Muito se fala sobre a dualidade dos esquemas de dois ou três zagueiros. Temos exemplo na história recente do Chelsea, que venceu a Premier League desta maneira com Antonio Conte. Além disso, Frank Lampard já optou pela disposição algumas vezes à frente dos Blues.
Alguns exemplos de trabalhos recentes como Sheffield e Wolverhampton, na liga inglesa, e Leipzig e Borussia Dortmund, na Bundesliga, podem ser ressaltados como casos de sucesso. Ou seja, estamos presenciando um ressurgimento da formação? Como o Chelsea pode se beneficiar do sistema nesta etapa de transição de elenco?
Confira no texto de hoje da Lupa Tática algumas razões pelas quais esta pode ser a melhor escolha agora para os londrinos.
Sistema de transição
Ter alguém que nos exalte e cuide de nossa autoestima é ótimo, não é? E alguma situação na qual possamos florescer como profissionais e demonstrar todas as nossas qualidades então? Tudo isso parece um sonho e, para os futebolistas, não é tão fácil de encontrar. Assim, quase sempre o jogador tem que “sacrificar” alguma característica para o bem do time. Isso é perfeitamente normal e até saudável. Contudo, é quando uma equipe tem de se adaptar às ideias do seu treinador sem ter as peças para tal que acontecem os problemas e as cisões.
Por sorte isso não aconteceu no Chelsea na última temporada. Em parte por causa do grande poder de gerenciamento de elenco que tem Lampard, em parte pela sua “aura” de ídolo. Mas, engana-se quem pensa que isso dura para sempre. Não à toa o clube foi atrás de jogadores que se encaixassem na filosofia do inglês para poder dar prosseguimento ao trabalho. Assim, não é absurdo cravar que a defesa deve sim ser formada por três zagueiros. Esse pensamento é corroborado pelas peças que temos hoje.
O sistema enaltece as qualidades individuais
Sempre falo por aqui que não é novidade para ninguém que os Blues sofreram, e muito, com a sua defesa na última temporada. Assim, Frankie disse para todo mundo: “Relax!”, e abriu mão dos seus fullbacks para ter dois alas. Ou seja, ele fez isso para proteger mais a zaga e, ao mesmo tempo, manter a pressão alta, que é sua característica.
Azpilicueta (ou Dave, para os íntimos) não está ficando mais jovem, mas ainda é uma máquina. Com ele pelo lado direito da trinca defensiva podemos aproveitar uma faceta sua amplamente explorada por Conte e transformada em arma por Lampard: a subida ao ataque. Além disso, o espanhol consegue proteger o flanco de James, que ainda sofre defensivamente, ainda que tenha muito potencial para apoiar.
Alonso, pelo outro lado, talvez seja o que comemorará mais esta mudança (mesmo que momentânea). O jogador nunca foi nem nunca será um lateral completo, mas como ala continua sendo um dos melhores da posição. Assim, podemos aproveitar seu faro de gol e infiltrações, bem como bolas aéreas e cobranças de falta.
Por fim, o novo camisa 11, Timo Werner, adora jogar desse jeito com um atacante trabalhador ao seu lado. Isso foi verdade com Schick e Poulsen no Leipzig e será igualmente verdadeiro com Abraham com a camisa azul. O jovem inglês tem muito potencial para ser colocado na reserva e, desta forma, o alemão pode ter mais espaço para usar sua grande velocidade e poder de definição.
O sistema mascara as falhas do elenco
Outra afirmação que já cansamos de falar é que as falhas coletivas sobrepujam as individuais no atual elenco. Ou seja, não importava que peças utilizávamos, o problema permanecia. Portanto, nosso manager pediu e Marina foi atrás de jogadores para solucionar essas questões. Assim, outro fator que está diretamente ligado à uma maior solidez defensiva é justamente a quantidade de atletas disponíveis para marcar, certo?
Com três zagueiros, dois alas e os três meio-campistas fechando espaços, podemos reprogramar e praticamente eliminar as panes de posicionamento da defesa, bem como nos preparar ativamente para os contra-ataques, que nos pegaram desprevenidos tantas vezes pelos flancos. Além disso, o jogo fica mais aberto pela presença de Alonso e James. Assim, a saída de bola tende a depender menos do homem centralizado. Portanto, a incapacidade de Kanté em criar jogadas é atenuada, deixando-o livre para fazer o que faz de melhor.
O sistema, apesar de tudo, tem pontos negativos
É com dor no coração, mas com resolução que digo que toda e qualquer formação, estratégia, tática e afins têm seus pontos negativos (como na vida). E com o 3-5-2 proposto aqui não é diferente. O principal pecado desta solução é o novo camisa 10, Pulisic, estar no banco. Por vários motivos a sua presença neste sistema foi preterida, mas o principal é a aposta em um meio com Mount e Havertz.
Outro possível soluço deste esquema é que ele pode ser suscetível a erros durante a pressão alta adversária. Por não ter grandes passadores nas primeiras posições da construção ofensiva, o Chelsea teria dificuldades se o time não fosse extremamente compacto – o que não conseguiu ser na última campanha.
Outro problema que pode surgir é a falta de amplitude no terço final do campo. Ou seja, sem a presença de pontas ou meias abertos, os alas ficariam sobrecarregados. Com a extensão toda do gramado para atuar, deixam os organizadores e finalizadores por dentro. Assim, a centralização excessiva pode matar alguns esforços de criação de jogadas. Isso aconteceria principalmente por não termos um grande-passador-quebrador-de-linhas no 11 titular.
Solução momentânea
Você pode estar pensando: “Mas cara, temos outras opções no elenco! E as novas contratações?”. Pois eu te digo que este é justamente o principal motivo desta formação (ainda) ser a melhor opção. Chilwell, melhor contratação da janela até agora, está machucado. Ou seja, ficamos sem um lateral esquerdo para usar pela esquerda. A mesma coisa acontece com Ziyech, que se lesionou em amistoso.
Assim, as duas funções mais carentes da temporada passada ainda não foram efetivamente solucionadas. Então, assim como Lampard, você também vai perceber que precisamos do trio de defesa para equilibrar as contas. E não, nem Thiago Silva – que ainda está de fora das partidas porque não treinou – consegue “consertar” nossos problemas.
Para o meio temos a ausência, por suspensão, do melhor jogador dos Blues na Premier League passada: Kovacic. Sem o croata, Kanté foi a opção mais “sensata”, mesmo com Jorginho, melhor passador do time, como alternativa. Além disso, a ausência de Pulisic se deveu muito mais a uma opção do que por inaptidão. O norte-americano ficou de fora porque teve uma lesão recente e porque Abraham, Mount e Havertz não poderiam ficar de fora neste primeiro momento.
Então, mais do que uma opção, os três zagueiros é uma realidade para o time de Lampard. Principalmente agora, mas até no decorrer da próxima campanha, o treinador parece saber das possibilidades do esquema. Além disso, sua decisão (até o momento) de permanecer com Tomori indica que o “inchaço” de zagueiros é proposital e prevê a trinca defensiva em algum momento.
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