Após muita especulação, no início desta semana o Chelsea anunciou que Antonio Conte será seu comandante a partir da próxima temporada. Tal escolha dividiu opiniões e há boas razões para justificar, tanto o ponto de vista positivo quanto o negativo da opção do clube londrino.
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Antonio Conte é uma boa?
Antonio Conte é a bola da vez em Stamford Bridge. Contratado pelas próximas três temporadas, o pragmático treinador ex-Juventus e a partir de junho ex-seleção italiana, tem na minha opinião, o que precisa o Chelsea agora. O começo de uma reforma.
Quem acompanha o futebol italiano há algumas temporadas sabe do que estou falando. Conte foi o principal responsável pelo futebol que é praticado pela Juventus até os dias de hoje. Mesmo tendo deixado a Velha Senhora para rumar à seleção de seu país, o time de Turim segue praticando o mesmo estilo com Massimiliano Allegri no comando.
A temporada 2016/17 não será o ano a qual estamos acostumados. Muito pelo contrário, será um de vacas magras. Sem competições europeias no calendário pela primeira vez desde que Roman Abramovich comprou o clube, os Blues precisarão de alguém que recoloque o trem nos trilhos. E quem melhor do que Conte para tal?
Já sabemos de sua capacidade para juntar os cacos e buscar resultados. Pode parecer ruim para quem pensa que o Chelsea seguirá sem praticar um futebol vistoso por algum tempo, mas é a hora de caminhar a um passo de cada vez. Vencer nossos jogos no próximo ano, conquistar quem sabe, algum título (Premier League, Copa da Liga ou FA Cup) e voltar a usar o distintivo da UEFA nas mangas das camisas a partir de 2017/18.
Conte também lembra muito um ídolo eterno do Chelsea. Apelidado de “José Mourinho italiano” por sua compulsão em vencer, o treinador pode não agradar alguns jogadores no vestiário, como aconteceu com o próprio Mourinho. No entanto, essa será uma ‘vitória’ sobre esses mesmos atletas. Michael Emenalo pode ter pensado ao assinar com o técnico: “Vocês querem jogar para derrubar o Mourinho? Ok, então vou contratar alguém parecido com ele.”
Outro ponto, Conte pela primeira vez treinará um clube de fora da Itália. O estilo de jogo na Serie A e Premier League são totalmente diferentes, é verdade. Com isso, o técnico terá um novo desafio na carreira dele. Oportunidade para ampliar seu repertório tático, mudar a imagem que a mídia (e ele próprio) criaram de si. Conhecido por usufruir do 3-5-2 e 5-3-2, ele provavelmente sabe que na Inglaterra, precisará inovar, e não se prenderá nesses esquemas. Além disso, quando precisarmos de variações táticas dentro de uma partida, Conte pode recorrer a essas formações que tanto conhece.
Por fim, os reforços que podem chegar junto com ele. Conte está preparado para se livrar de alguns atletas no elenco atual dos Blues e trazer jogadores com quem já trabalhou e que conhecem seu estilo. E por que não, pensar que ele pode trabalhar com a base do Chelsea? Todos nós torcedores sempre criamos expectativas com novos managers que aparecem em Stamford Bridge acerca dessa questão. Então por que não ter esperanças que o italiano seria essa pessoa?
Vinícius Paráboa é colunista do Chelsea Brasil
Antonio Conte não é uma boa?
Antonio Conte certamente é um nome de impacto. O treinador teve grande sucesso em seu último clube, a Juventus, pelo qual conquistou três campeonatos italianos seguidos e reergueu a Velha Senhora à dominância nacional. Contudo, Conte não é conhecido por implantar um futebol versátil, muito menos um futebol moderno, dinâmico e envolvente. Pelo contrário: o italiano é adepto de um futebol de resultado, por assim dizer, da escola típica italiana.
Defesas sólidas são priorizadas. Construção do time baseado primeiro na solidez da marcação e só depois buscar os resultados, geralmente por curtas margens no placar, a partir do erro dos outros. Seus times têm jogadores com posições e funções rígidas e definidas. Times de especialistas. Muito bem organizados e táticos, mas pragmáticos. Não à toa Conte é treinador da Seleção Italiana, que é a representação máxima deste estilo de jogo.
Suas estratégias defensivas e bem definidas, são válidas em vários momentos e demonstraram ter sucesso na Itália. Entretanto, assistindo a Premier League nos últimos anos, ficou claro que este estilo de jogo vem cada vez mais perdendo espaço. Até mesmo os pequenos times, que antes se apegavam a um futebol pragmático para se manter na elite inglesa, agora começam a deixar de lado este estilo e apostar em um futebol de, pelo menos, mais recursos do que a marcação e chutão. A Premier League como um todo tem evoluído para um jogo de velocidade, intensidade e qualidade; o que faz com que o estilo aplicado por Conte em seu trabalho possa não encontrar solo fértil na Inglaterra.
Vale ressaltar também que as táticas adotadas por Conte, como um 3-5-2 que na prática era mais um 5-3-2, com três zagueiros e dois laterais em campo, funcionaram muito bem no futebol italiano, onde o nível do campeonato é fraquíssimo e a maioria das equipes são extremamente frágeis, possibilitando que qualquer equipe mais organizada e com nomes de maior impacto, como a Juve de Conte, tenha sucesso na Velha Bota.
