Análise Tática: Juventus 1×0 Chelsea – uma derrota provando do próprio veneno

O Chelsea foi a Turim duelar contra a Juventus e voltou com a primeira derrota na Champions League 21/22, a segunda seguida na temporada. Com o resultado, os Blues estacionaram na segunda colocação do grupo H, e viram os italianos abrirem três pontos de vantagem na liderança.

A postura dos mandantes impôs aos atuais campeões aquela que vem sendo sua maior dificuldade nesse início de temporada: criar contra defesas fechadas. Agora foi vítima, também, das armas que costumeiramente utiliza contra seus adversários: compactação e velocidade nos contra-ataques. E para entender como tudo isso aconteceu, é hora da análise tática.

(Reprodução: Sky Sports)

Desfalques importantes dos dois lados

Massimiliano Allegri não pôde contar com sua dupla de ataque titular. Paulo Dybala e Álvaro Morata se machucaram na partida do último fim de semana, pela Serie A, e não estiveram à disposição.

Com isso, o treinador italiano apostou em uma trinca de meio-campo formada por Manuel Locatelli, Rodrigo Bentancur e Adrien Rabiot, com um ataque de muita mobilidade.

(Reprodução: BBC)

Já Thomas Tuchel teve que lidar, mais uma vez, com as ausências de N’Golo Kanté e Mason Mount, ambas também por lesão. Os dois jogadores são fundamentais no funcionamento da equipe, muito por conta da intensidade que agregam.

Sem eles, Tuchel manteve a dupla Jorginho e Mateo Kovacic no meio-campo e apostou mais uma vez em Hakim Ziyech para fazer dupla com Kai Havertz e Romelu Lukaku no ataque.

(Reprodução: BBC)

Domínio estéril do Chelsea; Juventus perigosa nos contra-ataques

Desde o começo, ficou claro que a proposta da Juventus seria deixar a bola com os Blues, abaixar as linhas e apostar nos contragolpes. O Chelsea, por sua vez, tomou a iniciativa e tentou pressionar os Bianconeros no campo de ataque. Dessa forma, nos primeiros minutos a posse chegou a passar dos 80% a favor dos visitantes.

No entanto, o fato de ter mais a bola não se traduzia em chances de gol. Os ingleses rondavam a defesa italiana, mas tinham dificuldade de penetrar e abusavam dos passes laterais, sem objetividade.

Mapa de passes mostra falta de verticalidade na posse do Chelsea (Reprodução: 11tegen11)

Locatelli fazia bem o trabalho de fechar as linhas de passe para Lukaku, o que fez com que o belga ficasse ilhado. Dessa forma, cabia a Ziyech e Havertz a movimentação para possibilitar passes mais verticais que quebrassem as linhas adversárias, mas, erráticos, pouco aproveitavam quando a bola chegava.

A insistência por dentro também facilitava para os italianos. Isso porque Havertz e Ziyech afunilavam e, então, os responsáveis pela amplitude passavam a ser apenas César Azpilicueta e Marcos Alonso, que têm pouca capacidade no um contra um, ou seja, a bola rapidamente retornava aos pés de Kovacic e Jorginho.

Por outro lado, à medida que era pouco incomodada, a Juventus se sentia mais confiante para investir no ataque. Assim, Kovacic, em dois erros de passe, proporcionou duas boas oportunidades aos donos da casa antes mesmo dos 20 minutos: primeiro com Rabiot, que acabou errando no último passe; depois com Chiesa, que invadiu a área em velocidade e bateu cruzado para fora, à direita de Edouard Mendy.

Variações defensivas dos italianos

Se a escalação apresentava uma Juventus no 4-3-3, a postura defensiva significava que, na prática, os donos da casa jogavam em um 4-1-4-1. Juan Cuadrado, Federico Bernadeschi e Federico Chiesa se alternavam na referência, com os outros dois compondo a linha de quatro no meio-campo ao lado de Bentancur e Rabiot; Locatelli ficava entre as duas linhas.

