Dois Lados: A Contratação de Alexandre Pato

Nos últimos dias, o Chelsea confirmou a contratação do atacante brasileiro Alexandre Pato, por empréstimo até o final da temporada, com opção de fechar em definitivo com o jogador. Diante disso, muitas opiniões se formaram, tanto favoráveis quando depreciativas, e este debate chegou ao Chelsea Brasil. Assim, o quadro Dois Lados volta a entrar em ação, confrontando diferentes entendimentos acerca do negócio. De um lado, Márcio Canedo e Gabriel Belo acreditam em acerto no negócio; do outro Lucas Sanches e Murilo César duvidam da qualidade do mesmo.

A contratação foi um acerto

A contratação de Alexandre Pato levanta, sim, certas dúvidas no torcedor, principalmente para aqueles que sonham com nomes de impacto e já em grande nível na Europa. Contudo, sou otimista quanto a chegada do atacante brasileiro, que parece, enfim, ter voltado à velha forma técnica que o colocou como um dos principais atacantes do mundo há alguns anos.

Durante sua passagem no Milan, ninguém duvidou de sua capacidade técnica, pelo contrário, o atacante era daqueles que esbanjavam elegância em campo. Sua evolução foi freada não por maus desempenhos, mas sim por sucessivas lesões que, desde cedo, o acompanharam. Uma passagem após a outra pelo famoso departamento médico atrapalharam seus passos para se tornar uma das grandes estrelas do futebol mundial atual. Técnica e inteligência em campo nunca faltaram, mas em suas duas últimas temporadas no Milan, Pato disputou apenas 24 partidas de mais de 120 possíveis, devido a lesões.

Seu retorno ao Brasil foi uma surpresa em todos os aspectos mas serviu bem para que ele recuperasse seu aspecto físico. Pato recuperou a forma física e praticamente não se lesionou em suas três temporadas por aqui. Contudo, ainda pairava a dúvida sobre seu empenho em campo: o atacante passou a ser conhecido como alguém que tinha pouca dedicação em campo, como um jogador desligado, pouco motivado.

E este é um ponto que acredito ser o que faltava para seu retorno ao melhor nível, voltar a Europa. Ele sempre teve esta motivação e, agora tendo uma chance no Chelsea, acredito que veremos um Alexandre Pato extremamente motivado e dedicado, já que este empréstimo de seis meses pode representar a última grande chance em sua carreira de sobressair na Europa. E pelas seguidas declarações de que era seu sonho retornar ao Velho Continente, acredito em um jogador bem mais presente e ligado nas partidas e no treinamento.

E com Pato motivado em campo, ele tem tudo para brilhar no Chelsea, já que todos os problemas que o acompanharam nos últimos anos parecem, com isso, superados. Sem lesões e motivado, o fator técnico pode novamente sobressair e, neste quesito, não dá pra negar que ele esteja em um nível diferenciado se comparado com a média dos atacantes da Premier League e do Chelsea.

Na temporada passada, pelo São Paulo, por exemplo, Pato marcou 26 gols e 59 jogos, um ótimo número para um jogador que recebe tantas críticas por suas atuações e que passou a jogar mais fora da área, dividindo o papel no ataque com jogadores como Luís Fabiano e Alan Kardec. Além do mais, outro número vale atenção: foram 11 assistências no ano, provando que Pato aprendeu também um papel tático importante em sua passagem no Brasil. Somados, foram 37 tentos marcados os assistidos por Pato em 59 jogos em 2015, um número realmente ótimo.

Como dito, Pato teve uma evolução tática significativa em seu tempo no Brasil, aprendeu a jogar mais fora da área, participar mais do jogo e contribuir com a criação da jogadas, algo que parecia improvável para um jogador que costumava esperar a bola nos pés. E Pato fez bem esta evolução, principalmente jogado pelo lado esquerdo do campo, mas também pelo centro, com arremates de fora e da entrada da área, em jogadas mais típicas de wingers do que de centroavante.

E é neste ponto que a contratação de Pato pode ter um bom impacto, já que ele fornece opções diferentes em um elenco limitado, como é o do Chelsea atualmente, e que é composto em sua maioria por jogadores especialistas, que cumprem apenas uma função.

Pato pode jogar nas três posições atrás do centroavante, com boa flutuação e movimentação, como fez no Brasil; além de poder ser uma ótima opção para a vaga de Diego Costa, caso o brasileiro precise ser substituído, poupado ou não possa estar em campo, como acontece frequentemente. Sabemos bem que as opções para o ataque, fora Diego, não têm funcionado bem, principalmente as do banco, então acredito que Pato pode ser muito bem uma opção tanto para rodar o elenco quanto para entrar no decorrer das partidas.

Remy e Pedro, principalmente, têm se mostrado opções nulas para o ataque, além de Falcao García que é praticamente (para dizer no mínimo) carta fora do baralho. Além destes temos Bertrand Traoré e Kenedy, que apesar de terem demonstrado personalidade, ainda são muito jovens e têm de ser utilizado aos poucos, mesmo que com frequência, na minha opinião.