Na Inglaterra, contudo, o nível das competições domésticas é extremamente alto, com equipes da segunda divisão, por exemplo, desbancando outras da elite em Copas. E veja bem, a Juventus de Conte, contra adversários medíocres na Itália, ganhava a maioria dos jogos por placares mínimos, vencendo mais na organização defensiva e superioridade óbvia de nomes do que realmente por uma dominância em campo.
Ainda mais no pelotão de cima da Premier League um treinador com tais características poderá encontrar dificuldades, já que temos times hoje adotando padrões de jogos variáveis, de controle da bola, e com características mais modernas e vistosas. E olha que a partir da próxima temporada ainda teremos Pep Guardiola no cenário. E mesmo contra os pequenos, o pragmatismo de jogo pode ser a pior arma, já que com o nível da atual Premier League, nenhum adversário é frágil o suficiente para se apostar sempre apenas em seus erros, como são as equipes de Conte, que praticamente não tomam iniciativa, vencendo partidas em falhas adversárias
Já ficou provado que o pragmatismo tático não funciona bem, principalmente quando perdemos a PL 2013/2014 exatamente por não conseguir vencer adversários fechados. E porque não conseguíamos vencê-los? Porque como um time pragmático e com a defesa priorizada vai conseguir ter iniciativa do jogo e envolver o adversário que está acuado protegendo a própria área? O Chelsea campeão da temporada passada levou a taça mais pelos primeiros seis meses de um futebol bem jogado do que pelo pragmatismo da segunda metade da competição.
A experiência Mourinho mostrou em vários momentos que o defeito do Chelsea sob seu comando era vencer os pequenos mais do que os grandes. Porque contra os maiores rivais, que tomam iniciativa e buscam o jogo, ter um futebol de marcação e saídas nos erros dos adversários funciona bem. Mas contra times menores acabou revelando-se um fracasso em várias oportunidades, pela incapacidade tática da equipe em romper defesas bem postadas. Então, ter um treinador que pensa o jogo exatamente assim, no atual cenário da Premier League, pode significar para o Chelsea passar pelas mesmas dificuldades que Mourinho teve em grande parte de sua última trajetória e que Guus Hiddink tem tido também em vários jogos de sua segunda passagem pelo clube.
Uma questão interessante a se notar também é o desejo constante da diretoria e dos torcedores dos Blues em ver um futebol vistoso e ofensivo, algo que não temos desde a primeira temporada de Carlo Ancelotti e que nos últimos treze anos de “Era Abramovich” praticamente não se viu em Stamford Bridge, apesar de sempre ter sido um dos objetivos do russo no controle da equipe. Neste sentido, a contratação de Conte é a garantia de que por pelo menos mais alguns anos não teremos esta filosofia implantada nos azuis de Londres. O italiano é exatamente a antítese de um futebol bem jogado, de toque de bola, movimentação, aproximação e controle.
Outra dúvida que se levanta é o fato de que Conte não teve, em nenhum momento, sucesso em âmbito europeu. Em sua primeira temporada com a Juventus, a equipe não disputou competições europeias. Mas nas duas seguintes, últimas de Conte no comando técnico, a Juve foi eliminada, respectivamente nas quartas-de-final, sem oferecer resistência alguma para o Bayern de Munique e, na última, 2013/2014, caiu ainda na fase de grupos do torneio, algo vergonhoso para uma equipe que já era àquela altura duas vezes campeã italiana em sequencia. E para piorar, a Juventus deixou de classificar em um grupo que o fraco Galatasaray foi segundo colocado. E o principal motivo pelo qual isto aconteceu foi o fato de que o estilo de futebol engessado de Conte, que pode até dar certo no fraco futebol italiano, não funciona com a mesma eficiência em âmbito europeu, onde a exigência técnica e tática tem sido cada vez maior.
E não é que a equipe da Juventus fosse fraca. Ela foi novamente campeã italiana com sobras nesta temporada, com elenco contando com nomes como Carlos Tevez, Arturo Vidal, Andrea Pirlo, Andrea Barzagli, Leonardo Bonucci, Claudio Marchisio, etc. Além disso, não foi uma eliminação em um mata-mata em que o time teve má sorte. A eliminação ocorreu numa frase de grupos com seis partidas, em que a equipe de Conte conseguiu somar apenas seis pontos.
Ou seja, a não ser que Conte passe a adotar um estilo de jogo bem diferente do seu habitual na Premier League, teremos em campo na próxima temporada um time com sistema de jogo engessado e pragmático que pouco combina com a evolução recente do torneio e que mais do que nunca tem deixado de fazer sucesso em âmbito europeu.
Pode até ser que haja um impacto positivo em relação ao que vemos nesta temporada, que é a mais desorganizada e infrutífera das últimas décadas, mas em relação ao nível esperado que o Chelsea demonstre em campo, a contratação de Antonio Conte não parece ser a mais adequada para que o clube possa dar um passo seguinte em direção a a apresentar um futebol que dê gosto de ver e realmente disputar títulos em todos os níveis, como nós todos esperamos.
Márcio Canedo é redator do Chelsea Brasil
As palavras contidas nessa reportagem condizem à opinião do autor, não tendo qualquer relação com o Chelsea Brasil.