(Reprodução: Modern Football Analyst)

Contudo, ao longo de todo o jogo, os italianos iam mudando sua organização defensiva. Na maior parte do tempo, inclusive, se postavam em um 4-4-2. Rabiot abria pelo lado esquerdo e compunha a segunda linha de quatro ao lado de Bentancur, Locatelli e Cuadrado – o último, mais à direita; Bernardeschi e Chiesa ficavam a frente.

(Reprodução: Modern Football Analyst)

Além disso, nos momentos em que os ingleses espetavam Alonso e Azpilicueta, Cuadrado virava lateral-direito e compunha, assim, uma linha de cinco na defesa, com Danilo fazendo papel de zagueiro.

(Reprodução: Modern Football Analyst)

Dessa forma, a Juventus seguiu se protegendo bem, sem ser ameaçada pelo Chelsea e o primeiro tempo terminou mesmo em zero a zero.

Gol relâmpago e tentativas de mudança

O Chelsea voltou para o segundo-tempo com Ben Chilwell no lugar de Alonso, com o intuito de ter mais agressividade pelo lado esquerdo. No entanto, logo aos 10 segundos do segundo tempo, em uma saída de bola rápida da Juventus, Chiesa recebeu dentro da área e bateu na saída de Mendy para abrir o placar.

Chiesa marcou gol relâmpago em Turim (Reprodução: Sports Illustrated)

Minutos mais tarde, diante do cenário adverso, Tuchel resolveu fazer três mudanças de uma vez: Trevoh Chalobah, Callum Hudson-Odoi e Ruben Loftus-Cheek entraram, para as saídas de Jorginho, Azpilicueta e Ziyech. A alteração manteve a mesma estrutura tática, já que Chalobah passou a ser o primeiro homem de meio-campo, Hudson-Odoi entrou na ala-direita e Loftus-Cheek foi o meia avançado.

Com Odoi, o Chelsea ganhou a individualidade pelo lado que faltava com Azpilicueta. Foi então que a equipe cresceu no jogo e passou a levar mais perigo. Em contrapartida, Allegri passou a adotar de vez a linha de cinco atrás, com Cuadrado e Alex Sandro nas alas.

Pouco depois, Tuchel realizou sua última substituição, lançando mão de Ross Barkley no lugar de Christensen. Dessa forma, Chalobah foi para a zaga e o meio-campo passou a ter Barkley e Kovacic na articulação do meio-campo, com Loftus-Cheek encostando na dupla Lukaku e Havertz, em um 3-4-1-2.

Escalação com a qual Chelsea terminou o jogo (Reprodução: Share My Tatics)

O Chelsea de fato passou a ter mais volume, mas seguiu esbarrando no sistema defensivo seguro dos italianos e na falta de pontaria de seu ataque. Allegri ainda colocou Chiellini para fechar mais a defesa e bloquear as bolas pelo alto e, assim, a Juventus segurou a vantagem até o final e saiu com o resultado positivo.

Discrepância na posse, mas igualdade nos chutes a gol (Reprodução: BBC)

Destaque individual

Em um jogo com o time tão abaixo, quem mais se destacou foi Hudson-Odoi, que com a entrada ao longo do segundo tempo tornou o Chelsea mais incisivo e incomodou Alex Sandro.

Hudson-Odoi teve boa atuação pela ala (Reprodução: Sports Illustrated)

Em suma, a segunda derrota seguida não é motivo para pânico, mas deve acender um sinal de alerta: o Chelsea tem enfrentado ainda mais dificuldades contra times fechados.

Na necessidade de encontrar soluções criativas para furar bloqueios, a equipe tem sido pouco efetiva e muito menos móvel do que era na temporada passada. Um dos fatores pode ser a presença de Lukaku, que altera todo o modelo de ataque, que já havia se habituado a atuar sem uma referência e agora precisa se adaptar a jogar com um 9 de área.

A bola pouco chegou em Lukaku (Reprodução: Sports Illustrated)

Isso vai acontecer, é uma questão de encaixe e entrosamento. Inclusive, Lukaku já deu muitos pontos ao Chelsea nesse início de temporada, mas o cenário de momento indica que é preciso encontrar mais soluções ofensivas.

Category: Conteúdos Especiais

Tags:

Article by: Marcelo Vilela