O Chelsea fez nessa temporada o que boa parte da torcida esperava que fosse feito já há alguns anos, dar oportunidade a jovens jogadores que vivem sendo emprestados. Obviamente, a punição imposta pela FIFA fez com que esse processo fosse feito de forma radical, mas obrigou o clube a agir, e agora os resultados serão colhidos.
Se serão positivos para o clube, só o tempo dirá, pois dependerá de inúmeros fatores, como: efeito inicial, paciência da torcida e mentalidade da diretoria.
Primeiro Tempo: Efeito Inicial
Esse seria o primeiro impacto do time comandado por Frank Lampard nos campeonatos disputados, pelo menos até Janeiro de 2020.
Claro que imaginar esse time liderando a Premier League, classificando em primeiro lugar no grupo da Champions League e disputando os dois mata-matas ingleses, é exigir demais desse elenco. Porém, espera-se que o time esteja competindo de forma digna todas essas competições, e demonstrando evolução.
Não é uma temporada perdida. É uma temporada com exigências, e a principal delas deve ser a evolução da equipe sob o comando do treinador. O próprio Lampard precisa evoluir em alguns aspectos táticos do time, a montagem do setor defensivo e o modo de se postar contra jogadas de bola parada do adversário são preocupações.
Caso esse time estabeleça um padrão de jogo e atue de forma segura, com jogadas bem trabalhadas, recursos, variação de jogo, segurança defensiva e confiança, os bons resultados virão, e as derrotas que podem acontecer seriam consequência de um bom trabalho técnico e tático do adversário.
Nesse cenário, o time passaria uma confiança enorme para a diretoria do time e para os torcedores, e demonstraria ser um caminho a ser seguido. Mas pode acontecer algo diferente.
Já se passaram quase dois meses desde o início da temporada, e o time ainda oscila um pouco. São três vitórias, dois empates e dois derrotas na Premier League, aproveitamento de 52,4%. Ou seja, o Chelsea ainda está longe de ter uma campanha segura, e é possível que isso persista por alguns meses.
É preciso ter consciência de que um time jovem, com um treinador recém chegado, que começa a implementar um trabalho, necessita de um tempo maior de experiência até que estabeleça um padrão de jogo.
Portanto, volto a salientar a importância de se analisar a evolução da equipe de uma maneira geral. Por exemplo, na última partida, o Chelsea conseguiu manter seu primeiro clean sheet na temporada. Um marco importante para Frank Lampard e que demonstra a melhora do time na fase defensiva.
A tendência é ter uma oscilação, mas o impacto inicial da equipe envolve não só os números, como a postura da equipe em campo. Será importante somar muitos pontos, mas também será fundamental que o torcedor não termine o jogo frustrado, vendo erros se repetirem sem esperar alguma melhora. É comum ver situações em que algum time vence o jogo mas não passa confiança para quem assistiu, e é esse impacto que o Chelsea precisa transmitir, para que o futuro seja positivo ao manter esse trabalho.
Segundo Tempo: Paciência da Torcida
O torcedor do Chelsea é muito exigente com o clube. Basta ver a relação com Maurizio Sarri na temporada passada. O italiano foi 3º colocado na Premier, chegou na final de uma copa inglesa e foi campeão da Europa League, re-colocando o time na Champions, mas mesmo assim foi bastante criticado por parte da torcida até o fim da temporada.
Esse ano é diferente, Frank Lampard é um dos maiores nomes da história do Chelsea, se não o maior, e por isso tem bastante respeito por parte dos torcedores, que certamente terão uma tolerância maior com ele.
Além disso, a limitação imposta por não poder contratar, demanda do torcedor uma paciência maior.
Mas isso não deve e nem pode durar pra sempre.
Existem adversários que são muito inferiores tecnicamente, e esses o torcedor exige vitórias. Além disso, os derbys também pesam bastante na avaliação do torcedor. Por último, derrotas humilhantes por placares elásticos são dificeis de digerir. Entrou muito na conta do Sarri as derrotas por 4×0 para o Bournemouth e a de 6×0 para o City.
