Na última sexta-feira (18), a UEFA realizou o sorteio dos confrontos das quartas de final da Liga dos Campeões. Com isso, o caminho do Chelsea foi definido: os Blues enfrentarão o Real Madrid. O primeiro jogo será em Stamford Bridge no dia 6 de abril. Sendo assim, o jogo de volta será no Santiago Bernabéu no dia no dia 12 do mesmo mês.
Logo, além do confronto entre Blues e Merengues se enfrentarão (o segundo time de cada confronto jogará a volta em casa):
- 05/04: Benfica x Liverpool
- 05/04: Manchester City x Atlético Madrid
- 06/04: Villarreal x Bayern
É provável que grande parte dos torcedores lembre das partidas entre Chelsea e Real Madrid nas semi-finais da Champions da última temporada. Porém, o histórico entre as duas equipes é bem mais extenso, começando ainda na década de 1970. Por mais que não signifique nada, vale lembrar que o histórico é favorável aos Blues, que ainda não perderam para os Merengues em jogos oficiais – a única derrota do clube inglês aconteceu em um torneio de pré-temporada em 2016, os espanhóis venceram por 3-2 com gols de Marcelo (2) e Mariano para o Real e Eden Hazard (2) para o Chelsea.
Primeiro troféu continental do gabinete
Sim, o jogo que consagrou o Chelsea como campeão europeu pela primeira vez contra o Real Madrid no dia 21 de maio de 1971. O jogo marcou a final da Recopa Europeia (Cup Winners Cup) – o torneio era disputado entre os vencedores das copas de cada país europeu final da competição e consistia numa competição de mata-mata desde o início.
Naquele momento, os Merengues passavam por um momento complicado. Se nas décadas de 1950 e 1960 o clube dominou tanto nacional como internacionalmente, na temporada 1969/70 a dominância pareceu contestada. Depois de terminar em 6º no campeonato espanhol e cair nas oitavas de final da Copa dos Campeões, o clube estava quase indo para sua primeira temporada sem títulos em mais de uma década. Porém, o Real conseguiu conquistar a Taça do Geraldíssimo após vencer a final contra o Valencia. Assim, os Merengues conseguiram sua classificação para a Club Winner’s Cup, conhecida no Brasil como Recopa Europeia, pela primeira vez em sua história.
O Chelsea, por sua vez, não vinha de bons momentos. Após ganhar o campeonato inglês na temporada 1954/55, os Blues voltaram ao meio da tabela – e até mesmo disputaram a segunda divisão inglesa na temporada 1961/62. Após bater na trave em 1967, os londrinos asseguraram a Copa da Inglaterra em 1970 e garantiram a classificação para a Recopa.
Equipe repleta de futuras lendas
Os Blues eram treinados pelo jovem Dave Sexton, que assumira a equipe em 1967. No gol, a equipe tinha Peter Bonetti – um dos melhores goleiros da história do Chelsea e que, inclusive, foi o goleiro reserva na Copa do Mundo faturada pela Inglaterra em 1966. Na defesa, o capitão Ron Harris formava a linha de quatro junto com David Webb, contratado por Sexton, John Dempsey e John Boyle.
No meio, os londrinos contavam com a parceria entre Alan Hudson e John Hollins. Além disso, Charlie Cooke fechava o trio de meio campistas, sendo o principal responsável pela ligação das jogadas da equipe. Em seguida, no ataque, Keith Weller e Peter Houseman jogavam pelas alas e formam um trio de peso com Peter Osgood (que jogava centralizado.
Final decidida em duas partidas
Na verdade, o jogo da final estava marcado para o dia 19 de maio de 1971. E ele aconteceu. No entanto, terminou empatado em 1-1 com Peter Osgood marcando para o Chelsea aos 11 minutos da etapa complementar. Parecia que a taça ia ficar nas mãos dos Blues, porém, literalmente aos 45 do segundo tempo, Ignacio Zoco marcou para os espanhóis após falha de John Dempsey.
Portanto, um segundo jogo aconteceu na Grécia dois dias depois. Para a partida, o Chelsea teve que realizar uma mudança na equipe pois John Hollins se machucou. Logo, Tommy Baldwin iniciou pelo lado inglês na segunda partida. Mais ainda, Sexton escalou o time no 4-2-4. Ou seja, com dois alas e dois centroavantes, sendo a dupla de ataque formada por Baldwin e Osgood.
