Especial: Uma década de glórias – Parte I

Mourinho, Terry e Lampard, símbolos de uma década de glórias (Foto: Reuters)
Gudjohnsen, Lampard, Mourinho e Terry: o início de uma década de glórias (Foto: Reuters)

Se o Chelsea é a instituição que é atualmente, muito se deve ao que as equipes montadas e aos títulos conquistados nos dez primeiros anos da “Era Abramovich” representam. Apesar de que muitos não saibam ou neguem, os Blues possuem uma linda história mesmo antes desse período – que inclusive também será tema de um Especial aqui no site nos próximos meses. Mas é impossível negar que a década em questão, que foi de imenso sucesso, elevou o time ao patamar de potência europeia.

Por isso, o Chelsea Brasil resolveu fazer uma série de matérias especiais sobre esta “década de ouro.” Este Especial que se inicia terá quatro capítulos, toda quinta-feira, e contará a história dos principais jogadores e times montados desde que Roman Abramovich comprou o time em junho de 2003, passando pelos times campeões ingleses, o título da Champions League e chegando até a conquista da Europa League, em 2013. Jogadores como Didier Drogba, Frank Lampard, John Terry, Michael Ballack, Ashley Cole, Arjen Robbe, Claude Makélélé, Joe Cole, Petr Cech e muitos outros serão nomes que ilustrarão esta década de títulos e sucesso.

O primeiro capítulo, que hoje lhes apresento, conta a história da primeira equipe vencedora dessa nova etapa na vida do clube: a que conquistou o campeonato nacional e a Copas da Liga; e que serviu de base para o time que depois venceu outra vez a Premier League e a Copa da Liga, uma Copa da Inglaterra e a Community  Shield; nas temporadas seguintes.

Este período coincide com o primeiro ano de José Mourinho pelos Blues e inaugurou uma era de sucesso, mas começou a ser planejada um ano antes, ainda sob o comando do treinador italiano Claudio Ranieri, na primeira janela de transferências sob a batuta de Abramovich.

O Chelsea de Ranieri foi atrás não só de nomes consagrados, mas também de jovens talentos, que, por fim, se mostraram mais frutíferos ao clube do que os veteranos. Entre os grandes craques  contratados estavam o argentino Juan Sebastián Veron, Hernán Crespo e Claude Makelélé, que deixou os galácticos do Real Madrid para se juntar ao novo projeto dos Blues. Já entre os jovens talentos estavam Joe Cole, Wayne Bridge e Damien Duff.

O inicio da Era Abramovich foi marcado pela contratação de jovens talentos e grandes estrelas (Foto: Chelsea FC)
O início da Era Abramovich foi marcado pela contratação de jovens talentos e grandes estrelas (Foto: Chelsea FC)

Com a nova equipe formada, o Chelsea terminou com o vice-campeonato inglês. Mas não foi suficiente para Abramovich, que queria logo um título da Premier League e, para isso, trouxe para a temporada 2004/2005 o então promissor e já vencedor técnico português José Mourinho. A chegada daquele que veio a ser rotulado mais tarde de Special One, foi, talvez, o ponto determinante nesta história de glórias que viria dali para frente.

Mourinho trouxe consigo, antes de qualquer coisa, uma mentalidade vencedora e um espirito competitivo, que faltava ao Chelsea da temporada anterior, além de Paulo Ferreira e Ricardo Carvalho; é claro!

O treinador fez mudanças significativas no elenco, liberando os craques argentinos Crespo e Verón por empréstimo e passando a utilizar mais os jovens jogadores que o elenco já possuía. E foi a partir do que o próprio elenco já oferecia que Mou formou a estrutura de sua equipe, com jogadores como Frank Lampard, John Terry, William Gallas, Joe Cole, Damien Duff e Eidur Gudjohnsen.

E mesmo que eles formassem uma boa base para uma equipe vencedora, Mourinho sabia que era preciso mais. Era preciso tornar o grupo mais forte, tanto na defesa quanto no ataque. Para proteger o gol, ele trouxe os já citados portugueses Ferreira e Carvalho, além do jovem volante Tiago. Também foi contratado um jovem e então desconhecido goleiro, Petr Cech, que chegava para ser reserva do inapelável Cudicini, eleito um dos melhores goleiros da temporada anterior.

Para o ataque, Mourinho precisava de qualidade, velocidade e decisão, principalmente para colocar em prática o esquema tático que vislumbrava para a equipe: o 4-3-3. E as adições para o setor foram simplesmente Arjen Robben e Didier Drogba. Enquanto o primeiro chegou e logo foi entrando na equipe e causando impacto, o segundo engrenou aos poucos e foi reserva durante boa parte de sua primeira temporada, mas foi decisivo em muitos momentos, oferecendo um prelúdio de sua incrível história no clube.

Durante toda a temporada, a equipe se mostrou bastante sólida defensivamente, com um quarteto formado pelos zagueiros Carvalho e Terry, que para muitos na Inglaterra era uma dupla perfeita; e pelos laterais Ferreira e Gallas, na direita e esquerda, respectivamente. Ambos os laterais se destacavam pela marcação e foram fundamentais para que o Chelsea fosse a defesa menos vazada do campeonato inglês, com apenas 15 gols sofridos em 38 jogos, uma marca histórica na Premier League. Wayne Bridge ocasionalmente atuava pelo flanco esquerdo, mantendo o nível da equipe.

