Lukaku pede reunião com CEOs de mídia social em combate ao racismo: “Podemos assumir posições mais fortes”

Romelu Lukaku concedeu entrevista à CNN Sport e faz apelo aos diretores executivos das grandes empresas de tecnologia que dominam o mercado, governos e órgãos do futebol para uma reunião com os jogadores da Premier League. Em primeiro lugar, o atleta do Chelsea quer ações mais fortes na luta – contínua – contra o racismo e a discriminação no esporte.

Assim como outros rivais e companheiros de equipe, Lukaku já foi alvo de abusos ao longo de sua carreira. Os fatos mais marcantes ocorreram durante sua passagem pela Inter de Milão, na Itália. Em 2019, o belga foi chamado de “macaco” por perfis não identificados nas redes sociais. Agora, o centroavante crava uma nova luta para que tais crimes não passem despercebidos, pois acredita que o racismo no futebol está no maior auge de todos os tempos.

A discriminação racial é crescente, mesmo com inúmeras as campanhas de conscientização contra o racismo, antissemitismo e as discriminações no geral. No Chelsea, inclusive, existe a “No To Hate”, que incentiva os torcedores a enviarem suas fotos demonstrando a diversidade dentro da comunidade.

Em síntese, a campanha foi originalmente lançada em março por Roman Abramovich, após o abuso racial que atingiu o jogador Reece James, no mês de janeiro, através das redes sociais.

Lukaku contra o racismo
Romelu Lukaku quer se encontrar com gigantes da mídia social Fotografia: Mike Egerton / PA

No to Hate (Não ao ódio)

O movimento #NoToHate ao qual Lukaku se juntou recentemente, convida os fãs de toda parte do mundo a ajudar a demonstrar como o esporte pode ser uma força unificadora na sociedade. Nesse sentido, a proposta do Chelsea se subdivide em cinco importantes fragmentos: educação, mídias sociais, apoio/suporte, oportunidade e consciência:

  • Educação: propõe evolução do trabalho com escolas locais para apoiar a educação em anti-racismo e anti-discriminação;
  • Apoio/Suporte: propõe informações aos jogadores sobre proteção e segurança online, fornecem a eles as ferramentas para se protegerem nas redes sociais;
  • Oportunidade: oferta de bolsas para jornalistas negros, asiáticos e outras minorias sub-representadas entre a mídia nos jogos masculinos e femininos do Chelsea FC;
  • Consciência: usam publicidade imobiliária online e em torno de Stamford Bridge para aumentar a conscientização e encorajar ações contra o racismo além de estarem hospedando um jogo de caridade em Stamford Bridge em outubro deste ano de 2021 em associação com Equality is Legacy, para celebrar a diversidade e apoiar ações de igualdade;
  • Mídias Sociais: publicam uma nova Política de Mídia Social do Clube com orientação para os fãs, incluindo informações para os fãs sobre como identificar e denunciar abusos racistas nas plataformas de mídia social.
Espanhol opta por apontar para a palavra “Respeito” (Foto: Dylan Martinez/Reuters)

O gesto de ajoelhar

Além da campanha mencionada, os jogadores do Chelsea se ajoelham em forma de protesto contra o racismo antes de dar início aos jogos. Porém, tal gesto tem surtido efeito fraco ultimamente. Essa é  a razão pela qual Marcos Alonso deixou de se ajoelhar.

O lateral dos Blues permanece em pé antes das partidas e opta por apontar para o emblema “No To Racism” em sua camisa. Aproveitando o embalo, a jogadora do Chelsea Women, Jess Carter, também conversou com a CNN e questionou por que os jogadores ainda se ajoelham. Para a inglesa, o ato está se tornando uma espécie de gesto vazio:

“Fico feliz que façamos isso, mas estamos apenas continuando por fazer ou estamos continuando porque é importante? Essa é, para mim, a diferença e quando pararmos de ajoelhar, o que vem a seguir? Porque racismo, homofobia, tudo não vai simplesmente desaparecer. Então, o que vamos continuar a fazer depois que o joelho parar? ” – questionou a atleta.

Lukaku por sua vez, apoia a medida. E entra em cena não só por ele, mas em nome de seu filho, seu irmão, por todos os outros jogadores (masculino e feminino) e seus filhos. A meta é encontrar uma medida mais eficaz, dentro e fora de campo.

