Antonio Conte foi anunciado pela FIFA na última sexta (22) como finalista do prêmio “The Best”, concorrendo a melhor técnico do mundo ao lado do francês Zinedine Zidane e do compatriota Massimiliano Allegri. O Chelsea não apareceu na Champions League – competição de maior prestígio no cenário internacional – da temporada passada e o italiano dos Blues concorre com o campeão e o vice-campeão do torneio, respectivamente. Mas como Conte conseguiu figurar ao lado desses técnicos “só” com o campeonato inglês?
O italiano chegou aos Blues para reformular uma equipe desacreditada e que havia terminado em 10º na temporada anterior, pior colocação dos azuis de Londres da “era Abramovich”. Com um início fraco, o técnico resolveu mudar o esquema tático do Chelsea para o 3-4-3, com os habituais três zagueiros o qual já estava acostumado a comandar.
Foi assim na Juventus, onde venceu três títulos italianos consecutivos e trouxe a velha senhora para o patamar mais alto do futebol italiano novamente e o mesmo se deu no comando da seleção da Itália em dois anos de trabalho. A partir dessa mudança, os Blues se transformaram. Foram 13 vitórias consecutivas, com 32 gols marcados e apenas quatro sofridos. No fim da temporada, o título incontestável da Premier League.
Como o time passou da água para o vinho tão rapidamente?
Depois de perder dois jogos para os rivais Liverpool e Arsenal e empatar com o Swansea em jogo polêmico, tudo em apenas seis rodadas, o italiano resolveu mudar o estilo de jogo do time. Adotou o esquema com três zagueiros e colocou o “esquecido” Moses na ala direita. Improvisou Azpilicueta na zaga e pôs o contestado David Luiz como zagueiro central da equipe. As mudanças não poderiam ter sido melhores. Conte conseguiu tirar o melhor de cada jogador colocando-os nessas posições.
É claro que o técnico sabia que poderia ser uma defesa um pouco frágil, afinal nenhum desses jogadores já haviam adotado essas funções antes. Por isso, Kanté e Matic – dois volantes de marcação – apareciam a frente da zaga. Nas alas, Moses ganhava destaque pelo vigor físico e subidas ofensivas, além das boas recomposições. Sua velocidade e energia lhe permitiam isso. Já Alonso seria um dos grandes destaques do Blues. No ataque, Costa e Hazard se destacavam. Willian e Pedro disputavam posição, com o espanhol levando a melhor. E assim se desenhou o campeão de 2016/2017.
Totais méritos para Conte. Em pouco tempo no comando dos azuis de Londres, conseguiu ver o que cada jogador tinha de melhor. Bancou a permanência e titularidade de jogadores contestados e revolucionou o futebol inglês com o esquema que pouco (para não dizer nada) era utilizado na Premier League. Revolucionou não só porque foi campeão, mas porque hoje a maioria dos times do campeonato adotaram o esquema vencedor do italiano. O esquema não se tornou previsível e foi cada vez sendo mais utilizado dentro do campeonato.
Também vencedor na Juventus, Conte não recebeu o mesmo destaque que ganhou no Chelsea
Na Juventus, Conte adotou o 3-5-2 e levou três campeonatos consecutivos. Reviveu a Velha Senhora e deixou uma base tática no time que é utilizada até hoje, sinônimo de sucesso nas mãos de Massimiliano Allegri, duas vezes finalista da Champions League com a Juve. Apesar da base vencedora que mantém até hoje a Velha Senhora no mais alto patamar do futebol, Conte não conseguiu ir longe na Champions com a equipe.
Mesmo com a soberania no campeonato nacional, o futebol italiano já não tinha o mesmo prestígio que teve em tempos da Inter de Adriano e Milan de Kaká. Os times foram perdendo força e o campeonato perdendo destaque internacionalmente. Já o futebol inglês segue sendo o mais prestigiado pela imprensa. A nível de Champions, os ingleses deixam a desejar já há algum tempo, mas se fala em grande parte da dificuldade de administrar tantos campeonatos em alto nível. Além do mais, os Blues não participaram da última edição ao comando de Conte, o que evidenciou seu destaque no futebol inglês. Foi também finalista da FA Cup, perdendo para o Arsenal na decisão.
Mas em apenas uma temporada dentro do mais difícil campeonato europeu, comandando um time acostumado a vencer e que vinha da pior temporada nos últimos anos, Conte levantou a taça diante de rivais com grandes expectativas – City de Guardiola, United de Mourinho, Liverpool de Kloop, Tottenham de Pochettino. Mas foi o Chelsea de Conte que desbancou todos, sem questionamentos. E com grandes feitos do treinador.
Os rivais
Zinedine Zidane foi supercampeão com o imparável Real Madrid. Venceu a Champions pela segunda vez consecutiva (marca histórica) e levou o campeonato espanhol, além do mundial de clubes no final do ano passado. Comandando muitas das maiores estrelas do futebol mundial, Zidane levou o Real ao sucesso extremo, e é inquestionável sua presença na lista dos finalistas.
Já Massimiliano Allegri venceu, mais uma vez, o campeonato italiano. Foi campeão também da Copa da Itália e poderia conseguir a famigerada tríplice coroa. Finalista da Champions pela segunda vez em três anos, a Juve foi derrotada pelo Real na final – em 2015, derrotada pelo Barça. Mas os feitos já são enormes. A Juventus há muito tempo não era uma grande força continental, e aparecer em duas finais em três temporadas, diante de grandes candidatos, é sem dúvida uma proeza ímpar.
Os concorrentes não poderiam ser melhores. Conte desbancou nomes fortes como Leonardo Jardim, que fez grande temporada pelo Monaco, levando o time a semifinal da Champions e conquistando o campeonato francês; Joachim Low, trazendo cada vez mais títulos para a boa geração alemã, e o técnico da seleção brasileira, Tite, fazendo campanha impecável nas eliminatórias para a próxima copa no comando dos pentacampeões do mundo.
A qualidade de Conte já não pode ser questionada. O italiano superou as expectativas no comando dos Blues, conquistando recordes e desbancado favoritos ao título, tudo isso em sua primeira temporada. Hoje, segue como forte candidato em todas as frentes que disputa. Assim como na temporada passada, não é favorito, mas a capacidade do time e do técnico não podem ser questionadas, e muito menos subestimadas. É mais que justo o italiano despontar entre os três finalistas do prêmio de melhor técnico da temporada 2016/2017.