Com isso, temos apenas os titulares em um nível mais ou menos confiável. Willian tem feito boa temporada, Diego e Oscar parecem ter se encontrado e Hazard ainda tem de voltar à velha forma, mas fora eles, olhamos para o banco e praticamente não temos opções. E é por isso que acredito que a chegada de um Pato motivado e com um nível técnico que ninguém duvida que ele tenha, pode causar um bom impacto e trazer uma concorrência saudável dentro do elenco.

Acredito em um Pato importante nestes seis meses e jogando um futebol bonito e com dedicação dentro de campo. Acredito até em um bom papel para que ele seja contratado em definitivo ao final da temporada. E, por chegar por empréstimo, sua contratação faz ainda mais sentido, já que não estamos gastando milhões em uma suposta “aposta”, ele vem pra se provar e esta é uma motivação a mais e um risco ao menos ao Chelsea.

É uma contratação que tem tudo para dar certo e eu acredito nisso. É um negócio bom para os dois lados e Pato sabe que tem que agarrar esta oportunidade com unhas e dentes.

Márcio Canedo é redator no Chelsea Brasil


Pato viveu bons momentos no São Paulo (Foto: Ricardo Matsukawa/VEJA.com)
Pato viveu bons momentos no São Paulo (Foto: Ricardo Matsukawa/VEJA.com)

Financeiramente

A temporada 2015/16, no geral, vem sendo desastrosa para o Chelsea. Todos os setores estão abaixo em relação a campanha do título, e o ataque é um dos mais cobrados. Sob o comando o Guus Hiddink, houve uma melhora na questão da coletividade e também no rendimento de Diego Costa, um dos jogadores mais cobrados pela torcida. Mesmo com a iminente paz em Stamford Bridge após a saída de Mourinho, esperava-se algum nome de peso para credenciar o sistema ofensivo blue. E, nesse sentido, Pato não é o nome. Mas vamos pensar.

O Chelsea abriu mão de se arriscar na janela de janeiro, como acabou fazendo na temporada passada, por exemplo, com Cuadrado, que pouco rendeu e está em Turim. É comum que os clubes europeus façam seus investimentos mais pesados apenas no início da temporada, e isso se seguiu. Assim, olhando por esse lado, Pato é uma ótima contratação.

Por quê? O atacante de 26 anos chega sem valor de transferência e, caso tenha bom rendimento, poderá ser adquirido em definitivo por 12 milhões de euros. Em comparação, Pedro, que faz uma temporada fraquíssima, custou 30 milhões de euros. Não há risco na chegada de Pato e, se houver uma compra em agosto, será por um valor digno, principalmente com a absurda inflação do mercado.

Tecnicamente 

Alexandre Pato fez uma ótima temporada no São Paulo, mesmo em meio a um ambiente de turbulência no tricolor paulista, com renúncia de presidente e diversas trocas de treinadores. A equipe não teria conquistado a classificação para a Libertadores sem ele, que foi obrigado a fazer sua individualidade prevalecer em vários momentos.

Tecnicamente, Pato é mais jogador em relação a Remy, podendo ser um bom reserva para Diego Costa até o fim da temporada. No entanto, o brasileiro destacou-se mais com a camisa do São Paulo e também no seu auge por Milan e Internacional atuando na ponta-esquerda. Sua habilidade e poder de finalização trouxeram bons momentos por ali. Assim, Pato pode ser um reserva confiável para duas posições, principalmente em momentos difíceis no sistema ofensivo do Chelsea.

Fisicamente

Ao chegar no Milan, Pato foi obrigado a ganhar uma grande porcentagem de massa muscular em pouquíssimo tempo, indo a campo sem uma preparação adequada. Teve ótimos momentos, e a expectativa, que era altíssima, foi se confirmando. Entretanto, não demorou para que a pesada carga de cobranças físicas impostas pelo Milan danificassem sua musculatura. Resultado: muitas lesões, poucas sequências e “fracasso”.

Na volta ao Brasil, Pato ainda estava recuperando-se fisica e tecnicamente, e por isso sua passagem pelo Corinthians acabou sendo marcada pela inconstância. Com complicações financeiras e impaciência, o clube tentou “se livrar” do jogador o mais rápido possível, enviando-o para o São Paulo.

No novo clube, o jogador diminuiu consideravelmente seu número de lesões, jogando a maioria das partidas e obtendo destaque. No período em que esteve no São Paulo, foi o principal jogador da equipe. Houve apelo para sua permanência, mas as complicações financeiras e a vontade do jogador em voltar para a Europa foram evidentes.

Sendo assim, desde sua volta ao Brasil, Pato vem em uma crescente na questão física e em seu rendimento técnico. A passagem pelo Milan destruiu sua parte física, e aos poucos ela está se estabelecendo novamente, já chegando próxima do nível ideal.

