Publicado em 18/02/2018 às 17h04: atualizado em 18/02/2018 às 22h25
A partida entre Chelsea e Barcelona pelas oitavas de final da Champions League nessa próxima terça-feira (20) será um jogo de xadrez entre os dois treinadores estrategistas Antonio Conte e Ernesto Valverde. Existem muitas possibilidades de esquemas táticos, proposta de jogo, forma de atacar e defender e quando se sabe que o adversário tem muita qualidade, não pode haver erro.
É preciso entender as formas que os times podem jogar para tentar entender um pouco do que vai ser o jogo. Nenhum dos dois treinadores tem uma forma previsível de jogar, e às vezes mesmo com as mesmas peças, podem jogar de formas diferentes.
O Barcelona
O time catalão tem como tradição propor qualquer jogo. Não há um jogo sequer em que os jogadores entreguem a bola ao adversário e esperam para sair em contra-ataques, e não deve ser o que vai acontecer nas duas partidas contra o Chelsea. O Barcelona buscará ter mais posse de bola e ficar mais tempo no campo de ataque.
Contando com o melhor jogador do mundo na atualidade, o jogo do Barça é em cima de Lionel Messi, e costuma ser um mistério o posicionamento do argentino em campo.
O time tem jogado num 4-4-2 que pode variar de muitas maneiras. O Barcelona pode abrir um diamante no meio campo, nesse caso Messi pode ser o armador com Suárez e Paco Alcácer na frente como atacantes. Ou pode ser o próprio argentino ao lado do uruguaio no ataque, nesse caso com Iniesta fazendo a função de 10.
Nessa foto, um dos atacantes é o Dembélé (11), que não deve jogar. Quem pode entrar é Paulinho. Com isso, Messi seria deslocado para o ataque e Iniesta viria para o centro. Ou pode haver apenas uma troca com Paco entrando ao lado do camisa 9.
Com Messi fazendo uma dupla de ataque com Suárez, o argentino teria um pouco menos de liberdade para transitar pelo campo de ataque, esperando mais que a bola chegue para ele dos meias. Seria mais complicado para N’Golo Kanté anulá-lo e seria um trabalho a mais para os zagueiros do Chelsea. Mas o Barcelona perderia um pouco em criação.
Dessa forma, muitas vezes o 10 sairia do comando de ataque e passaria a jogar atrás de Suárez. O esquema viraria um 4-4-1-1 com o Messi de segundo atacante.
A última partida do Barcelona antes do confronto pela Champions aconteceu neste sábado (17) fora de casa contra o Eibar, pelo campeonato espanhol. O jogo foi vencido com dificuldade por um placar de 2-0 gols de Suárez e Jordi Alba. O time que entrou em campo deve ser o que enfrentará o Chelsea em Stamford Bridge, pois o técnico Valverde colocou Coutinho no banco, jogador que não pode ser inscrito pelo time catalão para essa Champions League.
Ter Stegen; Sergi Roberto, Piqué, Umtiti, Jordi Alba; Busquets, Paulinho, Rakitić, Iniesta; Messi e Luis Suárez (4-4-1-1) foi o esquema mandado por Ernesto Valverde para essa partida.
A lateral direita é uma posição que pode indicar uma maior cautela ou não do Barcelona. Caso Sergi Roberto seja o escolhido, o Barça terá uma aproximação maior com os meias, uma qualidade de passe e lançamento por aquele lado, mas perde um pouco em velocidade e profundidade ofensiva com relação à Nelson Semedo – o camisa 2 foi contratado pelos catalães para essa temporada e oferece mais chegada ao ataque, ficando um pouco atrás do espanhol na marcação.
Do outro lado, Jordi Alba é uma presença praticamente confirmada. É uma das grandes armas ofensivas do Barça para desafogar jogadas, possui muito entrosamento com os meias e com Messi, e gosta de aparecer de surpresa no ataque para receber bolas por trás da defesa. É um jogador que o Chelsea deve ter muita atenção se não quiser ser surpreendido.