Com gols de John Dempsey e Osgood aos 33 e 39 minutos do primeiro tempo, respectivamente, os Blues se viam numa posição favorável. Enfim, os Blues dominaram a primeira etapa e grande parte da partida, mas tomaram um susto.
Os Merengues cresceram no segundo tempo e aos 30 minutos da etapa complementar Sebastián Fleitas deixou a diferença em apenas um gol. Contudo, a pressão dos espanhóis não deu resultado. Tanto na primeira partida como na segunda, Peter Bonetti foi o destaque, fazendo defesas espetaculares para deixar os Blues vivos na caminhada pelo título
Com Bonetti fechando a meta o Real não conseguiu empatar. Mais ainda, Chelsea teve a chance de fazer o terceiro, mas não aproveitou. No fim, não fez diferença. O título foi para Londres e marcou não só uma geração, mas também a história do clube.
Novo encontro em momentos melhores
Se na década de 1970, tanto Chelsea como Real Madrid foram para o confronto em momentos não tão bons, o mesmo não aconteceu em 1998. Depois de 32 anos, os Merengues conquistaram a Liga dos Campeões na temporada 1997/98 e, por consequência, a vaga na Supercopa de 1998.
Por sua vez, os Blues estavam em ascensão na Premier League e retomaram os caminhos vitoriosos nas copas nacionais. Após vencer a Copa da Inglaterra, a equipe se classificou novamente para a Club Winner’s Cup. Sendo assim, o caminho traçado pelo Chelsea foi igual ao de 1970/71. E, da mesma forma, o resultado foi o mesmo, com os Blues levantando a taça.
Estreia de uma nova competição
Dessa vez, o título disputado por Chelsea e Real Madrid foi o da Supercopa no dia 28 de agosto de 1998 – que marcou a estreia da competição no formato atual. Em outras palavras, foi a primeira vez que o título disputado entre o vencedor da Liga dos Campeões e da Recopa Europeia foi disputado em jogo único em local neutro.
Vale lembrar que o formato da Supercopa se mantém até hoje. Porém, com o enfrentamento do campeão da Liga dos Campeões e da Liga Europa (sucessora da Recopa Europeia).
Enfim, àquela altura nem Blues nem Merengues haviam conquistado o título. Portanto, o jogo disputado no Stade Louis II em Mônaco seria histórico em amplos sentidos. Tanto para cada clube como para o futebol europeu no geral que, a partir de então, passou a se aproximar cada vez mais do modelo atual.
Do uniforme de jogo ao terno…
No final da década de 1990, o Chelsea ainda apostava em treinadores que ainda estavam em atividade como jogadores. Um dos grandes exemplos disso foi Ruud Gullit, que acabou sendo demitido em fevereiro de 1998 depois de desentendimento com a diretoria. Para suceder Gullit, mais um jogador foi elevado ao posto de treinador: Gianluca Vialli.
O atacante italiano, então, passou ao comando da equipe e seguiu com boas performances em um bom momento. Ele já era treinador quando os Blues venceram o Stuttgart por 1-0 em Estolcomo e conquistaram o título da Recopa. Para a Supercopa, então, Vialli escalou o time com Ed de Goey no gol.
Em seguida, a defesa era formada por Marcel Desailly e Frank Lebouf na zaga – ambos haviam acabado de conquistar a Copa do Mundo junto à Seleção Francesa. Pelas laterais, Albert Ferrer e Graeme Le Saux fechavam a linha defensiva. No meio campo, mais uma linha de quatro com Michael Duberry pela direita, Dennis Wise, o capitão, e Roberto Di Matteo na faixa central e Celestine Babayaro pela esquerda.
Enfim, o ataque era formado pelos italianos Gianfranco Zola, que marcara o gol contra o Stuttgart que levou o Chelsea à competição, e Pierluigi Casiraghi. Mesmo ainda não estando aposentado, Vialli não se relacionou para a partida. Além disso, os Blues tinham no banco nomes como Brian Laudrup, Tore André Flo, Gus Poyet e o jovem Jody Morris, formado nas categorias de base do clube e que viria a ser um dos grandes responsáveis pela consolidação do projeto de desenvolvimento de atletas em Cobham.
