo Frank Lampard é um nome de treinador consolidado, é necessário entender que ele foi contratado muito pela identificação que criou com o clube como jogador de futebol. Foram ventilados outros nomes como Eddie Howe, que faz bons trabalhos no Bournemouth e Nuno Espírito Santo, de ótima temporada frente ao Wolverhapton na Premier League, ambos até mais experientes que o ídolo Blue.

Apenas uma temporada no Derby County da segunda divisão, terminando em sexto lugar e perdendo a final dos playoffs, que colocaria o time na Premier League, é um trabalho bom, mas que não torna ninguém gabaritado o suficiente para treinar uma grande equipe como o Chelsea. A menos que esse treinador seja Frank Lampard, que já chega com o apoio da torcida, que torce demais pelo sucesso de um de seus maiores ídolos no comando da equipe.

É necessário analisar como deve trabalhar o treinador nessa temporada, tomando como base sua passagem no Derby County, que é seu único trabalho na carreira e os esquemas que usou nos amistosos preparatórios até o momento.

Defensivamente, uma linha alta num 4-5-1, que visa a interceptação de passes e a pressão no meio campo com as linhas defensivas mais próximas. No Derby acontecia muito um problema parecido com o do Chelsea de Sarri, espaços apareciam nas costas dos laterais, que subiam as linhas para marcar. Claro que o plantel que Lampard terá agora, é mais forte. Portanto a tendência é que esse problema apareça menos.

Ofensivamente, o treinador inglês sabia aproveitar muitos contra ataques, por roubar a bola numa posição do campo já favorável para isso, era um time mais vertical. Ao contrário de Sarri, que queria tocar bolas curtas desde a defesa. Além disso, o time de Lampard usava muito as alas, os pontas eram acionados quase todo o tempo. Eles puxam a marcação para o meio e os laterais encontravam um corredor para atacar. O 4-2-3-1 foi o esquema mais usado pelo treinador no Derby.

Segundo Tempo – Os esquemas táticos

Lampard varia o time nos treinos e jogos no início da temporada. (Foto: Chelsea FC)

Com um novo treinador e muitos jovens jogadores que serão aproveitados ao longo do ano, os amistosos preparatórios ganharam uma importância ainda maior, não só para Lampard montar seu time ideal e avaliar suas peças, mas para os torcedores e jornalistas, que já querem entender como jogará o time na temporada.

Ao contrário de Maurizio Sarri, que já chegou implementando seu famoso 4-3-3 ofensivo e usando esse esquema em praticamente todos os jogos, Frank Lampard variou bastante as formações nos amistosos e treinamentos.

Isso é bom, pois mostra que Lampard está aberto a mudanças e experimentações para que o time jogue melhor de acordo com as peças que têm.

Vale lembrar que Sarri era bastante criticado por bater sempre na mesma tecla, e usar quase sempre a mesma forma de jogar independentemente do jogo. Recentemente, o ex goleiro Rob Green deu uma declaração dizendo:

“Nos jogamos da mesma forma fora de casa contra o Manchester City e em casa contra o Huddersfield. Se você assistiu um jogo da nossa ultima temporada, você assistiu cinquenta. Você sabia como jogar contra a gente”.

Uma declaração forte e até injusta de certa forma do ex goleiro, uma vez que Sarri foi contratado para aplicar essa forma de jogar no Chelsea, e ele fez com que o time fizesse boas partidas dessa maneira, mesmo que ainda fosse o início do trabalho do italiano.

Ex treinador a parte, vamos aos esquemas já testados por Frank Lampard:

4-3-1-2 vs St. Patrick’s Athetic

O que vale destacar nesse time foi a ausência dos pontas. O meio campo era bem parecido com os que Sarri montava. Jorginho fazia a saída de bola, com Barkley e Kovacic mais a frente, tendo muito a posse da bola. Porém, ainda entrava Mason Mount, mais próximo dos atacantes, na função de meia-armador ofensivo. O ataque foi a dupla Abraham e Batshuayi, mais pesada e forte, com menos velocidade e mais posse de bola, os laterais eram as armas ofensivas pelos lados.