John Terry e Ricardo Carvalho, uma das melhores duplas de zaga da história dos Blues (Foto: Action Images)
John Terry e Ricardo Carvalho, uma das melhores duplas de zaga da história dos Blues (Foto: Action Images)

Muito do poder defensivo do Chelsea deve ser atribuído também a um grande ídolo: Petr Cech. O goleiro tcheco conseguiu convencer Mourinho de sua capacidade e foi titular durante toda a temporada, apesar das desconfianças da imprensa e torcida, que clamavam pelo italiano Cudicini, que já vinha como titular há algumas temporadas no gol dos Blues. Mas Cech não só se mostrou seguro, como deu provas suficientes de que era um dos melhores goleiros da Europa. Não por menos pode ser considerado um dos grandes nomes da história dos Leões de Londres.

Apesar de oficialmente a equipe compor um 4-3-3, na prática o que víamos em campo era um moderno e a frente de seu tempo 4-2-3-1, esquema favorito dos atuais treinadores e que naquela época já era utilizado por Mourinho, sinal claro do brilhantismo e da capacidade tática do português, que, com esta equipe, conseguiu ditar tendência anos ates deste sistema se tornar tão famoso e repetido.

E a equipe se comportava assim pois se na teoria Frank Lampard era um volante, na prática ele era um meia que ora avançava para atacar pelo centro, ora recuava para compor o meio com os volantes de fato, Makélélé e Tiago. Super Frank foi liberado por Mourinho para exercer sua capacidade de passe e sua vocação ofensiva –não a toa é o principal artilheiro da história dos Blues.

Makélélé e Lampard, pilares do meio de campo do Chelsea (Foto: Alex Livesey/Getty Images)
Makélélé e Lampard, pilares do meio de campo do Chelsea que faturou a segunda Premier League de sua história (Foto: Alex Livesey/Getty Images)

Com isso, Lampard, quando o Chelsea tinha a posse de bola, se juntava aos ótimos wingers Duff, Cole e Robben, que revezavam duas vagas na equipe, e jogavam pelos lados do campo, na armação das jogadas e nas finalizações. O centro do ataque era composto por Gudjohnsen ou ocasionalmente por Drogba, sendo que ambos fizeram boa temporada e contribuíram para o sucesso do time, tendo cada um marcado 16 gols na Premier League. O artilheiro do time foi o próprio Lampard, com 19 gols.

Robben, Duff e Cole eram jogadores rápidos, que imprimiam velocidade, habilidade e precisão nas jogadas ofensivas do time, principalmente nas transições rápidas de contra-ataques, marca registrada de Mourinho. Ocupando bem os espaços no ataque, principalmente pelas laterais, eles trocavam de posição e sempre voltavam quando o time perdia a bola, compondo a marcação pelos lados do campo, como fazem os wingers de hoje em dia. Todos os três eram bons finalizadores, por isso se revezavam em entradas na área como elemento surpresa, além de oferecerem chutes de fora da área. Robben, por sinal, que é conhecido pelas jogadas em que carrega a bola da lateral para o centro e finaliza, já o fazia em Londres e dava seus lampejos de craque com a camisa azul.

Robben e Duff faziam um inferno nas defesas adversárias (Foto: Chelsea FC)
Robben e Duff faziam um inferno nas defesas adversárias (Foto: Chelsea FC)

Lampard era o maestro da equipe, jogando como o famoso box-to-box, mas sendo capaz de oferecer mais ao time; sendo em muitos instantes do jogo um clássico armador e até em outros, mesmo um matador. Sua qualidade de passe, seus lançamentos precisos e sua capacidade de carregar a equipe da defesa ao ataque foram o pilar principal do Chelsea naquela temporada e em outras várias que viriam.

Um dos pontos altos da temporada foi na Champions League, em que Chelsea e Barcelona realizaram jogo épico em Stamford Bridge. Os Blues venciam por 3×0 ainda com 19 minutos de jogo. Gols de Gudjohnsen, Lampard e Duff.

Aquele que seria eleito naquele ano o melhor do mundo, Ronaldinho Gaúcho, diminuiu com dois gols, ainda no primeiro tempo. Mas Terry fez mais um e garantiu a vitória dos comandados de Mourinho. Posteriormente, a imprensa britânica descreveu o início do Chelsea na partida como “os melhores 20 minutos da história do futebol inglês”.

Terry fez o quarto gol contra o Barcelona (Foto: Getty Images)
Terry fez o quarto gol contra o Barcelona, pela Champions League, em 2004 (Foto: Getty Images)

A equipe, ao final da primeira temporada de Mourinho, terminou com incríveis 29 vitórias, 8 empates e apenas uma derrota, em 38 partidas pelo campeonato inglês. Título mais que merecido: o Chelsea chegou a marca dos 95 pontos na Premier League, 12 a mais que o segundo colocado.

Na Champions League, o lado azul de Londres foi até as semifinais, sendo eliminados pelo Liverpool com um gol de Luiz Garcia que até hoje não se sabe se a bola entrou ou não. Até hoje, Mourinho garante que esse gol foi a grande injustiça de sua carreira.

Além da Premier League, os Blues faturaram a Copa da Liga, em jogo emocionante contra o mesmo Liverpool na final, que terminou com vitória em 3-2 na prorrogação, depois de um 1-1 no tempo normal. O jogo contou com gol do ídolo Drogba, aos 107 minutos, mostrando a decisão em grandes jogos que viria a ser uma de suas marcas com o manto azul.

Os titulas do título inglês (Foto: ESPN)
Os titulares do título inglês da temporada 2004/2005 (Montagem: ESPN)

A equipe da temporada 2004/2005 foi um grupo vitorioso, que jogou um futebol competitivo e equilibrado. Mas foi mais que isso, foi uma equipe que inaugurou uma era na história do Chelsea e do futebol inglês. E para o futuro, ela guardou ainda mais, pois a base desta equipe durou dez anos nos Blues e conquistou tudo o que podia.

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Article by: Chelsea Brasil

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