Kalou: “É difícil jogar e não pensar em pessoas morrendo”

O atacante do Chelsea, em entrevista ao The Guardian, disse que os conflitos na Costa do Marfim não saem da sua cabeça.

Salomon Kalou tem um peso enorme em sua mente e não é somente pela eliminação da Champions League. A perspectiva de terminar a temporada em Stamford Bridge sem um troféu é difícil de contemplar, mas é insignificante em comparação com o sofrimento Kalou sente quando ele se lembra da sua família e amigos que vivem na Costa do Marfim.

As eleições presidenciais de novembro passado na Costa do Marfim desencadearam conflitos sangrentos no país onde Kalou passou os primeiros 17 anos de sua vida. Milhares foram mortos e as imagens chocantes das batalhas de rua em Abidjan, onde seu pai, Antoine, e outros membros de sua família vivem, juntamente com as histórias de escassez de alimentos e água, assustam Kalou.

“É muito difícil ir para o campo e dizer que eu não estou pensando em pessoas que estão morrendo todos os dias, que não estou pensando em meus amigos que não têm o que comer. Ainda não consegui ajudar meu pai”, disse Kalou.

“Para ser honesto, eu me preocupo todos os dias. Penso mais sobre isso do que qualquer outra coisa. Qualquer chance que eu tenho que ir ao telefone ou ler uma notícia e procurar formas de ajudar, é a minha principal prioridade. Preciso ter certeza que minha família está segura.”

“Eu consegui tirar de lá minha mãe e cinco irmãs quatro dias antes dos conflitos se iniciarem. Meu pai também ia sair, mas a guerra começou no dia que ele sairia.”

Kalou reconhece a ‘impotência’ em relação à segurança de seu pai. O jogador do Chelsea passou três dias sem falar com seu pai e está desesperado para saber notícias de uma solução pacífica na Costa do Marfim.

“Eu não quero tomar nenhum lado e eu não quero me envolver na política da Costa do Marfim, porque a política é para os políticos, mas dói ver os meus amigos, meus irmãos, matando uns aos outros”, diz.

“Alguns de meus melhores amigos são do norte. Sou do oeste, tenho amigos do sul – Eu tenho um monte de amigos da Costa do Marfim. O país não tem problemas com a Política, os marfinenses estão dividindo as pessoas. Mas qual é a razão para que as pessoas se matem? Por que não parar com isso?”

“Pessoas de fora ajudam a trazer a paz. Levam água e comida para as pessoas. Isso é o que eu chamo de se preocupar com os civis. Se a sua prioridade é dizer que um lado perde e o outro ganha, então você não está parando a guerra.”

“Eles vão continuar lutando e, no final, quando tudo já tiver sido destruído, o que restará para essas pessoas? Aquelas crianças que viram a guerra e pessoas morrendo, quantos anos é que vai levar para eles para esquecerem aquilo?”

Kalou admitiu que apesar dos conflitos no seu país natal, o futebol é uma ‘fuga da realidade’. E disse que se sente frustrado por ficar no banco, enquanto gostaria de jogar e ajudar o time.

“Ao longo de todo o meu tempo no Chelsea há sempre um jogador de grande nome e que torna difícil para o técnico me colocar em campo. E eu entendo isso, porque você tem que lutar para conseguir as coisas.”

“Mas eu estou aqui há cinco anos, marquei 50 gols pelo clube e eu acho que os fãs apreciam o meu o meu recorde.”

O marfinense marcou mais que Shevchenko, Kezman, Pizarro e Crespo e acredita que Torres logo alcançará sua marca.

“A chegada de Torres é um benefício para mim porque agora eu consigo jogar minha real posição, atrás do atacante.”

Contrariando as especulações de que estaria de saída do Chelsea, Kalou ratifica o desejo de ficar em Stamford Bridge:

“Eu acredito que minha hora está chegando no Chelsea. No sábado atingi o recorde de 94 jogos substituindo alguém. Eu não quero só isso. É como ganhar uma medalha de plástico. Eu quero fazer mais no Chelsea.”

Kalou encerrou a entrevista fazendo um pedido, não só a Costa do Marfim, mas ao mundo:

“Precisamos acabar com a guerra. Minha preocupação não é quem vai governar, e sim com a paz.“