“Acho que podemos assumir posições mais fortes, basicamente”, disse Lukaku à CNN Sport. “Sim, estamos pegando no joelho, mas no final, todo mundo está batendo palmas, mas às vezes depois do jogo, você vê outro insulto.”

Intervenção coletiva

O atacante voltou ao Chelsea na última janela de transferências e tem feito um início de temporada sensacional. Ou seja, chegou para colocar a equipe de Thomas Tuchel nas primeiras posições da Premier League. Mas fora de campo Lukaku quer que jogadores se sentem com CEO’s de mídia social, para discutir soluções para o problema contínuo de racismo em suas plataformas.

“Os capitães de cada equipe, e quatro ou cinco jogadores, como as grandes personalidades de cada equipe, devem ter uma reunião com os CEOs do Instagram e governos e da FA e da PFA, e devemos apenas sentar ao redor da mesa e ter um grande reunião sobre isso ”, disse Lukaku. “Como podemos atacar de imediato, não só a partir do masculino, mas também do feminino.

“Acho que todos nós juntos e temos uma grande reunião e uma conferência e apenas conversamos sobre coisas que precisam ser abordadas para proteger os jogadores, mas também para proteger os fãs e jogadores mais jovens que querem se tornar jogadores de futebol profissionais.”

 

Futebol é alegria

Ademais, o belga anseia por fazer o futebol ter a sua essência: a alegria. “No final das contas, o futebol deve ser um jogo divertido”, disse ele. “Você não pode matar o jogo por discriminação. Isso nunca deveria acontecer. Futebol é alegria, é felicidade e não deve ser um lugar onde você se sinta inseguro por causa da opinião de algumas pessoas sem educação”, pontuou.

O atacante blue também lembrou que o Chelsea é formado por atletas de várias nacionalidades, crenças e cores:

“Acho que agora, do dono para nós, os jogadores, nós como um clube estamos realmente fazendo uma declaração e assumindo uma posição de que coisas como essa não devem ser toleradas. Porque na nossa equipe temos muitos jogadores que representam o clube de diferentes nacionalidades, diferentes cores de pele, diferentes religiões, também a equipa feminina onde é a mesma coisa”, afirmou à CNN.

Reação contra Super Liga x reação ao racismo

O centroavante relembra a soberania global no mundo do futebol, que conseguiu cancelar a Super Liga em um dia. Contudo, Lukaku contesta a falta de “energia” quando o assunto é intolerância racial nas plataformas sociais.

Companheiro do belga no Chelsea, Antonio Rudiger já havia questionado imprensa, jogadores e torcedores por terem se unido e obtido êxito contra a Super Liga em apenas 48 horas. Mas, quando se trata abusos racistas evidentes em um estádio de futebol ou online, é sempre “complicado”.

 “Se você quiser parar algo, você realmente pode fazer isso”, diz Lukaku. “Nós, como jogadores, podemos dizer: ‘Sim, podemos boicotar as redes sociais ‘, mas acho que são essas empresas que têm de vir e falar com as equipes, ou com os governos, ou com os próprios jogadores e encontrar uma forma de pará-lo porque eu realmente acho que eles podem”, ressaltou.

 

FA se posiciona após fala de Lukaku

A Football Association (FA) foi procurada pela CNN. Assim sendo, um porta-voz afirmou ter entrado em contato com o Chelsea para organizar uma reunião com Lukaku. No mais, a FA alega que sempre recebem bem as manifestações sobre este assunto com jogadores e outras pessoas.

Por fim, além do porta voz, a Associação de Futebolistas Profissionais (PFA) também buscou conversar com o jogador, através do capitão do Chelsea, César Azpilicueta. O objetivo do contato é organizar e discutir um planejamento decisivo sobre o tema.

“Acho que nós como um clube devemos ser um exemplo para as outras equipes e basicamente dizer que, você sabe, sempre que uma forma de discriminação está acontecendo, que o clube está assumindo uma posição forte e processando tudo o que está acontecendo em as arquibancadas“, finaliza Lukaku.

 

Category: Chelsea Football Club

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Article by: Thaynara Siqueira