… à conquista inédita
O primeiro tempo foi bastante equilibrado, apesar de o Real Madrid ter perdido duas grandes chances nos primeiros 45 minutos. Primeiro, o zagueiro Fernando Hierro bateu uma falta que bateu na trave da meta do Chelsea. Depois, o atacante Predrag Mijatovic driblou o goleiro blue, mas não converteu a chance em gol. Por outro lado, o ataque dos Blues estava sendo bem anulado pela defesa Merengue.
Se De Goye foi bastante na etapa inicial, o goleiro dos espanhóis, Bodo Illgner, passaria a ser acionado na etapa complementar. Illgner salvou uma tentativa de Babayaro e também contou com a sorte após Leboeuf carimbar a trave. Porém, os Blues conseguiram furar a meta madrilena. E o responsável pelo gol veio do banco.
Gus Poyet entrou na partida aos 18 do segundo tempo, substituindo Di Matteo. E aos 38 marcou o gol que garantiria a vitória e, sobretudo, o título. Em jogada de contra-ataque, Poyet recebe um lançamento de Le Saux desviado no meio do caminho. Ainda assim, o uruguaio avançou em direção a pequena área e tentou um chute. Porém foi travado.
Com isso, a bola sobrou para Zola que também tentou a finalização mas foi travado. Enfim, o italiano ficou com a sobra do próprio chute e rolou para trás para Poyet arriscar um chute de primeira da entrada da pequena área que furou a meta de Illgner.
Longe de ser uma partida brilhante por parte do Chelsea, ainda assim marcou a história do clube. Acima de tudo em uma época em que os londrinos tinham em copas suas grandes chances de título. Cenário que mudou com a chegada de Roman Abramovich.
Primeiro encontro fora de finais
Novamente, algumas décadas se passaram até que os Blues encontrassem o Real Madrid. O que só aconteceu na última temporada na fase de semifinais da última Liga dos Campeões da Europa. Portanto, foi a primeira vez que os times se enfrentaram sem que um título tivesse em disputa. No entanto, o vencedor dos confrontos, no agregado, conquistaria uma vaga na final da maior competição de clubes do mundo.
Para chegar à penúltima fase da competição, os espanhóis bateram o Liverpool pelo placar agregado de 3-1 após os jogos de ida e volta. Enquanto isso, o Chelsea superou o Porto pelo placar agregado de 2-1. Antes disso, o Real passou pela Atalanta e, na fase de grupos, terminou em primeiro lugar. Os Blues, nas oitavas de final, superaram o Atlético de Madrid e também terminaram na primeira colocação de seu grupo na fase inicial.
Tudo em aberto após a primeira partida
O primeiro jogo aconteceu no dia 27 de abril de 2021 no Estádio Alfredo di Stéfano em Madri. Por conta da pandemia, a partida não contou com a presença de público.
Zinédine Zidane escalou donos da casa em um 3-5-2 com Courtois no gol, Éder Militão, Raphael Varane e Nacho Fernandéz formando a linha de zaga. No meio campo, Carvajal e Marcelo fizeram as alas pelo lado direito e esquerdo respectivamente. Pela faixa central, o Madrid contou com Luka Modric, Casemiro e Toni Kross. Enfim, o ataque contava com mais um brasileiro, Vinicius Junior, que fez dupla com Karim Benzema.
Enquanto os Blues foram escalados por Thomas Tuchel no esquema espelhado ao do Real com Mendy no gol e Rüdiger, Thiago Silva e Christensen formando a linha defensiva. O meio campo do Chelsea contava com Ben Chilwell pela esquerda, Mount, Jorginho, Kanté e, por fim, Reece James pela direita. Na frente, Timo Werner fez dupla com Christian Pulisic.
Gols rápidos e cautela na sequência
O confronto começou morno até que Pulisic abriu o placar da partida aos 14 minutos da etapa inicial. Após boa jogada individual, o camisa 10 driblou Courtois e chutou para o gol aberto.
Com isso, sem dúvidas, os Blues ficaram em uma posição de mais conforto. Contudo, não houve muito tempo para aproveitar a vantagem. Quinze minutos depois, em lance de desatenção completa da defesa dos londrinos, Benzema empatou a partida.
A bola resvalou nos defensores blues e sobrou para o camisa 9 dos madrilenos. O francês dominou de peito livre e emendou um voleio que furou a meta defendida por Mendy.
