Lendo o Jogo: Chelsea 1×0 Newcastle – dentro dele há a certeza de que o time nunca se dá por vencido

Tudo levava a crer que Chelsea e Newcastle empatariam sem gols e fechariam um dia de pouca inspiração. Mas, aos 44 minutos do segundo tempo, Jorginho e Kai Havertz se inspiraram e protagonizaram jogada de cinema, que garantiu ao Chelsea uma grande e difícil vitória.

Variando entre linha de quatro e de três, o Chelsea sofreu contra um time que viajou para Londres em meio a uma série de nove jogos de invencibilidade. Mas ao final dos 90 minutos e com a bela trama ofensiva que movimentou o placar, a sequência que reluziu foi a de cinco vitórias consecutivas dos Blues.

Enfim, para entender como se desenhou a vitória do Chelsea em Stamford Bridge, é hora de ler o jogo.

(Reprodução: Sky Sports)

Incógnitas na formação

Sem Reece James e César Azpilicueta, Thomas Tuchel não teve alas disponíveis pela direita e, assim, a escalação original foi composta por quatro zagueiros. Thiago Silva, poupado, ficou somente no banco e não foi um deles. Portanto, os titulares foram Trevoh Chalobah, Andreas Christensen, Antonio Rüdiger e Malang Sarr. Com isso, pairava a dúvida acerca de qual seria a disposição tática em campo. 

No meio, Jorginho e N’Golo Kanté foram os titulares e, daí em diante, quatro jogadores completavam a escalação: Mason Mount, Hakim Ziyech, Timo Werner e Kai Havertz.

(Reprodução: Chelsea FC)

Do lado do Newcastle, o técnico Eddie Howe saiu do 4-3-3 padrão que vinha sendo adotado, para um sistema com três zagueiros, em um 5-4-1. Na primeira linha, Javier Manquillo e Matt Targett eram os homens abertos, com Fabian Schär, Jamaal Lascelles e Dan Burn na zaga. 

No meio, Howe não pôde contar com nenhum dos três meio-campistas que vinham sendo titulares nas últimas partidas. Sem Jonjo Shelvey, Joe Willock e Joelinton, Bruno Guimarães e Sean Longstaff foram os dois meio-campistas por dentro. Jacob Murphy e Miguel Almirón eram os jogadores pelos lados, tentando municiar Chris Wood na frente.

(Reprodução: Newcastle United FC)

Ritmo lento e pouca criatividade

Na prática, o sistema do Chelsea era com linha de quatro defensores, em um 4-3-3, com Chalobah na lateral direita e Sarr na esquerda. À frente dessa linha, Jorginho era o primeiro homem de meio e tinha Kanté e Mount mais avançados, cada um por um lado. No ataque, Ziyech caía pela direita, Werner pela esquerda e Havertz por dentro.

Sem alas e com zagueiros nas laterais, o Chelsea se ressentia da falta de apoio pelos lados. Para tentar compensar isso, os pontas eram os responsáveis por alargar o campo, gerando amplitude.

Nesse sentido, a costumeira linha de cinco na frente no momento com bola, tradicionalmente formada pelos três atacantes e os dois alas, passava a ser composta pelos dois meias mais avançados. Kanté e Mount tinham muita liberdade para agredir a última linha dos Magpies por dentro, tentando gerar desequilíbrio.

(Reprodução: Share My Tatics)

Entretanto, com a primeira linha de cinco defensores, o Newcastle fechava bem os espaços e impedia as ações do Chelsea. Mais do que isso, os visitantes vez ou outra subiam a marcação e dificultavam a saída dos Blues. Assim, os minutos se passavam sem nenhuma chance criada, até que, aos 18, uma roubada de bola no campo de ataque do Newcastle gerou chute de Murphy, embora sem muito perigo.

Quando o relógio já marcava metade da primeira etapa, o Chelsea tinha 75% de posse de bola, mas seguia sem conseguir penetrar na área adversária. Assim, Longstaff e Bruno Guimarães faziam bem a função de cercar os espaços e cortar as linhas de passe entre meio e ataque dos Blues.

(Reprodução: Newcastle United FC)

Perigo em bolas paradas

Se com bola rolando a criação ficava comprometida para ambos os lados, a alternativa passava a ser a bola parada. Dessa forma, aos 27, Ziyech bateu escanteio aberto e Mount, da entrada da área, pegou de primeira, mas sem muito perigo. Quatro minutos mais tarde, Mount voltou a aparecer, dessa vez cobrando falta lateral direto para o gol, mas a bola bateu na rede pelo lado de fora. 

Antes do fim do primeiro tempo, foi a vez do Newcastle levar perigo duas vezes também a partir de bolas paradas. Primeiro, após escanteio, aos 33, quando a bola voltou para Targett e o lateral dos Magpies cruzou para Burn cabecear com perigo. Depois, já aos 46, quando Almirón, da entrada da área, pegou de primeira o rebote de uma cobrança de falta e obrigou Mendy a fazer grande defesa, na principal chance do primeiro tempo.