Além disso, alguns vícios de um treinador passam a trazer insatisfações para a torcida. Uma substituição repetitiva, a preferência por um jogador X, não dar oportunidades a um jogador Y…
Um exemplo que pode ser citado agora é o de Pulisic. O fato do treinador não dar tempo de jogo ao jogador nas últimas partidas já faz uma parte da torcida reclamar. O que é bastante comum.
Porém, num time como o Chelsea, no qual a torcida é tão impaciente e influente nas decisões da diretoria, é necessário conquistar e dar tranquilidade sempre para eles.
Isso não vale somente para o treinador. Os jovens jogadores também precisam saber lidar com essa pressão. Bastam três jogos ruins para uma parte da torcida considerar que o atleta não é bom o suficiente, ou está numa fase tão ruim que precisa sair do time. Na Inglaterra isso é bem comum.
Um exemplo é Zouma. O zagueiro que era cotado para ser o substituto de David Luiz nesse time, fez duas ou três partidas muito ruins e já é considerado um defensor horrível por parte dos torcedores. Azpilicueta também vem sofrendo com isso.
Então a torcida é sim parte desse mecanismo, e tem papel fundamental no funcionamento dessa nova estratégia adotada pela diretoria, de apostar no trabalho de Lampard com os jovens. Pois caso a reclamação seja muito grande, o velho sistema de substituir jogadores e treinadores temporada após temporada voltará.
Prorrogação: Mentalidade da Diretoria
Contrata um jogador, vende outro. Contrata uma jovem promessa, empresta outra. Assim vem funcionando o Chelsea de uns tempos pra cá.
Nas últimas temporadas, o Chelsea continuou sendo um dos times que mais movimenta dinheiro no futebol mundial. Mas ao contrário de times que se fortalecem a cada ano com grandes reforços para montar um time cada vez mais competitivo, os Blues parecem seguir uma fórmula que não eleva o seu patamar.
Não da para culpar apenas a diretoria por gastar 58 milhões no Morata para repor o Diego Costa. Era um dos grandes nomes de atacante naquela época, era novo e queria deixar o Real Madrid, teve aval do treinador e da torcida, que ficou bem feliz quando o jogador veio. Porém, todos sabem no que deu.
Contrata De Bruyne muito jovem, empresta. Quando o jogador volta, com uma idade boa para tentar se firmar, contrata Willian e Oscar, ainda tem Mata no elenco. Falta espaço para a jovem promessa. Vende. Anos depois o vê voltando para a Inglaterra como um dos maiores meias do futebol mundial.
A metodologia não está certa. Precisa de alguns ajustes. E eles começaram a acontecer agora.
O Chelsea tem muitos jogadores emprestados. Mas agora precisa usar. Será que Abraham estaria tendo chances caso a diretoria pudesse contratar?
Caso a diretoria veja bons frutos saindo dessa nova forma de montar o elenco, o futuro será promissor.
O elenco é jovem e identificado. O treinador acredita no potencial dos jogadores. Basta a diretoria acreditar nessa fórmula e fazer duas ou três contratações pontuais, com o grande poder financeiro que tem, para que o Chelsea volte a competir com os grandes europeus de igual pra igual em alguns anos. Como tem que ser.
A final da Champions em 2022 será em Munique, temos um bom tempo para evoluir esse time e trazer reforços de peso para reconquistar a cidade novamente!
Análise do elenco por idade:
Considerando jovens os jogadores de até 24 anos e experientes aqueles com mais de 26, o Chelsea tem hoje 10 jovens e 13 jogadores experientes.
- Kepa, James, Christensen, Zouma, Tomori, Cheek, Mount, Odoi, Pulisic e Abraham tem uma de média de idade de 21,4 anos.
- Caballero, Azpilicueta, Rudiger, Alonso, Emerson, Kovacic, Barkley, Jorginho, Kanté, Willian, Pedro, Batshuayi e Giroud tem uma média de idade de 28,7 anos.
- Considerando todos os citados, a média é de 25,5 anos de idade.