Especial: Uma década de glórias – Parte III

Grant ainda como Diretor Técnico dos Blues (Foto: Chelsea FC)
Lampard e Ballack foram destaques da “temporada do quase” (Foto: Getty Images FC)

Como vimos nos dois capítulos anteriores deste especial, Mourinho levou o Chelsea não só a conquistar a tão sonhada Premier League, mas a se consolidar com uma das principais forças da Inglaterra, fazendo dos Blues uma equipe temida, que não deixava uma temporada sem levar troféus para casa.

Foram dois Campeonatos Ingleses, duas Copas da Liga, uma Copa da Inglaterra e uma Community Shield, sob o comando do português. Porém, o que todos imaginavam que seria uma parceria eterna, sucumbiu à má relação do treinador com o proprietário do clube, Roman Abramovich. José Mourinho deixou o Chelsea em setembro de 2007, ainda no inicio daquela temporada.

Com o mercado de transferências terminado, vinte dias antes, e com a temporada já em curso, nenhum treinador de grande porte se encontrava no mercado, àquela época. Muito se especulou sobre o Chelsea tirar um técnico renomado de algum grande clube europeu, ou até mesmo de alguma Seleção, mas isto parecia improvável. Alguns torcedores e jornalistas mais esperançosos chegaram a vincular a notícia de que Mourinho faria as pazes com Abramovich, retornando assim ao comando dos Blues.

Mas, como dito, sem muitas opções no mercado de treinadores, o Chelsea acabou optando por uma opção caseira e um tanto peculiar: Avram Grant, recém chegado aos Blues para ocupar a cadeira de Diretor Técnico da equipe, vindo do mesmo cargo a frente do Portsmouth.

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Grant ainda como Diretor Técnico dos Blues (Foto: Chelsea FC)

Grant possuía vasta carreira como treinador em Israel, conquistando por lá vários títulos e chegando, inclusive, a treinar a Seleção Israelense por quatro anos. Porém, seu currículo era considerado menor para que ele fosse capaz de comandar uma equipe do porte do Chelsea ao sucesso, ainda mais com os problemas de relacionamento e de escalação que se vinculava na imprensa na época. Dizia-se que o Chelsea tinha muitas estrelas desnecessárias, que atrapalhavam o desempenho da equipe em campo.

Em meios a todas estas dúvidas, imaginou-se que Grant seria mais obediente a seu chefe russo, colocando Shevchenko e Ballack em campo, em detrimento de jogadores preferidos por Mourinho, como Joe Cole, Salomon Kalou e Claude Makélélé.

Porém, o israelense acabou por optar por um esquema tático parecido com o que Mourinho utilizava. E esta foi a tônica do período de Grant no comando do Chelsea: não fazer grandes mudanças no time e no esquema tático que o antecedeu. Ele mais seguiu a cartilha de funcionamento do time sob o comando do português do que imprimiu um estilo próprio de jogo.

Sheva continuou fora do time, com Drogba compondo o ataque com Joe Cole e Kalou na primeira parte da temporada, enquanto Ballack e Makélélé revezaram vaga no meio de campo, com Essien e Lampard intocados. Com esta formação, Lampard novamente tinha liberdade para ser o criador, o armador, da equipe, além de poder subir constantemente ao ataque, o que fez dele novamente artilheiro da equipe na temporada, desta vez com 20 gols. Drogba não repetiu o brilhantismo da temporada anterior, mas conseguiu 15 tentos. Kalou marcou 11 gols e fechou a trinca de artilheiros da equipe.

Lampard e Drogba foram os artilheiros dos Blues na temporada (Foto: Reuters)
Lampard e Drogba foram os artilheiros dos Blues na temporada (Foto: Reuters)

E apesar de um começo nada promissor do treinador, com uma derrota para o rival Manchester United e um empate em casa ante o médio Fulham, o Chelsea de Grant conseguiu emplacar 12 vitórias nos 15 jogos seguintes, passando assim, a disputar diretamente o título inglês. Destaque para a goleada por 6-0 ante o Manchester City, em Stamford Bridge.

Porém nos grandes jogos, contra rivais diretos, o Chelsea sofreu na primeira metade da temporada, perdendo para o United, para o Arsenal e arrancando apenas um empate contra o Liverpool.

Com a chegada da chamada “janela de transferências de inverno”, no fim do ano, o Chelsea foi atrás de novas contratações, e trouxe dois jogadores que viriam a ser fundamentais para o time em anos futuros: Nicolas Anelka e Branislav Ivanovic.

Ivanovic chegou desconhecido em 2008 e hoje é um grande ídolo (Foto: Chelsea FC)
Ivanovic chegou desconhecido em 2008 e hoje é um grande ídolo (Foto: Chelsea FC)

Enquanto o primeiro já era um jogador rodado e experiente, com passagens por Arsenal e Real Madrid, o segundo era apenas um jovem, forte, e promissor defensor sérvio, que havia demonstrado boas atuações no futebol russo. Juntos, os dois custaram cerca de 25 milhões de libras.