O brasileiro Paulinho faz ótima temporada e deve ser titular. Autor de oito gols no campeonato espanhol, ele é um jogador que chega muito no ataque, com força física e qualidade na bola aérea ofensiva, o camisa 15 será acionado na construção de jogadas do Barcelona e também oferece perigo. Os experientes Sergio Busquets, Andrés Iniesta e Ivan Rakitić são problemas para qualquer adversário pela qualidade técnica acima da média que possuem. Passes, lançamentos, movimentação e finalização de média e longa distância são constantes no jogo desses meias, que são a chave do jogo do Barcelona.
O Chelsea
A forma como os londrinos vão para o jogo é um pouco mais difícil de prever. A tendência é o time esperar um pouco mais o Barcelona e tentar explorar contra-golpes contando com o talento de Hazard para criar algo. Porém, por jogar em casa, pode ser que Conte queira um jogo de igual para igual com os catalães.
O treinador do Chelsea é um bom estrategista e pode querer surpreender com uma marcação mais alta e a busca pelo controle do jogo. Mais improvável sim, mas não é loucura imaginar uma partida mais igual em termos de posse de bola. Vamos analisar o time se optar por um jogo mais ofensivo ou um mais defensivo e reativo.
Time defensivo
A tendência é o time se defender e explorar erros do Barcelona para contra atacar. O Chelsea tem um jogador muito perigoso e criativo que é Hazard. Além dele, têm duas opções de atacantes para aproveitar alguma chance que aparecer. Na bola parada, conta com Marcos Alonso, que coleciona alguns gols de falta na temporada.
Será fundamental uma boa partida de N’Golo Kanté. Deve ser o responsável por acompanhar Messi toda vez que o argentino buscar a bola no campo de ataque. O melhor marcador dos Blues e o melhor criador do Barcelona devem se combater muitas vezes, e o volante precisa sair vitorioso para que os azuis não corram maiores perigos. O seu parceiro deve ser Bakayoko, Conte ainda confia em suas atuações e ele tem mais força física que Drinkwater.
Muito improvável pensar numa improvisação de David Luiz como volante pois o brasileiro não vem sendo testado nessa função durante a temporada. As outras duas opções são Ampadu que é muito inexperiente para uma partida como essa e Ross Barkley que não está 100% fisicamente e nem tem um entrosamento muito grande com os companheiros. Assim, a dupla francesa precisa fazer uma partida segura para que o Chelsea consiga alguma vantagem na busca pela classificação.
Os três zagueiros devem fazer uma partida com muita concentração. O Chelsea tem boas opções para compor o trio defensivo que deve contar com Azpilicueta, Christensen e Rüdiger ou Cahill. O inglês é o capitão da equipe e tem mais experiência, mas faz uma temporada pobre, enquanto o alemão precisa de uma partida mais firme para ganhar de vez a confiança da torcida e do comandante. De qualquer forma, o trio ficará responsável por cortar ataques adversários que podem vir de diversas formas. Lançamentos longos para Suárez, que tem força e habilidade para buscar a finalização, dribles curtos e rápidos de Messi, tabelas entre os dois atacantes, subidas dos laterais e cruzamentos. A defesa precisa estar preparada para tudo.
O Barcelona não vem utilizando pontas de velocidade, Coutinho não pode jogar, Dembélé não está bem fisicamente e Deulofeu foi emprestado. Mas os alas do Chelsea não terão vida fácil. Moses deve acompanhar com bastante atenção as subidas de Jordi Alba pela esquerda, e Alonso precisa fechar os espaços que Messi cria quando se desloca para o lado direito, como gosta de fazer. Rakitić e Iniesta caem pelos lados para puxar a marcação e o time conseguir infiltrações ofensivas. Todos precisam estar atentos para fechar espaços.
Antonio Conte disse após a partida contra o Hull City pela FA Cup na última sexta-feira (16) que Bakayoko não deve estar disponível para o primeiro confronto contra o Barcelona. Caso se confirme no dia do jogo, alguns jogadores podem ser os prováveis substitutos.
