Uma partida de muitas redenções, de muitos exorcismos, aquele título para deixar todos dormirem em paz, esqueceram os velhos pesadelos, por anos. Assim foi a grande final vencida pelos Blues em Munique. Não só ela, mas a campanha em geral do time foi uma verdadeira caça aos velhos fantasmas do passado recente do time e do futebol inglês.
O primeiro exorcismo que o Chelsea fez, na verdade, nem foi aqui, nas justamente nas campanhas dolorosas de 2008 e 2009. O time fora eliminado duas vezes pelo Liverpool, em edições da Champions, e conseguiu reagir, com a força de Lampard e Drogba, e eliminar duas vezes de volta os Reds.
Assim, o torcedor do Chelsea parou de ter medo do time que era então, sua grande pedra no sapato, e até virou o jogo com a conquista da FA Cup de 2012. Mas outros dois fantasmas nasceram.
O fantasma de 2009 foi uma grande partida jogada pelos Blues em Stamford Bridge nas semis contra o Barcelona, que terminaria em 1×0. Garfado pela arbitragem, o time viu 6 pênaltis ignorados a seu favor e em um chute de sorte de Iniesta entrar no último segundo de jogo e nos tirar da final.
O exorcismo veio em dois atos. Primeiro, a vitória por 1×0 em Stamford Bridge. Onde o Barcelona chegou a ficar nervoso, tamanha a falta de opção de jogadas que tinha. Todas anuladas pelo Chelsea. Dessa vez, eles quem sentiram-se injustiçados. Não pela arbitragem, pois ao contrário do time catalão, o Chelsea não precisa disso. Mas pelas bolas que bateram na trave e as inúmeras chances desperdiçadas.
O segundo ato foi especial. O Chelsea ficou 10 homens em campo, com dois laterais improvisados na zaga e levou 2 gols do “melhor time do mundo”, em Camp Nou. Viria chocolate por aí? Não. O Chelsea foi gigante e ressurgiu das cinzas com uma pintura de Ramires. Matou de vez o Barcelona e tudo que sofremos entre 2009 e 2012 com um fantástico gol de Fernando Torres – que era nosso carrasco nos tempos de Liverpool – quase no fim.
O fantasma de 2008 foi a disputa de pênaltis em Moscou. Chuvosa e extremamente similar a de 2012. O Chelsea esteve a uma cobrança de ser campeão, com John Terry. Ele escorregou e colocou para fora. Foram 4 anos de dor e remorso por aquele momento, principalmente para o nosso capitão, que acumulou o sentimento de culpa não só por esse lance, mas por ficar fora da final de 2012. Drogba e Cech mudariam a vida dele. E as nossas.
O exorcismo veio em uma virada nos pênaltis na conquista do título em Munique. O Chelsea saiu perdendo, e parecia que tudo daria errado de novo. Virou. Cech foi um gigante. Todos os jogadores acertaram. Drogba foi para a última cobrança e mais uma vez o time estava a apenas um passo de ser campeão europeu. O marfinense jogou para longe os fantasmas passados e converteu sua cobrança, sagrando o time campeão europeu, e tornando o Chelsea um time suficiente só pela sua grandeza, sem mágoas, sem precisar olhar para o que deu errado.
Foi como se todas as derrotas tivessem valido a pena, para em um conto fantástico do futebol, elas se encaixarem e serem superadas de forma caprichosa, quase como se tivesse sido escrita em um romance, com esse título de 2012.
De quebra, a Inglaterra havia perdido a Eurocopa de 1996 e a Copa do Mundo de 1990 para a Alemanha, nos pênaltis. Os germânicos ganharam todas suas decisões nos pênaltis, de lá para cá. A Inglaterra também perdeu a Copa do Mundo de 2006 e a Eurocopa de 2004, nos pênaltis.
Um inglês finalmente bateu um alemão nos pênaltis. A nação inteira comemorou, inclusive personalidades ligadas a times rivais, como Rooney e Neville. Comemoraram como enfim, o time que a Inglaterra deu o troco.
Frank Lampard, por sua vez, exorcizou o fantasma de Neuer e da bola que entrou na Copa do Mundo de 2010. Converteu seu pênalti. O outro jogador inglês a bater também marcou: Ashley Cole, jogando para o espaço todas as críticas pelo o que fez fora dos gramados e se consolidando de vez como um dos grandes, se não o grande, lateral esquerdo da sua geração.
Um título para exorcizar todos os fantasmas, para curar todas as feridas, para deixar tudo em paz e no seu devido lugar, que é o topo do futebol europeu.