4-3-3 vs Kawasaki Fontale

A única derrota da equipe na pré temporada veio nessa partida, o que não é muito relevante nesse momento. O que vale é observar a forma como o time foi montado, bem parecido com o esquema que Sarri usava. A linha defensiva seguia o padrão, com quarto jogadores e laterais que apoiavam, mesmo que Azpilicueta seja mais fraco que Alonso nesse fundamento, fazendo com que o lado esquerdo fosse mais ativo. O meio campo seguia com Jorginho fazendo a função de regista, Kovacic e Mount completando o setor, mais alinhados. Na frente, Kenedy pela esquerda, Pedro na direita e Batshuayi centralizado. Tima que explorava muito mais as laterais que na última partida.

4-2-3-1 vs Barcelona

Contra um adversário mais forte, talvez a formação favorita de Frank Lampard nesse primeiro momento. O time entrou em campo com: Kepa; Azpilicueta, Chrstensen, David Luiz, Emerson; Jorginho, Kovacic; Pulisic, Mount, Pedro; Abraham. Ou seja, a dupla de volantes marcava e armava de trás, Mason Mount era mais ofensiv, como um camisa 10, Pedro e Pulisic os alas, que puxavam a marcação dos laterais do Barcelona para o meio, abrindo espaço para a subida dos laterais do Chelsea. Destaque para Abraham que marcou um belo gol, parecido com (aquele) gol de Fernando Torres contra o mesmo adversário.

4-2-3-1 vs Reading

Novamente essa formação. Dessa vez, quase todos os jogadores que iniciaram a partida foram trocados. Apenas Christensen e Pulisic foram mantidos, sendo que ambos mudaram o lado em que atuavam. O zagueiro passou a fazer mais o lado esquerdo da defesa, e Pulisic foi meia pela direita. A dupla de volantes foi Bakayoko e Drinkwater (dois jogadores que não agradam muito e podem sair ainda nessa temporada), Kenedy fez o lado esquerdo e Giroud foi a referencia no ataque. Destaque para Mason Mount que entrou na etapa final e ainda fez dois gols.

Christian Pulisic já estreou pelo Chelsea nos amistosos. (Foto: Chelsea FC)

Os times citados acima foram os que iniciaram as partidas. Ao longo desses jogos amistosos, praticamente 100% das peças são trocadas, até os goleiros. Mas já da para observar formas diferentes de atuar, e isso é muito válido. O Chelsea ainda tem mais dois jogos preparatórios, contra o Red Bull Salzburg e Borussia Monchengladbach, antes do inicio da Premier League, jogo fora de casa contra o Manchester United.

Portanto, é importante que a pré-temporada seja bem feita, e o time se prepare bem. Vale lembrar que o Chelsea disputará também a Supercopa da UEFA, jogo único contra o Liverpool, apenas três dias depois do início da Premier League.

Prorrogação – Quem pode crescer na temporada

Mason Mount e Tammy Abraham estão fazendo boa pré-temporada. (Foto: Chelsea FC)

O Chelsea conseguiu se movimentar bem dentro das limitações impostas pela punição da FIFA. Sem poder contratar, a missão de montar um time competitivo se torna muito difícil, em um campeonato como a Premier League no qual Liverpool e Manchester City estão com times muito fortes, e outros rivais seguem se reforçando e aumentando seu nível.

Cabia ao Chelsea renovar o contrato de alguns jogadores, contratar em definitivo o Kovacic através de uma brecha na punição e trazer de volta alguns jogadores que estavam emprestados.

Com Frank Lampard no comando técnico do time, há o pensamento de que jovens jogadores terão mais oportunidades, portanto é possível citar alguns jogadores que terão um bom tempo nessa temporada para evoluir tecnicamente, ganhar confiança e se destacar. Quebrando aquele estigma de que o Chelsea empresta os jovens e contratam jogadores que tem praticamente o mesmo nível técnico por um valor mais alto, desperdiçando alguns talentos.