Uma troca que não altera muito na forma de jogar da equipe seria a entrada de Drinkwater, que é hoje o substituto imediato. O outro inglês, Ross Barkley, chegou recentemente com a forma física um pouco mais debilitada e não deve estar pronto para um jogo como esses, mas somente o treinador junto com a equipe de preparadores físicos têm essa informação mais certa, pode ser uma surpresa. Outra opção é a entrada do David Luiz ao lado de Kanté como volante, o brasileiro já jogou dessa forma no Chelsea com Rafa Benitez no passado e chegou a ser elogiado, mas não atua dessa forma a algum tempo. O jovem Ampadu atuou na última partida dos Blues e foi bem, ele sempre agrada os torcedores, mas em jogos menores – um adversário como o Barça deve ser demais para um jogador de apenas 17 anos.
Por fim, existe uma boa chance de Fàbregas entrar ao lado de Kanté. Na temporada passada, Conte não podia contar com Matic em uma partida importante contra o Manchester City pela Premier League e optou pelo espanhol em sua vaga mesmo sendo uma partida contra um time que atacava muito bem, como é o Barcelona. A equipe entrou em um 3-4-3 naquela oportunidade e Cesc foi bem, inclusive deu um lançamento que resultou em um gol de Diego Costa numa partida em que o Chelsea venceu por 3-1 de virada.
A grande dúvida é como Antonio Conte deve querer explorar seus contra ataques. E o esclarecimento virá apenas quando for divulgada a escalação. As opções são: ligação rápida através dos passes e lançamentos de Cesc Fàbregas ou velocidade nas pontas com Willian ou Pedro abertos pelo lado esquerdo do campo. Isso será respondido taticamente.
Se a opção for por um 3-5-2 (ou até um 5-3-2, uma vez que os alas serão praticamente laterais) o Cesc será a arma de ligação defesa-ataque dos Blues pois o espanhol atuará um pouco à frente dos volantes e voltará para acompanhar a jogada e receber a bola ainda no campo de defesa para buscar um passe longo para Hazard ou Morata (Giroud) iniciarem uma resposta rápida no campo de ataque.
A outra opção de Antonio Conte é a formação que usava na temporada passada, e repetiu menos vezes na atual. O 3-4-3 (ou 5-2-3 com os alas sendo mais marcadores) com Hazard bem aberto pela direita e Willian ou Pedro pelo lado esquerdo do campo. Isso traria uma preocupação maior para os laterais do Barcelona que apoiariam menos. O Chelsea teria que abrir mão de Fàbregas na função de armador. Poderia até entrar com o espanhol ao lado de Kanté, mas perderia em marcação e força com relação à Bakayoko. Enfim, o passe teria que partir de algum dos defensores e chegando em alguma das pontas. O contra-golpe teria mais velocidade e poderia ser mais incisivo.
O brasileiro Willian é habilidoso o suficiente para passar por um ou dois marcadores e ganhar na velocidade, contando com o suporte do centroavante pelo meio que poderia aproveitar um cruzamento, ou a chegada de Hazard pelo outro lado para fazer uma tabela e finalizar.
Time ofensivo
Caso o treinador do Chelsea aposte em surpreender o Barcelona e atacar, o time já provou que tem qualidade para encarar grandes adversários de igual pra igual.
Na partida fora de casa contra o Atlético de Madrid na fase de grupos da atual edição da Champions League, por exemplo, o Chelsea surpreendeu e propôs o jogo o tempo inteiro. Saiu com a vitória em uma das melhores atuações de Eden Hazard com a camisa dos Blues.
Caso Conte pense em repetir a forma que o time atuou nessa partida, o esquema utilizado deve ser parecido. Um 3-5-2 com Hazard e Morata (ou Giroud) no comando do ataque. Além de Fàbregas saindo mais de perto dos volantes e encostando nos atacantes para armar a partida. Os alas teriam mais liberdade para subir e apoiar, alternando as subidas.
Mas o Barcelona não é o Atleti. Um time que tem Messi e Suárez contando com o suporte de meias muito acima da média deve ser bastante respeitado. Os alas devem ser muito cautelosos e só subir quando tiver a cobertura dos volantes.
A maioria dos times evita propor o jogo contra o Barça e não é à toa: qualquer erro é fatal.