Conclusão

Pato chega, a princípio, como uma alternativa, e nada mais que isso. Não há aventura financeira e nem aposta excessiva em seu rendimento técnico. É uma boa aposta que virá para somar tecnicamente ao elenco. Se dará certo ou não, dependerá de sua aplicação tática aliada a uma constância na parte física. Tecnicamente, não há muito o que duvidar, visto que ele já mostrou ser um jogador de muito talento.

Gabriel Belo é cronista no Chelsea Brasil

A contratação foi um erro

Bom, o fato é que ele já treina com o elenco, já foi apresentado e será um blue por, no mínimo, seis meses. É ele, aquele Pato, que fez brincadeiras com a bola no Mundial de Clubes em 2006, aos 17 anos, e encantou muitos olhos ao redor do “planeta bola”. Também é aquele Pato que antes da maioridade já vestia a camisa 7 de Andriy Shevchenko no Milan e fazia gols na Internazionale como se fosse um treinamento. Aquele rapaz chegou à Seleção Brasileira e deu esperança ao futebol nacional.

Os anos se passaram, e a versão adulta de Alexandre Pato não fez aquele sucesso dentro de campo. Acredito que o problema não foi de adaptação, ele teve tempo para tal. Somente após alguns anos na Europa, Pato conheceu o que vejo como seu maior adversário: as lesões. E foram muitas, em locais repetidos e com responsabilidade quase toda pertencendo ao jogador – a maioria dos problemas foi muscular. O menino prodígio perdia espaço no ataque do Milan para Robinho e Antonio Cassano (sim, eles. Já experientes e muito menos decisivos).

A volta ao Brasil foi, no mínimo, estranha. Não por questões financeiras, mas de plano de carreira. O mercado era muito favorável para um nome já consagrado, porém em má fase; e clubes médios do Velho Continente poderiam muito bem alavancar novamente o futebol de Pato, mas sua escolha foi o Corinthians. Sem sucesso no elenco campeão do mundo de 2012, teve no São Paulo alguns lampejos do seu conhecido talento. Honestamente, não me convenceu. Ainda jovem e já experiente no futebol internacional, coube bem no ataque tricolor e fez o que nunca esqueceu, mas sem provar que poderia alçar voos altos novamente.

Agora, cabe a um time da grandeza do Chelsea apostar no “ex-consagrado” Pato, de 26 anos? O time precisava de mais um homem que ataca pelos lados? Com uma defesa insegura e a saída de John Terry ao final e temporada, eu não gastaria tanto tempo da janela de transferências em um negócio que julgo mais favorável ao atleta, de volta a um grande centro; e ao seu ex-clube, que coloca um nome na vitrine e reza para conseguir um bom negócio. Tomara que queime a minha língua.

PS: Didier Drogba não merecia ver a sua camisa 11 neste momento.

Lucas Sanches é redator no Chelsea Brasil


No Corinthians, Pato foi mal (Foto: Arena)
No Corinthians, Pato foi mal (Foto: Arena)

Sou contra a contratação de Alexandre Pato por três motivos: a motivação, o comportamento e o condicionamento físico. Claro que qualidade técnica Alexandre tem. Aliás, é melhor que muitos jogadores que disputam a atual edição da Premier League. O que me causa dúvida é sobre sua motivação.

Ele diz querer muito voltar a jogar por um grande time na Europa, mas estaria preparado para não ser a estrela do time? Será que toparia ser reserva e, eventualmente, entrar nas partidas? Até quando ele aguentaria ficar sendo apenas mais um? Eis aí que entra a parte do comportamento. Seria ele um jogador de grupo? No Corinthians ele criou muitas inimizades, enquanto que no São Paulo e no Milan ele conseguiu ser mais discreto, apesar de falar ou fazer coisas duvidosas.

Pato é um jogador curioso. Antes mesmo do atleta, ele é um personagem Pop Star e midiático. E gosta disso. Talvez “o ser mais um” não seja aquilo que busca para a sua personalidade e isso pode acabar respingando no já conturbado vestiário do Chelsea.

Outro ponto negativo é que ele se encontra em pré-temporada. Não entendo a razão de trazer um jogador que está sem ritmo para um liga complicada como é o campeonato Inglês. Alexandre já não tem o perfil para a Premier League e ainda se encontra longe de sua forma física ideal. Levará algum tempo para se adaptar – tempo que o Chelsea não tem para reverter essa medíocre temporada.

Talvez fosse o momento para usar a base. Talvez fosse para ser a chance de Patrick Bamford, mas veremos Pato ganhando mais oportunidades que nomes como Ruben Loftus-Cheek, Kenedy, Charly Musonda, Dominic Solanke.

A passagem de Pato pelo São Paulo foi razoável, não fez mais do que se espera de um jogador do potencial dele. Se ele aceitar seu novo status, se motivar para vencer com o grupo e não criar birrinhas, pode, quem sabe, agregar algum coisa.

Murilo César é redator no Chelsea Brasil

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