Após o empate, o jogo voltou a ser morno. Ambas as equipes chegaram ao gol, mas com pouca objetividade e perigo. Mais ainda, a posse de bola foi bem distribuída. Em suma, as equipes fizeram uma segunda etapa mais cautelosa. Em especial o Real Madrid para impedir que o Chelsea fizesse o segundo e fosse com ainda mais vantagem para o jogo de volta – o gol fora ainda era um critério.
Decisão da vaga em Londres
Para o jogo de volta, Tuchel escalou o time de forma muito parecida. Com uma única mudança na escalação inicial: a dupla de ataque contou com Kai Havertz ao lado de Timo Werner.
Por outro lado, Zidane promoveu grandes mudanças no Real, que entrou em Stamford Brigde escalado no 4-4-2. Courtois seguiu no gol, mas em sua frente vinha uma linha de quatro com Nacho pela direita, Sergio Ramos (voltando de lesão) e Militão na zaga e Ferland Mendy na lateral esquerda.
Os quatro meio campistas merengues eram Casemiro, Modric, Kross e, mais uma novidade para a partida, Eden Hazard. Por fim, o ataque seguiu sendo formado por Vini Jr e Benzema.
Jogo perigoso
Por conta do gol fora de casa, os londrinos jogaram em casa com a vantagem do empate. Ou seja, o placar de 0-0 classificaria o Chelsea. Portanto, o objetivo central do time era não levar gols – e fazer gols seria um grande lucro.
Sendo assim, os espanhóis controlaram a posse de bola. Porém, não conseguiam criar jogadas para finalizar com objetividade. Muito por conta da sólida atuação defensiva dos Blues.
Apesar da pouca posse de bola, o Chelsea finalizou mais e foi mais objetivo. Tanto em termos de criação como de conclusão de jogadas. Desse modo, Werner abriu o placar aos 28 do primeiro tempo, dando ainda mais tranquilidade aos donos da casa.
O Madrid tentou chegar mais, ainda no primeiro tempo. No entanto, seguiu esbarrando na defesa do Chelsea e, sobretudo, em Edouard Mendy que fez defesas importantes.
No retorno do intervalo, a posse de bola se manteve amplamente em favor dos espanhóis. Só que eles seguiram sem chegar ao gol. Enquanto, por outro lado, os Blues se aproveitavam bem das chances que construiam.
Dessa forma, depois de muito bater na trave (literal e figurativamente), Mason Mount fez o segundo do Chelsea e selou a classificação para a final da Champions. Pulisic recebeu de Kanté e foi até a linha de fundo. Em seguida, cruzou para o camisa 19 empurrar a bola para o fundo das redes.
O que esperar do próximo encontro?
Assim como os jogos anteriores entre os times é de se esperar um grande confronto nestas quartas de final. Atualmente, o Real Madrid, agora comandado por Carlo Anchelotti, que teve passagem pelo Chelsea entre 2009 e 2011, é líder de La Liga com uma folga de 10 pontos para o segundo colocado (Sevilla). Apesar de ter caído na Copa do Rei, foi campeão da Supercopa da Espanha e chega em bom momento na Liga dos Campeões após vencer o Parin Saint-Germain pelo placar de 3-2 no agregado (0-1 em Paris e 3-1 em Madrid).
Mais ainda, os espanhóis decidirão o confronto em casa. Em outras palavras, ao contrário do que aconteceu nas semis da temporada passada, o primeiro jogo será em Stamford Bridge. Porém, há uma outra diferença também: não há mais o critério de gols fora de casa – o que traz um tempero a mais para o confronto de volta. Mesmo que haja um vencedor no jogo de ida.
Portanto, é de se esperar que o Chelsea dê tudo para conseguir uma vitória em casa e ir em uma posição menos desconfortável para Madrid. Qualquer partida em Santiago Bernabéu é complicada por conta da apaixonada torcida madrilena, então, qualquer forma de descomplicar o confronto de volta será central para os Blues. Em suma, o confronto do dia 6 de abril traz muita atenção e importância – ainda mais por acontecer tão próximo da volta da data FIFA. É de se esperar um novo encontro marcado por qualidade e muita disputa entre as equipes. Ambos os lados vêm de bons momentos e com algumas mudanças importantes – seja no comando da equipe ou na escalação – e, com certeza, estarão em busca da vaga para a semifinal.