Com a adição do francês Anelka, o ataque do Chelsea ficou ainda mais poderoso e a equipe conseguiu, no segundo turno, demonstrar a força que não tinha contra os grandes rivais, conseguindo vitórias contra Arsenal e Manchester United, ambas por 2-1.

Anelka foi contratado no período Grant e formou dupla de ataque com Drogba (Foto: Getty Images)
Anelka foi contratado no período Grant e formou dupla de ataque com Drogba (Foto: Getty Images)

Na Champions League, o time que parecia desacreditado no início da temporada, foi escalando degrau a degrau, vencendo Olympiacos e Fenerbahçe, nas oitavas e quartas de final, respectivamente. O confronto contra o turcos foi, inclusive, um dos momentos mais emocionantes da temporada.

Depois de perder por 2-1 em Istanbul, o Chelsea saiu à frente em Londres com apenas quatro minutos de jogo, dando esperança de que seria uma noite tranquila para os Blues. Porém, após o gol de Ballack, o jogo ficou amarrado e tenso, com a equipe de Grant não conseguindo o gol preciso para a classificação. Parecia que novamente o Chelsea sucumbiria na Europa.

Porém, aos 41 do segundo tempo, Lampard fez o segundo gol e os Blues passaram às semifinais da UCL, desbancando um bom Fenerbahçe, dos conhecidos do público brasileiro Alex, Edu Dracena, Deivid e Maldonado, que foram base do time do Cruzeiro campeão brasileiro de 2003.

E, novamente, o oponente na penúltima fase da Champions foi o rival local Liverpool, que desbancou os Blues três anos antes, nesta mesma fase, com aquele famoso gol de Luís Garcia. Entretanto, desta vez a história foi diferente, apesar de o equilíbrio nos confrontos ter se mantido.

Após dois anos, Chelsea e Liverpool voltaram a se enfrentar numa semi final de UCL (Foto: Getty Images)
Após dois anos, Chelsea e Liverpool voltaram a se enfrentar numa semifinal de UCL (Foto: Getty Images)

No primeiro jogo, em Anfield, 1-1, com um gol contra do Liverpool aos 50 do segundo tempo, em cruzamento de Kalou, que mirava Anelka na área. No segundo jogo, em Londres, novo empate por 1-1, gols de Didier Drogba e do então matador sensação Fernando Torres. E o confronto foi para a prorrogação. Jogo tenso.

Nos trinta minutos que definiriam o finalista da Champions League em Moscou, o Chelsea levou a melhor. Ballack sofreu pênalti e Lampard converteu, com 8 minutos do primeiro tempo da prorrogação. Sete minutos depois, Drogba marcou o gol que garantiria o Chelsea na final pela primeira vez em sua história, depois de belo passe do recém-chegado Anelka, que veio do banco. Babel ainda diminuiu para o Liverpool em belo chute de longe, mas não foi o suficiente para parar o Chelsea de disputar sua primeira Champions League, na Rússia, contra outra rival inglês, o Manchester United.

Enquanto isso, na Premier League, o Chelsea também disputava o troféu de forma intensa, ainda mais após uma vitória sobre o Manchester United, em Stamford Bridge, deixando ambos empatados em pontos. E foi assim que chegaram a última rodada, com 84 pontos cada.

O Chelsea precisava de uma vitória ante o Bolton, além de torcer para um empate ou derrota do Manchester contra o Wigan, para se sagrar campeão inglês. Isto porque os rivais possuíam uma vitória a mais na competição.

Não foi o que aconteceu. O Manchester não perdeu pontos, e tampouco o Chelsea fez sua parte. Pelo segundo ano consecutivo os Blues terminavam em segundo no campeonato inglês, e desta vez apenas dois pontos atrás dos campeões.

E o empate na ultima rodada, frente ao Bolton, foi a tônica da temporada. O Chelsea concedeu muitos empates contra times considerados pequenos, o que acabou custando o título. Fulham, Blackburn, Aston Villa, Wigan, Bolton, foram alguns deles. Apenas uma vitória em um destes confrontos daria o título inglês a Avram Grant e seus comandados. Foi um triste fim para os Blues no Campeonato Inglês, mas para muitos, merecido, devido exatamente a esta falta de foco e de disposição em jogos menores. Para a imprensa inglesa era a marca de um time recheado de estrelas, a exemplo dos “galáticos de Madrid”.

Por dois pontos o Chelsea não ganhou a Premier League 2007/2008 (Foto: Getty Images)
Por dois pontos o Chelsea não ganhou a Premier League 2007/2008 (Foto: Getty Images)

Se aquele 11 de maio de 2008, dia em que os Blues perderam a Premier League, foi um dia trágico, a revanche se mostrava possível, exatamente dez dias depois, em Moscou, contra o mesmo Manchester United, que tirou dos Blues o titulo inglês. Porém, aquela noite chuvosa, de 21 de maio, seria, talvez, a pagina mais triste e melancólica da história recente dos Blues.

