“Se eles assumissem a liderança, não o deixariam você entrar no jogo. Eles não anotariam cinco ou seis gols. Porém, era o melhor 1 a 0 de todos os tempos.”
Foi desta forma que Alan Pardew, um dos mais renomados técnicos da Premier League, descreveu o Chelsea bicampeão inglês de 2004 até 2006, comandado por José Mourinho.
O português certamente têm seu nome marcado no clube. Conquistou o primeiro título dos Blues na era Premier League, além de ser o treinador mais vitorioso da nossa história, com sete títulos durante suas duas passagens.
Como de praxe, ele é uma das figuras mais polêmicas do futebol, e recentemente deu alguns pitacos sobre a situação atual do Chelsea. O Terceiro Tempo desta semana refletirá tais declarações, seus desdobramentos e discutirá o futuro de Mourinho.
Primeiro Tempo: Troca de farpas com Lampard
Convidado pela Sky Sports em ocasiões extraordinárias, Mourinho estreou como comentarista na emissora em um duelo emblemático. United X Chelsea, os dois últimos clubes treinados pelo português.
Na ocasião, os Red Devils golearam os Blues por 4 a 0. O resultado na primeira rodada do torneio foi um prato cheio para os críticos de Lampard, e Mourinho não demorou para ataca-lo.
“Meu sentimento é que hoje ele deveria ter colocado uma formação mais experiente. Marcos Alonso estava no banco, N’Golo Kante estava no banco, Olivier Giroud estava no banco. Um pouco mais de experiência teria sido bom para a equipe. Veja as performances de Mason Mount, Tammy Abraham e até Christensen. Para partidas desta magnitude você precisa de algo mais.”
Naquela partida, Kanté se recuperava de lesão e não estava 100%, assim como Rudiger. Emerson havia ganhado a vaga na lateral esquerda na última temporada e começava a cair no gosto da torcida.
O atual técnico não abaixou o tom:
“Ele não gostou da partida Mason Mount? Eu não tenho que me preocupar muito com o que os outros dizem, os especialistas, e sim com a minha equipe. Eu acredito neste grupo. Eu também preciso dos jogadores que estão lesionados. Mandei quem eu tinha em campo.”
Se por um lado o resultado foi desastroso, o tempo mostrou que as apostas de Lamps deram certo. Mount têm quatro gols em oito jogos e é fundamental no novo esquema. Tomori é uma relevação na defesa e Abraham mostrou muita evolução, surgindo como artilheiro da liga.
A crítica de Mourinho no entanto têm fundamento. Ao longo de sua carreira, ele se apoiou nos medalhões dos clubes em que passou para conquistar os títulos e solidificar seu currículo. Normalmente, os jovens cometem mais erros e demoram para evoluir em times na qual a pressão por títulos é gigante como no Chelsea.
O que deve ser analisado é o momento do Chelsea. O clube precisava de alguém respeitado e querido pela torcida. Ao que esse começo de temporada indica, os torcedores estão satisfeitos com a decisão da diretoria.
Segundo Tempo: Base e empréstimos funcionam?
Atualmente, o Chelsea têm 27 jogadores emprestados. O clube sempre foi julgado por contratar demasiados atletas e não aproveita-los no time principal.
Atrelado a isso, está o fato do time possuir uma base capaz de produzir ótimos talentos, porém não utiliza-los. Entre 2016-2018, os londrinos conquistaram a Premier League sub-18 duas vezes. Além disso, a mesma safra conquistou a Liga dos Campeões Jovem da Uefa duas vezes.
No formato que vinha sendo implantado, a diretoria investia pesado em reforços, forçando os atletas mais novos a serem emprestados. O caso mais famoso é Lucas Piazon, atualmente no Rio Ave. O brasileiro já passou por sete clubes diferentes e nunca teve a chance de se provar em Londres.
Como parte deste mecanismo, Mourinho nunca escondeu o desejo de ter “carta branca” nas negociações. A vontade em ser um manager ficou ainda mais evidente em sua segunda passagem por Stamford Bridge, na qual ele pôde escolher seu centroavante ideal, Diego Costa.
Em nova participação na TV, José trocou o tom crítico para elogiar este mecanismo:
” O sistema de empréstimos do Chelsea é criticado algumas vezes por causa da enorme quantidade de jogadores, mas agora você vê o resultado deste trabalho. O primeiro exemplo que vêm a mente é de Christensen. Foram dois anos fantásticos na Alemanha e agora ele está sendo aproveitado.”
Perguntado se o talento sempre esteve lá e sobre as chances dos jovens, ele pensa que o amadurecimento dos jogadores é fundamental.
” Quando você tem os jogadores certos no nível de performance ideal, isso é ótimo. Mas durante o meu período, nós sabíamos que isso demandaria tempo, pois o trabalho dos profissionais de base era muito bem feito.”
Do que foi falado pelo ex-técnico da equipe, nota-se que o trabalho nas categorias é muito bem feito. Mas, como a grandeza continental e a pressão aumentaram, jogadores mais experientes ganharam a concorrência da base vencedora.
Pelo menos agora, com a proibição da FIFA, estamos vendo muitos dos jovens ganhando protagonismo. E sem essa decisão da entidade máxima do futebol, é difícil concluir se o ciclo que imperava seria quebrado.
Prorrogação: Mourinho pode voltar?
Desde sua saída polêmica na metade da temporada passada do Manchester United, o português não esconde o desejo de voltar ao posto de treinador.
Recentemente, ele rejeitou uma oferta do Lyon e também disse não querer regressar ao futebol italiano.
Se os times do segundo escalão europeus mostram-se interessados, os grandes clubes não fazem barulho para contrata-lo. Em seus últimos trabalhos, deixou feridas abertas com jogadores de seus elencos e diretoria. Com a má gestão de elenco e seu alto custo, é difícil vê-lo em um grande nesta temporada.
Caso não mude sua postura, é difícil algum clube de expressão dar a chance a ele. Além disso, ele precisa mostrar que suas filosofias não estão ultrapassadas, deixando de ser um técnico defensivo e aprimorando seu repertório ofensivo, mesmo que não conte com os jogadores que deseja. O ego do dele parece continuar alto demais para permiti-lo assumir um clube de menor porte.
A pergunta que fica é: O Chelsea deve abrir sua portas pela terceiro ao técnico português?
A princípio, não. O momento é de total confiança em Lampard e no desenvolvimento dos novos atletas. Em todos os seus trabalhos, Mou não se mostrou paciente com jovens, chegando a expor os atletas em coletivas.
Porém, é um técnico muito idolatrado e, mesmo deixando uma má imagem em sua saída em 2016, uma ala da torcida aprovaria dele caso o clube não conquiste títulos expressivos nos próximos três anos.