No recontro com o Manchester City após a final da Champions League, o Chelsea foi derrotado pela primeira vez na temporada 21/22. Com o resultado, os Citizens se igualaram em pontos (13) e a briga na parte de cima se acirrou ainda mais.
O placar em Stamford Bridge foi a tradução de uma partida na qual os visitantes dominaram durante a maior parte do tempo. E, para entender como esse resultado se construiu, é hora da análise tática.
Mudança-chave no esquema do Chelsea
Thomas Tuchel não pôde contar com Mason Mount, que sofreu um leve trauma contra o Aston Villa e não se recuperou a tempo. Com isso, o treinador alemão optou por alterar o esquema e fortalecer o meio-campo.
O tradicional 3-4-2-1 deu lugar ao 3-5-2, com Jorginho, Mateo Kovacic e N’Golo Kanté formando uma trinca de meio-campo. Kai Havertz foi para o banco e Timo Werner formou a dupla de ataque com Romelu Lukaku. As trocas tinham o objetivo de impactar tanto no jogo defensivo quanto no ofensivo: sem a bola, dificultar a construção do adversário por dentro; com ela, ter mais opções de passe para a saída curta e em velocidade.
O City, por sua vez, manteve a mesma configuração que vem sendo utilizada desde o início da temporada. Um 4-3-3, com Rodri fazendo o papel de primeiro-volante, tendo Kevin De Bruyne e Bernardo Silva a frente. A surpresa ficou por conta da escalação de Phil Foden como falso 9, função que vinha sendo exercida principalmente por Ferrán Torres.
Chelsea encurralado
Desde os primeiros movimentos da partida já havia ficado claro que a ideia do Manchester City era pressionar a saída do Chelsea para obrigar o chutão e retomar a posse rapidamente. Assim, os donos da casa não conseguiam sair da pressão.
A marcação dos Citizens era intensa e muitas vezes com até sete jogadores no setor por onde a bola circulava. Os três zagueiros do Chelsea eram cercados pelos três atacantes adversários e os alas dos Blues também sofriam a pressão dos laterais do time de Pep Guardiola.
Por dentro, Jorginho, Kovacic e Kanté não conseguiam exercer o plano de apoio na construção. Isso porque De Bruyne, Bernardo e Rodri também subiam a pressão e anulavam os meio-campistas dos Blues.
A alternativa para sair da pressão poderia ser, em tese, a bola longa para Lukaku, mas as linhas altas e compactas do City também dificultavam essa jogada. Primeiramente porque o portador da bola raramente tinha espaço, o que fazia com que a ligação direta não saísse com a qualidade ideal; segundo porque havia sempre uma sobra contra Lukaku, geralmente de Rodri, que dificultava o trabalho do belga quando ele era acionado.
Dessa forma, os Citizens retomavam a bola com facilidade, o que gerou um alto índice de posse no primeiro tempo (66% a 34%).
Consistência defensiva do Chelsea dificultava as ações do City
Se a pressão na saída surtia efeito prático para o City ter a bola, os visitantes tinham, no entanto, dificuldade de traduzir o controle em chances de gol.
Isso porque o Chelsea marcava com linhas baixas e compactas, que dificultavam a penetração da equipe de Manchester. Os três meio-campistas de Tuchel cumpriam bem o papel de acompanhar os três meias de Guardiola, e Werner e Lukaku recuavam para fechar as linhas de passe entre zagueiros e meias adversários.
As jogadas do City aconteciam principalmente pelo lado esquerdo. Isso porque Kyle Walker fechava como terceiro zagueiro para tentar gerar superioridade numérica por dentro e facilitar a saída, o que liberava Joao Cancelo para construir no campo ofensivo.
Isso forçava Reece James a se descolar da linha de cinco e gerava um efeito cascata, uma vez que César Azpilicueta também era obrigado a se deslocar para marcar Jack Grealish. Dessa maneira, um espaço se abria e De Bruyne caía por ali para se aproveitar.
Nem mesmo a lesão de James, na segunda metade do primeiro tempo, alterou esse cenário. Thiago Silva entrou no lugar do camisa 24 e, com isso, Azpilicueta foi para a ala, com Christensen sendo deslocado para ser o zagueiro pela direita e deixando o centro para o brasileiro.
Gabriel Jesus, do lado oposto, ficava colado à linha lateral com o objetivo de dar amplitude e atrair Alonso para tentar desequilibrar o sistema de marcação dos Blues.
Entretanto, nos momentos em que o City conseguia articular suas movimentações, gerar e atacar os espaços, esbarrava nas boas coberturas dos defensores do Chelsea. E assim o primeiro tempo seguiu, sem que os goleiros fossem exigidos.
Placar aberto e novas propostas
O segundo tempo se desenhava da mesma forma, porém logo aos oito minutos o City chegou ao gol após a bola sobrar para Gabriel Jesus dentro da área. O atacante brasileiro bateu, a bola desviou em Jorginho e matou Edouard Mendy.
Isso fez o City abaixar suas linhas e o Chelsea passou a ter mais espaço para articular seu jogo. Logo na sequência, Tuchel tirou Kanté e colocou Kai Havertz. Assim, o meia alemão se juntou a Werner e Lukaku na frente, retornando ao 3-4-2-1.
Dessa forma, os Blues passaram a ter mais a bola e criaram boas oportunidades para empatar. Azpilicueta e Alonso espetavam e formavam uma linha de 5 na frente, gerando espaços na defesa dos Citizens.
A entrada de Ruben Loftus-Cheek no lugar de Jorginho, já na parte final, também deu mais agressividade no meio-campo. Kovacic passou a ser o primeiro homem de meio, liberando Cheek para chegar ao ataque. Como resultado, o meio-campista inglês se impôs fisicamente e passou a articular boas jogadas.
Apesar do crescimento e das boas chances criadas, o Chelsea não conseguiu converter suas chances em gol. O City se fechou bem, impediu jogadas com Lukaku por dentro e conseguiu segurar a vantagem. Ainda teve oportunidades para matar o jogo, por conta dos espaços que o Chelsea passou a dar no meio-campo, mas também não aproveitou e a partida terminou mesmo em 1 a 0.
Destaques individuais
Christensen, Rüdiger e Thiago Silva – mesmo com o último atuando no sacrifício por conta de uma lesão – foram bem. Venceram a maioria dos duelos e foram assertivos nas coberturas dos espaços que o City por vezes gerou com a movimentação de seus homens de frente. Loftus-Cheek, embora tenha surpreendido ao entrar, também contribuiu para o crescimento da equipe na parte final.
Em suma, uma derrota justa, de um Chelsea que foi inferior ao adversário na maior parte do tempo. No entanto, não há motivo para terra arrasada, muito pelo contrário. É preciso levar em conta também a qualidade do adversário. Em um jogo com equipes tão iguais, estratégias fazem diferença e decidem partidas.
Dessa vez, Pep Guardiola levou a melhor sobre Thomas Tuchel, mas ainda há muito por vir pela frente. A começar pela Juventus, já nessa quarta-feira, pela UEFA Champions League.