Times perfilados na terra de Abramovich. De um lado, os Red Devils de Cristiano Ronaldo, de outro os azuis de Didier Drogba. Ambos foram decisivos para o jogo, mas de uma forma que ninguém esperava.

Ronaldo abriu o placar para o United, de cabeça, em subida que lhe ficou característica de cabeça. Ninguém o marcou de perto. 1-0 para os rivais, que se mostravam mais perigosos. Carlos Tévez teve a chance de ampliar, mas Petr Cech fez defesa milagrosa. No rebote, Carrick também quase marcou, mas Cech estava lá novamente. Tevez ainda perdeu chance clara, chegando atrasado na bola.

Após chute de Essien, de fora da área, a defesa do United se atrapalhou e a bola sobrou para Lampard, que empurrou para o fundo das redes. O sonho voltava a ser possível. Pouco depois o próprio camisa 8 acertou o travessão. Talvez fosse o gol que daria o título aos londrinos pela primeira vez. Ryan Giggs também teve chance clara e Terry salvou milagrosamente. Àquela altura, pela bola salva de cabeça, foi dado ao zagueiro o posto de herói salvador.

Time titular da final da Champions League em Moscou (Foto: Getty Images)
Time titular da final da Champions League em Moscou (Foto: Getty Images)

O jogo foi para a prorrogação, e continuava tenso. Terry, já no segundo tempo do tempo extra, entrou em confusão com o argetino Tevez e uma briga generalizada se formou. Drogba, por agressão à Vidic, que para muitos também merecia a expulsão, acabou expulso. E se contra o Bayern de Munique o seu pé foi que bateu o pênalti do titulo, quatro anos antes foi o que faltou.

A disputa foi para as penalidades máximas e o herói vermelho Ronaldo, perdeu a terceira cobrança, e chorou. Os corações azuis batiam mais forte. Seria a taça se aproximando de Londres? Fora o português, todos acertaram até a quinta cobrança, pelo United. Pelo Chelsea, todos os quatro primeiros haviam acertado suas cobranças. Ballack, Belletti, Lampard e Ashley Cole. O quinto chute talvez fosse dele, o herói dos grandes jogos, o decisivo, o frio, Didier Drogba, mas foi do capitão John Terry.

Sobre um campo molhado, Terry correu, escorregou, bateu, e a bola foi na trave. Um silencio tomou conta de todos os torcedores do Chelsea ao redor do mundo. A imagem de John Terry sentado no gramado, com as mãos sobre o rosto, é uma imagem que fez rolar lágrimas. Logo ele, cria dos Blues. O mundo desabava em torno do ídolo e líder do elenco. Um tropeço, ou escorregão, do destino. Se a bola fosse às redes, o titulo seria nosso…

Na sétima cobrança, Giggs mandou para dentro e Anelka, batendo mal, de forma considerada displicente por muitos na mídia inglesa, mandou nas mãos de van der Sar. Ia-se embora o sonho europeu, que esteve tão perto, quase palpável as mãos. Uma noite triste em Moscou, que blue nenhum será capaz de esquecer. O sonho havia se esvaído, a esperança se foi num tropeço. Ronaldo voltou a sorrir e foi o melhor do mundo naquele ano. Já os torcedores do Chelsea não voltariam a sorrir tão facilmente, ficou uma ferida que só se curaria quatro anos mais tarde.

A desolação de Terry após o pênalti perdido foi uma das páginas mais tristes da história dos Blues (Foto: Reuters)
A desolação de Terry após o pênalti perdido foi uma das páginas mais tristes da história dos Blues (Foto: Reuters)
Após a cobrança de Anelka, nenhum blue era capaz de acreditar no que via (Foto: Reuters)
Após a cobrança de Anelka, nenhum blue era capaz de acreditar no que via (Foto: Reuters)

E o trágico 21 de maio não foi a única final do Chelsea na temporada. Em fevereiro, o Chelsea havia chegado à final da Copa da Liga e teve a chance de ganhá-la pela terceira vez em quatro anos. O Chelsea era favorito contra o médio Tottenham, mas perdeu 2-1, de virada, com gol dos rivais londrinos no último minuto. Foi apenas a primeira tristeza da chamada “temporada do quase”.

O time considerado desacreditado, que para muitos iria a lugar nenhum sem Mourinho, foi competitivo, mas saiu pela primeira temporada em quatro anos sem nenhuma taça. Avram Grant, apesar de levar o time a final da Champions, foi demitido.

Com tantas derrotas na temporada, com tantos “quases” na bagagem ao fim da campanha, o Chelsea precisava de uma mudança, de um comandante a sua altura. E, vindo da Seleção de Portugal, chegava para temporada seguinte, o primeiro, e único até agora, treinador brasileiro da história dos Blues. Um respeitado Luís Felipe Scolari. Mas isso é assunto para o próximo capítulo.

Category: Conteúdos Especiais

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Article by: Chelsea Brasil

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