Dentre os que podem aproveitar esse período está o zagueiro Kurt Zouma. Ele tem uma história interessante no Chelsea, pois já fez boa temporada sob o comando de José Mourinho, quando tinha apenas 19 anos. Depois disso, conseguiu um contrato de 6 anos com o clube, mas teve lesões e passou a ser emprestado. Teve boas passagens por Stoke City e Everton (que inclusive tenta a sua contratação em definitivo). Hoje com 24 anos, essa temporada é sua chance de ouro no Chelsea, a concorrência de David Luiz, Rudiger, Christensen e Tomori não é tão forte, é possível que o talentoso zagueiro tome a posição e ganhe confiança para ter uma sequência de sucesso no Chelsea.

Outro jogador da parte defensiva que pode ganhar tempo de jogo é Reece James. O jovem lateral direito de 19 anos fez uma ótima temporada pelo Wigan na segunda divisão inglesa, considerado o maior destaque da equipe. Ele vem para brigar na pré-temporada com Zappacosta por uma vaga na reserva imediata de Azpilicueta. Missão difícil, mas que com seu talento pode se tornar mais fácil. É sabido que Zappacosta nunca conseguiu encantar o torcedor Blue, e pode ser que ele seja o escolhido para passar uma temporada emprestado em outro clube, ao invés do jovem inglês.

No meio campo, Kanté, Loftus-Cheek, Kovacic, Barkley e Mason Mount devem aproveitar mais o período com Lampard. No caso de Kanté, a volta para a sua posição original de volante marcador, sem tanta preocupação em chegar ao ataque, o que deve deixá-lo mais confortável e aumentar seu desempenho, mesmo que não tenha ido tão mal sob o comando de Sarri. Kovacic e Barkley também podem ser melhor aproveitados com o novo treinador, o sistema do italiano era muito restrito, e agora eles terão mais lugares no campo para mostrar seu talento da melhor forma. Já Loftus-Cheek, com novo contrato, já tinha ganhado vaga no meio na ultima temporada, antes de sofrer com lesões.

Por último, Mason Mount, que se destacou sob o comando de Lampard no Derby County, e faz boa pré-temporada. É um jovem muito talentoso, e que sai na frente por ja conhecer e ter o carinho do treinador. Além disso, o estilo ofensivo e sua característica de fazer gols é algo que fez falta no elenco e pode ser uma opção interessante para o time.

Kanté inicia devagar a temporada, ainda se recupera de lesão. (Foto: Chelsea FC)

Pelos lados do campo, Pedro e Willian acabaram se beneficiando com a punição da FIFA. São dois jogadores mais velhos, que poderiam ser negociados para uma possível renovação, mas ganham mais uma temporada no clube, que precisa segurar atletas por não poder trazer ninguém. O mesmo vale para o centro avante Olivier Giroud.

Os jovens Callum-Hudson Odoi e Tammy Abraham também ganharão mais destaque nessa temporada. A saída de Hazard, Morata e Higuaín abre vagas que ainda não tem um substituto ideal, e é isso que eles precisam aproveitar para se estabelecerem no time principal.

Existem também aqueles que podem sair, seja por empréstimo ou em definitivo. Bakayoko não faz boa pré-temporada e tem propostas. Já Drinkwater dificilmente ganhará uma vaga no meio, não jogou na temporada passada e os mais maldosos diriam que já faz hora extra no Chelsea. Se considerarmos que um elenco ideal tem quatro zagueiros, Tomori pode seguir os passos de Ampadu e passar mais uma temporada se desenvolvendo em outro clube, por empréstimo.

De qualquer forma, a responsabilidade agora é de Lampard. O treinador tem opções no elenco e conta com uma paciência maior da torcida e diretoria, dadas as circunstâncias. Mas vale lembrar que essa paciência nunca foi muito grande, e que é necessário sim mostrar um bom trabalho para seguir no comando do Chelsea.

Boa sorte ao Super Frank.

Category: Conteúdos Especiais

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Article by: Victor Rosa

Jornalista e viúvo de Eden Michael Hazard.