De volta ao padrão

Com as mesmas peças, mas uma organização diferente, o Chelsea voltou para o segundo tempo com linha de três defensiva. Chalobah passava a ser zagueiro pela direita e compunha o trio com Christensen e Rüdiger. Agora no 3-5-2, Sarr passava a ser o ala pela esquerda e Ziyech o ala pela direita. A trinca de meio-campo permanecia inalterada, enquanto o ataque passava a ter, não mais um trio, mas sim uma dupla, com Werner e Havertz.

(Reprodução: Share My Tatics)

Apesar da mudança tática, quem assustou logo no primeiro minuto foi o Newcastle. Em cobrança rápida de lateral, a defesa do Chelsea bobeou e viu Bruno Guimarães receber livre e arriscar chute perigoso, que Mendy espalmou. 

Com o retorno do sistema de três zagueiros, o Chelsea voltava a ganhar também a participação ofensiva de Rüdiger, já que o alemão passava a ter mais liberdade. E essa importância já apareceu logo aos oito minutos a etapa complementar, quando o zagueiro dos Blues tabelou com Sarr, carregou e invadiu a área adversária. Na sequência fez o cruzamento, que foi cortado pela defesa dos Magpies.

Ainda no plano de subir as linhas para tirar o conforto do Chelsea na saída, a contrapartida dessa postura dos visitantes era a cessão de mais espaços nas costas da defesa. Assim, aos 10, Christensen lançou Werner na profundidade e o alemão saiu cara a cara com o goleiro, mas dominou mal e deixou a bola escapar. 

Aos 17 minutos, ocorreram as duas primeiras trocas no Chelsea: Mount e Werner deram lugar a Mateo Kovacic e Romelu Lukaku. As trocas mantinham a mesma configuração tática, já que Kovacic entrou fazendo função de meia central pela esquerda e Lukaku se juntou a Havertz na frente.

O golaço salvador

Com muitas faltas, o jogo seguia travado. Os minutos passavam e o Newcastle ia se sentindo cada vez mais seguro para adiantar a marcação e incomodar a saída azul. Entretanto, esbarrava no forte sistema defensivo do Chelsea e na pouca efetividade de seu ataque. 

(Reprodução: Chelsea FC)

Foi então que, aos 23, Allan Saint-Maximin, recuperado de lesão, entrou no lugar de Almirón. Principal jogador dos Magpies na temporada, Maximin entrou caindo pela esquerda e foi mais um motivo de preocupação para a defesa dos Blues.

Por outro lado, quem havia entrado bem era Kovacic. O croata aumentou o ritmo da equipe, acelerando com a bola e dando mais dinâmica ao meio-campo. Já aos 31, Kovacic conduziu pela esquerda, girou o jogo para o lado oposto com Kanté, até a bola chegar em Ziyech. Então, o marroquino deu cruzamento primoroso para Havertz, que se projetou bem, mas cabeceou em cima de Dúbravka e desperdiçou boa chance.

Um minuto mais tarde, Maximin conduziu da direita para dentro e serviu Longstaff, que arriscou de fora e a bola subiu demais.

Há pouco mais de 10 minutos do fim do tempo regulamentar, Christian Pulisic entrou na vaga de Sarr para oferecer mais ofensividade pela ala-esquerda.

A maior ofensividade trouxe respostas

Entretanto, o tempo ia passando e o empate parecia cada vez mais inevitável. Foi então que, no minuto 44, Jorginho dominou próximo ao círculo central, ergueu a cabeça e deu lançamento mágico para Havertz na área. Com pouco tempo e já pressionado pelo goleiro, o alemão dominou com o bico da chuteira e bateu rápido, tirando de Dúbravka e balançando as redes. Um golaço para lavar a alma e garantir três pontos.

(Reprodução: IMAGO)

Nos acréscimos, o Newcastle se atirou ao ataque e ainda houve tempo para o Chelsea criar uma grande oportunidade de ampliar o placar. Kanté acionou Havertz que, com campo aberto, conduziu, invadiu a área e bateu na saída de Dúbravka, mas o goleiro dos Magpies tocou na bola, ela beijou o travessão e não entrou.

(Reprodução: BBC)

Destaques individuais

Rüdiger, tradicionalmente se projetando com a bola, e Kanté, sempre dando aceleração no meio, foram pontos positivos. Além disso, a dupla teve papel fundamental para a manutenção da consistência defensiva dos Blues.

Mas, em um jogo tão truncado, no qual o zero a zero estava prestes a se consumar, não haveria como deixar de apontar os autores da pintura, que transformou a história da partida, como os grandes destaques. Jorginho, com o passe perfeito no momento inesperado, e Havertz, com o domínio de craque e a conclusão letal, mudaram um cenário que parecia definido.

(Reprodução: Chelsea FC)

Em suma, para o Chelsea, em meio à todo o noticiário negativo que tem rondado o clube nos últimos dias, a vitória simboliza um momento de tranquilidade. Com o torcedor sem saber o que vai ser do futuro do clube, os jogadores demonstram, em campo, que lutarão pela camisa azul até o fim

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Article by: Marcelo Vilela